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Realismo mágico ou fantástico é uma classificação atribuída a determinadas obras artísticas, como livros, pinturas e filmes que apresentam uma realidade mágica ou fantástica, devido a uma deformação da realidade capaz de gerar estranheza, nonsense e um clima de mistério. Teve o seu auge no século XX (marcado por duas guerras mundiais), apesar de já existirem obras com tais características no século XVIII e XIX.
Na literatura, livros assim caracterizados foram assinados por autores como Gabriel García Márquez (Cem anos de solidão), Franz Kafka (A metamorfose) e Machado de Assis (Memórias póstumas de Brás Cubas). Na pintura, nomes como Ernst Fuchs, da escola de realismo fantástico de Viena, buscaram retratar esse tipo de realismo em suas obras. Já no cinema, é possível apontar filmes como Asas do desejo, de Wim Wenders, O curioso caso de Benjamin Button, de David Fincher, além de O grande circo místico, de Cacá Diegues.
Leia também: Conto fantástico – narrativa curta com personagens que extrapolam o limite da realidade
Tópicos deste artigo
- 1 - Contexto histórico do realismo mágico
- 2 - Principais características do realismo mágico
- 3 - Principais autores do realismo mágico
- 4 - Principais obras do realismo mágico
- 5 - Realismo fantástico no Brasil
- 6 - Realismo fantástico na pintura
- 7 - Realismo fantástico no cinema
- 8 - Exercícios resolvidos
Contexto histórico do realismo mágico
Não existe consenso entre os pesquisadores sobre quando surgiu o realismo mágico ou fantástico. A maioria deles defende que a sua origem está situada entre os séculos XVIII e XIX. No entanto, foi a partir do século XX que ele se mostrou mais atuante, pois refletia um mundo caracterizado pelo absurdo, pela falta de sentido, pelo vazio existencial e marcado pelo contexto mostrado a seguir.
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Exploração imperialista: iniciada no século XIX e amplificada no XX.
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Revolução Russa, em 1917.
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Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918.
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Fascismo italiano, de 1922 a 1943.
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Nazismo alemão, de 1933 a 1945.
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Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945.
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Holocausto: genocídio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial.
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Bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.
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Guerra Fria, de 1947 a 1991.
Principais características do realismo mágico
O termo “realismo mágico” foi muito discutido nos anos 1940 e 1950, com o intuito de caracterizar obras onde a realidade era mostrada de forma mágica, fantástica, em oposição a um realismo científico. Esse realismo mágico ou fantástico, portanto, é caracterizado por uma forma estranha de conceber o real, ou mesmo uma deformação da realidade. O termo surgiu em 1925, quando o crítico de arte alemão Franz Roh (1890-1965) pretendia caracterizar a pintura pós-expressionista.
Nessa perspectiva, alguns críticos buscaram diferenciar o realismo mágico ou fantástico do chamado “realismo maravilhoso”, que está associado ao incomum, ao extraordinário, mas sem o estranhamento dos personagens diante da realidade maravilhosa, algo muito associado à cultura latino-americana. No realismo mágico ou fantástico, tudo não passa de uma criação; já no realismo maravilhoso, há uma representação do “maravilhoso” presente na realidade; portanto, o “maravilhoso” é expresso com naturalidade, como é possível observar nas lendas indígenas, por exemplo.
Contudo, é comum englobar, em uma mesma categoria, o realismo maravilhoso e o realismo mágico ou fantástico, que, de forma geral, apresenta as seguintes características:
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nonsense: falta de sentido;
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surrealidade ou suprarrealidade: situação absurda;
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irracionalismo ou ilogismo: fatos que contrariam as leis naturais;
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presença do sobrenatural: acontecimentos sem explicação;
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capacidade de provocar estranhamento nos leitores ou receptores;
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vínculo com o mistério, o desconhecido.
Isso é o que podemos ver neste trecho do conto O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião:
A única pessoa que poderia dar informações certas sobre o assunto sou eu. Porém estou impedido de fazê-lo porque os meus companheiros fogem de mim, tão logo me avistam pela frente. Quando apanhados de surpresa, ficam estarrecidos e não conseguem articular uma palavra.
Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente.
Leia também: Franz Kafka – um dos escritores mais influentes da literatura ocidental do século XX
Principais autores do realismo mágico
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Edgar Allan Poe (1809-1849): americano;
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Gabriel García Márquez (1927-2014): colombiano;
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Isabel Allende: chilena;
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Jorge Luis Borges (1899-1986): argentino;
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Oscar Wilde (1854-1900): irlandês;
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Franz Kafka (1883-1924): tcheco;
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Alejo Carpentier (1904-1980): cubano;
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Bram Stoker (1847-1912): irlandês;
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Julio Cortázar (1914-1984): argentino;
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Lewis Carroll (1832-1898): britânico;
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Horacio Quiroga (1878-1937): uruguaio;
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Milan Kundera: tcheco;
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Italo Calvino (1923-1985): italiano;
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Manuel Scorza (1928-1983): peruano;
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Reinaldo Arenas (1943-1990): cubano.
Leia também: Murilo Rubião – precursor do realismo fantástico no Brasil
Principais obras do realismo mágico
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Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe;
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Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez;
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A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende;
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“O outro”, da obra O livro de areia (1975), de Jorge Luis Borges;
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O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde;
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A metamorfose (1915), de Franz Kafka;
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O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier;
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Drácula (1897), de Bram Stoker;
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“Continuidade dos parques”, do livro Final do jogo (1956), de Julio Cortázar;
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Alice no país das maravilhas (1865), de Lewis Carroll;
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Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga;
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O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera;
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As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino;
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Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza;
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O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas.
Realismo fantástico no Brasil
Alguns escritores brasileiros utilizaram o realismo fantástico em suas obras:
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A luneta mágica (1869), de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882);
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Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis (1839-1908);
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Macunaíma (1928), de Mário de Andrade (1893-1945);
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O agressor (1943), de Rosário Fusco (1910-1977);
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Dona flor e seus dois maridos (1966), de Jorge Amado (1912-2001);
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A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga (1915-1999);
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Incidente em Antares (1971), de Erico Verissimo (1905-1975);
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O coronel e o lobisomem (1974), de José Cândido de Carvalho (1914-1989).
Contudo, Murilo Rubião (1916-1991) é o principal representante da literatura fantástica brasileira. São trabalhos de sua autoria:
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O ex-mágico (1947);
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A estrela vermelha (1953);
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Os dragões e outros contos (1965);
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O pirotécnico Zacarias (1974);
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O convidado (1974);
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A casa do girassol vermelho (1978);
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O homem do boné cinzento e outras histórias (1990).
Leia também: História dos contos de fadas
Realismo fantástico na pintura
A escola de realismo fantástico de Viena, fundada em 1946, é composta por um grupo de mais ou menos 30 pintores. A pintura desses artistas é caracterizada por um realismo alegórico ou simbólico. Os mais conhecidos são:
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Arik Brauer;
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Ernst Fuchs (1930-2015);
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Rudolf Hausner (1914-1995);
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Wolfgang Hutter (1928-2014);
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Anton Lehmden (1929-2018);
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Fritz Janschka (1919-2016).
Realismo fantástico no cinema
Ainda existe muita controvérsia entre a crítica especializada sobre o que seria o realismo fantástico no cinema. Assim, não há um consenso a respeito de suas características definidoras. No entanto, grande parte da crítica associa o realismo fantástico cinematográfico a elementos folclóricos, sem, contudo, haver consonância entre as opiniões. Diante dessa realidade, vêm sendo colocadas, nessa categoria, de forma ampla, obras cinematográficas que, de alguma maneira, extrapolam o sentido do real, do concreto, e dialogam com elementos mágicos ou mesmo surreais, como, por exemplo:
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O mágico de Oz (1939), de Victor Fleming (1889-1949) — Estados Unidos;
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Mary Poppins (1964), de Robert Stevenson (1905-1986) — Estados Unidos;
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À meia-noite levarei sua alma (1964), de José Mojica Marins (1936-2020) — Brasil;
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A história sem fim (1984), de Wolfgang Peterson — Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido;
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Asas do desejo (1987), de Wim Wenders — Alemanha e França;
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O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet — França;
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O senhor dos anéis (2001-2003), de Peter Jackson — Nova Zelândia e Estados Unidos;
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O labirinto do fauno (2006), de Guillermo del Toro — Espanha, México e Estados Unidos;
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O curioso caso de Benjamin Button (2008), de David Fincher — Estados Unidos;
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A teta assustada (2009), de Claudia Llosa — Peru;
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A forma da água (2017), de Guillermo del Toro — Estados Unidos;
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O grande circo místico (2018), de Cacá Diegues — Brasil.
Exercícios resolvidos
Questão 01 (Enem)
“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina — achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.”
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.
No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito.
Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de
a) esvaziamento de sentido.
b) monotonia do ambiente.
c) estaticidade dos animais.
d) interrupção dos movimentos.
e) dinamicidade do cenário.
Resolução:
Alternativa “e”.
Os verbos no gerúndio caracterizam o ambiente fantástico, onde há “besourinhos de fraque” e “baratinhas de mantilha”, por exemplo. Esse ambiente é marcado pela ação, pelo movimento, pelo dinamismo dos canários, beija-flores, camarões e caranguejos.
Questão 02 (UEFS)
Eu era ainda muito criança, mas sabia uma infinidade de coisas que os adultos ignoravam. Sabia que não se deve responder aos cumprimentos dos glimerinos, aquela raça de anões que a gente encontra quando menos espera e que fazem tudo para nos distrair de nossa missão; sabia que nos lugares onde a mãe-do-ouro aparece à flor da terra não se deve abaixar nem para apertar os cordões dos sapatos, a cobiça está em toda parte e morde manso; sabia que ao ouvir passos atrás ninguém deve parar nem correr, mas manter a marcha normal, quem mostrar sinais de medo estará perdido na estrada.
A estrada é cheia de armadilhas, de alçapões, de mundéus perigosos, para não falar em desvios tentadores, mas eu podia percorrê-la na ida e na volta de olhos fechados sem cometer o mais leve deslize.
VEIGA, José J. Os cavalinhos de Platiplanto: contos. 18. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 61.
José J. Veiga é um escritor representativo da corrente denominada realismo mágico ou fantástico. Tal realismo, provocador de uma sensação de estranhamento, encontra-se presente no texto por meio de um narrador que
a) ironiza a sabedoria acumulada com os anos.
b) se nivela aos mais velhos em conhecimento acerca da vida.
c) se mostra inseguro diante dos desafios que a vida lhe oferece.
d) questiona as fronteiras estabelecidas entre o real e o imaginário.
e) se revela ao leitor através de uma inversão da ordem natural das coisas.
Resolução:
Alternativa “e”.
Quando o narrador diz que “era ainda muito criança, mas sabia uma infinidade de coisas que os adultos ignoravam”, é possível perceber a inversão da ordem natural das coisas, já que os adultos deveriam ter mais conhecimento do que uma criança.
Créditos da imagem:
[1] Reprodução: Editora Record
Por Warley Souza
Professor de Literatura