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Literatura africana

A literatura africana de língua portuguesa possui características específicas e pode ser dividida em três fases: colonização, pré-independência e pós-independência.

Representação gráfica do formato do continente africano ao lado do escrito “literatura africana”.
A literatura reflete a cultura de um povo.
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Literatura africana é aquela composta por obras produzidas em países do continente africano, mas a literatura africana em língua portuguesa possui características específicas de acordo com seu período de produção. Assim, a primeira obra africana em língua portuguesa — Espontaneidades da minha alma — foi impressa em 1849.

As obras da literatura africana em língua portuguesa estão inseridas em três períodos distintos: colonização, pré-independência e pós-independência. E seus autores mais conhecidos são: José Craveirinha (Moçambique), Noémia de Sousa (Moçambique), Pepetela (Angola), Mia Couto (Moçambique) e Paulina Chiziane (Moçambique).

Leia também: Literatura negra — a produção literária cujo sujeito da escrita é o próprio negro

Tópicos deste artigo

Resumo sobre literatura africana

  • As obras da literatura africana em língua portuguesa podem ser divididas em três períodos: colonização, pré-independência e pós-independência.

  • O período da colonização é marcado pela alienação cultural.

  • O período pré-independência possui obras com discurso anticolonialista.

  • O período pós-independência é caracterizado pela valorização da cultura africana.

  • Espontaneidades da minha alma, do autor angolano José da Silva Maia Ferreira, foi a primeira obra africana em língua portuguesa a ser impressa, em 1849.

Características da literatura africana

A literatura africana é ampla, pois diz respeito aos vários países da África. O mais adequado, portanto, seria dizer “literaturas africanas”. Assim, colocaremos aqui características compartilhadas pelos países africanos de língua portuguesa, que tiveram uma história muito semelhante de colonização e luta pela independência. No entanto, devemos lembrar que a literatura de cada um desses países possui também as suas peculiaridades.

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Características da literatura africana no período da colonização

  • influências da literatura europeia;

  • reprodução da cultura clássica;

  • costumes tradicionais da África;

  • tensão entre a cultura colonial e a africana;

  • alienação cultural;

  • rigor formal na poesia.

Características da literatura africana no período pré-independência

  • realismo social;

  • nacionalismo;

  • identidade negra;

  • folclorismo;

  • discurso anticolonialista;

  • elementos modernistas;

  • valorização da cultura popular.

Características da literatura africana no período pós-independência

  • valorização da cultura africana;

  • resgate da ancestralidade;

  • presença de idiomas nativos;

  • valorização da oralidade;

  • questões raciais;

  • elementos feministas;

  • nacionalismo;

  • temática da diáspora;

  • experimentalismo;

  • universalismo.

Principais autores da literatura africana

  • José da Silva Maia Ferreira (1827-1881) — Angola

  • Caetano da Costa Alegre (1864-1890) — São Tomé e Príncipe

  • Antônio de Assis Júnior (1887-1960) — Angola

  • Jorge Barbosa (1902-1971) — Cabo Verde

  • Baltasar Lopes (1907-1989) — Cabo Verde

  • Manuel Lopes (1907-2005) — Cabo Verde

  • Rui de Noronha (1909-1943) — Moçambique

  • Oscar Ribas (1909-2004) — Angola

  • Orlando Mendes (1916-1990) — Moçambique

  • Castro Soromenho (1919-1968) — Angola

  • Francisco José Tenreiro (1921-1963) — São Tomé e Príncipe

  • Agostinho Neto (1922-1979) — Angola

  • José Craveirinha (1922-2003) — Moçambique

  • António Jacinto (1924-1991) — Angola

  • Orlanda Amarílis (1924-2014) — Cabo Verde

  • Noémia de Sousa (1926-2002) — Moçambique

  • Alda do Espírito Santo (1926-2010) — São Tomé e Príncipe

  • Viriato da Cruz (1928-1973) — Angola

  • Marcelino dos Santos (1929-2020) — Moçambique

  • Alda Lara (1930-1962) — Angola

  • Rui Knopfli (1932-1997) — Moçambique

  • Corsino Fortes (1933-2015) — Cabo Verde

  • Mário António (1934-1989) — Angola

  • Onésimo Silveira (1935-2021) — Cabo Verde

  • Lília Momplé (1935-) — Moçambique

  • Arlindo Barbeitos (1940-2021) — Angola

  • Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010) — Angola

  • Pepetela (1941-) — Angola

  • Manuel Rui (1941-) — Angola

  • Luís Bernardo Honwana (1942-) — Moçambique

  • Filinto de Barros (1942-) — Guiné-Bissau

  • Boaventura Cardoso (1944-) — Angola

  • Jorge Viegas (1947-) — Moçambique

  • David Mestre (1948-1998) — Angola

  • Ana Paula Tavares (1952-) — Angola

  • Luís Carlos Patraquim (1953-) — Moçambique

  • Mia Couto (1955-) — Moçambique

  • Paulina Chiziane (1955-) — Moçambique

  • Ungulani Ba Ka Khosa (1957-) — Moçambique

  • Abdulai Sila (1958-) — Guiné-Bissau

  • Conceição Lima (1961-) — São Tomé e Príncipe

  • Suleiman Cassamo (1962-) — Moçambique

  • Eduardo White (1963-2014) — Moçambique

Principais obras da literatura africana

  • Espontaneidades da minha alma (1849), de José da Silva Maia Ferreira

  • Versos (1916), de Caetano da Costa Alegre

  • Arquipélago (1935), de Jorge Barbosa

  • O segredo da morta (1935), de Antônio de Assis Júnior

  • Ilha de nome santo (1942), de Francisco José Tenreiro

  • Sonetos (1946), de Rui de Noronha

  • Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes

  • Terra morta (1949), de Castro Soromenho

  • Uanga (1951), de Oscar Ribas

  • O país dos outros (1959), de Rui Knopfli

  • Os flagelados do vento leste (1960), de Manuel Lopes

  • Chingufo (1961), de Mário António

  • Poemas (1961), de Agostinho Neto

  • Poemas (1961), de António Jacinto

  • Hora grande (1962), de Onésimo Silveira

  • Nós matamos o cão-tinhoso (1964), de Luís Bernardo Honwana

  • Portagem (1966), de Orlando Mendes

  • A onda (1973), de Manuel Rui

  • Poemas (1974), de Viriato da Cruz

  • Karingana ua karingana (1974), de José Craveirinha

  • Pão & fonema (1975), de Corsino Fortes

  • Do canto à idade (1977), de David Mestre

  • Dizanga Dia Muenhu (1977), de Boaventura Cardoso

  • É nosso o solo sagrado da terra (1978), de Alda do Espírito Santo

  • Poesia (1979), de Alda Lara

  • Nzoji (1979), de Arlindo Barbeitos

  • Mayombe (1979), de Pepetela

  • Ilhéu dos pássaros (1983), de Orlanda Amarílis

  • Canto do amor natural (1987), de Marcelino dos Santos

  • Novelo de chamas (1989), de Jorge Viegas

  • O regresso do morto (1989), de Suleiman Cassamo

  • País de mim (1990), de Eduardo White

  • Memória de tanta guerra (1992), de Ruy Duarte de Carvalho

  • Terra sonâmbula (1992), de Mia Couto

  • A última tragédia (1995), de Abdulai Sila

  • Os olhos da cobra verde (1997), de Lília Momplé

  • Kikia matcho (1997), de Filinto de Barros

  • Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), de Ana Paula Tavares

  • Sangue negro (2001), de Noémia de Sousa

  • Niketche: uma história de poligamia (2002), de Paulina Chiziane

  • Os sobreviventes da noite (2007), de Ungulani Ba Ka Khosa

  • Pneuma (2009), de Luís Carlos Patraquim

Literatura africana no Brasil

É de 2003 a lei número 10.639, que determina:

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. […] Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

A partir de então, houve, por parte das instituições educacionais, um interesse maior pela literatura africana em língua portuguesa, porém a literatura brasileira já dialogava com a africana havia muito tempo. No final da década de 1930, autores de Cabo Verde manifestavam a influência de autores modernistas brasileiros na literatura do país.

Mais tarde, essa influência também foi notada em Angola e Moçambique. No entanto, ainda não se percebe o movimento oposto, ou seja, a influência de autores africanos na literatura brasileira. Apesar disso, a cultura africana está inevitavelmente em nossa literatura, já que o Brasil herdou muitos elementos dessa cultura.

Só recentemente começamos a falar em uma literatura afro-brasileira. Esse tipo de literatura deve ter como tema a realidade da pessoa negra. Além disso, deve ser produzida por pessoa afrodescendente que mostre a cultura e a linguagem afro-brasileiras, e ser direcionada a um público afro-brasileiro. Segundo Eduardo de Assis Duarte, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada:

Impõe-se destacar, todavia, que nenhum desses elementos isolados propicia o pertencimento à Literatura Afro-brasileira, mas sim a sua interação. Isoladamente, tanto o tema, como a linguagem e, mesmo, a autoria, o ponto de vista, e até o direcionamento recepcional são insuficientes.|1|

Portanto, algumas obras da literatura afro-brasileira são:

  • Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis (1822-1917)

  • Quarto de despejo (1960), de Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

  • Dionísio esfacelado (1984), de Domício Proença Filho (1936-)

  • Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins (1958-)

  • Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo (1946-)

  • Contos crioulos da Bahia (2004), de Mestre Didi (1917-2013)

  • Da Cabula (2006), de Allan da Rosa (1976-)

Veja também: Literatura brasileira — uma literatura que tem mais de 500 anos de história

Importância da literatura africana

Como a literatura de qualquer outro país ou continente, a literatura africana também tem a função de refletir sobre a cultura e a história de seu povo, e fazer um resgate da história de seus antepassados, de forma a fortalecer uma tradição, a qual reflete a identidade de uma nação.

Os países africanos de língua portuguesa possuem uma literatura que transcende as fronteiras. Isso porque países como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe compartilham histórias muito semelhantes, mas também uma língua, a portuguesa.

Nesse sentido, o diálogo se amplia com outros continentes, isto é, Europa e América do Sul, já que a literatura de Portugal e do Brasil também são produzidas em língua portuguesa. Desse modo, essas literaturas exercem influência umas sobre as outras e compõem algo maior, pois fazem parte da literatura em língua portuguesa.

Origens da literatura africana

A literatura africana possui longa tradição oral, portanto, em seus primórdios, era apenas assim que as histórias eram contadas, sem um registro escrito. Foi por volta do século XVIII que os colonizadores portugueses começaram a pensar em um sistema educacional nas colônias africanas, o que se consolidou a partir no século XIX.

 Contadores de história, da ilha de Gorée, no Senegal, em 1872, como representação da origem da literatura africana.
Contadores de história, da ilha de Gorée, no Senegal, em 1872.

Assim, a primeira obra africana em língua portuguesa a ser impressa, em 1849, foi Espontaneidades da minha alma, de José da Silva Maia Ferreira, autor angolano; porém a narrativa manuscrita Tratado breve dos reinos (ou rios) da Guiné, do cabo-verdiano André Álvares de Amada, data de 1594.

Nota

|1| DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura afro-brasileira: um conceito em construção. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília, n. 31, p. 11-23, jan./ jun. 2008.

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Literatura africana"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/literatura-africana.htm. Acesso em 26 de abril de 2024.

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