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Conceição Evaristo

Um dos principais nomes da literatura contemporânea, Conceição Evaristo é poeta, contista, romancista e importante teórica de estudos literários e afro-brasileiros.

Retrato de Conceição Evaristo.
Retrato de Conceição Evaristo. [1]
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Conceição Evaristo é um grande expoente da literatura contemporânea, romancista, poeta e contista, homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti 2019 e vencedora do Prêmio Jabuti 2015. Além disso, Conceição Evaristo também é pesquisadora na área de literatura comparada e trabalhou como professora na rede pública fluminense.

Suas obras, cuja matéria-prima literária é a vivência das mulheres negras – suas principais protagonistas – são repletas de reflexões acerca das profundas desigualdades raciais brasileiras. Misturando realidade e ficção, seus textos são valorosos retratos do cotidiano, instrumentos de denúncia das opressões raciais e de gênero, mas também se voltam para a recuperação da ancestralidade da negritude brasileira, propositalmente apagada pelos portugueses durante os séculos em que perdurou o tráfico escravista.

Tópicos deste artigo

Biografia de Conceição Evaristo

Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG). Foi a segunda de nove irmãos. Teve a infância e a adolescência marcadas pela miséria, na extinta favela do Pindura Saia na região centro-sul da capital mineira. Trabalhou como babá e faxineira enquanto cursava os estudos secundários, aspirando à carreira de professora, mas quando concluiu o curso normal, não conseguiu emprego em Belo Horizonte.

Não havia, na época, concursos para professores em Minas Gerais: aulas, só para quem fosse indicado. Assim, Conceição mudou-se, em 1973, para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ e seguiu carreira no magistério, lecionando na rede pública fluminense até aposentar-se no ano de 2006.

Sua estreia na literatura aconteceu no ano de 1990, quando seis de seus poemas foram incluídos no volume 13 da coletânea Cadernos Negros, publicação literária periódica que teve início em 1978, com o intuito de veicular a cultura e a produção escrita afro-brasileira, seja na forma da prosa, seja na forma da poesia.

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Conciliando os trabalhos na docência, na literatura e na produção de estudos teóricos, Conceição Evaristo titulou-se como mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, em 1996, com a dissertação Literatura Negra: Uma Poética de Nossa Afrobrasilidade e depois como doutora em Literatura Comparada na UFF, defendendo, em 2011, a tese Poemas malungos, cânticos irmãos, em que analisou a poesia dos afro-brasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira e a do angolano Agostinho Neto.

Autora de contos, poemas e romances, parte deles traduzida para o inglês e o francês, além de vasta obra teórica, Conceição Evaristo foi finalista do prêmio Jabuti em 2015 e contemplada, em 2018, com o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, sendo reconhecida como uma das mais importantes escritoras brasileiras da contemporaneidade.

“Antes de lerem nossos textos já fazem um pré-julgamento, ou dizem que a autoria negra é uma autoria de militância. Mas é preciso conhecer os textos. Peço muito para as pessoas que não leiam apenas minha biografia, porque ela é importante sim, porque ela contamina meu texto, mas por favor leiam meu texto”  |1|

Leia mais: Carolina Maria de Jesus: a primeira voz negra da favela a publicar um livro

Características e temas da obra de Conceição Evaristo

O minucioso trabalho literário de Conceição Evaristo é marcado pelo uso da  metalinguagem e da junção de vocábulos que geram novas palavras e novos significados. Sua invenção com a palavra volta-se sempre para a ancestralidade, raiz que recupera o passado e o entrelaça com a projeção ao futuro, fazendo brotar novos significados – lexicais e para além do texto.

Os temas ficcionais e poéticos da autora são diversos, mas a poética de Evaristo é conduzida principalmente pelo eu-lírico e personagens de mulheres negras. A autora cunhou o termo “escrevivências” para nomear seu procedimento narrativo: misturando invenção e fato. “Escreviver” é contar, a partir de uma realidade particular, uma história que aponta para uma coletividade.

Segundo ela, “o sujeito da literatura negra tem a sua existência marcada por sua relação e por sua cumplicidade com outros sujeitos. Temos um sujeito que, ao falar de si, fala dos outros e, ao falar dos outros, fala de si”.

Principais obras de Conceição Evaristo

  • Ponciá Vicêncio, 2003 (romance)

  • Becos da Memória, 2006 (romance)

  • Poemas da recordação e outros movimentos, 2008 (poesia)

  • Insubmissas lágrimas de mulheres, 2011 (contos)

  • Olhos d’água,  2014 (contos)

  • Histórias de leves enganos e parecenças, 2016 (contos e novela)

  • Canção para ninar menino grande, 2018 (romance)

Saiba mais: Literatura negra e sua importância no cenário nacional

Poemas de Conceição Evaristo

Vozes-mulheres

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio.

Ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela.

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e fome.

A voz de minha filha

recorre todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

O eco da vida-liberdade.

(Poemas de recordação e outros movimentos)

Da calma e do silêncio

Quando eu morder

a palavra,

por favor,

não me apressem,

quero mascar,

rasgar entre os dentes,

a pele, os ossos, o tutano

do verbo,

para assim versejar

o âmago das coisas.

Quando meu olhar

se perder no nada,

por favor,

não me despertem,

quero reter,

no adentro da íris,

a menor sombra,

do ínfimo movimento.

Quando meus pés

abrandarem na marcha,

por favor,

não me forcem.

Caminhar para quê?

Deixem-me quedar,

deixem-me quieta,

na aparente inércia.

Nem todo viandante

anda estradas,

há mundos submersos,

que só o silêncio

da poesia penetra.

(Poemas de recordação e outros movimentos)

Crédito de imagem

[1] PaulaA75/Commons

Notas

|1| Conceição Evaristo em entrevista ao Brasil de Fato, 20/11/18

Escritor do artigo
Escrito por: Luiza Brandino Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

BRANDINO, Luiza. "Conceição Evaristo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/conceicao-evaristo.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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