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Charles Baudelaire

Charles Baudelaire, escritor francês do século XIX, é considerado o pai do simbolismo. Ele é autor do livro de poesia “As flores do mal”, considerado imoral na época.

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Charles Baudelaire, escritor francês, nasceu em 9 de abril de 1821, em Paris. Com seis anos de idade, ficou órfão de pai, e a mãe se casou novamente. Muito apegado a ela, o poeta acabou desenvolvendo, mais tarde, forte repulsa ao seu padrasto. Durante toda a sua vida adulta, viveu imerso em dívidas, apesar de ter recebido uma considerável herança de seu pai.

Assim, Baudelaire, que morreu em 31 de agosto de 1867, construiu sua fama de perdulário, boêmio, dândi e revolucionário. Tornou-se o precursor do simbolismo europeu, principalmente devido ao seu livro, As flores do mal, acusado de imoral pelas autoridades francesas de meados do século XIX. Essa obra é composta de poemas escritos com versos alexandrinos e octossílabos, cujos efeitos sonoros e visuais são evidentes.

Leia também: Augusto dos Anjos – poeta cuja obra apresenta semelhança à de Baudelaire

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Biografia de Charles Baudelaire

Charles Baudelaire é considerado um dos maiores nomes do simbolismo mundial.
Charles Baudelaire é considerado um dos maiores nomes do simbolismo mundial.

Charles Baudelaire nasceu em 9 de abril de 1821, em Paris, na França. O pai do escritor — François Baudelaire (1759-1827) — era padre, mas deixou a batina e se casou com a pintora Rosalie Janin (1775-1814). Com ela, teve um filho. Após o falecimento da esposa, ele se casou com Caroline Dufaÿs (1793-1871), bem mais nova do que ele.

Dessa relação, nasceu o poeta Charles Baudelaire, que ficou órfão de pai quando tinha seis anos de idade. Mais tarde, sua mãe se casou com o militar Jacques Aupick (1789-1857), com quem Baudelaire teve muitos atritos após a adolescência. Isso porque o escritor, durante toda a vida, foi afetivamente muito apegado à sua mãe. Contudo, no início do casamento, ele admirava o padrasto, a quem chamava de pai.

Devido à carreira de Aupick, eles viveram em Lyon, entre 1831 e 1836. Depois, Baudelaire foi estudar em Paris, no liceu Louis-le-Grand. Era um aluno muito dedicado, mas, devido a um incidente com um colega, foi expulso da instituição em 1839. Nesse mesmo ano, passou no baccalauréat, um teste que lhe permitia ingressar na Ensino Superior, portanto, era equivalente à conclusão do Ensino Médio.

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O escritor então morou dois anos no Bairro Latino, em Paris, e fez muitas dívidas. No entanto, com 21 anos de idade, recebeu a herança do pai, uma fortuna considerável, cuja metade ele gastou em dois anos. Por isso, sua mãe e seu padrasto decidiram intervir, e Narcisse Désiré Ancelle (1801-1888), um advogado, tornou-se, legalmente, responsável pela administração do dinheiro que restava.

O poeta passou a receber uma quantia fixa todo mês, e, obviamente, não apreciou essa situação. Apesar da quantia mensal ser suficiente para sua sobrevivência, ele gastava muito. Assim, a relação com sua mãe se tornou conflituosa, e sua aversão ao padrasto aumentou. Entretanto, em meio às dívidas e tentativas frustradas de trabalhar em empregos convencionais, havia a literatura, à qual o autor se dedicava incansavelmente.

No início de sua carreira como crítico de arte, nos anos 1840, o boêmio e dândi Charles Baudelaire ainda apreciava a estética romântica. Nessa mesma década, conheceu Jeanne Duval (1820-1862), uma atriz haitiana, com quem morou durante algum tempo e viveu um tórrido romance.

Nos anos 1840, o autor teve gonorreia, adquiriu sífilis e tentou se matar (em 30 de junho de 1845). Isso contribuiu para alimentar a sua fama de artista maldito, revolucionário não só na arte. Ele participou da Revolução de 1848. No entanto, seu fervor político acabou quando Luís Napoleão Bonaparte (1808-1873) se tornou imperador, em 1852.

Aproximadamente, em 1854, ele começou seu romance com a atriz Marie Daubrun. Dois anos depois, a sua tradução do livro Histórias extraordinárias, de Edgar Allan Poe (1809-1849), de quem era grande admirador, foi publicada. Nesse ano, ele e Jeanne Duval se separaram. Em 1857, Baudelaire publicou seu livro mais famoso, intitulado As flores do mal.

A obra foi censurada por imoralidade, e Baudelaire, processado. Ao final do julgamento, seis poemas foram proibidos, e o livro voltou a ser vendido após serem extraídos os textos censurados. Todavia, o processo serviu de propaganda para a obra, que, apesar das críticas negativas, recebeu elogios de alguns críticos de renome e de escritores famosos, como Gustave Flaubert (1821-1880) e Victor Hugo (1802-1885).

Após a morte de seu padrasto, em 1857, Charles Baudelaire se reconciliou com a mãe. No entanto, a vida financeira do escritor continuava conturbada. Assim, em 1864, ele se mudou para Bruxelas, onde deu palestras e viveu, miseravelmente, até 1866, quando teve um derrame cerebral, ficou paralisado, com dificuldades de fala, e morreu em 31 de agosto de 1867, em Paris.

Veja também: Alexandre Dumas – autor francês vinculado ao romantismo

Características da obra de Charles Baudelaire

Charles Baudelaire é considerado o precursor do simbolismo, portanto, suas obras apresentam traços desse movimento, tais como:

  • Subjetividade
  • Elementos místicos
  • Valorização do inconsciente
  • Busca de um mundo ideal
  • Introspecção
  • Musicalidade
  • Rigor formal
  • Pessimismo
  • Uso de reticências
  • Maiúscula alegorizante
  • Presença de sinestesia
  • Preferência pelo impalpável

Obras de Charles Baudelaire

Capa do livro “As flores do mal”, de Charles Baudelaire, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]
Capa do livro “As flores do mal”, de Charles Baudelaire, publicado pela editora Companhia das Letras.[1]
  • Salão de 1845 (1845)
  • Salão de 1846 (1846)
  • La Fanfarlo (1847)
  • As flores do mal (1857)
  • Paraísos artificiais (1860)
  • Richard Wagner e Tannhäuser em Paris (1861)
  • Naufrágios (1865)
  • Curiosidades estéticas (1868)
  • A arte romântica (1868)
  • Pequenos poemas em prosa (1869)
  • Diários íntimos (1887)
  • Obras póstumas e correspondências inéditas (1887)
  • Meu coração desnudado (1909)

As flores do mal

As flores do mal é a principal obra do poeta, pois inaugura o simbolismo na Europa. Ela começou a ser escrita quando Charles Baudelaire tinha, aproximadamente, 20 anos de idade. Após publicação, foi censurada, pois, segundo os censores, os seguintes poemas eram contra a moral e os bons costumes:

  • “A negação de São Pedro.”
  • “Abel e Caim.”
  • “As litanias de satã.”
  • “O vinho do assassino.”
  • “As metamorfoses do vampiro.”
  • “As joias.”
  • “Mulheres malditas.”

O livro não agradou, a princípio, pois os leitores franceses e a crítica especializada estavam, ainda, ligados ao romantismo. Assim, não conseguiram apreciar os 166 poemas que compõem o único livro de poesias de Baudelaire. Nessa obra, é evidente a preferência do autor pelo verso alexandrinho (12 sílabas poéticas).

No entanto, alguns poemas são compostos com versos octossílabos (oito sílabas poéticas). Assim, o autor trabalha exaustivamente a forma dos poemas, além de produzir efeitos sinestésicos, especialmente sonoros e visuais. Além disso, a musicalidade dos versos é evidente.

Os poemas de Flores do mal têm uma linguagem sucinta e apresentam imagens grotescas. No mais, são recorrentes as temáticas do amor, da morte, do tédio, do exílio, além de mostrarem uma visão bastante sombria e decadente da humanidade.

Leia também: Simbolismo no Brasil: como essa estética foi concretizada em nosso país?

Poemas de Charles Baudelaire

A seguir, vamos analisar dois poemas do livro As flores do mal|1|. O primeiro é “Mulheres malditas”, escrito com versos alexandrinos. Nele, as mulheres são comparadas a um rebanho, que, deitado na areia, olha para o próprio reflexo nas águas e sente calafrio e mágoas. Outras mulheres estão candidamente apaixonadas, imersas em ilusões ou entregues a lascivos desejos. Assim, o eu lírico descreve a mulher como sendo um ente sagrado e, ao mesmo tempo, profano:

Como um rebanho absorto e na areia deitadas,
Elas volvem o olhar para o espelho das águas;
Os pés em mudo afago e as mãos entrelaçadas,
Bebem o fel do calafrio e o mel das mágoas.

Umas, o coração abrindo em confidências,
Nos bosques onde se ouve um córrego em segredo,
Vão soletrando o amor em cândidas cadências
E o pólen raspam aos rebentos do arvoredo;

Outras, tais como irmãs, andam lentas e cavas
Por entre as rochas apinhadas de ilusões,
Onde viu Santo Antônio aflorar como lavas
Os rubros seios nus de suas tentações;

Outras há que, ao calor da líquida resina,
No côncavo sem voz de um velho antro pagão
Pedem por ti em meio à febre que alucina,
Ó Baco, ao pé de quem dorme toda a aflição!
[...]

A sinestesia está presente em: “olhar”, “fel”, “calafrio”, “mel”, “ouve”, “rubros”, “calor”, “febre”. Esses estímulos sensoriais são ampliados pela musicalidade obtida  das rimas e da assonância causadas pela repetição das vogais “a”, “e”, “i” e “o”.

Já no poema “Uma carniça”, o eu lírico faz a mulher amada se lembrar do “objeto” que eles encontraram numa “bela manhã radiante”, isto é, uma “carniça repugnante”. Ele a descreve com repulsivos detalhes, e, ao final, conclui que sua interlocutora, um dia, será como tal carniça:

Lembra-te, meu amor, do objeto que encontramos
Numa bela manhã radiante:
Na curva de um atalho, entre calhaus e ramos,
Uma carniça repugnante.
[...]

Ardia o sol naquela pútrida torpeza,
Como a cozê-la em rubra pira
E para ao cêntuplo volver à Natureza
Tudo o que ali ela reunira.

E o céu olhava do alto a esplêndida carcaça
Como uma flor a se entreabrir.
O fedor era tal que sobre a relva escassa
Chegaste quase a sucumbir.

Zumbiam moscas sobre o ventre e, em alvoroço,
Dali saíam negros bandos
De larvas, a escorrer como um líquido grosso
Por entre esses trapos nefandos.
[...]

— Pois hás de ser como essa coisa apodrecida,
Essa medonha corrupção,
Estrela de meus olhos, sol de minha vida,
Tu, meu anjo e minha paixão!

Sim! tal serás um dia, ó deusa da beleza,
Após a bênção derradeira,
Quando, sob a erva e as florações da natureza,
Tornares afinal à poeira.

Então, querida, dize à carne que se arruína,
Ao verme que te beija o rosto,
Que eu preservei a forma e a substância divina
De meu amor já decomposto!

O poema é composto por versos alexandrinos e octossílabos, e apresenta a sinestesia, evidente nas palavras: “radiante”, “Ardia”, “sol”, “rubra”, “flor”, “fedor”, “Zumbiam” e “negros”. Além disso, a musicalidade dos versos é obtida por meio das rimas e da assonância.

Veja também: Cinco poemas de Alphonsus de Guimaraens

Frases de Charles Baudelaire

A seguir, vamos ler algumas frases de Charles Baudelaire, retiradas de seus livros Pequenos poemas em prosa e Diários íntimos:

  • “Mas o que importa a eternidade da danação para alguém que encontrou o infinito de prazer em um segundo!”
  • “Não há prazer mais doce do que surpreender um homem, dando-lhe mais do que ele espera.”
  • “É bom, às vezes, ensinar às pessoas felizes deste mundo que existem felicidades maiores do que as delas, maiores e mais refinadas.”
  • “Desfrutar da multidão é uma arte.”
  • “O poeta goza deste privilégio incomparável de poder ser ele mesmo e os outros à vontade.”
  • “Amo apaixonadamente o mistério, porque sempre espero desvendá-lo.”
  • “Deus é o único ser que, para reinar, nem precisa existir.”

Nota

|1| Tradução de Ivan Junqueira.

Crédito da imagem

[1] Companhia das Letras (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Charles Baudelaire"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/charles-baudelaire.htm. Acesso em 25 de abril de 2024.

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