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A Revolução dos Cravos foi um levante militar e popular que ocorreu em Portugal, no dia 25 de abril de 1974, e encerrou a longa ditadura liderada por Antônio Salazar. Nos anos 1970, os portugueses enfrentavam uma grave crise econômica, o que gerou insatisfação com o governo português. Além disso, as lutas pela independência das colônias portuguesas na África fizeram com que essa insatisfação se intensificasse.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a Revolução dos Cravos
- 2 - O que foi a Revolução dos Cravos?
- 3 - Antecedentes históricos da Revolução dos Cravos
- 4 - Motivos da Revolução dos Cravos
- 5 - Cronologia da Revolução dos Cravos
- 6 - Consequência da Revolução dos Cravos
- 7 - Influência da Revolução dos Cravos na cultura
- 8 - Exercícios resolvidos sobre Revolução dos Cravos
Resumo sobre a Revolução dos Cravos
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A Revolução dos Cravos foi um movimento popular e militar ocorrido em Portugal, em 25 de abril de 1974, que encerrou a ditadura salazarista.
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Esteve diretamente ligada à questão cultural, como pelo uso de músicas como senha para as movimentações dos revolucionários.
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Seu símbolo foi o cravo, uma flor colocada na ponta das baionetas dos soldados.
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As consequências da revolução foram a retomada da democracia em Portugal, a chegada ao poder pelos socialistas e o autogoverno das fábricas pelos trabalhadores.
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Tem grande influência ainda hoje na cultura portuguesa, estando presente no cinema, na televisão, na música e na literatura.
O que foi a Revolução dos Cravos?
A Revolução dos Cravos foi um levante militar e popular que aconteceu em Portugal, em 25 de abril de 1974, e que encerrou o longo período de ditadura salazarista. Dessa forma, com o movimento, restabeleceram-se as liberdades individuais e a democracia em solo português. Foi um movimento que se aproveitou do desgaste do governo de Marcelo Caetano para apeá-lo do poder.
Os principais símbolos da revolução foram os cravos, colocados nas pontas das baionetas dos militares, e a música “Grândola, Vila Morena”, que serviu de anúncio do começo da revolução.
Antecedentes históricos da Revolução dos Cravos
Para compreendermos as origens da Revolução dos Cravos, é preciso retomar o contexto político de Portugal no começo do século XX. Até 1910, os portugueses eram governados por uma monarquia constitucional. Em outubro daquele ano, a república foi proclamada. O novo governo participou da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o que levou Portugal a enfrentar uma grave crise econômica e social.
Esse período pós-guerra foi frutífero para o surgimento de ideias autoritárias alinhadas com o fascismo italiano, liderado por Benito Mussolini. Portugal não fugiu a essa regra e, em 1926, um golpe de Estado foi decretado, dando início à ditadura nacional, que durou até 1933, quando uma nova Constituição portuguesa entrou em vigor. Foi nesse momento que a figura de Antônio Salazar ganhou espaço na política portuguesa.
→ Salazarismo
Antônio Salazar chegou ao poder em Portugal no ano de 1932, quando se tornou primeiro-ministro. No ano seguinte, a nova Constituição lhe garantiu amplos poderes, cerceando os direitos individuais e a liberdade de expressão. Dava-se início ao Estado Novo, que vigorou até 1974, quando começou a Revolução dos Cravos.
Vale ressaltar que Salazar governou Portugal até 1968, quando sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e foi afastado do poder. Nos seis anos seguintes, até o fim da ditadura, Portugal foi governado por Marcelo Caetano.
O salazarismo seguiu características semelhantes às que Mussolini aplicou na Itália, como o antiparditarismo, a exaltação da figura do líder nacional, o nacionalismo, a antiliberalismo e a propaganda política, para agregar um maior número de apoio popular ao governo e censurar qualquer crítica. Foram 40 anos de governo autoritário sobre Portugal.
Durante esse período, os portugueses mantinham colônias no litoral africano desde os tempos das Grandes Navegações. Eram regiões importantes para a economia portuguesa, e a manutenção da sua dependência em relação a Portugal era fundamental para o governo salazarista. Por isso, o processo de descolonização, que ocorreu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi repreendido pelo governo português.
Até a década de 1970, a luta dos anticolonialistas portugueses esbarrava na repressão governamental. Isso fomentou a organização de grupos que se armaram para derrotar a opressão de Portugal mediante a violência.
Veja também: Nazismo — o movimento inspirado no fascismo italiano que levou ao Holocausto
Motivos da Revolução dos Cravos
A ditadura salazarista durou até 1974, quando estourou a Revolução dos Cravos, mas Antônio Salazar governou Portugal até 1968 e foi afastado por questões médicas, falecendo em 1970. A ausência de Salazar na política portuguesa animou os opositores do ditador a buscarem a redemocratização do país. Quem assumiu o poder logo após o afastamento de Salazar foi Marcelo Caetano, que não tinha a mesma força política do seu antecessor.
Além da ausência de Salazar no poder português, outro motivo da Revolução de 1974 foi a guerra colonial. Entre 1960 e 1974, vários destacamentos das forças armadas portuguesas foram enviados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique para reprimir os grupos armados dispostos a obterem suas independências mediante a força. O êxito da Revolução dos Cravos fez com que as tropas portuguesas deixassem as colônias e a independência fosse negociada de forma amistosa.
Interessante: No Brasil, a discussão sobre a política portuguesa acontecia. Em 1964, Carlos Lacerda, então governador da Guanabara, gravou um vídeo para a televisão portuguesa falando sobre a sua recente visita a Portugal e sobre como foi bem recebido. Um dos temas que ele tratou nesse vídeo foi a guerra colonial, dando apoio a Portugal e criticando as guerrilhas formadas.
Cronologia da Revolução dos Cravos
→ 24 de abril de 1974 (véspera da revolução)
Na noite de 24 de abril de 1974, o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (MFA), que liderou a revolução, se reuniu. As rádios das Emissoras Associadas de Lisboa veicularam a música “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho. A música era a senha para a população de que o processo revolucionário havia tido início. Veja a letra da música a seguir:
E depois do adeus
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós|1|
→ 25 de abril de 1974 (dia da revolução)
Na madrugada do dia 25 de abril de 1974, foi tocada na rádio a música “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso. A música foi senha para a população de que os militares estavam em marcha. Veja a letra da música a seguir:
Grândola, Vila Morena
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, Vila Morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, Vila Morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade|2|
O primeiro-ministro Marcelo Caetano foi pressionado a renunciar. Às 16:30, a renúncia foi anunciada. Ele então foi deslocado para a ilha da Madeira.
→ 26 de abril de 1974 (dia seguinte à revolução)
Nesse dia, ocorreu a criação da Junta de Salvação Nacional pelos militares que participaram da Revolução dos Cravos. Os presos políticos foram libertados.
Acesse também: Revolução Cubana — o movimento que levou à derrubada da ditadura de Fulgêncio Batista
Consequência da Revolução dos Cravos
A principal consequência da Revolução dos Cravos foi o fim da ditadura salazarista, encerrando um período de 40 anos de governo autoritário em Portugal. Também ocorreu a independência das antigas colônias portuguesas Angola, Guiné Bissau e Moçambique.
Alguns aliados do ditador Antônio Salazar reagiram à Revolução dos Cravos e tentativas de golpes de Estado foram organizadas, mas sem sucesso. Além desses grupos alinhados com o governo anterior, forças conservadoras temiam a radicalização da revolução.
A primeira eleição direta desde a chegada de Salazar ao poder português ocorreu em 25 de abril de 1975. O partido socialista foi o vencedor. No ano seguinte, foi promulgada uma nova Constituição portuguesa, retomando a democracia e garantindo direitos à educação, saúde e habitação.
Influência da Revolução dos Cravos na cultura
A cultura teve papel fundamental na Revolução dos Cravos, pois foi por meio da música, como vimos anteriormente, que se deu o início do processo revolucionário que encerrou a ditadura salazarista em Portugal. No entanto, outros ramos culturais também foram influenciados por essa revolução.
→ Revolução dos Cravos no cinema
A Revolução dos Cravos foi registrada em imagem e som. Isso foi de fundamental importância para a escrita da história desse movimento. Além do registro in loco, ou seja, de tudo o que aconteceu no dia 25 de abril de 1974, foram feitos filmes que retrataram esse momento importante na história portuguesa. Abaixo, alguns filmes relacionados com a Revolução dos Cravos:
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Torre Bela (1975)
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As armas do povo (1975)
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Outro país (1999)
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Capitães de abril (2000)
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As ondas de abril (2013)
→ Revolução dos Cravos na televisão
Quando a revolução aconteceu, em 1974, a imprensa brasileira estava sob censura e somente poderia publicar reportagens que os censores da ditadura consentissem. A Rede Globo tinha em sua programação noturna o Jornal Internacional, que, como o próprio nome diz, tinha o foco em notícias enviadas pelas agências internacionais e pelo satélite, uma novidade para a época e que facilitou a comunicação do Brasil com o mundo.
O movimento português que encerrou a ditadura salazarista foi noticiado pela Rede Globo, e tal fato possibilitou os comentaristas da ditadura a fazerem críticas ao regime autoritário que se encerrava em Portugal. Era uma forma de, que mesmo indiretamente, criticar a ditadura militar brasileira, que ainda demoraria 11 anos para se encerrar.
Posteriormente, a Revolução dos Cravos também foi apresentada no canal de televisão History, que transmitiu o documentário 25 minutos de uma revolução, dirigido por Pedro Fonseca, que traz entrevistas com pessoas que estiveram envolvidas na revolução, como Paulo de Carvalho, o cantor da música “E depois do adeus”, e o radialista Manuel Tomás.
→ Revolução dos Cravos na música
Pode-se dizer que a Revolução dos Cravos está diretamente ligada à música. “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, foi tocada na véspera da revolução como senha para o início da revolução, e “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, foi tocada no dia da revolução como senha para o deslocamento das tropas do Movimento das Forças Armadas.
Em 1978, Chico Buarque escreveu “Tanto mar” para homenagear os portugueses que encerraram o período ditatorial enquanto o Brasil ainda era governado por ditadores militares.
→ Revolução dos Cravos na literatura
A literatura foi um meio utilizado para registrar a Revolução dos Cravos e mantê-la viva para as gerações seguintes. O escritor José Saramago escreveu a peça de teatro A Noite, de 1979, cujo enredo trata da madrugada em que ocorreu a revolução. Os poetas portugueses registraram em versos o 25 de abril de 1974. Sidónio Muralha foi o autor da poesia “Poema de Abril”, de 1974, e José Carlos Ary dos Santos escreveu “As portas que Abril abriu”, de 1975.
Exercícios resolvidos sobre Revolução dos Cravos
Questão 1
(Fuvest) Entre os fatores que permitem associar o contexto histórico de Portugal, na década de 1970, às independências de suas colônias na África, encontram-se
A) o Salazarismo, que dominou Portugal desde a década de 1930, e a intensificação dos laços coloniais com Cabo Verde e Guiné-Bissau, 40 anos depois.
B) a influência política e militar do Pacto de Varsóvia, no norte do continente africano, e o surgimento de movimentos contra o apartheid nas colônias portuguesas.
C) o não cumprimento, por Portugal, da exigência internacional de que libertasse suas colônias africanas e sua exclusão da Comunidade Europeia, no princípio da década de 1970.
D) a Revolução dos Cravos, de 1974, que encerrou o longo período ditatorial português, e a ampliação dos movimentos de libertação nacional, como os de Angola e Moçambique.
E) o imediato cessar-fogo estabelecido pelo regime democrático português, implantado em 1974, e o fim dos conflitos internos nas colônias portuguesas da África.
Resolução:
Alternativa D
A Revolução dos Cravos terminou a ditadura salazarista, que governava Portugal de forma autoritária desde a década de 1930, e permitiu a libertação das antigas colônias portuguesas Angola, Moçambique e Guiné Bissau.
Questão 2
(Unesp) A Revolução dos Cravos aconteceu em Portugal, no dia 25 de abril de 1974. Esse movimento
A) permitiu o restabelecimento do controle político português sobre as colônias africanas, que haviam acabado de conquistar sua independência.
B) instalou uma ditadura militar em Portugal, encerrando cinco décadas de Estado democrático e popular.
C) iniciou o processo de democratização do país, encerrando o longo regime autoritário que marcou parte do século XX português.
D) impediu a continuidade do processo de modernização da economia portuguesa, implantado ao final da Segunda Guerra Mundial.
E) contestou o ingresso de Portugal na Comunidade Europeia e defendeu a aproximação do país com os países socialistas do Leste Europeu.
Resolução:
Alternativa C
A democracia em Portugal foi retomada logo após a vitória da Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974. Com a promulgação de uma nova Constituição, os portugueses retomaram seus direitos e suas liberdades.
Notas
|1| CARVALHO, Paulo de. E depois do adeus. Composição: José Niza/José Calvário. Letras. Disponível aqui.
|2| AFONSO, Zeca. Grândola, Vila Morena. Letras. Disponível aqui.
Por Carlos César Higa
Professor de História