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Salazarismo

O salazarismo foi um regime político liderado por António de Oliveira Salazar em Portugal, de 1932 a 1974, marcado por autoritarismo, censura e forte controle estatal.

António Salazar, líder do salazarismo.
O ditador António Salazar governou Portugal de forma autoritária por quatro décadas.
Crédito da Imagem: Commons
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O salazarismo foi um regime político autoritário que vigorou em Portugal de 1932 a 1974 sob a liderança de António de Oliveira Salazar, caracterizado como um Estado corporativista, nacionalista e anticomunista, que valorizava a tradição, a família, a religião católica e a ordem social por meio de um forte controle estatal. Surgiu em um período de instabilidade política e econômica após a Primeira República, com Salazar ascendendo ao poder após seu sucesso como ministro das Finanças e o apoio de militares e setores conservadores.

O regime era autoritário, com poder centralizado, corporativismo para evitar conflitos de classe, censura e propaganda nacionalista, repressão de opositores pela Pide e um discurso de preservação dos valores tradicionais. Os objetivos incluíam garantir a estabilidade política e social, resistir ao liberalismo, comunismo e democracia parlamentar, preservar o Império Colonial Português e promover uma sociedade moralmente conservadora e autossuficiente economicamente.

Leia também: Estado Novo — como foi o período ditatorial do governo de Getúlio Vargas

Tópicos deste artigo

Resumo sobre salazarismo

  • O salazarismo foi um regime político liderado por António de Oliveira Salazar em Portugal, entre 1932 e 1974.
  • O regime salazarista era autoritário, com um poder centralizado no líder.
  • António de Oliveira Salazar ascendeu ao poder em 1932, consolidando o regime do Estado Novo com apoio dos militares e setores conservadores.
  • Foi marcado por forte censura, propaganda nacionalista, repressão de opositores e um discurso de preservação dos valores tradicionais da família e da religião católica.
  • Buscava garantir a estabilidade política e social de Portugal, resistindo ao liberalismo, comunismo e democracia parlamentar.
  • Tinha o objetivo de preservar o Império Colonial Português.
  • Começou a declinar em 1968, com o afastamento de Salazar do poder, devido a um acidente que o deixou incapacitado.
  • A Revolução dos Cravos em 1974, liderada pelo Movimento das Forças Armadas, depôs o governo salazarista e abriu caminho para a democratização de Portugal.

O que foi o salazarismo?

O salazarismo foi um regime político autoritário que prevaleceu em Portugal sob a liderança de António de Oliveira Salazar, desde a sua ascensão ao poder em 1932 até a sua queda em 1968, seguido por um período de continuidade até a Revolução dos Cravos em 1974.

O salazarismo consolidou-se sob o Estado Novo, um sistema de governo corporativista, nacionalista e anticomunista, que buscava a estabilidade política e a ordem social por meio de um forte controle estatal. Esse regime tinha como principais pilares a valorização da tradição, da família, da religião católica e da nação portuguesa, numa tentativa de resistir às influências externas e às tendências democráticas que emergiam na Europa do pós-guerra.

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Contexto histórico do salazarismo

O salazarismo emergiu num período de instabilidade política e econômica em Portugal, que se seguiu à Primeira República (1910-1926), caracterizada por crises financeiras, revoltas sociais e governos efêmeros. A ditadura militar, instaurada em 1926, buscava estabilizar o país, mas enfrentava dificuldades para estabelecer uma liderança sólida e uma política econômica eficaz.

Foi nesse contexto que António de Oliveira Salazar, um professor de economia da Universidade de Coimbra, foi convidado a assumir o Ministério das Finanças em 1928. Salazar implementou rigorosas medidas de austeridade e controle fiscal, conseguindo equilibrar o orçamento e estabilizar a economia.

Seu sucesso como ministro das Finanças lhe garantiu a confiança dos militares e de setores conservadores, culminando na sua nomeação como presidente do Conselho de Ministros em 1932. A partir desse ponto, Salazar começou a estruturar o Estado Novo, consolidando seu poder e estabelecendo uma nova ordem política baseada em princípios autoritários e corporativistas.

Veja também: Nicolás Maduro — vida, carreira política, polêmicas sobre seu governo na Venezuela

Características do salazarismo

O salazarismo foi marcado por diversas características que refletiam a visão política e ideológica de Salazar. Primeiramente, o regime se baseava em uma estrutura autoritária, com um poder centralizado no líder, que exercia controle absoluto sobre o governo e a administração pública. As eleições eram manipuladas e a oposição política era suprimida, com partidos de oposição sendo banidos e líderes oposicionistas, perseguidos.

Cartaz com propaganda do regime salazarista.
A propaganda era utilizada para promover a imagem de Salazar e os ideais de seu governo.[1]

O corporativismo foi outro pilar do salazarismo, com a criação de uma organização social e econômica baseada em corporações que representavam diferentes setores da sociedade (trabalhadores, empregadores, profissões liberais), reguladas pelo Estado. Essa estrutura visava evitar conflitos de classe e promover a harmonia social, mas na prática servia para controlar e limitar a autonomia dos sindicatos e movimentos trabalhistas.

A ideologia do regime era fortemente nacionalista, com um discurso que exaltava a história e os valores tradicionais de Portugal. A censura e a propaganda foram amplamente utilizadas para promover a imagem de um país unido, pacífico e ordeiro sob a liderança de Salazar. A educação e a cultura eram moldadas para refletir os ideais do regime, com a Igreja Católica desempenhando um papel central na formação moral e espiritual da sociedade.

A repressão foi uma característica constante do salazarismo, com a criação da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide), responsável por perseguir, prender e torturar opositores políticos. A censura à imprensa, às artes e à literatura era rigorosa, visando suprimir qualquer forma de dissidência ou crítica ao regime.

Quais eram os objetivos do salazarismo?

O principal objetivo do salazarismo era garantir a estabilidade política e social de Portugal, evitando o que Salazar via como os males do liberalismo, do comunismo e da democracia parlamentar. Para Salazar, a ordem e a autoridade eram essenciais para o progresso e a segurança da nação. Ele acreditava que um governo forte e centralizado era necessário para proteger os interesses nacionais e promover a unidade do país.

Outro objetivo central era a preservação do Império Colonial Português, que incluía territórios na África, Ásia e Oceania. Salazar defendia a continuidade do domínio colonial, argumentando que as colônias eram parte integrante e inalienável de Portugal, essenciais para a grandeza e o desenvolvimento da nação. Esse imperialismo era justificado por uma ideologia de missão civilizadora, que promovia a ideia de que Portugal tinha o dever de levar a civilização cristã e os benefícios do desenvolvimento às populações colonizadas.

Além disso, o salazarismo visava à criação de uma sociedade moralmente conservadora, baseada nos valores tradicionais da família, da religião católica e da obediência à autoridade. A política econômica do regime focava a autossuficiência e o desenvolvimento controlado, com ênfase em equilibrar o orçamento e evitar a dependência econômica externa.

Fim do salazarismo

O fim do salazarismo começou a se delinear com o afastamento de António de Oliveira Salazar do poder em 1968, após um acidente que o deixou incapacitado. Marcello Caetano, que havia sido colaborador próximo de Salazar, assumiu a liderança, prometendo reformas e uma abertura gradual do regime. No entanto, as reformas foram insuficientes para atender às demandas de uma população cada vez mais insatisfeita e de uma oposição política crescente.

A guerra colonial, que desde 1961 consumia recursos e vidas em conflitos em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, exacerbou a insatisfação popular e a pressão internacional contra o regime. O custo humano e econômico das guerras coloniais minou o apoio interno ao governo e intensificou as tensões sociais e políticas.

A Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, marcou o fim definitivo do salazarismo. Um golpe militar liderado por oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), que se opunham à continuação das guerras coloniais, depôs o governo de Marcello Caetano sem derramamento de sangue. A revolução abriu caminho para a democratização de Portugal, o fim do império colonial e a adoção de uma nova constituição que consagrava liberdades e direitos democráticos.

Consequências do salazarismo

O legado do salazarismo teve profundas consequências para Portugal. A longa duração do regime autoritário deixou o país politicamente isolado e economicamente atrasado em relação a outros países europeus. A censura, a repressão e a falta de liberdades civis tiveram um impacto duradouro na sociedade portuguesa, que teve que passar por um processo de reconciliação e democratização após o fim do regime.

A descolonização foi uma das consequências mais significativas. O fim das guerras coloniais e a independência das colônias portuguesas na África levaram a um influxo de retornados (portugueses que viviam nas colônias) e a uma reconfiguração das relações internacionais de Portugal. A transição foi turbulenta e marcada por conflitos e crises humanitárias nas ex-colônias.

Economicamente, o país teve que se reconstruir e modernizar-se rapidamente. A integração na Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1986 foi um passo crucial para o desenvolvimento econômico e a estabilização política de Portugal, proporcionando acesso a novos mercados e fundos de desenvolvimento.

Socialmente, o fim do salazarismo trouxe uma liberalização cultural e uma expansão dos direitos civis e políticos. A nova constituição de 1976 garantiu direitos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, de associação e de imprensa. A sociedade portuguesa começou a se abrir a novas influências culturais e a se modernizar rapidamente.

Saiba mais: O que é um golpe de Estado?

Salazarismo x fascismo

Salazar, líder do salazarismo, em sua mesa de trabalho.
Na mesa de trabalho de Salazar, um retrato autografado de Mussolini. Apesar das semelhanças, o salazarismo não era fascista.

Embora o salazarismo compartilhasse várias características com os regimes fascistas da época, como o nacionalismo, o autoritarismo e a repressão política, ele diferia em vários aspectos significativos. Salazar sempre evitou associações diretas com o fascismo e o nazismo, preferindo definir o seu regime como uma ditadura corporativista e nacionalista.

Uma diferença crucial era a rejeição de Salazar ao partido único e à mobilização de massas, características centrais do fascismo. Enquanto regimes fascistas como o de Mussolini na Itália e o de Hitler na Alemanha usavam partidos únicos e movimentos de massa para consolidar o poder e mobilizar a sociedade, Salazar mantinha uma distância cética em relação à participação popular na política. O partido União Nacional, criado pelo regime, não tinha a mesma função mobilizadora que os partidos fascistas.

Além disso, o salazarismo não adotava a ideologia racista e expansionista que caracterizava o nazismo. Embora defendesse a manutenção do império colonial e a superioridade cultural portuguesa, o regime não implementou políticas de genocídio ou de limpeza étnica. A retórica imperialista de Salazar era justificada pela missão civilizadora, em vez de uma doutrina de superioridade racial.

Por fim, enquanto o fascismo buscava uma revolução social e política que transformasse radicalmente a sociedade, o salazarismo era mais conservador, buscando preservar a ordem existente e promover a estabilidade por meio da manutenção das tradições e da hierarquia social. Salazar via-se mais como um guardião da ordem e da moralidade do que como um revolucionário.

Assim, embora o salazarismo compartilhasse algumas semelhanças com os regimes fascistas, ele tinha características distintas que o diferenciavam, refletindo uma visão política e ideológica própria de António de Oliveira Salazar.

Exercícios resolvidos sobre salazarismo

1. Durante o século XX, diversos regimes autoritários se estabeleceram na Europa, cada um com características próprias. Em Portugal, o salazarismo, liderado por António de Oliveira Salazar, consolidou-se como um regime autoritário que governou o país de 1932 a 1974. Qual das seguintes características NÃO é verdadeira em relação ao regime salazarista em Portugal?

A) Uso intensivo de propaganda e censura para promover o nacionalismo e suprimir a dissidência.

B) Estrutura corporativista para evitar conflitos de classe e promover a harmonia social. C) Forte repressão política através da Pide para perseguir opositores.

D) Adoção de uma ideologia racista e expansionista semelhante à do nazismo.

E) Valorização da tradição, família e religião católica como pilares da sociedade.

Resposta correta: D) Embora o salazarismo compartilhasse algumas características com os regimes fascistas, como o uso de propaganda e repressão política, ele não adotou uma ideologia racista e expansionista. Salazar rejeitava essas ideias, preferindo uma abordagem mais conservadora que priorizava a estabilidade e a ordem social.

2. O período do salazarismo em Portugal foi marcado por um forte controle estatal sobre diversos aspectos da vida pública e privada. Salazar ascendeu ao poder em um contexto de instabilidade política e econômica, após a Primeira República e uma ditadura militar.

Qual foi um dos objetivos centrais do regime Salazarista que refletia sua visão conservadora e autoritária?

A) Promover uma revolução social e política radical.

B) Garantir a estabilidade política e social resistindo ao liberalismo e ao comunismo.

C) Estabelecer um partido único para mobilizar a população.

D) Adotar uma política expansionista e militarista semelhante ao nazismo.

E) Implementar políticas econômicas liberais e de mercado aberto.

Resposta correta: B)

Salazar buscava garantir a estabilidade política e social de Portugal, resistindo às ideologias do liberalismo e do comunismo, promovendo uma visão conservadora que priorizava a ordem e a preservação dos valores tradicionais, evitando transformações radicais na sociedade.

Créditos da imagem

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

FERNANDES, E. Salazar e o Salazarismo. Novo Horizonte, 2018.

MADUREIRA, A. A Formação Histórica do Salazarismo (1928-1932): O Quadro Político em que se Estruturou o salazarismo. Livros Horizonte: 2000.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Salazarismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/salazarismo.htm. Acesso em 20 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

(UFV) Na Europa e em outras partes do mundo, o fascismo italiano serviu de inspiração para regimes autoritários. Em Portugal, por exemplo, instaurou-se o regime salazarista, que seria extinto na década de 1970, com a Revolução dos Cravos.

Com base nos seus conhecimentos, assinale a alternativa correta sobre os fatores que explicam a queda do salazarismo.

a) O apoio aos golpes militares ocorridos na América Latina, em especial no Brasil, ocasionando forte pressão dos Estados Unidos sobre o regime salazarista.

b) O ingresso na Comunidade Econômica Europeia, exigindo de Portugal a adoção de princípios democráticos, como a realização de eleições diretas para a escolha dos governantes.

c) A crise decorrente do envolvimento do regime salazarista na Guerra Civil Espanhola, cujos gastos provocaram o aumento do custo de vida em Portugal.

d) A crescente aproximação de Salazar com o Partido Comunista Português, gerando insatisfação entre as elites empresariais e setores conservadores da sociedade.

e) A decadência econômica e o desgaste com as guerras coloniais, desde o início da década de 1960, provocando descontentamento nas Forças Armadas e na população.

Exercício 2

(PUC-MG) Sobre o regime salazarista estabelecido em Portugal em 1933, é CORRETO afirmar que:

a) eliminou o parlamentarismo no país, limitando os poderes do Presidente da República.

b) proibiu a livre organização partidária, impondo ao país uma ditadura inspirada no fascismo.

c) reafirmou o regime autoritário, abrindo perspectiva para realização de eleições diretas.

d) preservou o sistema monárquico no país, garantindo os poderes quase absolutos ao Rei.

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