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O Atentado do Riocentro foi uma tentativa frustrada de sabotagem ao processo de redemocratização brasileira, promovida por membros do DOI-CODI e setores da linha dura militar em 30 de abril de 1981. No contexto de uma abertura política gradual, marcada pela resistência de militares contrários à democratização, o atentado visava incriminar movimentos de esquerda, gerar instabilidade e justificar a continuidade do regime autoritário. Durante um show de MPB com 20 mil pessoas, uma bomba explodiu acidentalmente em um veículo, matando um sargento e ferindo um capitão, enquanto outra, posicionada no gerador, não foi detonada. O caso expôs divisões nas Forças Armadas, intensificou o movimento por mudanças democráticas e revelou o papel da imprensa na denúncia de abusos e na luta pela verdade histórica.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre o Atentado do Riocentro
- 2 - O que foi o Atentado do Riocentro?
- 3 - Contexto histórico do Atentado do Riocentro
- 4 - Objetivos do Atentado do Riocentro
- 5 - Quem armou o Atentado do Riocentro?
- 6 - Como foi o Atentado do Riocentro?
- 7 - Consequências do Atentado do Riocentro
Resumo sobre o Atentado do Riocentro
- O Atentado do Riocentro foi uma tentativa frustrada de sabotagem ao processo de redemocratização brasileira, ocorrida em 30 de abril de 1981, durante um show de MPB com cerca de 20 mil pessoas no Rio de Janeiro, onde uma bomba explodiu prematuramente, matando um sargento e ferindo um capitão militar.
- O atentado aconteceu em um período de transição política marcado pela abertura lenta e gradual promovida pelos governos Geisel e Figueiredo, com intensa resistência de setores da linha dura militar que se opunham à democratização e viam eventos culturais como ameaças subversivas.
- Os objetivos do atentado eram incriminar movimentos de esquerda, desacreditar a oposição política e interromper o avanço da abertura democrática, utilizando o medo e a instabilidade como ferramentas para justificar a continuidade do regime militar.
- O atentado foi planejado e executado por membros do DOI-CODI, incluindo o capitão Wilson Machado e o sargento Guilherme Rosário, com apoio de setores da linha dura militar, como comprovado por confissões e documentos divulgados posteriormente.
- O atentado envolveu duas bombas, uma das quais explodiu acidentalmente dentro de um Puma no estacionamento, matando o sargento e ferindo o capitão, enquanto a outra, colocada em um gerador, não foi detonada, frustrando os planos de ataque ao público do evento.
- O atentado expôs a divisão interna das Forças Armadas, acelerou o processo de redemocratização e minou a credibilidade do regime militar, destacando o papel da imprensa na denúncia e desmascaramento da tentativa de manipulação política.
O que foi o Atentado do Riocentro?
Ocorrido em 30 de abril de 1981, o Atentado do Riocentro é um dos episódios mais emblemáticos do final da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Conhecido como um divisor de águas no contexto da redemocratização, o evento foi uma tentativa frustrada de setores da linha dura militar de sabotar o processo de abertura política, criando um clima de instabilidade e terror.
A explosão ocorreu no estacionamento do Riocentro, durante um show comemorativo ao Dia do Trabalho, que reunia aproximadamente 20 mil pessoas. O evento era um símbolo de resistência ao regime, com apresentações de grandes nomes da música popular brasileira (MPB), como Chico Buarque, Clara Nunes e Gonzaguinha, cujas músicas frequentemente criticavam a repressão.
O plano, que envolvia a explosão de duas bombas, falhou quando uma delas detonou prematuramente no veículo Puma que transportava dois agentes militares, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário, especialista em explosivos, e ferindo gravemente o capitão Wilson Luiz Chaves Machado. O caso, que inicialmente foi atribuído a grupos de esquerda, revelou-se uma ação arquitetada pelos próprios militares para incriminar os opositores e interromper o avanço democrático no Brasil.
Contexto histórico do Atentado do Riocentro
Para compreender o Atentado do Riocentro, é necessário situá-lo no período de transição política conhecido como abertura lenta e gradual, iniciado no governo de Ernesto Geisel (1974-1979) e continuado no governo de João Figueiredo (1979-1985). Esse processo representava uma tentativa do regime de recuperar a legitimidade perdida durante os anos de repressão intensificada pelo AI-5, promulgado em 1968, e de promover uma transição controlada para a democracia
Entretanto, a abertura política gerava tensões internas nas Forças Armadas, divididas entre os setores moderados, favoráveis à transição, e a linha dura, que temia perder o controle sobre o país. O atentado foi arquitetado nesse cenário de dissidência. Eventos culturais, como o show no Riocentro, eram vistos pela linha dura como ameaças devido ao seu potencial de aglutinação popular e mobilização de opositores. A vigilância sobre a MPB e seus artistas era intensa, com relatos que acusavam personalidades como Chico Buarque e Gonzaguinha de propagarem ideais subversivos, ampliando a desconfiança dos órgãos de repressão.
Além disso, o contexto internacional influenciava o Brasil. A Guerra Fria moldava as políticas de repressão contra movimentos considerados comunistas, enquanto a redemocratização na América Latina começava a ganhar força. No Brasil, movimentos como a Campanha da Anistia e greves operárias pressionavam o regime, tornando eventos como o show do Riocentro pontos estratégicos de resistência
Objetivos do Atentado do Riocentro
O atentado foi concebido para atingir múltiplos objetivos, todos relacionados à manutenção do poder militar e ao enfraquecimento da oposição política. Em primeiro lugar, a intenção era criar um cenário de caos e terror, que justificasse a continuidade das medidas repressivas e reforçasse a narrativa de que o Brasil estava sob ameaça de grupos subversivos. Ao atribuir a responsabilidade pelo ataque a movimentos de esquerda, os agentes esperavam deslegitimar a oposição, minar a confiança no processo de abertura e desacreditar lideranças políticas e culturais que se opunham ao regime.
Outro objetivo importante era frear o avanço da redemocratização. Desde o governo Geisel, medidas como a extinção do AI-5 e a anistia aos presos políticos indicavam uma transição, mas a linha dura militar via essas iniciativas como perigosas concessões. Ao atacar um evento de grande repercussão, como o show do Riocentro, os conspiradores buscavam enviar uma mensagem clara de resistência ao progresso democrático e manter o controle através do medo.
Quem armou o Atentado do Riocentro?
Os documentos e investigações realizadas ao longo dos anos confirmaram que o atentado foi planejado por membros do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), um dos principais órgãos de repressão do regime militar. O capitão Wilson Luiz Chaves Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que estavam no veículo onde ocorreu a explosão, foram os responsáveis diretos pela execução da Missão nº 115. Essa operação visava instalar explosivos no local do show para causar mortes e atribuir o ataque a grupos de esquerda.
Revelações posteriores trouxeram mais luz ao caso. Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade acessou documentos que confirmaram a participação de agentes militares na trama. Cláudio Guerra, ex-delegado do Dops, confessou ter participado do planejamento, enquanto documentos encontrados na casa do coronel reformado Julio Molinas Dias, morto em 2012, reforçaram a responsabilidade da linha dura militar no atentado.
Como foi o Atentado do Riocentro?
Na noite do Atentado do Riocentro, os militares envolvidos posicionaram duas bombas: uma dentro do Puma, com os dois agentes, e outra que seria instalada no local do show. No entanto, a primeira bomba explodiu prematuramente no estacionamento, matando o sargento Rosário e ferindo o capitão Machado. A segunda bomba, colocada em um gerador de energia, foi desativada posteriormente.
A explosão da primeira bomba gerou confusão imediata e chamou atenção para as circunstâncias do incidente. A versão inicial dos militares tentou incriminar grupos de esquerda, mas as inconsistências nos relatos, somadas às investigações da imprensa, rapidamente apontaram para o envolvimento dos próprios militares. A imagem do sargento morto no veículo e a ausência de evidências que corroborassem a versão oficial enfraqueceram a narrativa do regime.
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Consequências do Atentado do Riocentro
As consequências do atentado foram profundas, tanto para o regime militar quanto para a sociedade brasileira. No campo político, o episódio expôs as divisões internas nas Forças Armadas e revelou a oposição da linha dura ao processo de abertura. Isso enfraqueceu o regime e acelerou o movimento pela redemocratização. A repercussão do caso gerou críticas públicas ao governo de João Figueiredo, intensificando a pressão por mudanças.
No âmbito social, o atentado destacou o papel da imprensa na denúncia de abusos e na busca pela verdade. Apesar das dificuldades impostas pela censura, veículos como o Jornal do Brasil e O Globo foram fundamentais para desmascarar a trama e informar a sociedade. Até hoje, o Atentado do Riocentro é lembrado como um marco na história da resistência democrática no Brasil e como símbolo do fim de um regime que tentava se perpetuar através do medo e da repressão.
Crédito de imagem
[1] Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)
Fontes
ANSARA, Soraia. Memória Política, Repressão e Ditadura no Brasil. Curitiba: Juruá, 2008.
CHAGAS, Fábio Gonçalves. A Vanguarda Popular Revolucionária: dilemas e perspectivas da luta armada no Brasil. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000.
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PIRES, Thomaz. Notícias Armadas: uma pesquisa sobre a cobertura do Jornal do Brasil e Estado de São Paulo sobre o caso Riocentro. Monografia (Graduação) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2007.
RIBEIRO, Belisa. Bomba no Riocentro. Rio de Janeiro: Codecri, 1981.