PUBLICIDADE
O atentado da Rua Tonelero foi um acontecimento definidor para o segundo governo de Getúlio Vargas, pois, se o governo estava em crise antes desse episódio, após o ocorrido, a sua manutenção tornou-se insustentável. Esse atentado foi uma tentativa de assassinato contra o principal opositor e crítico de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda – um dos políticos mais conhecidos da União Democrática Nacional (UDN) e dono do jornal Tribuna da Imprensa.
Contexto histórico
O atentado aconteceu no dia 5 de agosto de 1954, durante o segundo governo de Getúlio Vargas, eleito presidente nas eleições de 1950 com 48,7% dos votos. Nessas eleições, Getúlio Vargas derrotou seus adversários da UDN – Eduardo Gomes – e do PSD – Cristiano Machado. Esse governo de Getúlio Vargas ficou marcado pelas fortes tensões sociais, econômicas e políticas que dividiram o país à época.
No campo político, Getúlio Vargas sofria forte oposição da UDN, partido representado por uma classe política conservadora e por parte do Exército, que se aliava politicamente ao discurso udenista. A grande crítica desses grupos era contra as práticas populistas do governo de Vargas.
Economicamente, o Brasil sofria grande pressão com a escalada da inflação – que havia alcançado a taxa de 20,8%|1|. A inflação era a responsável direta pela redução do poder aquisitivo do salário do trabalhador. Também no campo econômico, havia um acalorado debate sobre a política de desenvolvimento econômico do Brasil, que discutia se o desenvolvimento econômico do país seria realizado de maneira nacionalista ou se teria abertura para capital estrangeiro.
A questão dos preços internacionais do café (Getúlio atuava para manter os preços altos) e a postura de Getúlio ao propor a criação da Petrobras trouxeram insatisfação aos Estados Unidos, que se beneficiavam com os preços baixos no mercado internacional de café e com a exploração das fontes de petróleo brasileiras. Com isso, os adversários de Vargas ganharam o apoio dos EUA.
As greves dos trabalhadores insatisfeitos com as dificuldades econômicas configuraram outro fator de desgaste para o governo de Vargas. Como resposta às insatisfações dos trabalhadores, Vargas determinou um aumento salarial de 100% em fevereiro de 1954, o que trouxe insatisfação para as elites econômicas e para o Exército, que não concordavam com o aumento salarial dos trabalhadores.
O Exército representou sempre um grande risco para Getúlio em seu segundo governo, pois sempre houve um risco de que um golpe fosse realizado. O Exército claramente estava dividido entre aqueles que apoiavam incondicionalmente Getúlio e sua política nacionalista e aqueles que criticavam o populismo de Vargas e queriam uma conduta mais incisiva do governo na luta contra o comunismo. Além disso, havia as insatisfações em virtude da deterioração da corporação militar com os poucos investimentos e salários baixos.
Atentado da Rua Tonelero
Getúlio Vargas e, ao fundo, Gregório Fortunato (de chapéu) **
Em situação dificílima, o governo de Vargas sofria críticas atrás de críticas de seus opositores. Carlos Lacerda, opositor bastante atuante, utilizava seu jornal para fazer críticas diárias – muitas delas sem comprovação – e, por isso, acabou sendo alvo de uma trama dos aliados de Getúlio Vargas, que, vendo a posição delicada em que se encontrava o presidente, resolveram calar o maior crítico do governo.
Assim, foi contratado um pistoleiro que recebeu a missão de matar Carlos Lacerda. Entretanto, o ataque a Carlos Lacerda, que aconteceu em 5 de agosto de 1954, foi um completo fracasso. A abordagem que aconteceu na Rua Tonelero, no Rio de Janeiro, resultou na morte de Rubens Vaz, major da força aérea e guarda-costas de Lacerda, que saiu apenas com um ferimento leve.
As investigações conduzidas pela Aeronáutica – interessada em saber as motivações do crime que vitimou seu major – chegaram ao nome de Gregório Fortunato, chefe de segurança e motorista de Vargas, que teria sido o mandante do atentado contra Carlos Lacerda. Logo a posição de Vargas tornou-se insustentável, e os pedidos de renúncia eram acompanhados de acusações sobre a fracassada tentativa de assassinato. A respeito do atentado, “Getúlio provavelmente não sabia do plano de Fortunato para matar Lacerda” |2|. Em entrevistas nos dias seguintes, Vargas deu a entender que se sentia traído com o acontecido e declarou: 'sinto que estou no meio de um mar de lama'.”
A crise que levaria à renúncia de Vargas ou ao golpe do Exército tomou caminhos mais trágicos para Vargas, que cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. Após o suicídio, a opinião pública, que esmagava o presidente até então, voltou-se contra os perseguidores de Vargas:
“Com seu suicídio, Vargas virou o feitiço contra o feiticeiro contra seus inimigos da UDN e militares. Ele havia neutralizado o que eles planejaram ser uma esmagadora vitória política, pois não queriam apenas a remoção de Getúlio mas também a reversão de sua política e o desmantelamento de sua rede política. Essa agenda era agora impossível, dado o estado da opinião pública”|3|.
|1| FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p.349.
|2| SKIDMORE, Thomas E. Uma História do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 194.
|3| Idem, p. 194-195.
* Créditos da imagem: Commons
**Créditos da imagem: Commons
Por Daniel Neves
Graduado em História