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Ernesto Geisel

Ernesto Geisel foi o quarto presidente da Ditadura Civil-Militar a governar o Brasil, de 1974 até 1979. Durante o seu governo, iniciou-se o processo de abertura política.

Ernesto Geisel em foto oficial do seu mandato presidencial.
Ernesto Geisel em foto oficial do seu mandato presidencial.
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Ernesto Geisel foi um general brasileiro que durante a Ditadura Civil-Militar exerceu por cinco anos a presidência da República. Durante o seu governo se iniciou o processo de abertura política. Esse processo contou com momentos de avanços e retrocessos e culminou no fim da Ditadura Civil-Militar em 1985.

Ernesto Geisel iniciou seus estudos em colégios militares na adolescência, no início da década de 1920, auge do movimento tenentista. Geisel participou do golpe de 1930 junto com outros tenentes de batalhas na Revolução Constitucionalista lutando pelas forças varguistas e participou dos combates contra a Intentona Comunista, uma tentativa de golpe organizada pela Aliança Nacional Libertadora em 1935.

Membro da Escola Superior de Guerra, Geisel foi um dos principais idealizadores do Golpe de 1964, participando ativamente do seu planejamento e execução. Ele também foi membro do Governo Castelo Branco, sendo importante na implementação e consolidação da Ditadura. Considerado um militar da ala moderada, Geisel também foi importante para o fim da Ditadura, iniciando o processo de redemocratização e controlando-o com rédeas curtas.

Leia também: Governo Médici — autoritarismo, censura e repressão no terceiro governo da Ditadura brasileira

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Ernesto Geisel

  • Ernesto Geisel foi o 29º presidente do Brasil e o quarto presidente da Ditadura Civil-Militar.
  • Geisel foi militar de carreira e foi promovido a general em 1966.
  • Ele foi casado com Lucy Geisel e com ela teve dois filhos. Um deles faleceu prematuramente em um acidente.
  • Membro da Escola Superior de Guerra, Geisel foi um dos idealizadores do Golpe de 1964.
  • Geisel era considerado um membro da ala moderada dos militares.
  • Durante o Governo Castelo Branco, Geisel ocupou importantes cargos no governo federal.
  • Foi nomeado presidente da Petrobras durante o Governo Médici.
  • Exerceu o mandato presidencial de 1974 até 1979.
  • Geisel iniciou o processo de redemocratização do Brasil.
  • Após deixar o governo viveu de forma relativamente reclusa, fazendo poucas aparições públicas após a Ditadura. Faleceu em 1996.

Biografia de Ernesto Geisel

Ernesto Geisel nasceu na cidade de Bento Gonçalves em 3 de agosto de 1907, durante a Primeira República. Ele era filho de Wilhelm August Geisel, um imigrante alemão que chegou ao Brasil em 1883, ainda durante o Segundo Reinado. A mãe de Geisel era descendente de alemães, nascida na cidade de Teutônia.

Geisel passou toda a infância no Rio Grande do Sul, nas cidades de Teutônia e Estrela, onde foi criado dentro dos princípios luteranos, religião de sua família e que manteve durante toda a vida. Em entrevistas Geisel afirmou que seus pais eram rígidos na educação dos filhos.

Outros dois irmãos de Ernesto Geisel, Henrique e Orlando, seguiram a carreira militar e se tornaram generais. Orlando Geisel foi ministro do Exército durante o governo Médici e teve importante papel político na ascensão de Ernesto à presidência durante a Ditadura Civil-Militar.

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Em 1921, Ernesto Geisel ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre, com 14 anos de idade. Nesse período o movimento tenentista ganhou notoriedade no Brasil, e influenciou o jovem Geisel. Os tenentes participaram de diversas revoltas no Brasil na década de 1920, como a Revolta do Forte de Copacabana em 1922, a Revolução de 1924 em São Paulo e a Coluna Prestes.

Durante a Revolução de 1930, também chamada de Golpe de 1930, Geisel participou das mobilizações revoltosas como tenente. Durante a Era Vargas, Geisel foi nomeado para diferentes cargos pelo presidente.

Em 10 de janeiro de 1940, Ernesto se casou com sua prima Lucy Markus Geisel, filha da irmã de sua mãe. Lucy Geisel era dez anos mais nova do que o marido e também era luterana. O casal teve dois filhos: Orlando, nascido em novembro de 1940, e Amália Lucy, que nasceu em 1945.

Em entrevistas e depoimentos, Geisel afirmou que o momento mais triste da sua vida ocorreu em 28 de março de 1957, quando era comandante do Quartel de Quitaúna, em Osasco. Seu filho Orlando, então com 16 anos, foi atingido na cabeça por um trem ao atravessar a linha férrea de bicicleta quando retornava para a sua casa no quartel. Orlando faleceu no local do acidente. Sua filha, Amália Lucy, foi historiadora e faleceu em 17 de dezembro de 2022, aos 78 anos.

O presidente Ernesto Geisel com sua esposa e filha em fotografia de 1974.
O presidente Ernesto Geisel, sua esposa, Lucy, e Amália, a segunda filha do casal.[1]

Desde a juventude Geisel esteve próximo do poder; o seu tio, pai de sua esposa, foi prefeito da cidade de Estrela por três mandatos. No Colégio Militar de Porto Alegre se aproximou de membros do movimento tenentista, foi ativo na Revolução de 1930 e nomeado para cargos importantes a partir de então, por diferentes presidentes do Brasil.

Durante o Golpe de 1964 foi membro da chamada linha moderada do Exército, apoiando o nome do General Castelo Branco para a presidência, que, de fato, foi eleito pelo colégio eleitoral. Foi nomeado por Castelo Branco para cargos importantes. Com a ascensão de Costa e Silva ao poder, Geisel voltou à caserna, ficando em um breve ostracismo. Retornou ao governo durante o mandato de Médici, quando foi nomeado presidente da Petrobras, cargo que lhe deu projeção política nacional.

Em 15 de janeiro de 1974 foi eleito de forma indireta para presidente da República, assumindo o cargo em 15 de março do mesmo ano e deixando o poder em 15 de março de 1979.

Após a presidência Geisel se manteve no cenário político até o fim da Ditadura, em 1985. Nesse ano Geisel apoiou o candidato opositor da Ditadura para a presidência, Tancredo Neves. Após a Ditadura Geisel levou uma vida relativamente reclusa com a família, vivendo entre seu apartamento em Ipanema e um sítio em Petrópolis.

Veja também: O que aconteceu nos anos de chumbo da Ditadura Militar?

Carreira de Ernesto Geisel

Geisel cursou o ensino primário na Escola Bento Gonçalves, na cidade de mesmo nome e seu local de nascimento. Em 1921, ingressou na Escola Militar de Porto Alegre, se formando em 1924. No ano seguinte se mudou para o Rio de Janeiro, iniciando os estudos na Escola Militar de Realengo, uma das principais instituições militares do período. Em 1928 se tornou aspirante de tenente e foi designado para o 1º Regimento de Artilharia Montada; no mesmo ano se tornou segundo tenente.

Em 1929, Geisel foi transferido para Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e foi promovido a tenente em agosto. Durante a Revolução de 1930 comandou uma bateria do Destacamento Miguel Costa, que marchou para o Rio de Janeiro. Com a ascensão de Vargas ao poder diversos tenentes passaram a ocupar cargos no governo, e Geisel foi enviado para o Rio Grande do Norte para trabalhar sob as ordens do interventor do estado, Aluísio de Andrade Moura, também tenente do Exército.

Ernesto Geisel ao lado do então presidente Getúlio Vargas, em fotografia de 1940.
Ernesto Geisel ao lado do então presidente Getúlio Vargas, em fotografia de 1940.

Geisel foi chefe do Departamento de Segurança do RN. Durante a Era Vargas, Geisel participou da repressão de diversos movimentos contestatórios ao governo, entre eles a Revolução Constitucionalista de 1932 e a Intentona Comunista de 1935.

No Estado Novo ocupou outros cargos burocráticos, inclusive durante a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, não sendo enviado para a guerra. Ocupou cargos importantes no Governo Dutra e, em 1947, foi enviado pelo presidente para a embaixada brasileira no Uruguai, retornando ao Brasil em 1950. Em 1952 foi designado como um dos membros permanentes da Escola Superior de Guerra e promovido a tenente-coronel no ano seguinte.

Durante a década de 1950 ocupou diversos cargos ligados ao Ministério da Defesa. Em 1961, com a crise aberta com a renúncia de Jânio Quadros e a posse de Mazzilli, Ernesto Geisel foi nomeado para a chefia do gabinete militar por Mazzilli. Com o retorno de Jango ao poder, Geisel foi exonerado.

Geisel, na Escola Superior de Guerra, era considerado um dos membros do “grupo da Sorbonne”, maneira como ficaram conhecidos os intelectuais da escola. Esse grupo foi de suma importância no planejamento e execução do Golpe de 1964. Geisel foi um dos militares mais atuantes no planejamento do golpe, na sua execução e implementação da Ditadura Militar no Brasil.

Durante o governo de Castelo Branco foi promovido a general e nomeado ministro do Superior Tribunal Militar. Com a posse de Costa e Silva, membro da linha dura do Exército, Geisel foi afastado do governo. Durante o governo Médici foi nomeado presidente da Petrobras, o que lhe garantiu destaque na propaganda governamental e popularidade.

Em 1973, com a Crise do Petróleo e o fim do Milagre Econômico, a Ditadura dava os primeiros sinais de esgotamento, e Geisel foi lançado como o candidato dos militares nas eleições de 1973. Ele venceu a eleição com 400 votos do colégio eleitoral contra 76 de Ulysses Guimarães.

Ernesto Geisel na presidência da República

Ernesto Geisel no desfile de posse da presidência em 1973.
Ernesto Geisel no desfile de posse da presidência em 1973.[2]

Geisel foi o presidente que iniciou o processo de abertura política no Brasil, cumprindo o que afirmou em seu discurso de posse, que ela seria uma “abertura lenta, gradual e segura”. Em seus cinco anos de governo, Geisel mesclou momentos de avanços na abertura política e momentos de retrocesso, travando uma luta contra membros da linha dura.

Em 1975, Vladimir Herzog, um jornalista da TV Cultura, em São Paulo, foi assassinado enquanto era torturado por agentes da Ditadura no prédio do DOI-CODI. Os torturadores afirmaram que Herzog havia cometido suicídio na cadeia, mas a fotografia dele morto deixou claro para a maior parte da população que ele foi assassinado.

Em janeiro de 1976 o operário Manoel Fiel Filho foi capturado por agentes do Estado em seu local de trabalho e levado para o DOI-CODI, onde também foi morto durante sessão de tortura. As notícias vazaram na mídia, o que levou o presidente Geisel a admitir que houve assassinato nas duas situações. Foi a primeira vez que um general admitiu que assassinatos eram praticados por agentes do Estado.

Em 1977, após sofrer uma derrota no Congresso, Geisel decretou o chamado Pacote de Abril, um conjunto de leis que criou o cargo de senador biônico. Dois senadores por unidade da federação seriam eleitos pelo voto e um terceiro seria eleito pelos membros da Arena, o partido do governo. O pacote ainda aumentou o mandato do presidente para seis anos e previa eleição direta para todos os cargos do Executivo para as eleições de 1982, exceto presidente, que continuaria indireta. O Pacote de Abril foi considerado um retrocesso no processo de abertura.

Em 13 de outubro de 1978, através da Emenda Constitucional nº 11, Geisel revogou o AI-5 e os outros atos institucionais, sendo um grande avanço no processo de abertura.

Em 1979 João Figueiredo sucedeu a Geisel na presidência e deu continuidade ao processo de abertura política, assinando a Lei de Anistia ainda nesse ano. Muitas pessoas exiliadas retornaram para o Brasil. Em 15 de janeiro de 1985, o colégio eleitoral elegeu Tancredo Neves para a presidência e José Sarney para vice, candidatos do MDB e opositores da Ditadura. Tancredo faleceu antes da posse e, em 15 de março de 1985, Sarney assumiu, encerrando a Ditadura Civil-Militar e o processo de abertura política iniciada por Geisel.

Saiba mais: Como foram os dois processos de redemocratização que ocorreram no Brasil após governos ditatoriais

Morte de Ernesto Geisel

A partir de 1994 a saúde de Geisel piorou bastante, e ele passou a sofrer com um câncer ósseo, sendo internado diversas vezes. Em 22 de agosto de 1996 ele foi internado pela última vez, na Clínica São Vicente, na Gávea, sofrendo de insuficiência respiratória e de metástase. Ele permaneceu internado por três semanas e faleceu no dia 12 de setembro de 1996, aos 89 anos. Seu corpo foi velado no Palácio Laranjeiras, e participaram do velório apenas familiares e pessoas próximas, entre elas o ex-presidente João Figueiredo, que chorou sobre o seu caixão.

Créditos das imagens

[1] Wikimedia Commons

[2] Acervo Arquivo Nacional

Fontes

CHAGAS, Carlos. A Ditadura Militar e a longa noite dos generais: 1970-1985. Editora Record, São Paulo, 2015.

PEREIRA, Antony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o estado de direito no Brasil, Chile e Argentina. Editora Paz e Terra, São Paulo, 2012.

Escritor do artigo
Escrito por: Jair Messias Ferreira Junior Pós-graduado em História pela Unicamp e professor da Educação Básica há mais de 20 anos. Também é formador de professores e produtor de materiais didáticos há mais de 10 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

JUNIOR, Jair Messias Ferreira. "Ernesto Geisel"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/ernesto-geisel.htm. Acesso em 29 de outubro de 2024.

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