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Música popular brasileira (MPB)

A música popular brasileira (MPB) é um gênero musical que surgiu no Brasil na década de 60, durante a Ditadura Militar.

Caetano Veloso e Chico Buarque, dois dos principais artistas da música popular brasileira (MPB), abraçados durante um show.
Caetano Veloso e Chico Buarque são dois dos principais artistas da música popular brasileira (MPB). [1]
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A música popular brasileira (MPB) é um gênero musical que surgiu no Brasil na década de 1960, durante a Ditadura Militar. É bastante diversa e se modificou ao longo das décadas. Ela reúne diversos gêneros e regionalidades do país em suas manifestações artísticas.

Leia também: Sertanejo — um dos gêneros musicais mais tradicionais do Brasil

Tópicos deste artigo

Alguns dos principais artistas da MPB

  • Alceu Valença

  • Belchior

  • Caetano Veloso

  • Cazuza

  • Chico Buarque

  • Clara Nunes

  • Djavan

  • Elba Ramalho

  • Elis Regina

  • Elza Soares

  • Fafá de Belém

  • Fagner

  • Gal Costa

  • Gilberto Gil

  • Maria Bethânia

  • Milton Nascimento

  • Raul Seixas

  • Rita Lee

  • Zé Ramalho

Algumas das principais músicas da MPB

  • “Alegria, alegria” (1968), Caetano Veloso

  • “Cálice” (1978), Chico Buarque

  • “Alô, alô marciano” (1980), Elis Regina

  • “Vermelho” (1996), Fafá de Belém

  • “Carcará” (1965), Maria Bethânia

  • “Exagerado” (1985), Cazuza

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Como surgiu a MPB?

O surgimento da MPB está intrinsecamente ligado com o golpe militar e o enfraquecimento da bossa nova enquanto movimento musical hegemônico. O marco inicial da MPB foi a apresentação da cantora Elis Regina no 1º Festival de Música Popular Brasileira, em 1965. A cantora interpretou a canção “Arrastão”, composição de Edu Lobo e Vinícius de Moraes.

É também nessa época que surge a tropicália (ou tropicalismo), um movimento artístico da segunda metade da década de 1960 que marcou profundamente diversas formas de expressão artística, como a música, o cinema, o teatro, a poesia e as artes plásticas.

O gênero musical nasce como forma de reafirmação e valorização da música produzida no Brasil. Sendo assim, gêneros e características estrangeiras, em especial estadunidenses, eram vistos como negativos no gênero — foi o caso da guitarra elétrica, que nos anos iniciais da MPB não era utilizada nas músicas.

MPB e a Ditadura Militar

A valorização do Brasil e suas brasilidades estava além dos acordes musicais, era um ato político. Em seus primeiros anos, a poesia e o posicionamento artístico da MPB estavam ligados ao Brasil da época. Sendo assim, artistas, canções, shows e até obras inteiras denunciavam e combatiam a repressão militar dos anos de chumbo.

Entretanto, com o Ato Inconstitucional 5 (AI-5), a repressão e a censura da Ditadura Militar brasileira fizeram com que as manifestações fossem feitas de forma mais sutil, com ironias e metáforas. Foi o caso da canção “Cálice”, composta por Chico Buarque e Gilberto Gil. Confira a letra a seguir.

Cálice

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça|1|

Características da MPB

Além da forte presença dos protestos e críticas à situação política do Brasil, a MPB também é e foi marcada pela valorização das diversas expressões musicais do país. Dessa forma, diferente de gêneros nacionais como a bossa nova, que possuía características sonora, visual e até vocal bem delimitadas, a MPB era marcada pela diversidade.

Na música popular brasileira encontramos misturas de gêneros e expressões musicais de todo o país, com origens indígenas, africanas e europeias. Gêneros como samba e a própria bossa nova influenciaram a construção de uma “identidade” da MPB. Os artistas e suas regionalidades também.

Já nos anos de 1970, os diversos artistas que emergem no país ajudam a moldar o que viria a ser a MPB. Os baianos Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil são uns dos principais nomes do gênero e trouxeram as influências da Bahia para a MPB.

Fotografia de Gal Costa, um importante nome da música popular brasileira (MPB).
Gal Costa é um importante nome da MPB. [2]

Ainda no Nordeste, surgem grandes nomes, como Djavan, de Alagoas; Belchior e Fagner, do Ceará; Elba Ramalho, da Paraíba; e Alceu Valença, de Pernambuco.

Representando e agregando sons do Norte, temos Fafá de Belém, do Pará. No Sudeste, Clara Nunes, de Minas Gerais; Elza Soares e Milton Nascimento, do Rio de Janeiro. A diversidade de culturas, vozes e expressões é uma das principais características da MPB. Foi justamente essa característica que a fez continuar viva ao longo dos anos.

É importante destacar que a maioria desses artistas não eram músicos “exclusivos” da MPB. Elza Soares, por exemplo, se destacava no samba-jazz, soul rock e soul, enquanto Alcione é um dos grandes ícones do samba.

Música brasileira nas décadas de 1980 e 1990

Os novos elementos, gêneros e artistas que foram surgindo influenciaram bastante a MPB. Por exemplo, nas décadas de 1980 e 1990, o rock nacional toma uma grande força no país. É nesse cenário que surgem grupos como Legião Urbana, Kid Abelha, Titãs, Ira! e Barão Vermelho. Dos artistas solo, se destacam Cazuza, Lulu Santos, Cássia Eller e Marina Lima, além dos já conhecidos Rita Lee e Raul Seixas.

No final dos anos de 1990 e início dos anos 2000, o rap e o hip-hop se tornam cada vez mais hegemônicos. É quando surgem os Racionais MC’s; Gabriel, o Pensador; e Pavilhão 9. Todos esses gêneros e artistas influenciam indireta e diretamente na construção da MPB.

MPB atualmente

Anavitória e Tiago Iorc em show, alguns dos principais nomes da MPB na atualidade.
Anavitória e Tiago Iorc são alguns dos principais nomes da MPB na atualidade. [3]

Por se tratar de um gênero que se renova e implementa diversas referências em sua execução, a MPB continua viva e produzindo diversos artistas. No final do século passado e início dos anos 2000, grandes ícones da MPB surgiram. Foi o caso de Cássia Eller, Ana Carolina, Seu Jorge, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte e os Tribalistas.

O som da MPB dos anos 2000 continuou diverso, com forte presença do samba e pagode; nos casos de Ana Carolina e Seu Jorge, por exemplo, com canções sobre amor e cotidiano.

Avançando para os anos de 2010, artistas jovens cantam sobre seu momento social e de idade. É quando surgem artistas como Mallu Magalhães, Maria Gadú, Maria Rita, Tiago Iorc, Duda Beat, Letrux, Johnny Hooker, Anavitória e Liniker. As referências vão do samba à música eletrônica, passando do piseiro ao hip-hop.

Veja também: Funk — um dos principais gêneros musicais da atualidade

Curiosidades sobre a MPB

  • Há uma grande polêmica sobre o nome “música popular brasileira”. Isso porque há quem defenda a MPB como um gênero musical surgido nos anos de 1960. Entretanto, há quem defenda que toda música produzida no Brasil, por brasileiros, se trata de música popular brasileira.

  • O Dia da Música Popular Brasileira é celebrado em 17 de outubro. A data foi instituída em 9 de maio de 2012, como homenagem à compositora, pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga.

  • Em 1977, a cantora Rita Lee fez uma música que ironizava os colegas de profissão: “Arrombou a festa”. Com muito humor, Rita perguntava o que aconteceu com a música popular brasileira. Na canção, Rita cita grandes nomes da música brasileira e o apelo pelo sucesso comercial da época. Veja um trecho:

Um tal de Raul Seixas vem de disco voador
E Gil vai refazendo seu xodó com muito amor
Dez anos e Roberto não mudou de profissão
Na festa de arromba ainda está com seu carrão
Parei pra pesquisar

Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu
Com a música popular brasileira?
Todos falam sério, todos eles levam a sério
Mas esse sério me parece brincadeira|2|

Notas

|1| BUARQUE, Chico. Cálice. Composição: Chico Buarque / Gilberto Gil. Letras. Disponível em: https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45121/.

|2| LEE, Rita. Arrombou a festa. Composição: Paulo Coelho / Rita Lee. Letras. Disponível em: https://www.letras.mus.br/rita-lee/48497/.

Créditos de imagem

[1] A.PAES / Shutterstock

[2] Silvio Tanaka / Virada Cultural / Wikimedia Commons (reprodução)

[3] Teca Lamboglia / Wikimedia Commons (reprodução)

 

Por Miguel Souza
Jornalista

Escritor do artigo
Escrito por: Miguel Souza Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Miguel. "Música popular brasileira (MPB)"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/artes/musica-popular-brasileira-mpb.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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