Atentado do Riocentro

Ocorrido no dia 30 de abril de 1981, o Atentado do Riocentro foi uma tentativa frustrada de sabotagem ao processo de redemocratização brasileira.

O Atentado do Riocentro foi uma tentativa frustrada de sabotagem ao processo de redemocratização brasileira, promovida por membros do DOI-CODI e setores da linha dura militar em 30 de abril de 1981. No contexto de uma abertura política gradual, marcada pela resistência de militares contrários à democratização, o atentado visava incriminar movimentos de esquerda, gerar instabilidade e justificar a continuidade do regime autoritário. Durante um show de MPB com 20 mil pessoas, uma bomba explodiu acidentalmente em um veículo, matando um sargento e ferindo um capitão, enquanto outra, posicionada no gerador, não foi detonada. O caso expôs divisões nas Forças Armadas, intensificou o movimento por mudanças democráticas e revelou o papel da imprensa na denúncia de abusos e na luta pela verdade histórica.

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Resumo sobre o Atentado do Riocentro

O que foi o Atentado do Riocentro?

Ocorrido em 30 de abril de 1981, o Atentado do Riocentro é um dos episódios mais emblemáticos do final da Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Conhecido como um divisor de águas no contexto da redemocratização, o evento foi uma tentativa frustrada de setores da linha dura militar de sabotar o processo de abertura política, criando um clima de instabilidade e terror.

A explosão ocorreu no estacionamento do Riocentro, durante um show comemorativo ao Dia do Trabalho, que reunia aproximadamente 20 mil pessoas. O evento era um símbolo de resistência ao regime, com apresentações de grandes nomes da música popular brasileira (MPB), como Chico Buarque, Clara Nunes e Gonzaguinha, cujas músicas frequentemente criticavam a repressão​.

O plano, que envolvia a explosão de duas bombas, falhou quando uma delas detonou prematuramente no veículo Puma que transportava dois agentes militares, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário, especialista em explosivos, e ferindo gravemente o capitão Wilson Luiz Chaves Machado. O caso, que inicialmente foi atribuído a grupos de esquerda, revelou-se uma ação arquitetada pelos próprios militares para incriminar os opositores e interromper o avanço democrático no Brasil​.

Contexto histórico do Atentado do Riocentro

Fotografia de João Figueiredo, o Presidente da República à época do Atentado do Riocentro.
João Figueiredo era o presidente da República à época do Atentado do Riocentro.

Para compreender o Atentado do Riocentro, é necessário situá-lo no período de transição política conhecido como abertura lenta e gradual, iniciado no governo de Ernesto Geisel (1974-1979) e continuado no governo de João Figueiredo (1979-1985). Esse processo representava uma tentativa do regime de recuperar a legitimidade perdida durante os anos de repressão intensificada pelo AI-5, promulgado em 1968, e de promover uma transição controlada para a democracia​

Entretanto, a abertura política gerava tensões internas nas Forças Armadas, divididas entre os setores moderados, favoráveis à transição, e a linha dura, que temia perder o controle sobre o país. O atentado foi arquitetado nesse cenário de dissidência. Eventos culturais, como o show no Riocentro, eram vistos pela linha dura como ameaças devido ao seu potencial de aglutinação popular e mobilização de opositores. A vigilância sobre a MPB e seus artistas era intensa, com relatos que acusavam personalidades como Chico Buarque e Gonzaguinha de propagarem ideais subversivos, ampliando a desconfiança dos órgãos de repressão​.

Além disso, o contexto internacional influenciava o Brasil. A Guerra Fria moldava as políticas de repressão contra movimentos considerados comunistas, enquanto a redemocratização na América Latina começava a ganhar força. No Brasil, movimentos como a Campanha da Anistia e greves operárias pressionavam o regime, tornando eventos como o show do Riocentro pontos estratégicos de resistência​

Objetivos do Atentado do Riocentro

O atentado foi concebido para atingir múltiplos objetivos, todos relacionados à manutenção do poder militar e ao enfraquecimento da oposição política. Em primeiro lugar, a intenção era criar um cenário de caos e terror, que justificasse a continuidade das medidas repressivas e reforçasse a narrativa de que o Brasil estava sob ameaça de grupos subversivos. Ao atribuir a responsabilidade pelo ataque a movimentos de esquerda, os agentes esperavam deslegitimar a oposição, minar a confiança no processo de abertura e desacreditar lideranças políticas e culturais que se opunham ao regime.

Outro objetivo importante era frear o avanço da redemocratização. Desde o governo Geisel, medidas como a extinção do AI-5 e a anistia aos presos políticos indicavam uma transição, mas a linha dura militar via essas iniciativas como perigosas concessões. Ao atacar um evento de grande repercussão, como o show do Riocentro, os conspiradores buscavam enviar uma mensagem clara de resistência ao progresso democrático e manter o controle através do medo​.

Quem armou o Atentado do Riocentro?

Os documentos e investigações realizadas ao longo dos anos confirmaram que o atentado foi planejado por membros do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), um dos principais órgãos de repressão do regime militar. O capitão Wilson Luiz Chaves Machado e o sargento Guilherme Pereira do Rosário, que estavam no veículo onde ocorreu a explosão, foram os responsáveis diretos pela execução da Missão nº 115. Essa operação visava instalar explosivos no local do show para causar mortes e atribuir o ataque a grupos de esquerda.

Revelações posteriores trouxeram mais luz ao caso. Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade acessou documentos que confirmaram a participação de agentes militares na trama. Cláudio Guerra, ex-delegado do Dops, confessou ter participado do planejamento, enquanto documentos encontrados na casa do coronel reformado Julio Molinas Dias, morto em 2012, reforçaram a responsabilidade da linha dura militar no atentado​.

Como foi o Atentado do Riocentro?

Na noite do Atentado do Riocentro, os militares envolvidos posicionaram duas bombas: uma dentro do Puma, com os dois agentes, e outra que seria instalada no local do show. No entanto, a primeira bomba explodiu prematuramente no estacionamento, matando o sargento Rosário e ferindo o capitão Machado. A segunda bomba, colocada em um gerador de energia, foi desativada posteriormente​.

A explosão da primeira bomba gerou confusão imediata e chamou atenção para as circunstâncias do incidente. A versão inicial dos militares tentou incriminar grupos de esquerda, mas as inconsistências nos relatos, somadas às investigações da imprensa, rapidamente apontaram para o envolvimento dos próprios militares. A imagem do sargento morto no veículo e a ausência de evidências que corroborassem a versão oficial enfraqueceram a narrativa do regime​.

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Consequências do Atentado do Riocentro

As consequências do atentado foram profundas, tanto para o regime militar quanto para a sociedade brasileira. No campo político, o episódio expôs as divisões internas nas Forças Armadas e revelou a oposição da linha dura ao processo de abertura. Isso enfraqueceu o regime e acelerou o movimento pela redemocratização. A repercussão do caso gerou críticas públicas ao governo de João Figueiredo, intensificando a pressão por mudanças​.

No âmbito social, o atentado destacou o papel da imprensa na denúncia de abusos e na busca pela verdade. Apesar das dificuldades impostas pela censura, veículos como o Jornal do Brasil e O Globo foram fundamentais para desmascarar a trama e informar a sociedade. Até hoje, o Atentado do Riocentro é lembrado como um marco na história da resistência democrática no Brasil e como símbolo do fim de um regime que tentava se perpetuar através do medo e da repressão​.

Crédito de imagem

[1] Arquivo Nacional / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

ANSARA, Soraia. Memória Política, Repressão e Ditadura no Brasil. Curitiba: Juruá, 2008.

CHAGAS, Fábio Gonçalves. A Vanguarda Popular Revolucionária: dilemas e perspectivas da luta armada no Brasil. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Franca, 2000.

MOLICA, Fernando. 10 Reportagens que Abalaram a Ditadura. São Paulo: Record, 2005.

NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24, n. 47, p. 103-126, jul. 2004.

PIRES, Thomaz. Notícias Armadas: uma pesquisa sobre a cobertura do Jornal do Brasil e Estado de São Paulo sobre o caso Riocentro. Monografia (Graduação) – Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2007.

RIBEIRO, Belisa. Bomba no Riocentro. Rio de Janeiro: Codecri, 1981.


Fonte: Brasil Escola - https://brasilescola.uol.com.br/historiab/o-caso-riocentro-fim-ditadura-militar.htm