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O analfabetismo funcional é uma condição na qual o indivíduo reconhece letras e números, mas não consegue interpretar as informações dos textos e utilizá-las no dia a dia. Pessoas funcionalmente analfabetas têm seu desenvolvimento pessoal, profissional e social afetados.
No Brasil, cerca de 29% da população adulta pode ser considerada analfabeta funcional. A ausência de políticas públicas eficazes e a desvalorização da educação agravam ainda mais o problema. Para combater o analfabetismo funcional, é crucial que a administração pública elabore políticas integradas que abordam o problema desde a educação básica até a educação de jovens e adultos, garantindo acesso à educação de qualidade para todos.
A sociedade civil também pode contribuir organizando campanhas de conscientização e desenvolvendo projetos comunitários que promovam a leitura e a escrita. Empresas podem estabelecer parcerias com instituições educacionais para oferecer programas de formação continuada aos seus funcionários, focando habilidades de leitura, escrita e matemática. Essas ações combinadas podem ajudar a reduzir o analfabetismo funcional e promover um desenvolvimento mais justo e sustentável.
Leia também: Quais são os três tipos de analfabetismo?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre analfabetismo funcional
- 2 - O que é analfabetismo funcional?
- 3 - Quais são as causas do analfabetismo funcional?
- 4 - Níveis de alfabetização
- 5 - Consequências do analfabetismo funcional
- 6 - Analfabetismo funcional no Brasil
- 7 - Analfabetismo funcional no mundo
- 8 - Como combater o analfabetismo funcional?
Resumo sobre analfabetismo funcional
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O analfabetismo funcional consiste em reconhecer letras e números, mas não conseguir interpretar textos simples para usar no dia a dia.
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Também inclui a dificuldade de organizar ideias e expressá-las de forma coerente e lógica.
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Analfabetos funcionais frequentemente possuem algum nível de escolaridade, mas não desenvolveram habilidades de leitura e escrita adequadas.
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Cerca de 29% da população brasileira de 15 a 64 anos é considerada analfabeta funcional.
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Há alta prevalência do analfabetismo funcional entre a população idosa no Brasil.
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Há cinco níveis de alfabetização: analfabeto, rudimentar, elementar, intermediário e proficiente, com os dois primeiros considerados analfabetos funcionais.
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Países como Argentina, Uruguai, Estados Unidos, França e Coreia do Sul erradicaram o analfabetismo funcional há décadas, apresentando melhores resultados educacionais.
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Deve haver incentivo à leitura e escrita, formação de parcerias entre empresas e instituições educacionais, e desenvolvimento de projetos comunitários para promover a alfabetização funcional.
O que é analfabetismo funcional?
O analfabetismo funcional corresponde à condição do indivíduo que, apesar de ser capaz de reconhecer letras e números, não consegue interpretar e utilizar a informação escrita de maneira eficaz em seu cotidiano. O analfabetismo funcional é um fator limitante para o desenvolvimento pessoal e social.
O analfabeto funcional tem uma alfabetização rudimentar, permitindo-lhe localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares – por exemplo, um post de rede social, um anúncio ou pequena carta. Ele é capaz ainda de ler e escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita métrica.
No entanto, o analfabeto funcional é incapaz de tarefas mais difíceis. Por exemplo, selecionar em textos de extensão média uma ou mais unidades de informação, observando certas condições e realizando pequenas inferências. O analfabeto funcional não consegue resolver problemas envolvendo operações básicas com números da ordem do milhar, que exigem certo grau de planejamento e controle, nem relacionar informações numéricas ou textuais expressas em gráficos ou tabelas simples envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social.
Então, o problema do analfabetismo funcional não se restringe apenas à leitura e escrita, mas também inclui a dificuldade de organizar ideias e expressá-las de forma coerente e lógica. O analfabetismo funcional é frequentemente encontrado em indivíduos que tiveram algum nível de escolaridade, mas cuja educação foi insuficiente para desenvolver habilidades de leitura e escrita adequadas.
Veja também: Por que a leitura é tão importante?
Quais são as causas do analfabetismo funcional?
As causas do analfabetismo funcional são diversas, incluindo a desvalorização da leitura na sociedade, poucos investimentos na escolarização básica e a baixa qualidade na educação, especialmente nas regiões mais atingidas pelas desigualdades sociais.
A qualidade da educação é um fator crucial. Escolas que não conseguem proporcionar um ensino eficaz de leitura e escrita contribuem significativamente para o analfabetismo funcional. Muitos alunos passam pelo sistema educacional sem desenvolver plenamente suas habilidades de interpretação e análise de textos, o que é evidenciado pelos altos índices de analfabetismo funcional mesmo entre aqueles que completam o ensino médio.
A ausência de políticas públicas eficazes para combater o analfabetismo funcional é outra causa significativa. Programas de alfabetização muitas vezes não são implementados de forma contínua e abrangente, e faltam campanhas de incentivo à leitura e à escrita. Além disso, a desvalorização da educação por parte do governo agrava mais o problema.
Níveis de alfabetização
Os níveis de alfabetização são categorizados para avaliar a capacidade de leitura, escrita e compreensão dos indivíduos. Segundo especialistas, esses níveis ajudam a entender melhor o grau de proficiência das pessoas e a desenvolver estratégias educacionais e políticas públicas mais eficazes.
Níveis de alfabetismo |
|
Grupos |
5 níveis (utilizados a partir de 2015) |
Analfabetos funcionais |
Analfabeto |
Rudimentar |
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Funcionalmente alfabetizados |
Elementar |
Intermediário |
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Proficiente |
Cada nível requer abordagens específicas para promover o avanço dos indivíduos, garantindo que todos possam alcançar um grau de alfabetização que lhes permita participar plenamente da sociedade.|1| A seguir, apresentamos os cinco níveis de alfabetização, conforme descritos por estudos de especialistas em alfabetização e letramento.
→ Nível 1: analfabeto
Esse é o nível em que o indivíduo não possui nenhuma habilidade de leitura e escrita. Pessoas nesse nível não conseguem reconhecer letras, palavras ou números, e são incapazes de realizar qualquer atividade que envolva leitura ou escrita. No entanto, uma parcela dos analfabetos consegue ler números familiares: preços, linhas de ônibus, telefones.
→ Nível 2: rudimentar
A pessoa com alfabetismo rudimentar ainda é considerada analfabeto funcional, ainda que ela seja capaz de localizar informações explícitas, expressas de forma literal, em textos compostos essencialmente de sentenças ou palavras que exploram situações familiares do cotidiano.
Além disso, consegue comparar, ler e escrever números familiares (horários, preços, cédulas/moedas, telefones) identificando o maior e o menor valor. Também tem aptidão para resolver problemas simples do cotidiano envolvendo operações matemáticas elementares e estabelecer relações entre grandezas e unidades de medida. Esse nível ainda é considerado analfabetismo funcional, pois a pessoa não consegue utilizar o pensamento lógico, a leitura e a escrita de forma eficaz no dia a dia.
→ Nível 3: elementar
Indivíduos alfabetizados neste nível deixam de ser analfabetos funcionais. É considerado alfabetizado em nível elementar o indivíduo capaz de selecionar, em textos de extensão média, uma ou mais unidades de informação, observando certas condições e realizando pequenas inferências. Ele também resolve problemas envolvendo operações básicas com números da ordem do milhar, que exigem certo grau de planejamento e controle.
O alfabetizado funcional em nível elementar tem condição de comparar e relacionar informações numéricas ou textuais expressas em gráficos ou tabelas simples envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social.
→ Nível 4: intermediário
É considerado alfabetizado no nível intermediário o indivíduo capaz de localizar informação expressa de forma literal em textos diversos (jornalístico e/ou científico) realizando pequenas inferências. Ele também está apto a resolver problemas matemáticos envolvendo porcentagem e proporção, que exigem critérios de seleção, elaboração e controle.
Além disso, o alfabetizado intermediário interpreta e elabora síntese de textos diversos (narrativos, jornalísticos ou científicos), relacionando regras com casos particulares, reconhece evidências e argumentos e confronta a moral da história com a própria opinião ou com o senso comum. Por fim, ele reconhece o efeito de sentido ou estético de escolhas lexicais ou sintáticas, de figuras de linguagem ou de sinais de pontuação.
→ Nível 5: proficiente
O nível proficiente é o mais alto grau de alfabetização. O indivíduo proficiente elabora textos de maior complexidade (mensagem, descrição, exposição de motivos, dissertação ou argumentação) com base em elementos de um contexto dado e opina sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto.
É capaz de interpretar tabelas e gráficos envolvendo mais de duas variáveis, compreendendo a representação de informações variadas. A pessoa proficiente também está apta a resolver situações-problema relativas a tarefas de contextos diversos, que envolvem diversas etapas de planejamento, controle e elaboração e que exigem retomada de resultados parciais e o uso de inferências.
Consequências do analfabetismo funcional
O analfabetismo funcional tem implicações significativas para o desenvolvimento pessoal, profissional e social dos indivíduos. Pessoas funcionalmente analfabetas enfrentam dificuldades no mercado de trabalho, onde a falta de habilidades de leitura e escrita limita as oportunidades de emprego e o crescimento profissional.
O analfabetismo funcional tem sérias consequências econômicas. Indivíduos que não conseguem interpretar textos ou realizar cálculos básicos têm dificuldades em se qualificar para empregos que exigem essas habilidades, resultando em menor produtividade e maiores taxas de desemprego. No Brasil, os segmentos da economia que mais crescem são os de serviço e comércio, os segmentos em que trabalhadores analfabetos funcionais têm grande dificuldade de inserção.
Além de produzir menos para a economia de um país, o analfabetismo funcional prejudica a compreensão de informações políticas e sociais. Isso limita a capacidade de fazer escolhas informadas e participar ativamente da vida cívica, levando a uma menor participação nas eleições e a uma maior suscetibilidade à manipulação ideológica.
Saiba mais: Educação no Brasil — história, objetivos e dados mais atuais
Analfabetismo funcional no Brasil
O analfabetismo funcional no Brasil está concentrado na população idosa. Na faixa etária de 65 anos ou mais, cerca de 20% é analfabeta funcional. O Brasil caminha, ainda que muito atrasado, para a erradicação do analfabetismo funcional nos jovens entre 15 e 24 anos. Nessa faixa etária, apenas 1,5% são analfabetos funcionais.
Erradicar o analfabetismo funcional é uma conquista importante, mas que foi atingida há 40, 50, até 100 anos atrás em países como Argentina, Uruguai, Estados Unidos, França e Coreia do Sul. Todos esses países praticamente universalizaram a alfabetização da população no século passado e apresentam resultados muito melhores do que os brasileiros.
Podemos concluir que o sistema de alfabetização atual no Brasil é frequentemente ineficiente, focando mais a memorização de palavras e números do que a compreensão e interpretação de textos. O baixo investimento em educação, assim como a ausência de métodos pedagógicos que incentivem a leitura crítica e a interpretação de textos complexos, contribui para a formação de analfabetos funcionais no Brasil.
→ Taxa do analfabetismo funcional Brasil
Na ausência de indicadores oficiais sobre o analfabetismo funcional na população adulta, a melhor pesquisa que temos é o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), uma iniciativa da desenvolvida pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro para medir os níveis de alfabetismo da população brasileira de 15 a 64 anos.
Diferente do Censo Demográfico do IBGE, a metodologia do Inaf é abrangente, bem aprimorada e precisa na avaliação dos níveis de alfabetismo funcional da população brasileira. Esse relatório apresenta uma análise detalhada das taxas de analfabetismo funcional por faixa etária, gênero e raça/cor, com base nos dados coletados entre 2001 e 2018.
Segundo dados do último Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), que foi divulgado em 2018, cerca de 29% da população brasileira de 15 a 64 anos era considerada analfabeta funcional. Ou seja, quase um terço dos brasileiros nessa faixa etária possuem dificuldades para compreender textos simples e realizar tarefas mais complexas que envolvam a leitura e a escrita.
Conforme a tabela abaixo, podemos observar uma redução nos últimos 20 anos na taxa de analfabetismo funcional. Apesar da melhora nos níveis mais baixos, o índice de proficientes é constante ao longo da série histórica. Isso revela que os ganhos se acumulam nos níveis elementar e intermediário, etapas que deveriam ser apenas de transição para uma alfabetização plena.
Analfabetismo funcional no mundo
Da população mundial com mais de 15 anos, a maior parte é alfabetizada. Em muitos países, mais de 95% são funcionalmente alfabetizadas. Globalmente, no entanto, grandes desigualdades permanecem, notadamente entre algumas regiões da África Subsaariana e o resto do mundo.
Em alguns países da África Subsaariana, menos de um em cada três adultos (com mais de 15 anos) é capaz de ler e escrever. Essa região concentra uma grande parte dos analfabetos funcionais do mundo. A taxa de analfabetismo funcional é alta devido a fatores como pobreza, disparidade de gênero e isolamento geográfico. Em muitos países, a falta de recursos e infraestrutura educacional adequada agrava o problema.
Juntamente com a África Subsaariana, o Sul da Ásia abriga cerca de 75% dos 750 milhões de analfabetos no mundo. A taxa de analfabetismo funcional é elevada, especialmente entre mulheres, devido a barreiras culturais e socioeconômicas que limitam o acesso à educação.
Como combater o analfabetismo funcional?
Há várias formas de combater o analfabetismo funcional. Primeiro de tudo, a administração pública deve cumprir o seu dever de elaborar políticas públicas integradas que abordem o analfabetismo funcional desde a educação básica até a educação de jovens e adultos, garantindo acesso à educação de qualidade para todos. Além disso, deve-se aumentar o investimento em educação, especialmente em áreas com altos índices de analfabetismo funcional, e garantir a formação contínua de professores.
Considerando que uma parte significativa de analfabetos funcionais trabalham, as empresas poderiam estabelecer parcerias com instituições educacionais para oferecer programas de formação continuada aos seus funcionários, focando habilidades de leitura, escrita e matemática. As empresas podem oferecer incentivos, como bolsas de estudo e horários flexíveis, para que os funcionários possam continuar seus estudos e melhorar suas habilidades e competências de leitura, matemática e pensamento.
Por fim, a sociedade civil pode organizar campanhas de conscientização sobre a importância da alfabetização funcional e os impactos negativos do analfabetismo funcional na vida cotidiana e no desenvolvimento social. A sociedade pode desenvolver projetos comunitários que promovam a leitura e a escrita, como bibliotecas comunitárias, clubes de leitura e oficinas de escrita.
Acima de tudo, valorizar e colaborar com o trabalho de agentes sociais e ONGs que já atuam na área de educação para ampliar o alcance de programas de alfabetização funcional.
Notas
|1| O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (Inaf) é uma iniciativa de medição do alfabetismo da população brasileira, criado e implementado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, e seus resultados foram publicados anualmente até 2018.
|2| BARBOSA, J.P.; CONRADO, A.L.; BELUSCI, H.C. Pressupostos para a atualização do indicador de alfabetismo funcional. Revista Estudos em Avaliação Educacional, vol. 34, São Paulo, 2023. Epub 12-Dez-2023, [online]. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-68312023000100120&lng=pt&nrm=iso
Créditos da imagem
[1] Ardi Abdillah/ Shutterstock
Fontes
ANDRADE, L. M. F. Analfabetismo funcional: conceito, etiologia e subníveis. In: Anais do Congresso Internacional de Educação Inclusiva e Tecnologias Assistivas. Florianópolis, 2019.
BARBOSA, J.P.; CONRADO, A.L.; BELUSCI, H.C. Pressupostos para a atualização do indicador de alfabetismo funcional. Revista Estudos em Avaliação Educacional, vol. 34, São Paulo, 2023. Epub 12-Dez-2023, [online]. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-68312023000100120&lng=pt&nrm=iso
CARVALHO, M. A. J. Analfabetismo funcional no Brasil. Revista Brasileira de Educação, 24, 2019.
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OLIVEIRA, M.; PEREIRA, A. R. Analfabetismo funcional: definição e desafios para a alfabetização de jovens e adultos. Educação e Pesquisa, v. 46, e206693, 2020.
OLIVEIRA, A. P. S. de; PEREIRA, M. A. A importância das políticas públicas para o combate ao analfabetismo funcional no Brasil. Revista Educação e Contemporaneidade, v. 12, n. 24, p. 101-118, 2020.