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Polissemia é um fenômeno linguístico caracterizado pela existência de um termo que apresenta mais de um significado. A palavra “língua”, por exemplo, pode significar um órgão ou um idioma, de acordo com o contexto em que é empregada. Se não forem bem contextualizadas, algumas palavras polissêmicas podem gerar a ambiguidade, que é o duplo sentido do enunciado.
A polissemia também se diferencia da homonímia, que consiste em palavras que têm a mesma pronúncia e/ou grafia, mas significados diferentes, como as palavras “acento” (sinal gráfico) e “assento” (lugar onde sentar).
Leia também: Problemas notacionais da língua portuguesa
Tópicos deste artigo
- 1 - O que é polissemia?
- 2 - Exemplos de polissemia
- 3 - Diferenças entre polissemia e ambiguidade
- 4 - Diferenças entre polissemia e homonímia
- 5 - Exercícios resolvidos
O que é polissemia?
Polissemia é o nome que se dá ao fato de um termo apresentar mais de um significado. Dessa maneira, o sentido do termo depende, também, do contexto em que ele é empregado. Portanto, se, por exemplo, você disser que tem a pena de Camões, sem contextualizar sua declaração, o seu ouvinte ficará em dúvida, não saberá se você tem a pena (instrumento de escrita) que pertenceu a Camões ou se você sente a pena (dó) que Camões sentia.
Exemplos de polissemia
Sofreu muito quando teve que partir e voltar ao seu país de origem.
(partir = ir-se embora)
Leandro, cuidado para não partir a mesa.
(partir = quebrar)
Tenho um gato de estimação chamado Astrogildo.
(gato = animal)
Acho o Pierre Batcheff um gato, mas há quem discorde de mim.
(gato = homem atraente)
Estava com tanta fome, que queimei a língua com a sopa quente.
(língua = órgão)
A língua é viva e está em constante transformação.
(língua = idioma)
Precisamos entender qual é o nosso papel em tudo isso.
(papel = função)
Depois de ler a carta, colocou o papel sobre a mesa e chorou.
(papel = lugar onde se escreve)
Evito ir ao banco, prefiro pagar minhas contas pelo aplicativo.
(banco = instituição financeira)
João sentou-se no banco e ficou admirando a paisagem.
(banco = assento)
Bruna não sabia a resposta, então chutou.
(chutou = arriscou ou tentou adivinhar uma resposta)
Quando ela chutou, eu soube que o gol era certo.
(chutou = deu chute em uma bola)
Leia também: Paronímia – palavras semelhantes na pronúncia e escrita, mas com significados diferentes
Diferenças entre polissemia e ambiguidade
A polissemia refere-se a um termo que possui mais de um sentido e, por isso, depende do contexto de enunciação, pois, se estiver fora de contexto, pode provocar a ambiguidade, que consiste no duplo sentido de um enunciado.
Observe este diálogo:
— Jenival cortou a mangueira.
— Que pena! Eu gostava tanto daquelas mangas.
— Estou falando da mangueira de regar plantas.
— Ah, pensei que...
— Ele fez bambolês para as crianças.
Assim, se o enunciador da fala “Jenival cortou a mangueira” tivesse contextualizado a informação, não provocaria a confusão de seu interlocutor diante do enunciado ambíguo. Porém, a ambiguidade, considerada um vício de linguagem, não é gerada apenas pela descontextualização de uma palavra polissêmica. Ela pode ser causada também pelo uso inadequado de um hipérbato, isto é, da alteração da ordem direta (sujeito, verbo, complemento ou predicativo) de uma oração:
O filho amava o pai.
Nesse enunciado, há ambiguidade, pois não sabemos quem amava quem, se o sujeito é o filho ou o pai, já que não é possível dizer se a oração está na ordem direta ou inversa. Desse modo, se, excepcionalmente, alterarmos a transitividade do verbo “amar”, acabamos com a ambiguidade:
Ao filho amava o pai.
O uso dos pronomes possessivos “seu” e “sua” também costuma gerar ambiguidade no português brasileiro, já que, no Brasil, são pouco usados os pronomes “teu” e “tua”. Veja o enunciado:
Pedro, eu tentava acalmar a Maria quando roubaram o seu carro.
Aqui fica difícil saber se o carro roubado era de Pedro ou de Maria.
Veja também: Os cinco erros mais cometidos por redatores
Diferenças entre polissemia e homonímia
A polissemia é um fenômeno linguístico que consiste na existência de um termo com mais de um significado. Já a homonímia está relacionada com palavras com mesma pronúncia e/ou mesma grafia; porém, com significados diferentes. Os homônimos podem ser assim classificados:
-
Homógrafos heterofônicos: mesma grafia e sons diferentes.
Ela não era muito fã do jogo de baralho.
(substantivo)
Quando jogo baralho, esqueço meus problemas.
(verbo)
-
Homófonos heterográficos: mesmo som e grafias diferentes.
Este ano, devo responder a mais um censo do IBGE.
(recenseamento)
As pessoas aqui não têm bom senso.
(juízo, discernimento)
-
Homófonos homográficos: mesmo som e mesma grafia.
Cedo o meu direito a seu favor.
(verbo)
Acordei cedo para protestar.
(advérbio)
Então, você deve estar se perguntando se a palavra “cedo”, além de homônima, é também polissêmica. A resposta é não. A polissemia refere-se a apenas uma palavra com mais de um significado. Já a homonímia consiste em duas ou mais palavras que têm a mesma pronúncia e/ou a mesma grafia, mas significados diferentes. Portanto, “cedo” e “cedo” são duas palavras diferentes, já que uma é verbo e a outra, advérbio.
Analise estes enunciados:
Auriete é uma dama, por isso não deu uma resposta à altura da ofensa.
Auriete sabia que, no xadrez, a dama é quase tão importante quanto o rei.
Nesse caso, “dama” é uma palavra só, pois, em ambos os exemplos, é um substantivo; porém, possui significados diferentes — mulher de família nobre (primeiro enunciado) e peça de xadrez (segundo enunciado). Portanto, é uma palavra polissêmica.
Leia também: Diferença entre hiperônimos e hipônimos
Exercícios resolvidos
Questão 01 (Enem)
Essa pequena
Meu tempo é curto, o tempo dela sobra
Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora
Temo que não dure muito a nossa novela, mas
Eu sou tão feliz com ela
Meu dia voa e ela não acorda
Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida
Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas
Não canso de contemplá-la
Feito avarento, conto os meus minutos
Cada segundo que se esvai
Cuidando dela, que anda noutro mundo
Ela que esbanja suas horas ao vento, ai
Às vezes ela pinta a boca e sai
Fique à vontade, eu digo, take your time
Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas
O blues já valeu a pena
CHICO BUARQUE. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 31 jun. 2012.
O texto Essa pequena registra a expressão subjetiva do enunciador, trabalhada em uma linguagem informal, comum na música popular.
Observa-se, como marca da variedade coloquial da linguagem presente no texto, o uso de
a) palavras emprestadas de língua estrangeira, de uso inusitado no português.
b) expressões populares, que reforçam a proximidade entre o autor e o leitor.
c) palavras polissêmicas, que geram ambiguidade.
d) formas pronominais em primeira pessoa.
e) repetições sonoras no final dos versos.
Resolução:
Alternativa “b”.
Nessa letra de música, o eu lírico usa expressões populares, como “nossa novela”, “dia voa”, “anda noutro mundo”, “essa pequena”, “valeu a pena”. Existem, no texto, palavras polissêmicas, como “novela”, “voa” e “pena”; no entanto, elas não geram ambiguidade.
Questão 02 (Enem)
Na criação do texto, o chargista Iotti usa criativamente um intertexto: os traços reconstroem uma cena de Guernica, painel de Pablo Picasso que retrata os horrores e a destruição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade da Espanha. Na charge, publicada no período de Carnaval, recebe destaque a figura do carro, elemento introduzido por Iotti no intertexto. Além dessa figura, a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra de Picasso e a charge, ao explorar
a) uma referência ao contexto, “trânsito no feriadão”, esclarecendo-se o referente tanto do texto de Iotti quanto da obra de Picasso.
b) uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”, evidenciando-se a atualidade do tema abordado tanto pelo pintor espanhol quanto pelo chargista brasileiro.
c) um termo pejorativo, “trânsito”, reforçando-se a imagem negativa de mundo caótico presente tanto em Guernica quanto na charge.
d) uma referência temporal, “sempre”, referindo-se à permanência de tragédias retratadas tanto em Guernica quanto na charge.
e) uma expressão polissêmica, “quadro dramático”, remetendo-se tanto à obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro.
Resolução:
Alternativa “e”.
Ocorre um diálogo entre a obra de Picasso e a charge, a qual diz que “O trânsito no feriadão é sempre um quadro dramático!”. Nesse texto verbal, ocorre a polissemia na expressão “quadro dramático”, que pode tanto se referir a uma pintura quanto a uma situação dramática.
Questão 03 (Enem)
Disponível em: www.ivancabral.com. Acesso em: 27 fev. 2012.
O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à
a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que pretende veicular.
b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”.
c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da população rica.
d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico.
e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família.
Resolução:
Alternativa “a”.
Na frase, “rede social” pode se referir tanto a um site ou aplicativo quanto à rede ocupada pelos integrantes da família. Portanto, é uma expressão polissêmica.
Por Warley Souza
Professor de Gramática