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Tenda dos milagres é um romance do escritor brasileiro Jorge Amado. Nessa narrativa, o escritor baiano Pedro Archanjo adquire notoriedade 25 anos depois de sua morte. Ao fazer uma retrospectiva da vida do protagonista, a obra traz reflexões sobre questões sociais e políticas do século XX.
Jorge Amado faz parte da Geração de 30 do Modernismo brasileiro. Assim, o romance em questão apresenta realismo social e crítica sociopolítica. Por meio do personagem Archanjo, a obra denuncia o preconceito racial e as injustiças sociais, além de enaltecer a liberdade de expressão.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Tenda dos milagres
- 2 - Análise da obra Tenda dos milagres
- 3 - Características da obra Tenda dos milagres
- 4 - Contexto histórico da obra Tenda dos milagres
- 5 - Jorge Amado
Resumo sobre Tenda dos milagres
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O escritor brasileiro Jorge Amado nasceu em 1912 e faleceu em 2001.
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Tenda dos milagres conta a história do escritor fictício Pedro Archanjo.
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Archanjo escreve obras sobre miscigenação e combate o preconceito racial.
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O romance está inserido no modernismo e apresenta crítica sociopolítica.
Análise da obra Tenda dos milagres
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Personagens da obra Tenda dos milagres
- Ana Mercedes: poetisa.
- Calazans: professor e historiador.
- Cândido Maia: padrinho de Corró.
- Damião de Souza: major.
- Dmeval Chaves: livreiro e editor.
- Doroteia: mãe de Tadeu.
- Fausto Pena: poeta.
- Gastão Simas: gerente de publicidade.
- James D. Levenson: americano.
- Kirsi: a sueca.
- Lídio Corró: pintor e tipógrafo.
- Nilo Argolo: professor.
- Ojuobá: pai de santo.
- Oswaldo Fontes: professor.
- Pedro Archanjo: protagonista.
- Rosa de Oxalá: namorada de Corró.
- Rosália: prostituta.
- Tadeu: aprendiz de tipógrafo.
- Zabela: condessa de Água Brusca.
- Zezinho Pinto: diretor e dono do Jornal da Cidade.
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Tempo da obra Tenda dos milagres
A história de Pedro Archanjo, o escritor alvo das pesquisas de Fausto Pena, acontece no início do século XX até sua morte, em 1943. Já o tempo do narrador Fausto Pena está situado 25 anos após a morte de Pedro Archanjo.
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Espaço da obra Tenda dos milagres
A ação se passa em Salvador, no estado da Bahia.
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Enredo da obra Tenda dos milagres
No início da obra, o narrador mostra o Pelourinho e fala da cultura baiana, tão irmanada com a cultura africana. Um dos personagens principais é o poeta Fausto Pena, também bacharel em Ciências Sociais. Ele fez uma pesquisa sobre Pedro Archanjo e mostra, no romance, o resultado desse trabalho, encomendado e pago por um estado-unidense chamado James D. Levenson.
O americano publicou parte da obra do misterioso Pedro Archanjo em um dos volumes de sua Encyclopedia of life in the tropical and underdeveloped countries. Como o estado-unidense não citou o nome do pesquisador em sua enciclopédia, Pena se sentiu à vontade para publicar os resultados de sua pesquisa, a convite do editor Dmeval Chaves.
Quando Levenson chegou ao Brasil, foi apresentado ao pesquisador pela poetisa e jornalista Ana Mercedes. A imprensa brasileira então ouviu pela primeira vez o nome de Pedro Archanjo. A princípio, os fatos da vida desse protagonista são mencionados de forma fragmentada. Assim, descobrimos que morreu com 75 anos e foi encontrado em uma sarjeta.
Archanjo era autor de livros sobre miscigenação. Ele morreu no mesmo dia do amado pai de santo Ojuobá, o que fez com que a morte do escritor fosse relegada a segundo plano. Muito pobre, as despesas do enterro de Archanjo foram pagas por “mulheres da vida”. Além disso, a prostituta Rosália saiu pelo Pelourinho arrecadando ajuda para o enterro.
Já Fausto Pena tinha um caso com Ana Mercedes. Na Bahia, Levenson ficou fascinado com os costumes e os sabores da cidade e despertou o ciúme de Pena, pois quem guiava o gringo era Ana. Por estímulo do major Damião, o diretor do Jornal da Cidade decidiu publicar textos para comemorar o centenário de Pedro Archanjo.
Os repórteres encontraram conhecidos de Archanjo, anciãos que trouxeram recordações dessa personalidade repentinamente famosa. Archanjo se envolveu com uma sueca e lhe mostrou a Tenda dos Milagres, tipografia e residência do também pintor Lídio Corró. Ali, os amigos e suas acompanhantes se reuniam à noite para beber, conversar e, por ideia de Archanjo e Corró, assistiam a cenas em um cinematógrafo.
Rosa era namorada de Corró, mas Archanjo era apaixonado por ela. Pedro Archanjo era boêmio e defensor da gente pobre e marginalizada. As obras do autor, em sua época, não eram conhecidas, foram pouco lidas, com exceção de uma que fez escândalo. Archanjo lutava contra o racismo, também representado pela repressão policial aos terreiros de candomblé.
Com a iniciativa do Jornal da Cidade, uma comissão de pessoas importantes da cidade de Salvador se reuniu para planejar os festejos em homenagem ao centenário de Pedro Archanjo, nascido em 18 de dezembro de 1868 e autor dos seguintes livros:
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A vida popular na Bahia (1907);
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Influências africanas nos costumes da Bahia (1918);
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Apontamentos sobre a mestiçagem nas famílias baianas (1928);
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A culinária baiana — origens e preceitos (1930).
De Pedro Archanjo, também se sabe:
Mulato, pobre, autodidata. Ainda rapazola engajou-se grumete em navio de carga. Viveu alguns anos no Rio de Janeiro. Ao voltar à Bahia, exerceu o ofício de tipógrafo e ensinou primeiras letras, antes de empregar-se na Faculdade de Medicina, emprego que veio a perder, após tê-lo exercido durante cerca de trinta anos, devido à repercussão de um de seus livros. Músico amador, tocava violão e cavaquinho. Participou intensamente da vida popular. Tendo permanecido solteiro, atribuem-lhe muitos amores, inclusive bela escandinava, sueca ou finlandesa, não se sabe ao certo.|1|
Quem cuidava da promoção do famoso escritor era a Doping Promoção e Publicidade S. A., que tinha como gerente Gastão Simas. Agora o escritor era reverenciado também nas escolas de Salvador. Mas, no passado, com a publicação de seu livro Apontamentos sobre a mestiçagem nas famílias baianas, Archanjo comprovou que todas as famílias ali tinham “mistura de sangue”.
As pessoas ricas da cidade ficaram indignadas com tal afirmação, o que levou à demissão de Archanjo da faculdade onde ele trabalhava. O intelectual chegou até a ser preso por defender a igualdade social, em textos que ele imprimia na Tenda dos Milagres, que acabou fechando as portas.
Desse modo, o livro de Jorge Amado mostra como Archanjo foi perseguido por suas ideias e estilo de vida, esquecido por décadas, para depois ser considerado intelectual importante e ser homenageado pelo mesmo tipo de gente que o rejeitou no passado. Por fim, Archanjo chegou até a ser tema de samba-enredo no Carnaval de 1969.
A obra, assim, apresenta vários elementos da cultura baiana, principalmente referentes ao candomblé. Expõe as ideologias e os conflitos políticos no Brasil da primeira metade do século XX e as injustiças referentes às diferenças de classe. E, acima de tudo, o livro expõe o racismo brasileiro, em suas diversas facetas.
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Narrador da obra Tenda dos milagres
A história de Tenda dos milagres é narrada por um narrador onisciente e também por um narrador-personagem, isto é, o poeta Fausto Pena. Assim, esses dois narradores têm a função de nos mostrar quem foi o falecido escritor Pedro Archanjo.
Leia também: Capitães de areia — outra obra de Jorge Amado que faz crítica social
Características da obra Tenda dos milagres
Cada capítulo da obra é precedido por uma descrição que o resume. A maioria desses capítulos é dividida em subcapítulos. O romance mostra a história de dois personagens, em tempos diferentes: Fausto Pena e Pedro Archanjo. Assim, os narradores intercalam suas narrativas entre o passado e o presente.
Jorge Amado faz parte da Geração de 30 do modernismo brasileiro, que produziu romances com as seguintes características:
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aspectos regionalistas;
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crítica sociopolítica;
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realismo social;
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valorização da cultura;
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caráter determinista.
Contexto histórico da obra Tenda dos milagres
A obra de Jorge Amado tem como pano de fundo acontecimentos históricos das primeiras sete décadas do século XX, no Brasil. Desse modo, mostra a realidade da República Velha, onde predominava o coronelismo. E também o Brasil de Getúlio Vargas (1882-1954), presidente que subiu ao poder, em 1930, e implantou uma ditadura no Brasil, com a decretação do Estado Novo em 1937.
Quando Archanjo, personagem central da obra, falece, em 1943, esse fato ocorre dois anos antes do fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo no Brasil. Já o período em que o escritor Pedro Archanjo (um ser libertário e contrário ao autoritarismo) é descoberto e reverenciado está relacionado ao contexto da Ditatura Militar iniciada com o Golpe de 1964.
Jorge Amado
O escritor Jorge Amado nasceu na cidade baiana de Itabuna, em 10 de agosto de 1912. Mais tarde, estudou Direito no Rio de Janeiro. No entanto, jamais trabalhou como advogado. Em 1941, se mudou para o exterior, já que o Brasil estava sob a ditatura do Estado Novo decretado por Getúlio Vargas.
Em 1945, filiado ao Partido Comunista Brasileiro, o romancista foi eleito deputado federal por São Paulo. Mas perdeu o mandato em 1947, no início da Guerra Fria, quando o PCB se tornou um partido ilegal. No mais, Jorge Amado fez grande sucesso como escritor, e seus livros tiveram várias edições. O autor faleceu em 6 de agosto de 2001, em Salvador.
Nota
|1| AMADO, Jorge. Tenda dos milagres. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Créditos da imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Por Warley Souza
Professor de Literatura