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Antero de Quental

Antero de Quental foi um autor português. Ele fez parte da chamada geração de 70, introdutora do realismo em Portugal, embora sua poesia também tenha traços românticos.

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Antero de Quental nasceu em 18 de abril de 1842, em Ponta Delgada, na ilha portuguesa de São Miguel. Fez faculdade de Direito em Coimbra, mas depois trabalhou como tipógrafo na França, o que o aproximou da realidade dos operários. Assim, em 1875, foi um dos fundadores do Partido Socialista Português.

Pertencente à geração de 70, participou do famoso debate intelectual conhecido como a Questão Coimbrã, e seu texto Bom senso e bom gosto foi grande destaque nessa discussão. Apesar de ter sido um dos introdutores do realismo em Portugal, o autor, que cometeu suicídio em 11 de setembro de 1891, produziu obras que também apresentam traços românticos.

Leia mais: Realismo no Brasil – características e obras dessa estética em terras brasileiras

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Biografia de Antero de Quental

“Antero de Quental”, obra de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).
“Antero de Quental”, obra de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).

Antero de Quental nasceu em 18 de abril de 1842, na cidade de Ponta Delgada, ilha de São Miguel, pertencente a Portugal. Com 10 anos de idade, começou a estudar no colégio de António Feliciano de Castilho (1800-1875), em Lisboa. No ano em que completou 16 anos, mudou-se para Coimbra, onde fez faculdade de Direito. Em 1861, publicou seu primeiro livro de poesia — Sonetos de Antero.

Ao terminar a faculdade, morou em Lisboa e, depois, em Paris. Na cidade francesa, exerceu a profissão de tipógrafo, em 1867. De volta a Portugal, passou a frequentar as reuniões do Cenáculo, uma turma de intelectuais que discutia arte, política, ciência e costumes. Ele se tornou um dos principais nomes desse grupo, que contava também com a presença de Eça de Queirós (1845-1900).

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Quental, em 1870, com Oliveira Martins (1845-1894), criou A República, o “jornal da democracia portuguesa”. Cinco anos depois, foi um dos fundadores do Partido Socialista Português e da Revista Ocidental, a qual buscava fomentar a troca de ideias entre intelectuais portugueses e espanhóis.

Com problemas de saúde, passou um tempo em tratamento na França, entre 1878 e 1879. De volta a Lisboa, candidatou-se a deputado pelo Partido Socialista. Além disso, adotou as meninas Albertina e Beatriz, filhas de um amigo falecido.

Nos próximos 10 anos, morou, com elas, em Vila do Conde. Então se dedicou, com afinco, à sua produção poética. Até que, em 1890, associou-se ao movimento Liga Patriótica do Norte, de curta duração. No ano seguinte, voltou a viver na terra natal, onde decidiu dar fim na própria vida, em 11 de setembro de 1891.

Leia também: José Saramago – autor português vencedor do Prêmio Nobel de Literatura

Questão Coimbrã

Questão Coimbrã foi o nome dado às discussões literárias entre autores, de um lado, defensores do realismo e, de outro, do romantismo. Esses intelectuais portugueses, em sua disputa, utilizaram os periódicos para defender suas ideias por meio da publicação de cartas abertas, artigos e poemas, nos anos de 1865 e 1866.

Grande parte desses escritores frequentou a Universidade de Coimbra, daí a origem do nome da querela. O líder dos românticos era António Feliciano de Castilho. Já a voz mais poderosa de oposição a esse escritor era, justamente, Antero de Quental, que publicou o contundente texto Bom senso e bom gosto: carta ao excelentíssimo senhor António Feliciano de Castilho.

Para se ter uma ideia do estado de ânimo desses intelectuais, vamos ler, a seguir, um trecho do final dessa carta de Quental a Castilho:

“Muito tinha eu ainda que dizer: mas temo, no ardor do discurso, faltar ao respeito a v. exa., aos seus cabelos brancos. Cuido mesmo que já me escapou uma ou outra frase não tão reverente e tão lisonjeira como eu desejara. Mas é que realmente não sei como hei de dizer, sem parecer ensinar, certas coisas elementares a um homem de sessenta anos; dizê-las eu com os meus vinte e cinco! V. exa. aturou-me em tempo no seu Colégio do Pórtico, tinha eu ainda dez anos, e confesso que devo à sua muita paciência o pouco francês que ainda hoje sei. [...]. Vejo, porém, com desgosto que temos muitas vezes de renegar aos vinte e cinco anos do culto das autoridades dos dez; e que saber explicar bem Telêmaco a crianças não é precisamente quanto basta para dar o direito de ensinar a homens o que sejam razão e gosto. [...]. É por estes motivos todos que lamento do fundo d’alma não me poder confessar, como desejava, de v. exa. nem admirador nem respeitador.”

Quental e, por extensão, seus companheiros atacavam o que eles chamaram de “ultrarromantismo”. Assim, lutavam contra o conservadorismo dos românticos. Era, portanto, a nova geração, cheia de ideias revolucionárias, que combatia a velha e ultrapassada. Como em toda ruptura, eram inevitáveis os insultos, mesmo que delicadamente disfarçados.

Características literárias de Antero de Quental

Integrante da geração de 70, Quental produziu obras que apresentam, contraditoriamente, características românticas e realistas. Portanto, apesar de ser considerado, por alguns críticos, um escritor realista, é correto afirmar que Antero de Quental foi um autor de transição entre essas duas estéticas.

A utopia romântica está presente nas primeiras obras do poeta, o qual, simpatizante do socialismo, acabou recorrendo à crítica sociopolítica em sua evolução como escritor. Além disso, seus sonetos, enquanto forma, apresentam marcas de racionalidade. Já alguns de seus poemas possuem elementos românticos, como melancolia, pessimismo, morbidez, idealização amorosa e misticismo.

Obras de Antero de Quental

Capa do livro “Antero de Quental”, coleção Melhores Poemas, da Global Editora.[1]
Capa do livro “Antero de Quental”, coleção Melhores Poemas, da Global Editora.[1]
  • Sonetos de Antero (1861)

  • Beatrice e fiat lux (1863)

  • Odes modernas (1865)

  • Bom senso e bom gosto (1865)

  • A dignidade das letras e as literaturas oficiais (1865)

  • Defesa da carta encíclica de sua santidade Pio IX (1865)

  • Portugal perante a Revolução de Espanha (1868)

  • Causas da decadência dos povos peninsulares (1871)

  • Primaveras românticas (1872)

  • Considerações sobre a filosofia da história literária portuguesa (1872)

  • A poesia na atualidade (1881)

  • Os sonetos completos (1886)

  • A filosofia da natureza dos naturistas (1886)

  • Tendências gerais da filosofia na segunda metade do século XIX (1890)

  • Raios de extinta luz (1892)

Veja também: Estrela da vida inteira – compilado de poesias de Manuel Bandeira

Sonetos de Antero de Quental

Vamos analisar, a seguir, dois sonetos de Antero de Quental. O primeiro é Ignoto deo”, no qual o eu lírico fala com um deus desconhecido, que seria uma “sonhada visão”. A voz poética busca encontrar esse deus na terra, caracterizado como um ser de brilho intenso, clemente, imortal, comparado a um olhar de piedade e a uma gota de mel; e, por fim, desafia esse deus a se mostrar no céu caso ele realmente exista:

Que beleza mortal se te assemelha,
Ó sonhada visão desta alma ardente,
Que refletes em mim teu brilho ingente,
Lá como sobre o mar o sol se espelha?

O mundo é grande — e esta ânsia me aconselha
A buscar-te na terra: e eu, pobre crente,
Pelo mundo procuro um Deus clemente,
Mas a ara só lhe encontro... nua e velha...

Não é mortal o que eu em ti adoro.
Que és tu aqui? olhar de piedade,
Gota de mel em taça de venenos...

Pura essência das lágrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! se és verdade,
Descobre-te, visão, no céu ao menos!

Esse poema apresenta versos decassílabos (10 sílabas poéticas) — uma marca da realista poesia parnasiana —, mas também traços do romantismo, como: sentimentalismo, teocentrismo, exclamações, reticências e excesso de adjetivos.

Essas mesmas características podem ser observadas no soneto “Aspiração”. Nele o eu lírico faz referência à passagem dos dias, que transcorrem sem prazer e sem dor. Ele afirma que a vida é bela e cheia de amor, porém existe uma beleza ainda maior, a “eterna pátria”, isto é, a vida após a morte, que a alma do eu lírico deseja alcançar. Contudo, assim como no soneto anterior, ele pede a Deus uma confirmação:

Meus dias vão correndo vagarosos
Sem prazer e sem dor, e até parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.

Minh’alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém do pressentir dá-me a certeza,
Dá-me! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!

Frases de Antero de Quental

Vamos ler, a seguir, algumas frases de Antero de Quental, retiradas de seu famoso texto Bom senso e bom gosto: carta ao excelentíssimo senhor António Feliciano de Castilho:

  • “A inteligência dos hábeis, dos prudentes, dos espertíssimos é muitas vezes cega em lhe faltando uma coisa bem pequena — a boa-fé.”

  • “O piloto quer os olhos desvendados para ler nos astros o caminho da nau por entre as ondas incertas.”

  • “Os grandes gênios modernos são grotescos e desprezíveis aos olhos baços do banal metrificador português.”

  • “A idade não a fazem os cabelos brancos, mas a madureza das ideias, o tino e a seriedade.”

  • “A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança.”

Crédito da imagem

[1] Grupo Editorial Global (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Antero de Quental"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/antero-de-quental.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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