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O Dia D, ocorrido em 6 de junho de 1944, foi a maior operação de guerra da história e combinou diversas forças militares. Essa operação foi um grande esforço promovido pelos Estados Unidos e Reino Unido (Aliados) para criar um novo front de luta contra a Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Conhecido como Operação Overlord, o Dia D resultou na conquista de parte da Normandia, no Norte da França.
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Antecedentes históricos do Dia D
Em 1944, a Alemanha acumulava sucessivas derrotas na guerra. Aquela fase inicial repleta de vitórias avassaladoras do exército alemão sobre seus adversários havia acabado com a derrota na Batalha de Stalingrado. Desde então, as forças militares alemãs estavam sendo empurradas de volta para a Alemanha pelo Exército Vermelho.
Além das derrotas no front oriental da guerra, a Alemanha enfrentou um grande problema com os desembarques das tropas Aliadas no sul da Itália. A pressão britânica e americana na Itália e a fraca resistência italiana haviam forçado Hitler a recuar suas tropas do front oriental, o que lhe custou uma pesada derrota na Batalha de Kursk.
Hitler sabia que, em 1944, era vital repelir um provável ataque dos Aliados na costa da França. Com isso, ele teria condições de fortalecer o front oriental e evitar, assim, que suas tropas fossem engolidas pela força do Exército Vermelho. A esperança de Hitler contrastava com o desânimo dos generais alemães que consideravam muito difícil conter um ataque dos Aliados em um novo front de guerra.
Preparativos para o Dia D
A reconquista da Normandia era considerada fundamental pelos Aliados, pois permitiria, primeiramente, forçar a Alemanha a lutar em um novo front de guerra, o que aumentaria o desgaste alemão. Além disso, reconquistar essa região significava o início de um esforço de guerra com a intenção de libertar a França do domínio nazista.
No entanto, apesar de sua condição estratégica, a operação de reconquista da Normandia (chamada Operação Overlord) foi vista com desconfiança por muitos dos envolvidos na guerra. A grande carnificina que aconteceu durante os desembarques dos Aliados na Itália havia gerado certo temor em Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, a respeito da nova operação.
Além do mais, muitos dos soldados mobilizados para essa operação haviam lutado duramente, nas batalhas do norte da África e em posições do Mar Mediterrâneo, e não concordavam com a nova convocação. A insatisfação resultava do fato de que os exércitos americano e britânico possuíam milhares de soldados que ainda não haviam sido mandados para o front.
Apesar dessa desconfiança, principalmente dos britânicos, a operação aconteceu, sobretudo por causa da pressão exercida pelos Estados Unidos. O planejamento do Dia D estendia-se desde 1943 e sua execução, em 1944, aconteceu no momento ideal, pois combinou o fortalecimento dos Aliados com o enfraquecimento visível do Eixo.
O Dia D é visto por muitos como o fato que definiu o destino da Segunda Guerra Mundial, no entanto, essa visão é rejeitada por muitos historiadores que afirmam que o Dia D apenas antecipou a derrota do nazismo, mas não a iniciou. Até aquele momento, o grande esforço de guerra na luta contra os alemães havia sido realizado pela União Soviética em batalhas cruciais em Moscou, Stalingrado, Kursk etc. O desgaste alemão no front oriental, aliado com o enfraquecimento no norte da África e no Mar Mediterrâneo, levou o nazismo à derrota na guerra.
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Dia D
Conforme o levantamento do historiador Max Hastings, o Dia D mobilizou 5.300 navios, que transportaram 150 mil homens e 1.500 tanques para a Normandia. Além disso, 12 mil aeronaves foram utilizadas nesse dia, muitas delas usadas por paraquedistas que pousaram em diferentes pontos da região|1|.
O ataque à Normandia começou com divisões de paraquedistas saltando em diferentes posições no dia 5 de junho. Esse pouso foi considerado caótico pelos especialistas em táticas militares, entretanto, conseguiu cumprir seu objetivo ao conquistar algumas pontes e confundir parte das tropas nazistas posicionadas na região.
A esperança de Hitler era depositada na chamada Muralha do Atlântico, uma linha de defesa estendida na costa do Oceano Atlântico e construída com o objetivo de barrar uma possível invasão dos Aliados. No entanto, o historiador Antony Beevor afirma que a Muralha do Atlântico era mais uma blefe nazista que propriamente uma realidade|2|.
Os ataques Aliados concentraram-se em cinco praias na Normandia, localizadas nas proximidades da cidade de Caen. As praias foram nomeadas de Omaha, Utah, Juno, Gold e Sword. Os soldados Aliados encontraram uma resistência feroz por parte dos alemães, e os relatos contam de uma das batalhas mais duras da guerra. O historiador Max Hastings traz o seguinte relato de um soldado que participou dessa luta|3|:
Havia homens chorando, com medo, homens que se borravam. Deitei-me com alguns outros, petrificado demais para me mover. Ninguém fazia mais do que ficar deitado ali. Era uma paralisia coletiva. Eu não via nenhum oficial. A certa altura, algo acertou meu braço. Achei que era uma bala. Era a mão de alguém, decepada por qualquer coisa. Era mais do que podia aguentar.
A estratégia de defesa dos alemães foi considerada, em parte, equivocada, mas a falta de apoio aéreo foi mais crucial para a derrota. Ao final do dia, as praias da Normandia haviam sido conquistadas pelos Aliados, e o saldo de mortos foi relativamente baixo se comparado com a importância da conquista. Hastings afirma que cerca de 3 mil soldados Aliados (entre britânicos, americanos e canadenses) morreram durante o Dia D.
Quem mais sofreu com o ataque dos Aliados foram os civis franceses que viram muitos inocentes morrerem durante os bombardeios. Além disso, o avanço Aliado na Normandia iniciou uma série de saques contra a população das cidades francesas. A partir do Dia D, os Aliados, liderados por Eisenhower, iniciaram uma lenta reconquista da região e uma vagarosa marcha na direção de Berlim. O destino alemão estava selado.
Notas
|1| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 553.
|2| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 639.
|3| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 554.
Por Daniel Neves Silva
Professor de História