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O desembarque das tropas aliadas na Sicília foi um dos capítulos da Segunda Guerra Mundial e aconteceu entre julho e agosto de 1943. Durante essa campanha, americanos e britânicos iniciaram o processo de reconquista da Itália, aumentando o desgaste da Alemanha na guerra e preparando forças para o Dia D, realizado em 1944.
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Antecedentes
O desembarque das tropas aliadas na Sicília aconteceu como uma decisão conjunta de britânicos e americanos – no caso dos americanos, essa decisão foi tomada meio a contragosto. O planejamento para a invasão da Sicília aconteceu durante a Conferência de Casablanca, em janeiro de 1943.
Essa conferência aconteceu na cidade de Casablanca, no Marrocos Francês, e reuniu Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, Franklin D. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos da América (EUA), e dois representantes das forças de resistência da França, Charles De Gaulle e Henri Giraud. Josef Stalin, líder da União Soviética, foi convidado, mas se recusou a participar da conferência, alegando que precisava permanecer na União Soviética enquanto a batalha de Stalingrado estivesse em curso.
Nessa conferência, os Aliados debateram a estratégia de luta que tomariam para os meses seguintes da guerra. Os representantes concordavam em um objetivo: a rendição incondicional da Alemanha e do Japão. No entanto, existiam muitas divergências a respeito de qual caminho seria tomado para que essa finalidade fosse alcançada.
As propostas existentes podem ser resumidas em três grandes eixos:
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Parte dos oficiais americanos defendia a priorização do ataque contra o Japão.
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Parte dos oficiais americanos defendia um ataque contra os alemães na França.
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Os britânicos defendiam a priorização de um ataque contra o sul da Itália.
Existia certa concordância de que as tropas americanas e britânicas não poderiam ficar paradas, uma vez que o grosso do esforço de guerra era realizado pelos soviéticos desde junho de 1941 – o que gerava insatisfação em Stalin. Essa visão era compartilhada até mesmo por Winston Churchill, segundo levantamento feito por Max Hastings: “Em toda parte, os britânicos e os americanos sobrecarregaram seus planos operacionais com tantos fatores de segurança que se tornaram incapazes de executar qualquer tipo de guerra agressiva”|1|.
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Naquele momento, existia um grupo de oficiais americanos que estava interessado em empenhar-se na luta contra os japoneses no Pacífico e em correr no auxílio dos nacionalistas chineses. Essa hipótese foi prontamente descartada pelos britânicos, que não tinham esse mesmo interesse. O ponto de maior polêmica era a respeito de onde atacar os alemães na Europa.
O general americano George Marshall era defensor da ideia de que os Aliados concentrassem seu ataque contra os alemães no Canal da Mancha, ou seja, que o ataque fosse levado para a Normandia, na França. Havia, no entanto, alguns problemas para conduzir essa estratégia, e esses pontos foram utilizados pelos ingleses para defender sua posição. Os ingleses eram contrários ao ataque contra Normandia em 1943 por duas razões principais:
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Naquele momento, as forças de defesa da Alemanha na Normandia eram muito fortes, e a possibilidade das forças aliadas serem rechaçadas era elevada.
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Os ingleses alegavam que não possuíam embarcações suficientes para desembarcar tropas que pudessem fazer frente aos alemães na Normandia.
Além disso, havia mais dois fatores relevantes que davam peso à estratégia britânica: os italianos estavam fartos da guerra, e havia uma insatisfação muito grande com Mussolini e com o Fascismo, considerados os responsáveis pela situação em que a Itália estava. O segundo fator veio de uma informação dada pelo Ultra (sistema de inteligência britânico) de que os alemães não montariam um sistema de defesa consistente no sul da Itália, logo a região estaria mais acessível.
Com todas essas informações, a opinião dos britânicos prevaleceu, e foi decidido que, após as forças alemãs serem expulsas do norte da África (o que aconteceu oficialmente em abril de 1943), os Aliados reuniriam suas forças e coordenariam o ataque contra os alemães no território italiano. Os americanos, por sua vez, só concordaram com o plano com o compromisso dos britânicos de o auxiliarem no ataque contra a Normandia em 1944.
O desembarque de tropas na Sicília
O desembarque dos Aliados na Sicília só foi possível graças ao sucesso das tropas americanas e britânicas no norte da África. Os desembarques começaram em 10 de julho de 1943, e 2.590 navios foram responsáveis pelo desembarque de cerca de 180 mil soldados|2|. Apesar de todo o planejamento realizado, o desembarque aliado na Sicília ficou marcado pela desorganização.
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Durante os desembarques, o vento forte da região fez pilotos de aviões perderem-se, e paraquedistas pousarem no oceano. O mar agitado também prejudicou as embarcações que se aproximavam da costa siciliana, o que fez muitos soldados sofrerem com enjoos. Diferentemente do que imaginavam, os Aliados não encontraram uma resistência muito obstinada em detê-los.
A desorganização dos Aliados na Sicília foi tamanha que Hastings sentenciou que os anglo-americanos “estavam inexplicavelmente mal informados sobre os problemas geográficos, táticos, políticos e econômicos que encontrariam” [na Sicília]|3|. Do lado do Eixo, as falhas também aconteceram de maneira consistente.
O general responsável pela defesa na Sicília era o italiano Alfredo Guzzoni, considerado despreparado para a função que exercia. Primeiro, os oficiais do Eixo não esperavam que seriam atacados no dia 10, por conta da tormenta do oceano. Logo, o ataque que chegou na madrugada pegou-os de surpresa. Além disso, uma série de falhas foram identificadas nas defesas lideradas por Guzzoni: tropas foram deslocadas para muito longe dos locais nos quais os Aliados desembarcaram, grupos de infantaria atuaram sem apoio de blindados, etc.
Falhas dos dois lados à parte, a presença dos Aliados na Sicília aumentou o desgaste sobre o governo do fascista Mussolini na Itália e fez com que surgissem dissidências contra o líder italiano. Em 25 de julho, Mussolini foi preso e enviado para uma prisão nos Apeninos. A queda de Mussolini convenceu os alemães de se retirarem da Sicília.
As forças do Eixo abandonam a Sicília
Depois da prisão de Mussolini, as forças do Eixo na Sicília iniciaram uma série de combates contra os Aliados como forma de segurar as forças anglo-americanas enquanto o restante das tropas alemãs e italianas cruzava o estreito de Messina e abandonava, definitivamente, a Sicília. Ao todo, aproximadamente 100 mil soldados, entre alemães e italianos, cruzaram para a Itália Continental a partir de 11 de agosto|4|.
Os Aliados amargaram, aproximadamente, 21 mil mortes|5|. A presença dos americanos na Itália, porém, foi essencial, pois aumentou o desgaste sobre uma Alemanha que já sofria bastante com a guerra. Uma das consequências diretas disso foi que os alemães tiveram que recuar suas tropas de Kursk para reforçar suas defesas no norte da Itália.
Notas
|1| HASTINGS, Max. Inferno: o mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p 462.
|2| Idem, p. 464.
|3| Idem, p. 463.
|4| Idem, p. 469.
|5| BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 559.
Por Daniel Neves
Graduado em História