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Crise energética no Brasil

O encarecimento das contas de energia no Brasil se deve à crise energética que o país atravessa. Entre suas causas estão a grave crise hídrica e a falta de planejamento.

A crise energética coloca sobre o Brasil o risco de desabastecimento e apagões.
A crise energética coloca sobre o Brasil o risco de desabastecimento e apagões.
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O Brasil vive, no ano de 2021, uma nova crise energética, com risco da ocorrência de apagão. Esse cenário tem como uma de suas causas, em primeiro lugar, a maior crise hídrica do país nas últimas nove décadas, marcada pela escassez de chuvas e diminuição do nível dos reservatórios das hidrelétricas. A elevada dependência da fonte hídrica, embora menor do que na crise de 2001, e a falta de planejamento e ação rápida agravaram a crise energética.

As medidas adotadas até o momento visam ao acionamento das termelétricas, o que ocasiona a criação de barreiras tarifárias, encarecendo as contas do consumidor final, e obriga as pessoas a mudarem seus hábitos diários de forma a economizar, e também ao racionamento voluntário de energia. Apesar disso, especialistas acreditam que o risco de interrupção repentina do fornecimento de energia ainda está presente, e assim continuará nos próximos meses caso não haja ampliação das políticas de racionamento.

Leia também: O que são fontes não renováveis de energia?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a crise energética no Brasil

  • Fala-se em crise energética quando a geração de energia não é suficiente para o atendimento da demanda e há riscos de interrupção do fornecimento por meio de apagões.
  • O Brasil vive uma crise energética em 2021, que tem como principais causadores uma crise hídrica (escassez de chuvas) e, repetindo a crise de 2001, a falta de planejamento e de ação rápida por parte do governo federal.
  • As medidas adotadas foram o acionamento das termelétricas para complementar o fornecimento de energia e suprir a demanda e o racionamento voluntário com bônus a ser aplicado em 2022.
  • Entre as principais consequências da crise estão o encarecimento das contas de energia elétrica e, por conseguinte, dos serviços e bens de consumo, o aumento da inflação e agravamento da crise econômica e o risco de apagão.

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O que é uma crise energética?

Uma crise energética corresponde a um problema conjuntural causado por uma combinação de fatores de ordem natural e estrutural que afetam a geração de energia elétrica em uma determinada localidade, deixando de corresponder à demanda e causando, assim, uma sobrecarga no sistema. Isso pode ocasionar a necessidade de racionamento, blecautes ou apagões, encarecimento das contas mensais, que, por sua vez, interferem diretamente nos preços de bens de consumo, e até mesmo originar ou aprofundar crises políticas.

Causas da crise energética no Brasil

O ano de 2021 ficou marcado pelo acúmulo de crises de diversas naturezas em todo o mundo, inclusive no Brasil. Uma dessas é a crise energética, que, desde o início, deu sinais da sua gravidade. Uma vez que o Brasil ainda depende em grande parte das hidrelétricas para a geração de energia, atribui-se como uma das principais causas da atual crise de energia o que tem sido categorizado como a pior crise hídrica vivida pelo país nos últimos 91 anos.

A crise hídrica é caracterizada pela escassez de chuvas e o desabastecimento dos principais reservatórios de água do país, que passam a operar com capacidade abaixo da considerada ideal. De acordo com os dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), os reservatórios que abastecem as hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste operavam, no início de setembro de 2021, com 20,66% de sua capacidade, sendo esse o nível mais baixo entre todos os subsistemas que fornecem água para a geração de eletricidade.

No Sul, o volume é de 26,47%. Os subsistemas do Nordeste e do Norte operam, respectivamente, com 48,53% e 69,44%. Somente o subsistema da região Norte opera acima da capacidade considerada a ideal, que é de 60%.|1|

No cerne no problema de desabastecimento de água está a degradação dos biomas brasileiros, que tem se acelerado a ritmos alarmantes nos últimos anos. As queimadas e, em maior escala, o desmatamento têm influenciado diretamente na circulação atmosférica e na transferência de umidade da Amazônia para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além de prejudicarem nascentes e cursos d’água de outras formações, como o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal.

Soma-se às condições locais as mudanças climáticas e a ocorrência de fenômenos como o La Niña, que derruba o índice pluviométrico nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde se situam importantes reservatórios, como os de Itaipu, Furnas e Cantareira.

Embora tenha havido a maior diversificação da matriz energética brasileira desde a crise do apagão de 2001, bem como a ampliação das linhas de transmissão de energia, o grande apoio em fontes como a hidrelétrica, que é atualmente de 63,9%, pode levar a crises como a atual.

A revogação do horário de verão, o que ocorreu no ano de 2019, contribuiu para o aumento da demanda por eletricidade no chamado horário de pico (de 18 h a 21 h), assim chamado por ser o intervalo em que há maior utilização de luzes e aparelhos ligados na energia. O adiantamento dos relógios estendia o período de luminosidade, favorecendo a menor utilização de luz elétrica e, assim, diminuindo a sobrecarga no sistema.

Outro motivo que contribuiu para o agravamento da crise energética atual é a falta planejamento e de reação rápida por parte do governo federal, repetindo o padrão de anos atrás, quando o país foi submetido ao racionamento energético entre 2001 e 2002.

Leia também: Principais riscos da geração de energia nuclear para o meio ambiente 

Medidas para conter a crise energética no Brasil

A principal medida adotada como meio de contenção da crise energética no Brasil em 2021 foi o acionamento das usinas termelétricas para abastecer o sistema nacional e complementar o atendimento da demanda interna. As termelétricas geram eletricidade por meio da queima de combustíveis como óleo diesel e biomassa. Esse processo, além de ser mais poluente para o meio ambiente, é mais caro e gera um custo adicional para o consumidor final na sua conta de energia.

O custo aparece cobrado na chamada bandeira vermelha estabelecida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que cobra uma taxa a cada 100 kWh consumidos. Para o mês de setembro de 2021, foi criada uma nova bandeira tarifária chamada de bandeira de escassez hídrica, que aumentou as contas de energia em aproximadamente 6,78%, com o acréscimo de R$ 14,90 a cada 100 kWh, além da tarifa anterior, que estava também em voga.|2|

Embora especialistas falem na necessidade de racionamento de energia elétrica de amplo alcance, o Ministério de Minas e Energia (MME) adotou uma medida de racionamento voluntário cuja validade teve início no mês de setembro de 2021. Receberão bônus de até R$ 50, a cada 100 kWh poupados nas contas de janeiro de 2022, os estabelecimentos e residências que realizarem economia de 10% entre o dia 1º de setembro e 31 de dezembro de 2021. Caso a meta seja atingida, o patamar será ampliado para 15%, a ser economizado no ano seguinte.

Acredita-se que, para tentar afastar o risco de apagões pelo território nacional, e pensando também em crises futuras, algumas das medidas que deveriam ser adotadas seriam as seguintes, além do racionamento de 15%:

  • Retomada do horário de verão;
  • Campanhas de conscientização e ampla comunicação, um dos fatores adotados na gestão da crise de 2001 e que surtiu efeitos positivos;
  • Adoção de cortes programados de energia;
  • Maior diversificação da matriz energética, com a utilização de outras fontes renováveis de grande disponibilidade no país, como solar e eólica.

Confira em nosso podcast: O “alerta vermelho” do clima em 2021  

Principais crises energéticas no Brasil

A história recente do Brasil foi marcada por algumas crises energéticas que escancararam alguns dos principais gargalos estruturais do sistema elétrico nacional, bem como a necessidade de se ampliar a utilização de fontes alternativas à hidrelétrica. Entre as principais crises, citamos, da mais recente para a mais antiga:

  • Apagão no estado do Amapá em 2020: ocorreu em novembro de 2020 e durou um total de 22 dias, afetando 13 dos 16 municípios que compõem a unidade federativa. O apagão interrompeu o fornecimento de energia para 90% dos amapaenses, e foi causado por um incêndio nos transformadores de uma subestação de energia que atende o estado.
  • Crise energética de 2015: atingiu os estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. A raiz dessa crise é similar à do atual cenário, que foi a escassez de chuvas aliada à falta de planejamento central, apesar das experiências anteriores.
  • Crise do apagão de 2001: considerada uma das piores crises energéticas pelas quais o país passou, ocorreu pela falta de chuvas e pelo baixo nível dos reservatórios somado à demora do governo federal para a adoção de medidas. À época, quase 90% da energia consumida no país eram oriundos de hidrelétricas, e o Sistema de Integração Nacional (SIN) havia completado três anos de vigência, sem a conclusão das termelétricas até então previstas. A solução encontrada à época para evitar interrupções repentinas foram o racionamento, com meta de 20% de economia e compensações na conta do consumidor final, como bônus e multas, assim como cortes programados.

Consequências da crise energética no Brasil

Mão segurando uma vela acesa iluminando o medidor do consumo de energia elétrica.
O racionamento de energia e os blecautes são algumas das consequências das crises energéticas.

As crises energéticas geram consequências de curto, médio e longo prazo para a população brasileira, principalmente para a conjuntura econômica e política do país e também para o sistema elétrico nacional, que pode sofrer alterações e adaptações conforme a demanda evolui. Observa-se como resultados da crise energética de 2021:

  • Encarecimento das contas de energia do consumidor final pela adoção de bandeiras tarifárias mais caras;
  • Mudança nos hábitos da população como forma de economizar energia e, por conseguinte, reduzir os gastos no final do mês;
  • Encarecimento de serviços e produtos destinados a intermediários e ao mercado consumidor, em especial aqueles que fazem uso de grandes quantidades de energia elétrica no seu processo produtivo;
  • Aumento da inflação e agravamento da crise econômica;
  • Prejuízos diretos à estrutura das usinas hidrelétricas por funcionarem com reservatórios abaixo da capacidade ideal, o que pode resultar na entrada de detritos acumulados no fundo da água e lama nas turbinas;
  • Aumento da poluição pela utilização das termelétricas;
  • Risco de apagão, isto é, interrupções não programadas no fornecimento de energia devido à sobrecarga.

Notas

|1| ALBUQUERQUE, Naiara. Crise hídrica: as raízes da (nova) escassez de água no Brasil. Revista Galileu, 03 set. 2021. Disponível aqui.

|2| EPBR. Como vai funcionar o bônus para racionamento de energia? EPBR, 01 set. 2021. Disponível aqui.


Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia

Escritor do artigo
Escrito por: Paloma Guitarrara Licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e mestre em Geografia na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial também pela UNICAMP. Atuo como professora de Geografia e Atualidades e redatora de textos didáticos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

GUITARRARA, Paloma. "Crise energética no Brasil"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/crise-energetica-no-brasil.htm. Acesso em 19 de abril de 2024.

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