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Carlos Lamarca

Carlos Lamarca foi um oficial do Exército Brasileiro que se tornou guerrilheiro e lutou contra a repressão da Ditadura Militar no Brasil, no final da década de 1960.

Carlos Lamarca.
Carlos Lamarca serviu no Exército Brasileiro, antes de se tornar um guerrilheiro.
Crédito da Imagem: Wikimedia Commons
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Carlos Lamarca foi um oficial do Exército Brasileiro que, ao desertar em 1969, tornou-se líder guerrilheiro da resistência armada contra a Ditadura Militar, sendo um símbolo controverso de luta por justiça social e liberdade política no Brasil. Nascido em 1937 no Rio de Janeiro, destacou-se desde a infância pela disciplina e dedicação aos estudos, moldando uma personalidade questionadora e resiliente.

Lamarca se formou pela Academia Militar das Agulhas Negras em 1960 e, como oficial do Exército, serviu no Canal de Suez, onde desenvolveu uma visão crítica sobre desigualdades sociais. Casado com Maria Pavan Lamarca, com quem teve dois filhos, enfrentou os desafios de conciliar a vida familiar com seu engajamento político. Em 1969, desertou do Exército e liderou a Vanguarda Popular Revolucionária, organizando ações contra a Ditadura Militar, como o sequestro do embaixador dos EUA, que destacou a luta armada como ferramenta de resistência.

Leia também: Carlos Marighella — outro guerrilheiro brasileiro que se tornou símbolo de resistência e luta contra a Ditadura Militar

Tópicos deste artigo

Resumo sobre Carlos Lamarca

  • Carlos Lamarca foi um ex-oficial do Exército Brasileiro que se tornou líder na luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil.
  • Ele nasceu em 23 de outubro de 1937, no Rio de Janeiro, e foi casado com Maria Pavan Lamarca, com quem teve dois filhos.
  • Lamarca ingressou no Exército em 1954, e desertou em 1969, tornando-se líder da Vanguarda Popular Revolucionária.
  • Ele organizou ações armadas contra a Ditadura e enfrentou a repressão implacável do regime militar.
  • Lamarca era marxista-leninista convicto, e acreditava na luta armada como única forma de combater as desigualdades sociais e a repressão brutal do regime militar.
  • Defendia uma revolução socialista.
  • Lamarca foi morto em 17 de setembro de 1971, na Bahia, durante uma operação militar que o transformou em mártir da resistência e expôs a brutalidade da repressão.
  • Ele se tornou símbolo de resistência e figura emblemática da história brasileira.
  • Lamarca recebeu homenagens póstumas, incluindo sua promoção a coronel, sendo lembrado como um mártir da luta contra a Ditadura.

Biografia de Carlos Lamarca

→ Nascimento de Carlos Lamarca

Carlos Lamarca nasceu no dia 23 de outubro de 1937, na cidade do Rio de Janeiro, em uma família humilde. Seu pai, Antônio Lamarca, era sapateiro, e sua mãe, Gertrudes, era dona de casa. Desde cedo, Lamarca mostrou uma personalidade marcada pela disciplina, característica que ele levaria por toda a vida. Sua infância foi moldada por desafios, como a luta contra a tuberculose, que ele superou ainda jovem. Esse período de dificuldades e superações reforçou nele a resiliência e a determinação que marcariam sua trajetória.

→ Infância de Carlos Lamarca

Durante sua infância, Lamarca se destacou como um aluno dedicado e curioso. Ele era conhecido por sua organização, cuidando com zelo de suas roupas e materiais escolares. A leitura foi uma paixão precoce, especialmente de obras que fomentavam reflexões sobre justiça social e questões políticas. Além disso, envolveu-se em esportes, o que contribuiu para seu desenvolvimento físico e mental. Essa combinação de estudo e atividade física preparou Lamarca para os desafios futuros, tanto no ambiente militar quanto na luta política.

→ Casamento e filhos de Carlos Lamarca

Carlos Lamarca se casou com Maria Pavan Lamarca, com quem teve dois filhos. O casamento foi um ponto de estabilidade em sua vida pessoal, especialmente durante os anos de serviço militar. No entanto, sua dedicação à luta política e à guerrilha frequentemente o afastava da convivência familiar. Esse afastamento foi uma das contradições que ele enfrentou em sua busca por uma transformação social ampla.

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Carreira militar de Carlos Lamarca

Lamarca ingressou no Exército Brasileiro em 1954, ao entrar na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre. Demonstrando disciplina e habilidade, ele conseguiu ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1957, onde se formou oficial em 1960. Reconhecido como um excelente atirador, Lamarca destacou-se em competições de tiro e rapidamente ascendeu nas fileiras militares. Sua postura disciplinada conquistou tanto seus superiores quanto seus subordinados.

Entre 1962 e 1963, Lamarca integrou as tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) estacionadas no Canal de Suez, onde teve contato direto com as consequências da pobreza e dos conflitos regionais. Esse período foi transformador para sua visão de mundo. Ao observar as condições de vida miseráveis dos árabes, ele refletiu sobre as desigualdades no Brasil e começou a questionar o papel das Forças Armadas no contexto político e social do país.

Ainda como militar, Lamarca foi um observador atento das contradições internas no Exército. Ele testemunhou debates entre oficiais de diferentes vertentes ideológicas, incluindo os nacionalistas e os representantes da Escola Superior de Guerra (ESG), que defendiam a Doutrina de Segurança Nacional. Sua aproximação com ideias progressistas o colocou em rota de colisão com os setores mais conservadores da instituição.

Veja também: O que foram os chamados anos de chumbo da Ditadura Militar?

Carlos Lamarca na guerrilha

Em janeiro de 1969, Carlos Lamarca desertou do Exército Brasileiro, levando consigo um arsenal de armas que ele havia roubado do 4º Regimento de Infantaria em Osasco, São Paulo. Esse ato marcou o início de sua jornada como líder guerrilheiro. Lamarca se uniu à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), uma organização de esquerda que defendia a luta armada como a única forma de combater a Ditadura Militar instaurada em 1964.

Lamarca desempenhou um papel estratégico na VPR, liderando treinamentos de guerrilha em áreas rurais e urbanas. Ele acreditava que a revolução deveria ser construída a partir da conscientização e mobilização das massas populares. No entanto, sua trajetória foi marcada por desafios internos. Divergências com outros líderes da esquerda armada, como Carlos Marighella, refletiam as dificuldades em manter a coesão entre grupos revolucionários que possuíam visões e estratégias distintas.

No Vale do Ribeira, Lamarca liderou uma ação guerrilheira que buscava consolidar uma base rural para a luta armada. A operação foi um marco em sua trajetória, mas também expôs as fragilidades da resistência armada no Brasil. A repressão estatal, liderada por forças de segurança treinadas e bem equipadas, foi implacável. Apesar das dificuldades, Lamarca manteve sua convicção na necessidade de combater o regime.

Carlos Lamarca e o sequestro do embaixador dos EUA

Embora não tenha participado diretamente do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, Lamarca desempenhou um papel relevante na articulação do movimento guerrilheiro que possibilitou tal ação. A VPR e a Ação Libertadora Nacional (ALN), que conduziram o sequestro, buscaram pressionar o regime militar pela libertação de presos políticos. A ação foi um marco na história da luta armada no Brasil, demonstrando a capacidade dos grupos guerrilheiros de desafiar o regime.

Após escapar do cerco no Ribeira, Carlos Lamarca, já considerado o homem mais procurado do Brasil, encontrou a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) debilitada pelas prisões de diversos militantes e pela apreensão de documentos comprometedores. Apesar de não participar diretamente, seu nome foi associado ao sequestro do embaixador da Alemanha Ocidental, ocorrido em meio à Copa do Mundo de 1970.

Meses depois, em dezembro do mesmo ano, Lamarca liderou o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, realizado no Rio de Janeiro. Durante a ação, um agente de segurança foi morto, e o grupo exigiu a libertação de 70 presos políticos, além de demandas econômicas como congelamento de preços. Esse episódio representou o mais alto preço exigido em sequestros diplomáticos da época.

O cativeiro de Bucher durou mais de um mês, marcando o sequestro político mais longo do Brasil. Durante o período, o embaixador desenvolveu um relacionamento cordial com seus captores, jogando biriba com Lamarca e mantendo bom humor, o que suavizou as tensões. A libertação ocorreu em janeiro de 1971, após o governo substituir os presos que se recusou a liberar e aceitar as demais exigências.

Mesmo sob pressão, Bucher negou reconhecer os sequestradores, encerrando o ciclo de sequestros políticos da Ditadura Militar no país. O episódio simbolizou tanto a resistência da guerrilha quanto os limites da repressão estatal em negociar com opositores.

Qual era a ideologia de Carlos Lamarca?

Lamarca era um marxista-leninista convicto. Ele defendia a revolução socialista como o único caminho para superar as desigualdades sociais e econômicas no Brasil. Sua visão era influenciada tanto por suas experiências pessoais quanto pelas leituras de obras revolucionárias. Ele acreditava que a luta armada era necessária diante da repressão brutal do regime militar, que, em sua visão, não deixava espaço para oposição política pacífica.

Lamarca enxergava as forças armadas como instrumentos de manutenção de uma ordem social injusta. Ao desertar, ele rompeu não apenas com a hierarquia militar, mas também com a ideologia que sustentava a instituição. Sua trajetória foi marcada pela busca de um Brasil mais justo, mesmo que isso significasse enfrentar sacrifícios pessoais e profissionais.

Morte de Carlos Lamarca

Carlos Lamarca foi morto em 17 de setembro de 1971, em Brotas de Macaúbas, Bahia, durante a Operação Pajussara. Após meses de perseguição, ele foi cercado por forças militares, incluindo policiais e soldados do Exército. Lamarca estava debilitado física e emocionalmente, mas resistiu até o fim. Sua execução foi celebrada pelas forças de repressão como uma vitória contra a guerrilha.

Corpos de Carlos Lamarca e de outro guerrilheiro.
Corpos de Carlos Lamarca e de outro guerrilheiro, mortos após operação militar.[1]

A morte de Lamarca representou o desfecho trágico de uma trajetória marcada pela luta contra a Ditadura. Para seus algozes, ele era um traidor que precisava ser eliminado; para seus apoiadores, ele se tornou um mártir da resistência. Sua morte também expôs a brutalidade do regime militar, que não hesitava em eliminar seus opositores de maneira sumária.

Carlos Lamarca na cultura popular

Carlos Lamarca se tornou uma figura emblemática da história brasileira. Sua trajetória foi retratada em diversas obras, como o livro Lamarca: O Capitão da Guerrilha, de Emiliano José e Oldack de Miranda, e o filme Lamarca (1994), dirigido por Sérgio Rezende. Esses trabalhos destacam tanto sua dimensão humana quanto sua importância como líder revolucionário.

Além disso, Lamarca é frequentemente citado em debates acadêmicos e políticos sobre a resistência à Ditadura Militar. Ele é lembrado como um símbolo de coragem e determinação, mas também como uma figura controversa, cuja luta armada ainda desperta debates sobre os limites da resistência política.

Saiba mais: Como começou a Ditadura no Brasil?

Homenagens a Carlos Lamarca

Apesar das controvérsias que cercam sua figura, Carlos Lamarca recebeu homenagens póstumas que reconhecem seu papel na luta contra a Ditadura. Em 2007, foi promovido postumamente a coronel, uma decisão que gerou debates sobre memória histórica e justiça. Movimentos sociais e grupos de direitos humanos frequentemente destacam sua trajetória em eventos que relembram os anos de repressão no Brasil.

Para muitos, Lamarca simboliza a resistência contra a opressão e a luta por um país mais justo. Suas ações e ideais continuam inspirando reflexões sobre os desafios de construir uma sociedade democrática e igualitária.

Créditos da imagem

[1] Acervo Arquivo Nacional

Fontes

BREGALDA, Afonso Campos. Ousar lutar, ousar vencer: Carlos Lamarca – da caserna à luta armada (1960-1971). Dissertação (Mestrado em História Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.

MACIEL, Wilma Antunes. Repressão judicial no Brasil: o capitão Carlos Lamarca e a VPR na justiça militar (1969-1971). Dissertação (Mestrado em História Social) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

NOGUEIRA, Jefferson Gomes. Carlos Lamarca: o militar guerrilheiro (1969-1971). Dissertação (Mestrado em História Social das Relações Políticas) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2009.

ROLLEMBERG, Denise. "Carlos Marighella e Carlos Lamarca: memórias de dois revolucionários". In: FERREIRA, Jorge; REIS, Daniel Aarão (orgs.). As esquerdas no Brasil: revolução e democracia. Vol. 3, 1964. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Carlos Lamarca"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/carlos-lamarca-capitao-guerrilha.htm. Acesso em 16 de abril de 2025.

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