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O que foi a ALN – Ação Libertadora Nacional?
A Ação Libertadora Nacional, conhecida também pela sigla ALN, foi uma das facções revolucionárias de orientação comunista que atuaram no Brasil durante o período do Regime Militar (1964 a 1985). Valendo-se dos métodos da guerrilha urbana, como assaltos, sequestros e ações terroristas, a ALN, que tinha como principal comandante Carlos Marighella, foi formada em 1968 a partir de uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além de Marighella, outros dois importantes comandantes da facção foram Carlos Joaquim Câmara Ferreira e Carlos Eugênio da Paz.
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Origem da ALN
Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira eram antigos integrantes do Partido Comunista Brasileiro. Em 1967, após a criação da OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, por parte de Cuba, da qual Marighella participou da primeira conferência, perspectivas diversas daquelas do PCB apareceram. A OLAS propunha “exportar” a revolução (que até então havia sido “exitosa” em Cuba) para toda a América Latina. Uma das propostas estratégicas para isso era a “teoria do foco revolucionário”, elaborada por Ernesto “Che” Guevara e Regis Debray, que pregava a instalação de vários focos guerrilheiros no continente, a fim de, partir deles, tomar o poder.
Marighella, Joquim Câmara Ferreira e outros membros do PCB, influenciados pelos teóricos cubanos, decidiram romper com a perspectiva legalista democrática do partido e formar uma dissidência, com vistas ao início imediato do combate armado. O núcleo dessa dissidência nasceu ainda no ano de 1967, em São Paulo, sob o nome de “Pronunciamento do grupo comunista de São Paulo”. Em 1968, assumiu o nome de Ação Libertadora Nacional.
Cabe ressaltar que a perspectiva da instalação de focos revolucionários de orientação comunistas, com vistas à tomada do poder no Brasil, não era exclusiva da ALN e também era anterior ao próprio golpe militar de 1964. Em 1963, militantes do PC do B (Partido Comunista do Brasil) e da AP (Ação popular) receberam treinamento militar na Academia Militar de Pequim, na China – país que também havia feito sua revolução dentro da perspectiva comunista, e que tinha estratégias de foco revolucionários semelhantes às de “Che” Guevara.
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Terrorismo segundo a ALN
Um dos precursores das estratégias revolucionárias do século XX, o bolchevique Vladimir Lênin, encarava a prática do terrorismo como “a propaganda armada da Revolução”. Ações terroristas sempre estiveram relacionadas às atividades revolucionárias, fossem elas anarquistas, comunistas ou nacionalistas. A ALN, em seu programa, deixava claro que: “Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução”.
Carlos Marighella, que escreveu o Mini-Manual do Guerrilheiro Urbano (livreto lido por facções comunista de várias partes do mundo), desenvolveu todo um tópico advogando pela prática do terrorismo como “arma” decisiva para o revolucionário. Segue abaixo o que está escrito no tópico:
O terrorismo é uma ação, usualmente envolvendo a colocação de uma bomba ou uma bomba de fogo de grande poder destrutivo, o qual é capaz de influir perdas irreparáveis ao inimigo.
O terrorismo requer que a guerrilha urbana tenha um conhecimento teórico e prático de como fazer explosivos.
O ato do terrorismo, fora a facilidade aparente na qual se pode realizar, não é diferente dos outros atos da guerrilha urbana e ações na qual o triunfo depende do plano e da determinação da organização revolucionária. É uma ação que a guerrilha urbana deve executar com muita calma, decisão e sangue frio.
Ainda que o terrorismo geralmente envolva uma explosão, há casos no qual pode ser realizado execução ou incêndio sistemático de instalações, propriedades e depósitos norte-americanos, fazendas etc. É essencial assinalar a importância dos incêndios e da construção de bombas incendiárias como bombas de gasolina na técnica de terrorismo revolucionário. Outra coisa importante é o material que a guerrilha urbana pode persuadir o povo a expropriar em momentos de fome e escassez, resultados dos grandes interesses comerciais.
O terrorismo é uma arma que o revolucionário não pode abandonar.
Essa característica do terrorismo como atividade intrínseca à guerrilha urbana estava no cerne da proposta revolucionária da ALN.
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A “democracia revolucionária”
No trecho acima em que citamos uma frase do programa da ALN, percebemos a ênfase dada ao fato de que seus integrantes não “dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução”. Esse trecho faz menção à perspectiva da “democracia revolucionária”, pregada pelo grupo, que ia de encontro ao “centralismo democrático” desenvolvido pelos bolcheviques, durante a Revolução Russa, e incorporado pelos PCs (Partidos Comunistas) de outras regiões do mundo. O centralismo democrático postulava que todas as atividades vinculadas ao Partido Comunista, como a formação de “quadros”, isto é, militantes do partido, a organização administrativa, eleições para dirigentes etc., deveriam estar centralizadas, e deveriam ser debatidas e votadas, antes que o partido assumisse uma perspectiva propriamente revolucionária.
Contra isso, a ALN pregava a ação armada revolucionária imediata. Tal ação, na forma de guerrilha, deveria conseguir, aos poucos, a adesão das massas urbanas e rurais. Isto, segundo a facção, era a “democracia revolucionária”.
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Ação da ALN
As principais ações perpetradas pela ALN durante o período em que a facção esteve em atividade (1968 a 1968) foram: o assalto ao trem pagador da linha Jundiaí-São Paulo (no qual o próprio Marighella esteve à frente), a participação no sequestro do embaixador Charles Elbrick, planejado pelo grupo Dissidência Comunista Guanabara, o assassinato do empresário Henning Boilesen (que era colaborador da OBAN – Operação Bandeirante –, órgão de repressão do Regime Militar) e o assassinato do militante da própria ALN, Márcio Toledo, considerado traidor da facção.
Por Me. Cláudio Fernandes