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Ciclone extratropical é um fenômeno atmosférico caracterizado por sistemas de baixa pressão que se instalam nas áreas de média e alta latitudes do planeta Terra em ambos os hemisférios. Esses sistemas são causados pela diferença de temperatura entre massas de ar frio e massas de ar quente que, ao se deslocarem em sentidos opostos, acabam se chocando. Por isso, dizemos que os ciclones extratropicais estão diretamente ligados ao avanço das frentes frias.
Os ciclones extratropicais provocam ventos que variam de fracos a intensos, elevada nebulosidade e chuvas. Depois da sua dissipação, instala-se o tempo frio, com queda de temperaturas. As consequências desses ciclones dependem da intensidade dos seus efeitos, podendo provocar enchentes, deslizamentos, quedas de árvore, interrupção no fornecimento de eletricidade, deixar pessoas desalojadas e, em casos mais graves, ocasionar mortes.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre ciclone extratropical
- 2 - O que é ciclone extratropical?
- 3 - Causas do ciclone extratropical
- 4 - Como funciona o ciclone extratropical?
- 5 - Quais as diferenças entre o ciclone extratropical e o ciclone tropical?
- 6 - Efeitos e consequências do ciclone extratropical
- 7 - Ciclone extratropical no Brasil
- 8 - Ciclone extratropical no mundo
Resumo sobre ciclone extratropical
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É um tipo de ciclone (tempestade tropical que se origina em zonas de baixa pressão atmosférica) que se forma nas áreas de médias e altas latitudes do planeta Terra, portanto, fora dos trópicos.
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Os ciclones extratropicais são fenômenos atmosféricos causados pelo contraste de temperatura entre uma massa de ar quente e uma massa de ar frio (ou polar).
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São caracterizados pelos sistemas de baixa pressão que se formam do encontro entre essas massas de ar de temperaturas contrastantes. Por isso, diz-se que os ciclones extratropicais estão sempre associados a frentes frias.
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Têm como efeitos a ocorrência de ventos com intensidade variável, alta nebulosidade e chuvas.
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Depois da sua passagem, a tendência é de queda das temperaturas pela dominância da massa de ar frio.
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A depender da intensidade de seus efeitos, podem ocasionar alagamentos, enchentes, deslizamentos de encostas, quedas de árvore, interrupção no fornecimento de energia elétrica.
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São bastante comuns próximo ao litoral sul do Brasil.
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O ciclone extratropical mais recente que atingiu o território brasileiro aconteceu em junho de 2023 e provocou chuvas muito volumosas, rajadas de ventos e grandes enchentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O que é ciclone extratropical?
Ciclone extratropical é um tipo de ciclone que acontece nas áreas de médias e altas latitudes do planeta Terra. Pode ser descrito como um sistema de baixa pressão atmosférica que se forma do encontro de uma frente fria com uma frente quente.
Esse fenômeno atmosférico acontece predominantemente nas áreas próximas das latitudes de 45º, mas, como o nome sugere, é característico das localidades situadas fora da zona tropical. Portanto, os ciclones extratropicais se formam entre as latitudes de 30º e 60º em ambos os hemisférios.
Causas do ciclone extratropical
Os ciclones extratropicais estão associados ao contraste de temperaturas sobre uma área. Eles são causados pelo avanço de uma massa de ar frio, chamada de massa de ar polar, em direção a regiões que estão sob o domínio de uma massa de ar quente. Os sistemas de baixa pressão se instalam no limite entre essas diferentes massas de ar, onde estão constituídas as frentes. Por essa razão é comum lermos que a formação de um ciclone extratropical está atrelada ao avanço de uma frente fria.
Como funciona o ciclone extratropical?
Um ciclone extratropical se forma quando há um gradiente de temperatura ocasionado pela aproximação de uma massa de ar polar, que detém temperaturas mais baixas, de áreas aquecidas. Assim sendo, ele pode se formar tanto sobre os oceanos quanto sobre o continente.
Essas massas de ar contrastantes estão se deslocando em sentidos opostos, e, no limite entre elas, formam-se ondas (ou ondas frontais) causadas pelo avanço de uma massa sobre a outra. Quando isso acontece, o ar quente, que tem menor densidade, se sobrepõe ao ar frio, e a continuidade desse processo resulta no movimento rotativo do ar,|1| que origina os ventos característicos desse fenômeno.
A velocidade desses ventos é variável, e pode se equiparar às depressões tropicais, que têm velocidade inferior a 60 km/h, ou aos furacões, que podem superar os 118 km/h.|2| Entretanto, os ciclones extratropicais são maiores em diâmetro do que os demais tipos de ciclone (tropical e subtropical). É interessante notar, ainda, que o período de formação de um ciclone extratropical pode variar entre 12 e 24 horas, e seus efeitos tendem a desaparecer em um menor espaço de tempo comparativamente.
Tendo em vista que o ciclone extratropical se forma nas frentes frias e funciona por meio dos ventos quentes ascendentes que causam o deslocamento da umidade, há intensa nebulosidade e precipitação na forma de chuva. Em casos onde a temperatura superficial supera os 27 ºC, pode haver a formação de tempestades, segundo o Serviço Meteorológico Nacional dos Estados Unidos. À medida que o ar frio consegue avançar e tomar o lugar do ar quente, os efeitos do ciclone extratropical vão gradualmente se dissipando.
Quais as diferenças entre o ciclone extratropical e o ciclone tropical?
Ciclone extratropical |
Ciclone tropical |
Forma-se nas áreas de média e alta latitudes do planeta Terra. |
Forma-se na região tropical do planeta Terra, entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio. |
Origina-se do contraste de temperaturas decorrente do encontro de uma massa de ar frio e uma massa de ar quente. |
Origina-se sobre águas tropicais aquecidas, onde o ar também é quente e úmido. Não está associado à aproximação de uma frente fria. |
Apresenta ventos menos intensos, mas tende a apresentar maior diâmetro. |
Apresenta ventos mais intensos, mas tende a apresentar menor diâmetro. |
Possui nuvens em formato de espiral. |
Possui nuvens arredondadas. |
É mais comum no Brasil, mais precisamente na região Sul. |
É mais raro no Brasil. |
Efeitos e consequências do ciclone extratropical
Os ciclones extratropicais têm como efeitos ventos cuja intensidade varia de fraca a intensa, aumento da nebulosidade e chuvas persistentes, que podem ser muito fortes e volumosas a depender da localidade considerada e da intensidade do fenômeno. Após a passagem do ciclone, registra-se queda de temperaturas decorrente da substituição completa da massa de ar quente pela massa polar.
Os efeitos atmosféricos provocados pelos ciclones extratropicais têm consequências para as localidades atingidas por eles, podendo causar sérios prejuízos para as populações. A seguir, listamos algumas dessas consequências:
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Enchentes e alagamentos decorrentes dos grandes volumes de chuva e do aumento do nível de água nos rios.
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Agitação das águas do mar e ondas de grande magnitude, que podem provocar acidentes em alto-mar, como naufrágios, e atingir as cidades costeiras.
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Quedas de árvores e de postes elétricos que podem ocasionar danos na rede elétrica e prejuízos materiais, no caso de carros e casas atingidas, ou mesmo acidentes mais graves.
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Deslizamentos de encostas e enxurradas.
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Interrupção no fornecimento de energia elétrica.
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Destelhamento de casas e edifícios, a depender da intensidade dos ventos.
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Desaparecimento de pessoas e animais.
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Acidentes que podem causar ferimentos e até mesmo a morte.
Ciclone extratropical no Brasil
A ocorrência de ciclones extratropicais não é um fato incomum no Brasil. Eles se formam próximo do litoral sul do país, na região do Atlântico Sul, tendo maior frequência nos meses correspondentes ao outono e ao inverno, quando se aumenta a frequência de aproximação das massas de ar polar ao território nacional.
O mais recente ciclone extratropical que atingiu o país acometeu diretamente os municípios litorâneos dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina a poucos dias do início do inverno de 2023. Algumas cidades gaúchas chegaram a registrar, em poucos dias, volumes acumulados de chuva que seriam esperados para vários meses, chegando a chover quase 400 mm em determinadas localidades. Rajadas de vento de mais de 100 km/h, milhares de pessoas sem energia elétrica, enchentes e alagamentos foram registrados no estado e também em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, até o dia 18 de junho, 13 pessoas haviam perdido suas vidas e 4 estavam desaparecidas em decorrência do ciclone.
No ano de 2020, a mesma região registrou um tipo de ciclone extratropical conhecido como ciclone bomba. De acordo com a MetSul Meteorologia,|3| esse foi um dos piores eventos relacionados ao tempo atmosférico no Sul do Brasil, e atuou sobre os três estados da região por dois dias, entre o final de junho e início de julho. A instalação de um sistema de baixa pressão no Atlântico Sul provocou vendavais muito fortes, com ventos de quase 200 km/h em algumas áreas, tempestades e chuvas muito volumosas, que provocaram grandes enchentes. Além do rastro de destruição, 13 pessoas morreram.
O Furacão Catarina, que ocorreu em 2004, também se originou de um ciclone extratropical. Esse furacão devastou áreas nos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, deixando, pelo menos, 25 mil pessoas desabrigadas, centenas de feridos e 11 mortos.
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Ciclone extratropical no mundo
Os ciclones extratropicais são fenômenos muito comuns de serem registrados em ambos os hemisférios do planeta Terra, acometendo áreas como o sul da América do Sul, a América do Norte, notadamente Estados Unidos e Canadá, o norte e o oeste do continente europeu, parte da Ásia e a Oceania.
No ano de 1993, o continente europeu foi atingido por um dos piores ciclones extratropicais do Hemisfério Norte, que ficou conhecido como Tempestade de Braer. A área de baixa pressão se instalou em 8 de janeiro, e o ciclone se dissipou somente 11 dias mais tarde, em 17 de janeiro, provocando forte ventania de até 150 km/h e chuvas intensas no Reino Unido e na Islândia, afetando também territórios como a Groenlândia, do outro lado do Atlântico Norte.
Já no Hemisfério Sul, esse fenômeno é mais comum no outono. O ciclone extratropical que atingiu o Uruguai no ano de 2005 foi um dos mais violentos registrados nessa região do planeta. Ele começou próximo ao rio da Prata e adentrou no território uruguaio com ventos variando entre 80 km/h e 187 km/h, e atingiu regiões densamente povoadas, como foi o caso da capital, Montevidéu. Ao todo, mais de 100 mil pessoas foram afetadas e 10 pessoas perderam a vida.
Notas
|1| REBOITA, M. S.; MARRAFON, V. H. Ciclones extratropicais: o que são, climatologia e impactos no Brasil. Terrae Didatica, Campinas, SP, v. 17, p. 1-13, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/td/article/view/8666028.
|2| REDAÇÃO. O que é um ciclone extratropical? Fenômeno está provocando fortes tempestades no Sul do Brasil. National Geographic, 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2023/06/o-que-e-um-ciclone-extratropical-fenomeno-esta-provocando-fortes-tempestades-no-sul-do-brasil.
|3| METSUL. Ciclone bomba varria o Sul do Brasil há um ano. MetSul Meteorologia, 2021. Disponível em: https://metsul.com/ciclone-bomba-varria-o-sul-do-brasil-ha-um-ano/.
Fontes
G1 RS; RBS TV. Ciclone no RS: chega a 13 o número de mortos; quatro pessoas seguem desaparecidas, diz Defesa Civil. G1, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2023/06/18/ciclone-no-rs-numero-de-mortos-e-desaparecidos.ghtml.
GRANCHI, G. Ciclone extratropical: o que é o fenômeno que causa chuvas e ventania em parte do Brasil. BBC News Brasil, 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c80d52x27p1o.
METSUL. Efeitos do ciclone persistem durante a semana no Rio Grande do Sul. MetSul Meteorologia, 2023. Disponível em: https://metsul.com/efeitos-do-ciclone-persistem-durante-a-semana-no-rio-grande-do-sul/.
NATIONAL WEATHER SERVICE. Tropical, subtropical, extratropical? National Weather Service, [s.d.]. Disponível em: https://www.weather.gov/source/zhu/ZHU_Training_Page/tropical_stuff/sub_extra_tropical/subtropical.htm.
PARRY, M. L. et al. (Ed.). Climate change 2007: Working Group II: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Cambridge University Press, 2007. Disponível em: https://archive.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg2/en/ch13s13-2-2.html.
REBOITA, M. S.; MARRAFON, V. H. Ciclones extratropicais: o que são, climatologia e impactos no Brasil. Terrae Didatica, Campinas, SP, v. 17, p. 1-13, 2021. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/td/article/view/8666028.
REDAÇÃO. O que é um ciclone extratropical? Fenômeno está provocando fortes tempestades no Sul do Brasil. National Geographic, 2023. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2023/06/o-que-e-um-ciclone-extratropical-fenomeno-esta-provocando-fortes-tempestades-no-sul-do-brasil.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia