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A coroação de Napoleão Bonaparte como imperador aconteceu em 2 de dezembro de 1804, na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Com esse ato, Napoleão conseguiu centralizar mais o poder na sua figura e deu um passo significativo no seu projeto de perpetuação dos Bonaparte no poder francês. A coroação foi apoiada pela alta burguesia.
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Contexto histórico
A coroação de Napoleão foi um dos eventos relacionados com o período napoleônico, que durou 15 anos e no qual Napoleão Bonaparte esteve governando a França. Esse governo iniciou-se por meio de um golpe patrocinado pelo próprio Napoleão — um militar francês que se tornou nacionalmente conhecido por liderar tropas da França contra os inimigos do país durante os anos da Revolução Francesa.
Trata-se do Golpe de 18 de Brumário, realizado em novembro de 1799. Depois dele, a França passou a ser governada por um consulado, um governo formado por três cônsules. Esses cônsules eram Emmanuel Sieyès, Roger Ducos e Napoleão Bonaparte.
O consulado era um governo de poder centralizado e com aspectos democráticos. Na prática, o poder concentrava-se na figura do primeiro-cônsul, cargo ocupado por Napoleão Bonaparte. Nessa posição, Napoleão promoveu uma série de reformas no país e ampliou a propaganda para torná-lo cada vez mais popular.
Primeiro, o primeiro-cônsul negociou a paz com a Inglaterra, e, depois disso, começou a promover reformas na economia, no sistema de justiça, na educação, no governo, entre outras áreas de grande importância para o país. Durante esse primeiro momento do consulado, Napoleão governou próximo da alta burguesia, fazendo desse grupo a classe dirigente dos interesses da França.
A apoio da burguesia a Napoleão permitiu que ele aprovasse medidas que ampliavam ainda mais os poderes do primeiro-cônsul. Em 1802, por exemplo, ele conseguiu aprovação de uma medida que o transformava em cônsul vitalício da França. Essa medida atendia aos interesses de Napoleão por mais poder, garantia um aliado poderoso à burguesia, e mantinha o povo satisfeito.
A burguesia, inclusive, era o grupo que mais tinha a perder com a derrocada de Napoleão, uma vez que o militar garantiu os interesses franceses às custas da nobreza e do clero. Para essa burguesia, um retorno a um regime absolutista poderia ser o retorno da antiga nobreza e seus privilégios.
Assim, a perpetuação de Napoleão no poder tornou-se crucial, foi assim que ele garantiu o cargo de cônsul vitalício. Contudo, sua autopropaganda trouxe uma nova opção: perpetuar os Bonaparte e não somente Napoleão no poder. Essa possibilidade de transmissão hereditária do poder, de Napoleão para seus descendentes, fez com que a ideia da criação de um império ganhasse força.
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Por que Napoleão virou imperador?
A ameaça de uma restauração monárquica foi usada como motivo para que os poderes de Napoleão fossem ampliados. A propaganda napoleônica alegava que seria mais difícil para os Bourbon retomarem o poder da França com ele na mão dos Bonaparte.
Além disso, Napoleão explorou a série de tentativas de assassinato contra ele para evidenciar a necessidade de ampliar seus poderes por meio de um império. Assim, foi organizado um plebiscito para que os votantes decidissem se o líder deveria ser coroado imperador ou não.
A escolha do termo imperador foi proposital. Napoleão negou-se a ser coroado rei da França porque esse título tinha ligação com o passado recente do absolutismo presente no país por séculos. Segundo, porque o título de imperador era considerado mais expressivo por ele. O resultado do plebiscito foi uma vitória avassaladora para Napoleão.
O resultado do plebiscito, que aconteceu em novembro de 1804, só confirmou o que havia sido costurado politicamente, uma vez que, em maio de 1804, o Senado já havia aprovado a transformação de Napoleão em imperador da França.
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Coroação de Napoleão
Uma vez obtido resultado favorável no plebiscito, Napoleão tratou de organizar sua cerimônia de coroação, que, naturalmente, ficou marcada por luxo e grandiosidade, formas de o líder demonstrar seu poderio. A cerimônia, de certa forma, era uma demonstração de que ele contava com o apoio da Igreja e que, na verdade, estava acima dela.
Isso porque a cerimônia foi realizada em uma das principais igrejas de Paris, a Notre-Dame. Napoleão não quis fazê-la onde os antigos reis franceses eram coroados: a Catedral de Reims. Para a ocasião, Napoleão executou o resgate simbólico de dois grandes impérios: o Romano e o Carolíngio.
A cerimônia aconteceu no dia 2 de dezembro de 1804. O local, como mencionado, foi a Catedral de Notre-Dame, e uma das personalidades presentes foi o papa Pio VII. A presença do papa demonstrava que Napoleão estava reconciliado com a Igreja Católica. No entanto, por um gesto simbólico, ele demonstrou sua intenção de não se submeter às autoridades religiosas.
Napoleão estava na posse de duas coroas: uma aos moldes romanos e outra aos moldes carolíngios. Em uma cerimônia tradicional, a autoridade religiosa faria o sermão e, em seguida, coroaria o rei, numa demonstração de submissão dessa autoridade ao poder eclesiástico. O papa Pio VII fez o sermão, mas não coroou Napoleão.
Napoleão coroou a si mesmo e, em seguida, coroou a sua esposa, Josefina. Em seguida ele prestou juramento ao Evangelho e a todas as conquistas da Revolução Francesa. Ao todo, a cerimônia durou cerca de três horas e foi encerrada com uma salva de 101 tiros de canhão.
Napoleão quis que esse acontecimento fosse histórico e, para isso, ordenou Jacques-Louis David, um pintor neoclassicista, a fazer uma pintura dele. A obra de David foi finalizada em 1807 e tem seis metros de largura, por nove metros de altura. A pintura tem grande simbolismo, principalmente, por demonstrar Napoleão de costas para o papa enquanto coroava sua esposa.
Por Daniel Neves
Professor de História