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“Soldados, pensem que do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam!” Com essa frase, Napoleão Bonaparte incitou seus comandados a enfrentarem as tropas de mamelucos muçulmanos durante a Batalha das Pirâmides, em 21 de julho de 1798.
A batalha fazia parte da campanha militar francesa no Oriente, decidida pelo Diretório no ano anterior e comandada por Bonaparte, que, com 29 anos de idade, pretendia, além de conquistar o território egípcio, proporcionar o contato dos sábios influenciados pelo Iluminismo europeu com a cultura do Antigo Egito.
O objetivo militar e político da campanha era cortar a ligação do Império inglês com as rotas comerciais que chegavam à Índia, buscando enfraquecer economicamente os ingleses e seu controle naval sobre o Mediterrâneo.
Napoleão estava enormemente prestigiado pelas vitoriosas campanhas realizadas na Itália. O exército francês partiu de Toulon em 19 de maio com cerca de 300 navios e mais de 35 mil soldados. A primeira conquista se deu com a tomada da ilha de Malta em 12 de junho. O desembarque em solo egípcio ocorreu em Alexandria, em 1º de julho de 1798. A partir daí, o exército francês deslocou-se pelo deserto para realizar a conquista da cidade do Cairo.
A Batalha das Pirâmides teve como principal característica o enfrentamento da famosa cavalaria dos mamelucos muçulmanos comandada por Murad e Ibrahim Bey, que era composta por um número maior de homens que o exército napoleônico. Entretanto, a cavalaria armada de espadas, arcos e flechas não conseguiu conter a artilharia francesa e a formação em quadrado elaborada por Napoleão. A tecnologia das armas de fogo dos franceses mostrou-se mais eficaz que o poder da famosa cavalaria dos mamelucos.
Porém, um mês depois da Batalha das Pirâmides, o almirante inglês Horatio Nelson comandou as esquadras britânicas que destruíram inteiramente as frotas francesas no Mediterrâneo, acabando com a pretensão napoleônica de conquistar toda a região. A campanha francesa acabou sendo um fracasso do ponto de vista militar, e Napoleão saiu do Egito em outubro de 1799.
Talvez mais importante que o aspecto militar tenham sido os trabalhos realizados pelos diversos pesquisadores convocados por Napoleão para participarem da expedição egípcia. Cerca de 167 artistas, médicos, botânicos e cientistas deslocaram-se para o Oriente com o intuito de realizar um detalhado estudo do Egito. Dentre eles, estavam o matemático e químico Gaspard Monge (1746-1818), o químico Claude-Louis Berthollet (1748-1822), o também matemático Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830), o artista botânico Henri Joseph Redouté (1766-1853), o zoólogo Étienne Geoffroy Saint-Hilaire (1772-1844), o inventor Nicolas Jacques Conté (1775-1805) e o artista Dominique Vivant Denon (1747-1825).
As principais contribuições dos pesquisadores ficaram registradas na obra Description de L’Egypte, editada entre 1809 e 1822, sendo composta por 22 volumes. Além disso, inúmeros objetos encontrados no Egito foram enviados para a França. Dentre eles, destaca-se a Pedra de Roseta, encontrada por acaso por um soldado no vilarejo de mesmo nome da pedra. Nela, encontrou-se um texto de Ptolomeu V Epifanes (210-180 a.C.), escrito em três línguas antigas: o hieróglifo, o demótico e o grego. A partir de 1822, o jovem filólogo Jean-François Champollion, de 32 anos, conseguiu decifrar os escritos da Pedra de Roseta, criando, a partir de então, as chaves para o estudo de todos os escritos que se encontram nos edifícios e achados arqueológicos egípcios.
Napoleão Bonaparte pretendia com essa expedição enfraquecer os ingleses, mas também se igualar a Alexandre, o Grande (356 a.C. – 323 a.C.), tanto pelos sucessos militares realizados por um jovem general quanto na contribuição da aproximação das culturas ocidental e oriental.
* Crédito da Imagem: Vladimir Korostyshevskiy e Shutterstock.com
Por Tales Pinto
Mestre em História