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Apólogo

Apólogo é uma narrativa fantástica de cunho moral que apresenta personagens alegóricos, representados por objetos e outros seres inanimados.

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O apólogo é um texto narrativo dramático de curto tamanho que apresenta histórias fantásticas, vividas por personagens inanimados (elementos sem vida na realidade), com intuito de apresentar uma “lição de moral” ou uma “conduta de comportamento”.

O gênero se assemelha a outras narrativas, como fábula e parábola, mas difere-se por utilizar objetos e elementos sem vida para metaforizar aspectos da natureza humana e revelar “lições” com tal façanha.

Leia também: Conto – narrativa que apresenta apenas um conflito

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O apólogo se caracteriza principalmente por sua predominância de personagens inanimados. É raro encontrar um apólogo que apresente animais como personagens, por exemplo. Geralmente os atores de tais narrativas são elementos da natureza (água, terra, árvore, céu, pedra) ou objetos (agulha, faca, bola, cadeira).

Outro aspecto em destaque é o teor moralizante presente nesse gênero. As histórias não apenas trabalham com a simbologia das coisas, mas também apresentam um modelo de conduta, que deve ser seguido, construído pela oposição entre personagens de arquétipo bom ou ruim.

O apólogo apresenta uma narrativa concisa, protagonizada por personagens inanimados, que, dentro do universo ficcional, adquirem vida e modos de comportamento semelhantes aos dos humanos. Por esse fator, considera-se a personificação ou prosopopeia como a figura de relevância nesse gênero.

Ainda sobre a caracterização das personagens, o apólogo se distingue, pois essas figuras costumam representar, por meio de sua linguagem metafórica, características comuns à natureza humana, como astúcia, prudência, inveja, corrupção, empatia, solidariedade etc.

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Assim, por meio da história e da caracterização das personagens, o apólogo se insere como um gênero textual de teor pedagógico, que visa não apenas a contar histórias metafóricas e simbólicas, mas também a apresentar os tipos de condutas considerados bons ou ruins à moralidade humana, de modo a instruir quais comportamentos tomar-se.

Atualmente é raro encontrar novas produções de apólogos. Apesar de encontrar-se novos gêneros que exploram a utilização de personagens inanimados (como é o caso de muitas animações, por exemplo), o teor moralizante das narrativas perdeu a força nas produções contemporâneas.

Como fazer um apólogo?

Para criar um bom apólogo, é necessário personificar seres inanimados.
Para criar um bom apólogo, é necessário personificar seres inanimados.

Para fazer um apólogo, faz-se necessário, primordialmente, definir uma “lição de moral” ou “um valor” que será ensinado por meio da história, e também definir personagens (inanimados) e contexto com os quais se pode construir uma metáfora do comportamento humano.

Estabelecidos tais propósitos, pode-se iniciar a escrita do texto. Aspectos essenciais à narrativa são:

  • contexto e personagens bem definidos;

  • condição inicial dos personagens;

  • conflito ou situação de mudança, condição final da situação;

  • resultado para os diferentes personagens.

Veja também: Crônica – gênero que narra situações cotidianas

Um clássico exemplo de apólogo é o texto “Um apólogo”, de Machado de Assis, publicado em 1885 e disponível como domínio público. Nessa narrativa, protagonizam duas personagens centrais: a Agulha e a Linha. Ambas discutem a respeito do seu valor e sua função no trabalho tecelão e direcionam, por meio desse conflito, todo o enredo. Segue um trecho da obra:

“ERA UMA VEZ uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...”

Nesse trecho inicial, o leitor já se depara com um diálogo “impossível” entre uma agulha e uma linha. O narrador utiliza o discurso direto, permitindo que as personagens protagonizem a história e o texto apresente seu caráter dramático. Em relação ao enredo, percebe-se que se inicia já com o conflito entre as duas personagens centrais, as quais discutem sua relevância e valor, com base no ato de coser.

A discussão apresenta caráter humano, embora utilize argumentos coerentes com a função de uma agulha:

“Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...”

Ou com a função de uma linha:

“Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...”

No decorrer da narrativa, o vestido que estava sendo costurado fica pronto e será usado por sua dona, nesse momento final, há outro diálogo que apresenta o teor moralizante do apólogo, a seguir:

“Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!”

Aqui, no encerramento da história, é evidente o valor pedagógico do texto. Após uma última provocação feita pela linha à agulha, aparece o terceiro personagem atuante, o alfinete, e ele é quem dá a lição de moral à linha e, consequentemente, ao leitor.

Diferença entra apólogo e fábula

O apólogo e a fábula são gêneros narrativos semelhantes, ambos apresentam histórias curtas, com teor dramático e conteúdo moralista. Entretanto, há um aspecto que distingue ambos: o apólogo apresenta personagens inanimados, ou seja, elementos que não possuem vida na realidade (água, terra, pedra, tesoura, faca, agulha etc.), enquanto a fábula costuma apresentar personagens animados, mas não humanos (raposa, tartaruga, leão, rato etc.).

 

Por Talliandre Matos
Professora de Gramática

Escritor do artigo
Escrito por: Talliandre Matos Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

MATOS, Talliandre. "Apólogo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/redacao/apologo.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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