Veja a música de Chico Buarque:
Cotidiano
Chico Buarque
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã.
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Notamos que o autor utiliza-se da omissão do sujeito em muitos versos de sua composição:
- Me sacode às seis horas da manhã
- Me sorri um sorriso pontual
- E me beija com a boca de hortelã
- Diz que está me esperando pro jantar
- E me beija com a boca de café
- Depois penso na vida pra levar
- E me calo com a boca de feijão
- Ela pega e me espera no portão
- Diz que está muito louca pra beijar
- E me beija com a boca de paixão
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- E me aperta pra eu quase sufocar
- E me morde com a boca de pavor
No entanto, podemos inferir pelo contexto da letra que os sujeitos ocultos são representados pelas pessoas “Ela” e “Eu”, não é mesmo? Esse recurso estilístico é uma figura de linguagem que se realiza a nível sintático (figura de sintaxe) conhecida como elipse, cuja definição é a seguinte:
Elipse: é uma figura de linguagem que consiste na omissão de algum termo que pode ser compreendido pelo contexto.
Pode ocorrer elipse:
a) do sujeito:
Exemplo:
Os olhos são as janelas para o mundo. Testemunham tudo que acontece ao redor.
O que testemunha tudo o que acontece ao redor? - Os olhos (sujeito elíptico).
b) do verbo:
Exemplo:
Há dois anos, comprei um carro e, agora, uma casa.
Perceba a omissão do verbo comprei antes do seu complemento “uma casa”.
c) da conjunção integrante que:
Exemplo:
Ele propôs casássemos.
d) da preposição “de” que inicia orações objetivas diretas e orações completivas nominais:
Exemplo:
Tenho certeza que você será aprovado.
e) da preposição que introduz determinados adjuntos:
Exemplo:
A garota, cabelos negros, era bela e meiga.
OBSERVAÇÃO: Zeugma é um tipo de elipse que consiste em omitir em dois ou mais enunciados um termo expresso em um deles.
Exemplo:
Torço para o Palmeiras; minha mãe, para o Corinthians; meu pai, para o Flamengo.
Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras