Cringe é uma gíria adaptada do inglês para designar alguém que é visto como brega, vergonhoso, ultrapassado e fora de moda. A palavra tomou as redes sociais ultimamente.
“Você é cringe. Isso é cringe. Aquilo é cringe. Nossa, que millenial. A geração Z está passando dos limites.” Você tem acompanhado a discussão entre millenials (geração Y) e geração Z que surgiu nas redes sociais nos últimos dias? Você leu ou ouviu a palavra cringe e não faz ideia do que é isso? Você sequer sabe o que é geração Y, geração Z, millenial?
Calma, vamos falar sobre isso neste texto, portanto, pegue o bloco de anotações e o lápis amarelo com a borracha na ponta e leia-o. Essa frase foi muito cringe.
Cringe é uma gíria para estranhamento adaptada ao nosso contexto como algo que causa vergonha alheia.
Há nas redes sociais uma disputa entre a geração Z e a geração Y.
Geração Y é composta pelos nascidos entre o meio da década de 1980 e o meio da década de 1990.
Geração Z é composta pelos nascidos entre o fim da década de 1990 e a primeira década dos anos 2000.
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O que é cringe?
Bem, para ficar bem explicado, nós precisamos compreender que existem alguns significados para o termo cringe, anteriores à adaptação que os internautas brasileiros fizeram nos últimos anos. No Dicionário Oxford Escolar para estudantes brasileiros de inglês, cringe significa:
1) encolher-se (de medo);
2) morrer de vergonha (sentido figurativo).
Em ambos os casos, trata-se de um verbo: to cringe. O segundo significado lembra muito o que chamamos de vergonha alheia, situação embaraçosa.
Por isso, existe um subgênero de comédia chamado cringe nos países de língua inglesa, que vincula a ação cômica a uma situação que, se acontecesse com você, talvez não seria tão engraçada. Geralmente é um tipo de humor bastante ácido, sarcástico e que adora rir pela vergonha alheia. Muitas vezes é apresentado em séries que adotam formato sitcom ou até filmes.
Uma combinação que frequentemente aparece nas comédias cringes é a técnica de mocumentário, que é um falso documentário gravado com atores e atrizes que interpretam como se estivessem vivendo suas vidas reais e expondo situações reais. No caso de um mocumentário cringe, são apresentadas situações embaraçosas como se fossem reais.
Aqui no Brasil, no fecundo ambiente virtual, nossos internautas adaptaram a palavra em seu segundo sentido, transformando-a em um adjetivo. Isso não é novo, a palavra já se encontra em nossa internet há alguns anos. Trazendo também o significado de vergonha alheia por algo vexatório ou embaraçoso, o termo cringe passou a designar, no início, pessoas meio sem noção. Com a transformação do termo no desenrolar do idioma, cringe passou a designar algo (e alguém) brega, sem noção, ultrapassado e até forçado.
O cringe e a recente “treta” entre millenials e geração Z
As redes sociais não perdoam nada, não perdoam ninguém. De fake news a tretas entre internautas, nós vemos de tudo nelas. Bem, a última treta das redes sociais se deu entre millenials e geração Z. Acontece que os millenials (este que vos escreve é um millenial que tentará ser imparcial neste texto) começaram a se perguntar se são cringe. E… para a surpresa dos millenials, muitas coisas que eles fazem (e se acham descolados por fazerem) são consideradas cringe pela geração Z.
Os millenials reagiram às falas dos jovenzinhos que têm entre 12 e 24 anos, mais ou menos. Basicamente, a geração Z está chamando os millenials de cringe por quase tudo o que os millenials falam e fazem. Hábitos, ações, falas, modo como usam a internet, roupas, músicas que ouvem, o que leem, o que assistem, é tudo cringe:
Calça skinny? Cringe.
Gostar de café? Cringe.
Dizer que paga boleto? Cringe.
Ouvir rock? Cringe.
Ouvir um pagode dos anos 90 que tocava num daqueles programas de auditório (aqueles dois que dominavam as tardes de domingo)? Muito cringe.
Ser saudosista com os anos 90? Bastante cringe.
Usar o Facebook? Cringe que possivelmente está na faixa dos 40 anos.
Referir-se às pessoas mais novas como “essa juventude de hoje”? Cringe que já passou dos 50 anos.
Referir-se às pessoas mais novas como “essa mocidade”? Cringe que já frequenta o geriatra.
Acontece que as redes sociais evidenciaram um conflito geracional intenso, pois pela primeira vez nós temos várias gerações convivendo juntas nesse espaço. Até poucos anos atrás, eram os millenials que dominavam as redes sociais, pois a geração Z ainda era criança. A geração Z cresceu, muitos já são jovens adultos, estão massivamente presentes e ativos nas redes sociais, sobretudo em redes de vídeos curtos que têm bombado no momento, como Tik Tok e o Kwai.
Outro fenômeno recente é a entrada de pessoas de faixas etárias cada vez maiores nas redes sociais. Temos as pessoas na faixa dos 40 a 50 anos que vêm experimentando as redes com maior presença desde 2010, e temos, nos últimos anos, uma crescente frequência de idosos nesses espaços virtuais. Este último grupo aumentou significativamente após a pandemia e a necessidade do isolamento social.
O resultado? Treta. Mas calma, não é uma treta perigosa. É uma treta saudável, oriunda do conflito geracional. Muito do que a geração X fez foi para se desvincular dos baby boomers, que eram seus pais. Muito do que a geração Y (os millenials) fez era para quebrar o vínculo com a geração dos seus pais, a X. O que a geração Z faz hoje é tentar se desvincular da geração anterior, afinal, isso é o que é considerado descolado, gíria que denuncia a minha idade (assim como a gíria treta, que escrevi várias vezes), pois a geração Z prefere a palavra hype.
A sociologia tratou de classificar as várias gerações que viveram/vivem entre o século XX e hoje, para facilitar a compreensão de cada época. Podemos dividi-las da seguinte maneira:
Baby boomers: nascidos entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a metade da década de 1960, vieram do boom de nascimentos de bebês daquele período, que não queria mais as dificuldades de conflitos bélicos tão grandes. Essa geração teve a dura tarefa de reconstruir o mundo devastado pela guerra, seja física ou economicamente. Eles valorizam o trabalho duro e a estabilidade.
Geração X: filhos dos boomers, são os nascidos entre 1965 e 1980. Apesar de terem contestado seus pais e terem tendido para caminhos de mudança estrutural (na América Latina, por exemplo, viveram em regimes ditatoriais e muito contestaram o autoritarismo), acabaram entrando, em partes, nas linhas tracejadas pelos boomers. Valorizam o estudo, a capacitação, o trabalho, e ainda mantêm aquela estrutura já iniciada pelos boomers.
Geração Y: compreende quem nasceu entre a década de 1980 e meados da década de 1990. Também chamada de millenials por ser a geração que atravessou o milênio, teve bastante contato com a tecnologia em sua adolescência e vida adulta. É uma geração com um modo de ver o mundo bastante peculiar. Não se preocupam tanto com estabilidade, não querem manter um vínculo longínquo com empresas, pelo menos não se não estiverem satisfeitos, e têm maior interesse no empreendedorismo. Essa geração iniciou uma mudança que será desfrutada e intensificada pela geração seguinte. São altamente contestadores.
Geração Z: já são nativos digitais. Têm mais facilidade que qualquer outra geração com a tecnologia. Eles querem causar impacto no mundo, querem chacoalhar as estruturas, mesmo que seja apenas no mundo digital. São pessoas que se levantam ainda mais contra as injustiças, mas também são mais sensíveis e sentimentais. Eles aprofundam aquilo que os millenials iniciaram: mudança e contestação, e ainda constroem a sua identidade no mundo.
Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:
PORFíRIO, Francisco.
"O que é cringe?"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/o-que-e-sociologia/o-que-e-cringe.htm. Acesso em 21 de dezembro
de 2024.