O iluminismo foi um movimento de ideias surgido no século XVII e aperfeiçoado no século XVIII e que compreendeu as noções de individualidade, universalidade e autonomia com base na razão, aspecto da consciência humana que garantiria uma nova ordem, em oposição ao cristianismo e ao absolutismo e rumo ao progresso.
O termo iluminismo parte da oposição entre as luzes e as trevas, referentes ao período anterior ao Moderno e a despeito das pesquisas e descobertas feitas na Idade Média. Alguns de seus expoentes foram Voltaire, Newton e Montesquieu, este último um dos responsáveis pela consolidação da teoria dos Três Poderes e da ideia de Estado constitucional, ambas muito caras aos pensadores da época, que acreditavam no direito à individualidade e à liberdade, que deveriam ser garantidas por um Estado com papéis e limites bem definidos.
O iluminismo é mais conhecido por sua vertente francesa mas também houve as tradições britânica e estadunidense. Esse novo modo de pensar incentivou mudanças radicais nas estruturas estatais tanto na Europa como na América, a exemplo da Revolução Francesa e da Revolução Americana, bem como reformas, como o despotismo esclarecido.
O iluminismo foi um movimento de ideias que tinham como base o uso da razão para o alcance do progresso.
Surgiu no século XVII, na Europa, e foi aperfeiçoado no século XVIII, atingindo as Américas.
Propôs reformas na estrutura estatal do absolutismo, tendo em vista maior liberdade civil, em comunhão com o ideal burguês.
Teve três tradições: a britânica, a estadunidense e a francesa, sendo esta última a mais popular.
O iluminismo britânico colocava mais peso na noção de virtude, crendo que as lições do passado levariam o ser humano ao estado de felicidade e comunhão com outros seres humanos.
O iluminismo estadunidense agia com maior ênfase no aspecto econômico, tendo em vista a limitação do Estado na economia e a favor da liberdade individual com base nos preceitos puritanos.
O iluminismo francês se concentrava na supremacia da razão, o único modo pelo qual os seres humanos alcançariam sua devida evolução.
Videoaula: Iluminismo enciclopédia — Diderot e D’Alembert
Como surgiu o iluminismo?
Quando estudamos a chamada época moderna, ou Idade Moderna, período que corresponde, didaticamente, a um espaço de aproximadamente quatro séculos (século XV ao século XVIII), percebemos que diversos autores tratam o século XVIII como sendo a época em que houve o ápice do racionalismo e do cientificismo, iniciados com o renascimento científico e cultural dos séculos XV e XVI. Esse ápice teria ocorrido em virtude do iluminismo, movimento de ideias que deu ao século XVIII o epíteto de Século das Luzes.
Essa impressão de continuidade e de progresso que temos da época moderna não é totalmente errada. Entretanto, tal impressão nos foi dada pela corrente iluminista da França, que via a si própria como expoente da razão em seu estágio mais avançado. O problema é que o iluminismo não se restringiu somente à corrente francesa. Houve outras duas muito importantes, a britânica e a americana (ou estadunidense). Para sabermos o que é o iluminismo de fato, é preciso que nos atenhamos ao conjunto dessas três correntes.
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Iluminismo francês
O iluminismo francês foi a corrente que se tornou mais popular e acabou dando-nos a própria imagem que temos da época moderna, isto é, uma época de progresso, de avanços científicos e de crença na razão. Apesar de ter recebido bastante influências do racionalismo clássico do século XVII, sobretudo aquele desenvolvido por Descartes, os expoentes do iluminismo francês tiveram na ciência moderna, começada efetivamente por Galileu e aperfeiçoada e teorizada por Newton, o seu principal modelo.
Foi nos sistemas filosófico-científicos de Newton que filósofos como Voltaire viam a “unidade” e “inexorabilidade” da razão. A razão era a faculdade para a qual convergia o destino da humanidade. Por meio dela, todo progresso, segundo os franceses, poderia ser alcançado. Como diz o filósofo alemão do início do século XX, Ernst Cassirer, em sua obra A filosofia do iluminismo:
O século XVIII está impregnado de fé na unidade e imutabilidade da razão. A razão é una e idêntica para todo o indivíduo pensante, para toda a nação, toda época, toda cultura. De todas as variações dos dogmas religiosos, das máximas e convicções morais, das ideias e dos julgamentos teóricos, destaca-se um conteúdo firme e imutável, consistente, e sua unidade e sua consistência são justamente a expressão da essência própria da razão.|1|
Newton, ao contrário de Descartes, não partiu de axiomas, de princípios universais em direção ao conhecimento daquilo que era particular. Ao contrário, partiu dos fenômenos, dos dados empíricos observáveis e particulares e, por meio da análise deles, chegou até conceitos universais — como o de força gravitacional. Essa característica teórica de Newton, de procurar chegar ao uno, ao geral, por meio de análises empíricas, deu segurança para os filósofos franceses do século XVIII extrapolarem o uso da categoria de razão.
A faculdade da razão, para o iluminismo francês, tornou-se de fato objeto de crença, uma crença caricata da crença religiosa. Na Enciclopédia (principal veículo de divulgação do iluminismo na França), organizada por D'Alambert e Diderot, lê-se que “a razão é para o filósofo o que a graça é para o cristão”. Com essa frase, fica evidente não apenas a rejeição ao cristianismo, uma das principais características do iluminismo francês, como também o desejo de substituir Deus pelo racionalismo e o cientificismo — fato que foi levado a cabo primeiro pelos jacobinos, durante a Revolução Francesa, e, depois, pelo positivismo ateísta, de August Comte.
Iluminismo britânico e americano
Ao contrário do iluminismo francês, as correntes do iluminismo que se desenvolveram em países como Irlanda e Inglaterra, na Europa, e Estados Unidos, no continente americano, não apostavam no poder da razão como carro-chefe ou motor da história, do destino da humanidade.
Segundo a historiadora Gertrude Himmelfarb, em sua obra Caminhos para a Modernidade:o iluminismo britânico, francês e americano, o iluminismo britânico pode ser definido como a “era da benevolência”, enquanto o iluminismo americano seria melhor qualificado como “política da liberdade”.
Iluminismo britânico
Por “era da benevolência” podemos entender a ênfase nas virtudes mais que na faculdade racional. Virtudes como a prudência estão na base do iluminismo britânico. É a prudência que, para filósofos como Edmund Burke, dá ao homem os recursos para compreender o seu destino e seu estado de comunhão com os outros seres humanos. Isso se dá porque a prudência nasce da experiência passada, nasce da tradição. É no passado que estão as premissas e os modelos de uma civilização saudável, e não em um futuro incerto, construído pela razão e pela revolução.
Iluminismo americano
O iluminismo americano é, em grande parte, herdeiro do britânico, mas parte dessa herança foi aperfeiçoada em alguns pontos, sobretudo no que se refere à economia e à política da liberdade, que, combinadas com a tradição religiosa puritana, produziriam uma civilização singularmente próspera e devedora de valores tradicionais nos Estados Unidos.
Dessa forma, sempre que pensarmos em iluminismo, devemos levar em consideração as diferentes perspectivas que se tem sobre esse tema para que não fiquemos presos na imagem do século XVIII como meramente o Século das Luzes.
Nota
|1| CASSIRER, Ernst. A filosofia do iluminismo. Trad. Álvaro Cabral. Campinas/São Paulo: Unicamp, 1992. p. 23
Fontes
CASSIRER, Ernst. A filosofia do iluminismo. Trad. Álvaro Cabral. Campinas/São Paulo: Unicamp, 1992. p. 23
BRAICK, Patrícia & MOTA, Myriam. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 2007.
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FERNANDES, Cláudio.
"O que é Iluminismo?"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-iluminismo.htm. Acesso em 19 de novembro
de 2024.