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René Descartes

René Descartes foi um filósofo e matemático francês, fundador do método dedutivo na Filosofia, do racionalismo e criador da geometria analítica.

René Descartes, filósofo e matemático francês.
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René Descartes foi um importante filósofo e matemático, além de ter deixado significativas contribuições para a Física. Seu método filosófico introduziu um pensamento mais exato no campo da Filosofia — o que o fez ser considerado o primeiro filósofo da vertente racionalista e colocou-o em posição de destaque para a constituição do pensamento moderno. Graças ao rigor dos estudos matemáticos de Descartes e à criação de seu plano de coordenadas, é possível hoje estabelecer os estudos da geometria analítica e da geometria espacial com maior precisão.

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Biografia de René Descartes

René Descartes nasceu em Haye, província francesa, em 1596. Ficando órfão de mãe quase um ano após o seu nascimento, cresceu sob os cuidados do pai e de uma ama. Seu pai era funcionário público de Haye e providenciou uma educação de elite para o filho, que, desde cedo, teve contato com a Filosofia, com a Astronomia e com a Matemática.

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Descartes estudou no colégio Royal Henry Le Grand, seminário dirigido por jesuítas no Castelo de La Flèche. Aos 19 anos terminou o seminário, e algumas inquietações sobre a Filosofia ensinada pelos jesuítas, de tradição escolástica e essencialmente aristotélica, deixaram-no pensativo. Quando terminou o curso básico, ingressou no curso de Direito na Universidade de Poitiers. Aos 22 anos de idade, tornou-se bacharel em Direito, mas nunca exerceu a advocacia ou se envolveu com a carreira jurídica.

Ao formar-se, Descartes envolve-se com a carreira militar, tendo passado mais de um ano como soldado alistado no exército do príncipe holandês Maurício de Nassau. A carreira como soldado é curta, pois o filósofo descobriu não ter nascido para o militarismo. Não obstante, suas contribuições como conselheiro e estrategista militar fizeram-se presentes em quase toda a sua vida, tendo sido encerradas apenas quando o francês completou 49 anos. Essa atividade era, no entanto, secundária em sua vida dedicada à Filosofia e à Matemática.

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O ingresso no exército quando jovem revelou a Descartes uma busca pessoal pela aventura, ao que ele seguiu com inúmeras viagens que fez pela Europa. Apesar do espírito aventureiro, contam os seus biógrafos que, desde criança, o pensador era muito reservado e evitava o convívio social, preferindo ficar sozinho e cair em seus profundos pensamentos, o que fez com que deixasse poucos vestígios de sua vida pessoal.

Também com 22 anos começou a estudar Matemática e viu-se fascinado pela exatidão daquela ciência, algo que já despertara a sua curiosidade desde os anos vividos em La Flèche. Aos 33 anos, Descartes havia escrito um livro intitulado Tratado sobre o mundo. O filósofo optou por não publicar o manuscrito sobre ciência natural, que defendia uma tese heliocêntrica, em decorrência do processo e condenação vividos por Galileu Galilei.

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Em 1637, Descartes publica Discurso do método, sua mais importante obra filosófica, e, em 1641, publica Meditações metafísicas, outra grande obra de sua autoria. Em 1649, o pensador francês aceita o convite da rainha Cristina, da Suécia, apesar de hesitar bastante. Cristina era uma admiradora da filosofia cartesiana, e o filósofo parte para ser seu conselheiro.

O rigoroso inverno sueco causa uma forte pneumonia em Descartes, que morre em 1650. Em 1663, a Igreja Católica proíbe alguns de seus livros, em especial Meditações metafísicas, por adentrar em assuntos teológicos.

Descartes e a Filosofia

Descartes revolucionou o pensamento filosófico moderno. Suas contribuições deram origem à tradição racionalista que se baseia no entendimento de que o conhecimento racional é inato ao ser humano. Assim como Platão, o filósofo francês concebeu o ser humano como um ser composto por uma dualidade psico-física, isto é, por uma mente ou alma (psique) e por um corpo.

Esses elementos são designados por Descartes como res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa). Nessa concepção, a alma ou mente (coisa pensante) é o atributo maior do ser humano e o seu corpo (coisa extensa) é a extensão da alma. O corpo depende da alma para viver do mesmo modo que a alma depende do corpo para habitar o mundo.

Descartes observou que os seus professores de Matemática tinham um método preciso e exato para chegarem a conclusões de raciocínios, o que os garantia certeza e não gerava controvérsias, ao passo que os seus professores de Filosofia envolviam-se em querelas por utilizarem métodos próprios e diferentes. Para Descartes, não era possível firmar uma Filosofia sólida num terreno movediço, fazendo-se necessário estabelecer um método preciso para a Filosofia.

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Principais ideias de René Descartes

  • A razão é inata ao ser humano, ou seja, nós já nascemos com as ideias racionais embutidas em nosso intelecto. O que diferencia a inteligência de uns e de outros é a maneira como utilizamos a nossa inteligência.

  • O conhecimento deve ser claro e distinto. Tudo aquilo que gera dúvida deve ser afastado do âmbito do conhecimento verdadeiro.

  • O conhecimento filosófico deve ser consolidado por um método que garanta a confiabilidade do que se conhece.

  • A razão é inata ao ser humano, ou seja, nós já nascemos com as ideias racionais embutidas em nosso intelecto. O que diferencia a inteligência de uns e de outros é a maneira como utilizamos a nossa inteligência.

  • O conhecimento deve ser claro e distinto. Tudo aquilo que gera dúvida deve ser afastado do âmbito do conhecimento verdadeiro.

  • O conhecimento filosófico deve ser consolidado por um método que garanta a confiabilidade do que se conhece.

→ Racionalismo

As palavras iniciais de Descartes em Discurso do método apontam as primeiras pistas para o entendimento do seu racionalismo. Assim o filósofo escreveu:

O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm. Não é verossímil que todos se enganem nesse ponto: antes, isso mostra que a capacidade de bem julgar, e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se chama o bom senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, assim, que a diversidade de nossas opiniões não se deve a uns serem mais racionais que os outros, mas apenas que conduzimos nossos pensamentos por vias diversas e não consideramos as mesmas coisas.i

O racionalismo, além de estar assentado nas ideias inatas, toma por base a ideia de que o conhecimento fornecido por outras fontes que não a razão pode ser enganoso. Isso implica que somente o conhecimento racional, fruto das deduções, é claro e distinto. Somente o processo dedutivo (utilizado por excelência na Matemática) pode ser adotado como meio seguro e único para evidenciar aquilo que é conhecido.

Quando Descartes fala de “não considerarmos as mesmas coisas” quando falamos do bom senso e da razão, ele quer dizer que deve haver um método preciso para atingir-se a razão e que esse método não pode ser o empírico. Aliás, a grande fonte de sua decepção com a filosofia escolástica, que o fez romper com a tradição aristotélica, foi o assentamento do conhecimento em diversas fontes, entre elas a experiência.

Para fundamentar sua teoria, o filósofo elabora um método baseado, primeiramente, na dúvida metódica e hiperbólica. Metódica porque era organizada por um método, e hiperbólica porque era exagerada. O método cartesiano faz surgir na Modernidade um novo tipo de ceticismo: diferente do ceticismo helênico, os ideais cartesianos pretendiam negar um tipo de juízo do conhecimento para chegar-se a um julgamento final e verdadeiro. Para isso, era necessário negar as “certezas” advindas da experiência e de tudo aquilo que não fosse estruturalmente correto.

As regras para o método são as seguintes:

  1. Evidência: Jamais aceitar como verdadeiro algo duvidoso, ou apenas aceitar as formas de conhecimento claras e distintas.

  2. Análise: Ao enfrentar um problema filosófico, dividi-lo em partes, quantas forem possíveis, para facilitar a sua compreensão.

  3. Síntese: Sempre começar resolvendo os problemas menores, as partes menos complexas, partindo então rumo aos problemas maiores, pois a junção das múltiplas partes pode resolver ou fornecer pistas para a resolução do problema como um todo.

  4. Enumeração: Enumerar todas as partes fracionadas e revisar cada etapa assim que finalizada, pois isso facilita a identificação de erros.

O método cartesiano para a Filosofia fornece elementos para o desenvolvimento de posteriores métodos científicos mais avançados.

→ Cogito

O método cartesiano e a sua dúvida metódica e hiperbólica fizeram-no chegar ao cogito, o primeiro conhecimento estritamente verdadeiro, obtido por meio da dedução. Estes foram os passos percorridos pelo filósofo para que chegasse ao cogito:

  1. Eu devo duvidar de tudo para atingir um conhecimento rigoroso.

  2. Ao duvidar de tudo, duvido inclusive de mim mesmo, de minha essência e de minha existência.

  3. Ao duvidar, eu estou pensando.

  4. Se penso, logo eu existo.

O cogito cartesiano foi traduzido para o Português como “penso, logo existo”. No entanto, a frase escrita originalmente, em francês, “je pense, donc je suis”, pode indicar ambiguamente essência e estado. Uma tradução fidedigna seria “penso, logo sou”. Acontece que a segunda meditação, das Meditações metafísicas, equipara essência e existência, o que nos permite traduzir o cogito de modo que nos proporcione uma maior compreensão de seu sentido.

Obras de René Descartes

Listamos a seguir as principais obras do filósofo René Descartes:

  • Discurso do método: Texto curto e escrito em Francês (era comum que os intelectuais da época escrevessem em Latim, o que restringia o escrito a um público douto), pois a intenção de Descartes era que o seu livro atingisse a todos que compartilhassem da racionalidade. Essa obra apresenta o método cartesiano, as suas justificativas e a sua contribuição para o racionalismo.

  • Meditações metafísicas: Nessa obra o filósofo discute as questões metafísicas tradicionais, como a questão da alma e de Deus. Descartes era cristão, mas modifica as estruturas cristãs ao tratar da alma e do alcance do logos proporcionado por Deus.

  • Princípios de Filosofia: Essa obra é uma espécie de manual para o fornecimento de conhecimento filosófico na educação jesuíta. Descontente com a sua formação de teor escolástico, o filósofo escreve tais princípios pensando em poder disseminar o racionalismo já na educação de base, a fim de formar estudantes de acordo com as sólidas ideias racionais claras e distintas, de uma filosofia racionalista.

Frases de René Descartes

  • “Penso, logo existo.”

  • “O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada.”

  • “Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras, quando comecei a concebê-las, tornaram-se falsas, quando quis colocá-las sobre o papel.”

  • “Não basta termos um bom espírito, o mais importante é aplicá-lo bem.”

Nota

i DESCARTES, René. Discurso do Método. Trad. Paulo Neves e introdução de Denis Lerrer Rosenfield. Porto Alegre: L&PM Editores, 2010, p. 37.

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "René Descartes"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/rene-descartes.htm. Acesso em 18 de dezembro de 2024.

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