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Barroco

O Barroco é um estilo de época caracterizado pelo conflito e culto ao contraste. Ele surgiu no contexto histórico da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica.

Judite e Holofernes (1599), obra barroca do pintor Caravaggio, abordando temática bíblica e uso da técnica de chiaroscuro (claro-escuro).
Judite e Holofernes (1599), obra barroca do pintor Caravaggio, abordando temática bíblica e uso da técnica de chiaroscuro (claro-escuro).
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Barroco é o nome de um estilo de época surgido no final do século XVI, na Itália, e caracterizado por forte influência religiosa, devido ao contexto histórico marcado pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma. No entanto, ao lado de tanta religiosidade, havia também, na época, um forte apelo aos prazeres sensoriais. Desse modo, o estilo configura-se, basicamente, na aproximação dos opostos.

Portanto, são características presentes em obras de Gregório de Matos e Pe. António Vieira, os principais autores do Barroco brasileiro: culto ao contraste, fusionismo, pessimismo, feísmo, cultismo, conceptismo, além do uso de antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato e sinestesia.

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o Barroco

  • Contexto histórico da Reforma Protestante e da Contrarreforma Católica.

  • Características:

- Culto ao contraste;

- Antítese e paradoxo;

- Pessimismo;

- Rebuscamento;

- Hipérbole;

- Cultismo ou gongorismo;

- Conceptismo ou quevedismo;

- Morbidez;

- Sentimento de culpa;

- Carpe diem;

- Emprego da medida nova.

Principais temáticas:

- Fragilidade humana;

- Fugacidade do tempo;

- Crítica à vaidade;

- Contradições do amor.

Leia também: Arcadismo – movimento literário posterior ao Barroco

Contexto histórico do Barroco

Cruz em uma caverna em referência ao cristianismo, contexto histórico do barroco.
Devido ao conflito entre católicos e protestantes, o cristianismo ganhou força no século XVI.

Dois fatos históricos, no século XVI, foram de grande influência nas obras dos autores barrocos: a Reforma Protestante e a Contrarreforma. Essa última ocorreu como uma reação diante da perda de fiéis devido ao protestantismo (luteranismo e calvinismo).

→ Reforma Protestante

  • O padre alemão Martinho Lutero (1483-1546) denunciou a venda do perdão como prática corrupta da Igreja Católica.

  • Lutero defendia que a salvação só é conseguida por meio de uma vida marcada pela religiosidade, pelo arrependimento dos pecados e pela fé em Deus.

  • Ao entenderem que não precisavam pagar, com doações e penitências, pela absolvição, muitos fiéis abandonaram a Igreja para seguir o luteranismo.

  • João Calvino (1509-1564) defendia a ideia de que o lucro obtido pelo trabalho é uma dádiva divina, o que aumentou a debandada de fiéis.

  • Assim, parte da burguesia aderiu ao protestantismo.

→ Contrarreforma Católica

  • No Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja definiu ações para combater a Reforma Protestante.

→ Medidas importantes:

  • Ressurgimento do Tribunal do Santo Ofício (Santa Inquisição);

  • Criação do Índice dos livros proibidos — Index librorum prohibitorum;

  • Fundação da Companhia de Jesus pelo padre Inácio de Loyola (1491-1556).

Assim, a influência religiosa foi marcante na formação dos autores barrocos. Porém, em oposição (ou como consequência) a essa religiosidade, havia também um forte apelo aos prazeres sensoriais, um desejo de se entregar à mundanidade. Portanto, essa época ficou marcada pela oposição e pelo conflito.

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Características do Barroco

O Barroco é um estilo de época marcado pela oposição e pelo conflito, o que acaba revelando uma forte angústia existencial. Dessa forma, as obras literárias dessa época apresentam visões opostas (aproximação de opostos), tais como:

  • Antropocentrismo versus teocentrismo

  • Sagrado versus profano

  • Luz versus sombra

  • Paganismo versus cristianismo

  • Racional versus irracional

  • Material versus espiritual

  • versus razão

  • Carne versus espírito

  • Pecado versus perdão

  • Juventude versus velhice

  • Céu versus terra

  • Erotismo versus espiritualidade

Além do culto ao contraste, o estilo possui também estas características:

  • Fusionismo: fusão entre a visão medieval e a renascentista;

  • Antítese e paradoxo: refletem uma época de contrastes;

  • Pessimismo: a felicidade, impossível na Terra, só se realizaria no plano celestial;

  • Feísmo: fascinação pela miséria humana, crueldade, dor, podridão e morte;

  • Rebuscamento: ornamentação excessiva da linguagem, atrelada a um apelo visual;

  • Hipérbole: exagero;

  • Sinestesia: apelo sensorial;

  • Cultismo ou gongorismo: jogo de palavras (sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos, figuras de linguagem, hipérbatos);

  • Conceptismo ou quevedismo: jogo de ideias (comparações e argumentação engenhosa);

  • Morbidez;

  • Sentimento de culpa;

  • Carpe diem: aproveitar o momento;

  • Emprego da medida nova: versos decassílabos;

  • Principais temáticas: fragilidade humana, fugacidade do tempo, crítica à vaidade, contradições do amor.

É preciso ressaltar que a presença de luz e sombra, nos textos barrocos, normalmente, está associada à juventude (luz) e à velhice (sombra). Nessa perspectiva, o poeta barroco sempre lembra aos leitores o quanto a juventude é fugaz e o quão rápido chega a velhice e, consequentemente, a morte. Há, por isso, uma supervalorização da juventude e dos prazeres que essa fase da vida pode oferecer.

Nessa mesma linha de pensamento, a natureza, quando retratada, serve para lembrar que a beleza – por exemplo, a de uma rosa – é fugaz, assim como a juventude. Além disso, imagens como a da aurora (transição entre a noite e o dia) e a do crepúsculo (transição entre o dia e a noite) simbolizam o dualismo típico do estilo barroco.

Leia também: Luís de Camões – poeta português que também abordou a fugacidade do tempo

Barroco na Europa

O Barroco surgiu na Itália e espalhou-se pela Europa e América. No entanto, os maiores nomes da literatura barroca europeia são os espanhóis Luis de Góngora (1561-1627) e Francisco de Quevedo (1580-1645). Já o Barroco português (1580-1756) contou com estes autores:

  • Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622): A primavera (1601);

  • Jerónimo Baía (1620-1688): poema Ao menino Deus em metáfora de doce;

  • António Barbosa Bacelar (1610-1663): soneto A uma ausência;

  • António José da Silva (1705-1739), “o Judeu”: Obras do diabinho da mão furada;

  • Gaspar Pires de Rebelo (1585-1642): Infortúnios trágicos da constante Florinda (1625);

  • Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793): Aventuras de Diófanes (1752);

  • Pe. António Vieira (1608-1697): Os sermões (1679);

  • D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666): Obras métricas (1665);

  • Soror Violante do Céu (1601-1693): Romance a Cristo Crucificado (1659);

  • Soror Mariana Alcoforado (1640-1723): Cartas portuguesas (1669).

Soror Mariana Alcoforado, retratada na capa do livro Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly, obra do estilo barroco.
Soror Mariana Alcoforado, retratada na capa do livro Cartas de amor ao cavaleiro de Chamilly (1914).

A seguir, vamos ler alguns trechos|1| de uma das cartas de amor de Soror Mariana Alcoforado. O que chama a atenção é a aproximação entre o sagrado e o profano, já que ela era uma freira, vivia em um lugar considerado sagrado e, nesse mesmo lugar, deu vazão ao seu desejo erótico:

“Acho que acabo causando um mal enorme aos meus sentimentos quando me esforço para explicá-los a você numa carta. Como eu ficaria feliz se você pudesse compreendê-los pela intensidade dos seus! Mas não devo confiar em você, nem posso deixar de dizer — ainda que sem a violência com que sinto — que você não devia me maltratar desse jeito, com um desprezo que me leva ao desespero, e que chega a ser vergonhoso para você. É justo que você suporte pelo menos as queixas dessa infelicidade que previ quando você decidiu me deixar.

[...]

Atribuo toda essa infelicidade à cegueira com que me deixei unir a você. Não devia eu ter previsto que meu prazer terminaria mais depressa que meu amor? Como eu podia esperar que você ficasse em Portugal pelo resto de sua vida, que renunciasse a seu futuro e a seu país para pensar somente em mim? Não há alívio possível para meu sofrimento, e a lembrança daquele prazer me enche de desespero. Será que todo o meu desejo foi inútil, então, e que jamais verei você de novo em meu quarto, cheio de ardor e do êxtase que me mostrava? Meu Deus, como me iludi!

Sei que todas as emoções que ocupavam minha cabeça e meu coração só despertavam em você no momento de certos prazeres; e que, como eles, logo desapareciam. Durante aqueles momentos tão felizes, eu devia ter apelado à razão e moderado o fatal exagero da delícia do prazer, e me prevenido contra tudo o que hoje sofro. Mas eu me entregava tão inteiramente a você que não tinha condição de pensar em nada que fosse destruir minha alegria e me impedir de gozar plenamente o testemunho ardente da sua paixão. Sentir que eu estava com você era tão maravilhoso que eu não tinha como imaginar que um dia você estaria longe de mim.

[...]”

Barroco no Brasil

Estátua de Pe. António Vieira, em Lisboa, um exemplo de obra barroca.
Estátua de Pe. António Vieira, em Lisboa. [1]

No Brasil, o Barroco (1601-1768) foi inaugurado pelo livro Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira (1561-1618). No entanto, os principais autores desse estilo no país são Gregório de Matos (1636-1696) e Pe. António Vieira (1608-1697).

  • Pe. António Vieira

Pe. António Vieira é conhecido pelos seus sermões conceptistas, com argumentação engenhosa. Seus textos enaltecem a fé cristã e a monarquia portuguesa. Porém, foi perseguido pela Inquisição por defender os cristãos-novos (judeus convertidos ao catolicismo). Sua principal obra é Os sermões, de 1679.

A seguir, vamos ler a primeira parte do Sermão do Mandato de 1643. Nesse sermão, Vieira defende que Deus está doente de amor:

“Quem entrar hoje nesta casa — todo-poderoso e todo amoroso Senhor — quem entrar hoje nesta casa — que é o refúgio último da pobreza e o remédio universal das enfermidades — quem entrar, digo, a visitar-vos nela — como faz todo este concurso da piedade cristã — com muito fundamento pode duvidar se viestes aqui por pródigo, se por enfermo. Destes o céu, destes a terra, destes-vos a vós mesmo, e quem tão prodigamente despendeu quanto era e quanto tinha, não é muito que viesse a parar em um hospital. Quase persuadido estava eu a este pensamento, mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores. Diz o vosso evangelista, Senhor, que a enfermidade vos trouxe a este lugar, e não a prodigalidade. Enfermo diz que estais, e tão enfermo que a vossa mesma ciência vos promete poucas horas de vida, e que por momentos se vem chegando a última: Sciens Jesus quia venit hora ejus (Jo. 13, 1). Qual seja esta enfermidade, também o declara o Evangelista. Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável. De amor: cum dilexisset; de amor nosso: suos qui erant in mundo; e de amor incurável e sem remédio: in finem dilexit eos. Este é, enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, vos devem ainda mais pela enfermidade, só falarei dela. Acomodando-me pois ao dia, ao lugar e ao Evangelho, sobre as palavras que tomei dele, tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do amor e o amor sem remédio. Este será, amante divino, com licença de vosso coração, o argumento do meu discurso. Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, sem o qual se não pode falar dele, e se são coisas distintas, por amor do mesmo amor vos peço a vossa graça. Ave Maria.”

Nesse trecho, podemos perceber as seguintes marcas barrocas:

  • Conceptismo: Vieira inicia a defesa de uma ideia;

  • Pessimismo: “[...], mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores”;

  • Antíteses: “[...] enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, [...]”; “Os remédios do amor e o amor sem remédio”; e “Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, […]”;

  • Paradoxo: “[...], tratarei quatro coisas, e uma só”.

No decorrer do sermão, os leitores entendem que quatro coisas são essas — os remédios do amor. São eles: o tempo, a ausência, a ingratidão e o melhorar de objeto. No entanto, esses remédios provocam o efeito contrário em Deus, pois aumentam ainda mais o seu amor.

  • Gregório de Matos

Gregório de Matos, autor barroco.
Gregório de Matos compôs suas poesias explorando as mais diversas temáticas, desde o amor à crítica social.

Gregório de Matos, conhecido também como Boca do Inferno, é o representante máximo da poesia barroca brasileira. Sua poesia é assim dividida:

  • Lírica ou filosófica: temática amorosa, oposição entre espírito e matéria, fugacidade do tempo;

  • Sacra: temática religiosa, fragilidade humana e medo da condenação divina;

  • Satírica: crítica social, econômica e política.

No soneto Inconstância dos bens do mundo, o eu lírico, a partir de antíteses, expõe sua percepção de que a luz do Sol não dura mais do que um dia; portanto, a noite sempre chega. Além disso, a beleza acaba, e a alegria transforma-se em tristeza.

Ele demonstra a sua angústia diante da inconstância das coisas do mundo e conclui que, se nem a luz é firme, duradoura, a beleza também não pode ser. Essa constatação explica o paradoxo “E na alegria sinta-se tristeza”, ou seja, a alegria da juventude e a tristeza de saber que ela é passageira. Por fim, o eu lírico conclui que a inconstância é suprema:

Inconstância dos bens do mundo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Já no soneto A Cristo S. N. crucificado, um exemplo de sua poesia sacra, o eu lírico dialoga com Jesus. Diz, paradoxalmente, que se opõe à lei de Deus, mas que vai morrer nessa lei, isto é, vive uma vida de pecado, mas, no final, na hora da morte, será salvo pelo arrependimento.

Nessa hora, segundo o eu lírico, Deus será brando, manso, e perdoará os seus pecados. Ele diz que o amor de Deus é muito grande e o pecado dele (do eu lírico) também; no entanto, argumenta, o pecado pode acabar, mas o amor de Deus é infinito. Por isso, ele tem certeza de que, por mais que peque, no final, pode salvar-se:

A Cristo N. S. crucificado

Meu Deus, que estais pendente de um madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso Cordeiro.

Mui grande é o vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor que é infinito.

Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.

E, por fim, o poema A uma que lhe chamou “pica-flor”, feito em resposta a uma freira que zombou do poeta devido à sua magreza e lhe chamou de “pica-flor”, ou seja, beija-flor. Assim, nesse texto satírico, de cunho erótico, o eu lírico ataca aquela que o ofendeu. Para o entendimento do poema, é preciso associar o verbo “pica” ao órgão sexual masculino e o substantivo “flor” ao órgão sexual feminino. A partir daí, há a sugestão de uma relação sexual entre o eu lírico e a freira a quem é direcionado o poema:

Se Pica-flor me chamais,
Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber
se no nome, que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica-flor.

Leia também: Classicismo – utilizou o soneto como uma das principais formas poéticas

 

Exercícios resolvidos sobre Barroco

Questão 01 (Enem)

Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da redenção o dia.

Páscoa de flores, dia de alegria
Àquele Povo foi tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio extirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.

DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
a) visão cética sobre as relações sociais.

b) preocupação com a identidade brasileira.

c) crítica velada à forma de governo vigente.

d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.

e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.

Resolução:

Alternativa C.

No soneto, o eu lírico, no início, fala de quando Deus livrou o povo hebreu da tirania dos faraós, para, no final, fazer a relação dos tiranos faraós com o “Faraó do povo brasileiro”, ou seja, o governo tirano da cidade da Bahia (Salvador), que era a sede do governo português na época. Assim, o eu lírico faz uma crítica velada a esse governo.

Questão 02 (USP)

A certa personagem desvanecida

Um soneto começo em vosso gabo*:
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo;
A sexta vá também desta maneira:
Na sétima entro já com grã
** canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.

Nesta vida um soneto já ditei;
Se desta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que o acabei.

Gregório de Matos.

* louvor.
** grande.

Tipo zero

Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece

Quando você penetra num salão
E se mistura com a multidão
Você se torna um tipo destacado
Desconfiado todo mundo fica
Que o seu tipo não se classifica
Você passa a ser um tipo desclassificado

Eu até hoje nunca vi nenhum
Tipo vulgar tão fora do comum
Que fosse um tipo tão observado
Você ficou agora convencido
Que o seu tipo já está batido
Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado

Noel Rosa.

O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem

a) o processo de composição do texto.

b) a própria inferioridade ante o retratado.

c) a singularidade de um caráter nulo.

d) o sublime que se oculta na vulgaridade.

e) a intolerância para com os gênios.

Resolução:

Alternativa C.

Gregório de Matos dedica o seu soneto a “certa personagem desvanecida”, ou seja, apagada, sem vida. Por isso, acaba recorrendo à metalinguagem, fala da construção do próprio poema, já que não tem nada para falar sobre essa personagem. Já a letra de Noel Rosa fala de um “tipo zero”, ou seja, uma pessoa sem importância, um tipo qualquer, um tipo vulgar. Portanto, em ambos os textos, é possível perceber a “singularidade de um caráter nulo”.

Questão 03 (UFMG)

Um dos recursos utilizados pelo padre Antônio Vieira em seus sermões consiste na “agudeza” — maneira de conduzir o pensamento que aproxima objetos e/ ou ideias distantes, diferentes, por meio de um discurso artificioso, que se costuma chamar de “discurso engenhoso”.

Assinale a alternativa em que, no trecho transcrito do “Sermão da Sexagésima”, o autor utiliza esse recurso.

a) Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do Mundo; os reis renunciando os cetros e as coroas; as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas [...].

b) Miseráveis de nós, e miseráveis de nossos tempos, pois neles se veio a cumprir a profecia de S. Paulo: [...] “Virá tempo, diz S. Paulo, em que os homens não sofrerão a doutrina sã.” [...] “Mas para seu apetite terão grande número de pregadores feitos a montão e sem escolha, os quais não façam mais que adular-lhes as orelhas.”

c) Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. [...] Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro de si e ver-se a si mesmo? Para esta vista são necessários olhos, é necessária luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento.

d) Quando Davi saiu a campo com o gigante, ofereceu-lhe Saul as suas armas, mas ele não as quis aceitar. Com as armas alheias ninguém pode vencer, ainda que seja Davi. As armas de Saul só servem a Saul, e as de Davi a Davi, e mais aproveita um cajado e uma funda própria, que a espada e a lança alheia.

Resolução:

Alternativa C.

No trecho, Vieira aproxima “olhos”, “espelho” e “luz”, e constrói uma relação entre esses elementos, pois eles são necessários para que o ser humano possa ver a si mesmo, ver a própria alma. O espelho é a doutrina; a luz, a graça; e os olhos, o conhecimento.

Nota

|1|Tradução de Marilene Felinto, pois as cartas foram publicadas, pela primeira vez, na França.

Crédito da imagem

[1] Mariangela Cruz / Shutterstock

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Barroco"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/o-barroco.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

Videoaulas


Lista de exercícios


Exercício 1

(UNIV. CAXIAS DO SUL) Escolha a alternativa que completa de forma correta a frase abaixo: 

A linguagem ______, o paradoxo, ________ e o registro das impressões sensoriais são recursos linguísticos presentes na poesia ________. 

a) simples; a antítese; parnasiana.
b) rebuscada; a antítese; barroca.
c) objetiva; a metáfora; simbolista.
d) subjetiva; o verso livre; romântica.
e) detalhada; o subjetivismo; simbolista.

Exercício 2

Com referência ao Barroco, todas as alternativas são corretas, exceto:

a) O Barroco estabelece contradições entre espírito e carne, alma e corpo, morte e vida.

b) O homem centra suas preocupações em seu próprio ser, tendo em vista seu aprimoramento, com base na cultura greco-romana.

c) O Barroco apresenta, como característica marcante, o espírito de tensão, conflito entre tendências opostas: de um lado, o teocentrismo medieval; de outro, o antropocentrismo renascentista.

d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.

e) O barroco caracteriza-se pela sintaxe obscura, uso de hipérbole e de metáforas.