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Martinho Lutero ficou gravado na história por ter sido um monge católico que iniciou um movimento de contestação à doutrina da Igreja Católica no século XVI.
Lutero não concordava com algumas práticas da Igreja na época e procurou realizar uma reforma no interior do catolicismo, questionando algumas ações por meio das 95 teses.
A ação de Lutero desencadeou um grande movimento, que ficou conhecido como Reforma Protestante, o que resultou em um cisma no interior da cristandade na Europa. Assim, surgiu o protestantismo, uma ala do cristianismo que possui interpretações diversas da que é praticada pela Igreja Católica.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Nascimento e educação de Martinho Lutero
- 2 - Vida eclesiástica de Martinho Lutero
- 3 - Reforma Protestante de Martinho Lutero
- 4 - Dieta de Worms
- 5 - Vida pessoal de Martinho Lutero
Nascimento e educação de Martinho Lutero
Martinho Lutero (Martin Luther, no alemão) nasceu no dia 10 de novembro de 1483, na cidade de Eisleben, que na época fazia parte do Sacro Império Romano-Germânico. Seus pais chamavam-se Hans Luther e Margarethe Luther (João Lutero e Margarida Lutero, traduzindo para o português). Sua família pertencia à pequena burguesia e tinha prosperado com o trabalho em minas de cobre.
Lutero passou parte de sua infância em Mansfeld, local onde seu pai trabalhava. As biografias de Lutero contam que ele teve uma criação muito rigorosa, mas que seus pais dedicaram-se para que ele tivesse uma boa educação. Antes de entrar na universidade, Lutero estudou em Mansfeld, Magdeburg e Eisenach.
Em 1501, aos 17 anos, Martinho Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde passou a estudar direito para tornar-se advogado – uma carreira muito próspera naquela época. O ingresso de Lutero nesse curso era por conta do desejo de seu pai de ver seu filho tornando-se um advogado. Lutero era dedicado aos estudos, mas, em 1505, ele abandonou o direito e ingressou na vida eclesiástica.
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Vida eclesiástica de Martinho Lutero
O ingresso de Lutero na carreira religiosa deve-se a um episódio particular que aconteceu no ano de 1505. No dia 2 de julho, Lutero fazia a viagem de Mansfeld para Erfurt, depois de ter passado uns dias com sua família. Durante o percurso, uma tempestade o alcançou e um raio atingiu um carvalho que abrigava Lutero da chuva.
Temendo pela sua vida, Lutero fez uma promessa à Santa Ana que se transformaria em monge caso escapasse com vida. Após ter escapado, Lutero seguiu em frente com a sua promessa – o que desagradou profundamente ao seu pai. Assim, algumas semanas depois desse acontecimento, Lutero ingressou no convento dos Eremitas Agostinianos de Erfurt.
Em abril de 1507, Lutero foi ordenado sacerdote e, no ano seguinte, ingressou na Universidade de Wittenberg para estudar teologia, obtendo bacharelado em estudos bíblicos. Logo depois, ele passou a lecionar teologia e, em 1512, obteve o título de doutor em Teologia. Depois de obter seu título de doutor, Martinho Lutero seguiu lecionando em Wittenberg.
A primeira missa celebrada por Lutero foi em 2 de maio de 1507. Em 1508, Lutero realizou uma visita a Roma, a sede da Santa Sé, por questões relacionadas à ordem dos agostinianos. Os historiadores comentam que essa viagem a Roma deixou uma má impressão em Lutero, por conta da falta de espiritualidade e da corrupção presente entre os religiosos.
Entre 1513 e 1518, Lutero ministrou diversos cursos na Universidade de Wittenberg, todos eles sobre ensinamentos bíblicos. Nesse período, Lutero realizava estudos da Bíblia em grego e latim, e foi a leitura da Bíblia o grande ponto de partida para que Lutero, inconscientemente, iniciasse um grande movimento de reforma na Igreja.
Reforma Protestante de Martinho Lutero
Por meio de Martinho Lutero que se desencadeou a Reforma Protestante, mas é importante sabermos que, antes dele, outros nomes no interior da Igreja Católica questionavam a situação em que a igreja se encontrava. John Wycliffe e Jan Hus questionavam o acúmulo de poder da Igreja Católica, a venda de indulgências e a corrupção entre os clérigos.
A Reforma Protestante não aconteceu apenas por conta da insatisfação religiosa de Lutero com a situação da Igreja. Esse movimento só foi possível por ter conseguido adesão popular e de importantes nobres da região do Sacro Império, no contexto do século XVI. Os nobres viram na ação de Lutero uma forma de enfraquecer o papa para diminuir a influência da Igreja no poder secular. Além disso, a reforma foi vista como uma forma de se livrar dos impostos cobrados pela Igreja. Por isso, muitos camponeses viram na Reforma uma forma de combater a opressão e a pobreza em que viviam. Uma série de revoltas camponesas aconteceram durante a Reforma Protestante, mas Lutero não as apoiava por conta da violência manifestada nelas.
Lutero, por sua vez, sofria com muita coisa que via na Igreja. Ele passou a realizar pregações, a partir de 1514, ficando conhecido como um bom pregador. O contato direto com os fiéis e a Igreja o fez questionar uma prática muito comum na época: as indulgências, a prática de pagar pelo perdão dos pecados e pela salvação.
Lutero possuía inúmeras críticas à forma como os membros da Igreja portavam-se, e a questão das indulgências é apenas uma delas. Na Alemanha do começo do século XVI, as indulgências eram parte de um projeto da Santa Sé para construir a Catedral de São Pedro, e foram cobradas intensamente. As críticas de Lutero às indulgências ficaram marcadas nas 95 teses, destaque para a tese 76: “Afirmamos, pelo contrário que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa”|1|.
A leitura da Bíblia levou Lutero a realizar novas interpretações da fé cristã e isso o levou a concluir que a salvação de cada pessoa era obtida pela fé, pois, de acordo com o texto bíblico, “o justo viverá pela fé”. Essa posição tornava a questão das indulgências mais absurda ainda aos olhos de Lutero e daí vinha sua revolta contra essa prática.
Por isso, Lutero redigiu um documento com uma série de comentários acerca das práticas da Igreja. Esse documento ficou conhecido como “95 teses” e deu início à Reforma Protestante. A ideia de Lutero nesse momento não era separar-se da Igreja, mas de reformá-la. A tradição protestante diz que Lutero pregou as 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, mas os historiadores nunca provaram isso e acredita-se que as 95 teses teriam sido enviadas como carta para o arcebispo de Mainz, Alberto de Brendemburgo.
De toda forma, o documento de Lutero acabou sendo espalhado pela Europa e isso se deve à invenção da imprensa. Por meio dela, as 95 teses de Lutero foram replicadas e espalhadas por toda a Europa, fazendo com que o movimento de contestação à Igreja Católica ganhasse força. A pregação das teses na porta da igreja de Wittenberg aconteceu em 31 de outubro de 1517.
Essa ação desencadeou uma disputa religiosa intensa no interior da Igreja Católica e resultou na excomunhão de Lutero, em janeiro de 1521, após anos de debates entre as autoridades da Igreja e Lutero. Nesse período, Lutero seguiu com seu trabalho e com seus estudos teológicos. Formulou o princípio das Cinco Solas, que são:
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Sola fide (somente a fé);
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Sola scriptura (somente a Escritura);
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Solus Christus (somente Cristo);
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Sola gratia (somente a graça);
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Soli Deo gloria (glória somente a Deus).
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Dieta de Worms
Em 1521, o imperador Carlos V convocou Martinho Lutero para prestar esclarecimentos durante a Dieta de Worms. Nesse acontecimento, Lutero reforçou o que acreditava e negou-se a renegar o que havia dito e escrito desde 1517. Após a Dieta de Worms, ele foi autorizado para retornar a Wittenberg, mas acabou sendo condenado por heresia.
A participação de Lutero na Dieta de Worms acabou tornando sua mensagem mais popular ainda entre alguns nobres do Sacro Império. Lutero acabou sendo “sequestrado” por Frederico, o Sábio, príncipe da Saxônia, que o escondeu em seu castelo, localizado em Wartburg. Frederico, na verdade, estava protegendo Lutero de ser morto após a Dieta de Worms.
Durante o seu refúgio em Wartburg, Lutero acabou traduzindo a Bíblia para o idioma alemão, fazendo com que os textos sagrados ficassem acessíveis aos fiéis. Ele abandonou seu refúgio em Wartburg, no final de 152,1 e retornou a Wittenberg onde continuou realizando sermões e aconselhando fiéis.
Vida pessoal de Martinho Lutero
Lutero abandonou o celibato, que marcava a vida daqueles que seguem a vida religiosa na Igreja Católica. Em 1525, ele casou-se com Catarina de Bora (Katharina von Bora), uma freira que abandonou seu convento com o advento da Reforma Protestante. Lutero e Catarina tiveram seis filhos: Hans, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margarethe.
Martinho Lutero morreu no dia 18 de fevereiro de 1546, aos 62 anos de idade, por razões desconhecidas. Por toda a sua vida, Lutero teve a saúde debilitada por conta de diversos problemas crônicos, como a doença de Ménière. Acredita-se também que ele tinha problemas intestinais causados por uma enterocolite e que sofria com pedras nos rins.
Nota
|1| 95 teses de Lutero. Para acessar, clique aqui.
Por Daniel Neves
Professor de História