PUBLICIDADE
Abaporu é a obra mais famosa da pintora modernista Tarsila do Amaral. Essa pintura traz as cores nacionais (verde, amarelo e azul), possui traços surrealistas e enaltece a diversidade cultural brasileira. Inspirado nessa tela, o escritor Oswald de Andrade escreveu o Manifesto Antropófago, que também busca determinar a identidade nacional.
Leia também: Anita Malfatti — a pintora considerada a precursora do modernismo no Brasil
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Abaporu
- 2 - Significado e análise da obra Abaporu
- 3 - História da obra Abaporu
- 4 - Movimento antropófago
- 5 - Qual a importância da obra Abaporu?
- 6 - Vida de Tarsila do Amaral
- 7 - Algumas releituras da obra Abaporu
Resumo sobre Abaporu
-
Abaporu é uma obra da pintora modernista Tarsila do Amaral.
-
A pintura possui caráter nacionalista e valoriza a miscigenação brasileira.
-
Ela foi criada por Tarsila com o objetivo de presentear Oswald de Andrade.
-
Inspirado por esse presente, Oswald de Andrade escreveu o Manifesto Antropófago.
-
O movimento antropófago valoriza a multiplicidade cultural brasileira.
Significado e análise da obra Abaporu
A obra Abaporu, de 1928, possui elementos brasileiros, como: o amarelo do Sol, o verde do cacto, o azul do céu.
Essas cores estão presentes na bandeira do Brasil, de forma que demonstram o aspecto nacionalista dessa pintura. Já o indivíduo retratado possui a pele morena e representa a miscigenação brasileira. Ele está com o rosto apoiado sobre a mão, o que sugere uma atitude reflexiva e nos remete à escultura O pensador, do francês Auguste Rodin (1840-1917).
Dessa forma, a pintora Tarsila do Amaral faz um diálogo entre a tradição e a inovação, já que Abaporu possui também traços surrealistas, pois retrata uma figura humana de formas desproporcionais e, portanto, distante da realidade e mais próxima de um universo onírico.
Abaporu é uma das principais obras da pintura modernista no Brasil, produzida nos primeiros anos do modernismo brasileiro. Daí seu caráter nacionalista e o visível enaltecimento da identidade do povo brasileiro, marcada pela diversidade cultural advinda da miscigenação.
História da obra Abaporu
A tela Abaporu foi um presente que a pintora Tarsila do Amaral decidiu dar ao seu marido, o escritor Oswald de Andrade (1890-1954), no dia de seu aniversário, em 11 de janeiro de 1928. Empolgado com o presente, o escritor logo fez sua interpretação e considerou a figura retratada um antropófago.
Depois de consultar um dicionário, a pintora e o escritor batizaram a recente obra de Abaporu. De origem tupi-guarani, o termo aba significa “homem”; já poru, “que come”. A tela de Tarsila inspirou o autor a escrever o Manifesto Antropofágico.
Movimento antropófago
O movimento antropófago (ou antropofágico) está relacionado à primeira fase do modernismo brasileiro. Suas bases estão expressas no Manifesto Antropófago|1|, escrito por Oswald de Andrade em 1928. Em essência, esse documento defende uma espécie de antropofagia cultural.
Portanto, é contrário a um nacionalismo radical, já que seu autor entende e aceita que a cultura brasileira é resultado de várias influências. Assim, estimula o artista a, metaforicamente, “comer o estrangeiro”, isto é, assimilar o que é bom na cultura estrangeira e imprimir nela algo tipicamente brasileiro.
Vejamos estes trechos do manifesto:
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. […] Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. […] Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. […] Nunca fomos catequizados. Fizemos foi o Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. […] Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chama-se Galli Mathias. Comi-o. […] Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti. […] Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Nesses trechos aglutinados na nossa citação, é possível perceber a influência do estrangeiro, particularmente do português, na cultura brasileira, mas também a visão de que nossa cultura possui algo único, uma “felicidade” anterior à descoberta e à catequização. Além disso, também mostra que transformamos elementos estrangeiros em algo tipicamente brasileiro.
Qual a importância da obra Abaporu?
Abaporu é um símbolo do movimento antropófago e também é um símbolo da arte modernista brasileira como um todo. A obra ainda gera reflexão sobre a identidade nacional, temática tão cara aos modernistas. Ela mostra que, por trás do verde e amarelo, existem também outras cores (influências) na cultura nacional.
Veja também: Mona Lisa — um dos quadros mais famosos do mundo
Vida de Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, na cidade paulista de Capivari. Mais tarde, estudou no colégio Sacré-Coeur de Jésus, em Barcelona, na Espanha, onde começou a pintar. Em 1906, estava de volta ao Brasil, onde se casou pela primeira vez. Já divorciada, em 1920, estudou na Academia Julian, em Paris.
Dois anos depois, em 1922, ela aderiu ao modernismo. Nesse mesmo ano, com Oswald de Andrade, seu namorado à época, foi morar na Europa, só regressando no final de 1923. Além de pintora, Tarsila dirigiu a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Faleceu em 17 de janeiro de 1973, na capital paulista.
Algumas releituras da obra Abaporu
-
Abaporu, de Eloir Jr.
-
Abaporu, de Luciano Martins.
-
Abaporu, de Romero Britto.
-
Abaporu, de Valdsom Braga.
-
Abaporu do sertão, de Eduardo Lima.
-
Auauporu, de Tarik Klein.
Nota
|1| ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3. ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.
Créditos das imagens
[1] Paulo José Soares Braga | Brasil Escola
[2] Wikimedia Commons (reprodução)
[3] Domínio público | Commons
Por Warley Souza
Professor de Literatura