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Junqueira Freire (Luís José Junqueira Freire) foi um poeta brasileiro. Ele nasceu em 31 de dezembro de 1832, em Salvador, na Bahia. Mais tarde, se tornou monge beneditino. No mosteiro de São Bento, escreveu suas poesias, além de lecionar Filosofia, Teologia e História, antes de abandonar a clausura.
O autor, que faleceu em 24 de junho de 1855, em Salvador, é um dos integrantes da segunda geração do Romantismo brasileiro. A poesia do escritor é marcada pela temática da morte, religiosidade e caráter filosófico. Sua obra principal é o livro de poesias Inspirações do claustro.
Leia também: Casimiro de Abreu — outro poeta da segunda geração do Romantismo
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Junqueira Freire
- 2 - Biografia de Junqueira Freire
- 3 - Características da obra de Junqueira Freire
- 4 - Principais obras de Junqueira Freire
- 5 - Inspirações do claustro
Resumo sobre Junqueira Freire
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O escritor Junqueira Freire nasceu em 1832 e faleceu em 1855.
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Além de poeta, também foi professor e monge beneditino.
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O autor faz parte da segunda geração do Romantismo brasileiro.
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A morte é o principal tema de sua poesia, além da temática religiosa.
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Sua obra mais famosa é o livro de poesias Inspirações do claustro.
Biografia de Junqueira Freire
Junqueira Freire (Luís José Junqueira Freire) nasceu em 31 de dezembro de 1832, em Salvador, no estado da Bahia. Desde a infância, sofria de um problema cardíaco. Teve apenas uma irmã. E o relacionamento dos pais não era bom, de forma que a mãe do autor pediu o divórcio por maus-tratos.
Seus primeiros estudos ocorreram em casa, com um professor particular, devido à saúde frágil do menino. Além disso, estudou Latim com o frei Arsênio da Natividade. Mais tarde, em 1849, passou a frequentar o Liceu Provincial, onde estudou Filosofia Racional e Moral. Dois anos depois, se viu forçado a ingressar na Ordem dos Beneditinos.
Possivelmente, sua decisão se deveu à pobreza em que vivia. A mãe lavava roupa para sobreviver, enquanto o pai enfrentava sérias dificuldades financeiras. É sabido também que o poeta teve uma paixão amorosa e infeliz, que o teria levado a se isolar da sociedade. Assim, em 1852, passou a ser conhecido como Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire.
Residia no mosteiro de São Bento, em Salvador. Nesse lugar, escrevia seus textos e lecionava Filosofia, Teologia e História. Mas, em 1853, solicitou a secularização, concedida no ano seguinte, quando deixou o mosteiro.
Logo o problema cardíaco do poeta se agravou. Morava com a mãe, quando faleceu em 24 de junho de 1855, com apenas 22 anos de idade, e seu corpo foi sepultado no mosteiro de São Bento.
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Junqueira Freire na Academia Brasileira de Letras
Junqueira Freire é o patrono da cadeira número 25 da Academia Brasileira de Letras, escolhido pelo escritor Franklin Dória (1836-1906).
Características da obra de Junqueira Freire
Junqueira Freire é um poeta da segunda geração romântica. Seus poemas, portanto, possuem características ultrarromânticas, como:
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exagero sentimental;
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obsessão pela morte;
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temática amorosa;
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idealização da mulher.
A morte é a principal temática trabalhada pelo autor, além do tema religioso. A obra do poeta também possui caráter existencial ou filosófico. Além disso, a idealização da mulher está associada à pureza e à religiosidade.
Principais obras de Junqueira Freire
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Inspirações do claustro (1855)
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Elementos de retórica nacional (1869)
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Obras (1944)
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Contradições poéticas (s. d.)
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Tratado de eloquência nacional (s. d.)
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Ambrósio (s. d.)
Leia também: Álvares de Azevedo — o autor do livro de poesias Lira dos vinte anos
Inspirações do claustro
Quando o poeta faleceu, em 1855, ele estava prestes a publicar sua primeira obra: Inspirações do claustro. Essa obra poética foi produzida durante os anos em que o autor esteve enclausurado no mosteiro de São Bento. Possui caráter filosófico, fala de sua vida de monge e reflete sobre a morte.
A obra possui 36 poemas. Um deles é “A flor murcha do altar”, composto em redondilha maior. Nesse poema, o eu lírico fala da morte, simbolizada pela “flor murcha”, de forma a indicar que a vida é fugaz. Além disso, o poema traz a imagem de uma mulher religiosa e pura. Ao final, o eu lírico sugere que a felicidade da vida é Deus:
Está murcha: — assim nos foge
A brisa que corre agora.
Está murcha: — assim o fumo
Cresce, cresce, — e se evapora.
Está murcha: — assim o dia
Em raios afoga a aurora.
Está murcha: — assim a morte
Do mundo as glórias desfaz:
Assim um’hora de gosto
Mil horas de dores traz:
Assim o dia desmancha
Os sonhos que a noite faz.
Está murcha.... Ainda agora
— Eu a vi — não era assim.
Era linda, era viçosa,
Acesa como o rubim.
Reinava, como a rainha,
Sobre as flores do jardim.
Foi a donzela mimosa,
Foi passear entre as flores.
Foi conversar co’as roseiras,
Foi-lhes contar seus amores,
Julgando que sobre as rosas
Não se reclinam traidores.
Ela foi co’os pés formosos
Deixando mimoso rastro,
Qual no céu passou de noite,
Correndo, fulgindo, um astro.
E esta rosa foi cortada
Com seus dedos de alabastro.
A rosa ficou mais bela
Naquela virgínea mão.
Encheu de perfume os ares,
Talvez com mais expansão.
Mas a virgem teve a pena
De pô-la em seu coração.
Entrou no templo a donzela
Coberta co’o véu de renda.
— Teme que aos olhos dos homens
Sua modéstia se ofenda:
Como a cortina das aras,
Que aos ímpios se não desvenda.
Leva a modéstia na fronte,
Leva no peito a oração,
Leva seu livro dourado,
Leva pura devoção:
Leva a rosa, — a linda rosa
Nos dedos da breve mão.
[...]
Feliz! — seu leito de morte,
Sobre as aras, ela tem.
A prece que vai ao céu,
Sobre ela primeiro vem.
A mirra que a Deus incensa,
Incensa a ela também.
Já no poema “Deixas-me”, dedicado ao “amigo e colega Franklin Américo de Menezes Dória”, o eu lírico fala da saudade, tão cara aos românticos, e homenageia a amizade. O poema é composto por versos decassílabos, mas cada estrofe se encerra com um verso de seis sílabas:
Estas alpestres rochas, que se apartam,
Deixam vazia a insaciável vista:
A dura ausência do prazer de vê-las
A mente me contrista.
Este sussurro das travessas vagas
Causa saudades vividas e ternas:
Por toda a vida — e além da morte — deixam
Memórias quase eternas.
Estes sofás de acolchoada relva
Deixam no peito sensações de menos:
Deixam a falta do prazer mais puro,
Dos gostos mais amenos.
Estas serenas brisas salitradas
Frisando a face das cerúleas águas,
Adormecem um pouco a dor no peito,
Esquecem negras mágoas.
Mas nada disso em meu ardente peito
Tantos vulcões ateia de saudade,
Como esta ausência necessária e dura
Da dócil amizade.
E tu, bardo feliz do sentimento,
Gentil cantor das afecções suaves,
— Doce, bem como o gorjear sonoro
Das inocentes aves:
Tu, que sabes cantar tão santos hinos,
Como dos anjos as canções supernas,
Deixas-me n’alma fervidas saudades,
Saudades sempiternas.
Deixas-me em mar de ansiedade infinda,
Tímido nauta — duvidoso, incerto:
Deixas-me n’alma o vácuo da existência,
Deixas-me um vão deserto.
Por Warley Souza
Professor de Literatura