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José de Anchieta

José de Anchieta é um autor da literatura catequética quinhentista. Ele escreveu poemas e peças de teatro evangelizadores, além de ser autor da primeira gramática de tupi.

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José de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534, em San Cristóbal de la Laguna, na Espanha. Mais tarde, estudou no Colégio das Artes, em Coimbra, e entrou para a Companhia de Jesus. Chegou ao Brasil, em 13 de julho de 1553, com a missão de catequizar os índios.

O padre usou suas poesias e peças de teatro para auxiliar na conversão dos indígenas ao catolicismo, além de escrever a primeira gramática de tupi. Depois de sua morte, em 9 de junho de 1597, em Reritiba, Espírito Santo, foi beatificado no ano de 1980 e, finalmente, canonizado em 2014.

Leia também: Luís Vaz de Camões – autor considerado o maior poeta em língua portuguesa

Tópicos deste artigo

Biografia de José de Anchieta

Depois se mudou para o estado do Espírito Santo e, no final da vida, em 1596, foi morar em Reritiba, onde morreu em 9 de junho de 1597
Retrato do padre José de Anchieta, obra de Benedito Calixto (1853-1927).

José de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534, em San Cristóbal de la Laguna, na Espanha. Seu pai — Juan de Anchieta — era escrivão real. Mais tarde, em 1548, o jovem José de Anchieta, que estudava latim desde os sete anos de idade, foi para Coimbra, em Portugal, onde estudou no Colégio das Artes.

Em 1551, entrou para a Companhia de Jesus. Por essa época, adquiriu uma doença crônica, a tuberculose óssea, que provocou uma curvatura em suas costas. Com 19 anos, mudou-se para o Brasil. Assim, chegou a Salvador em 13 de julho de 1553, com a missão de catequizar os índios.

No Brasil, os jesuítas fundaram o Colégio de Piratininga, onde o irmão Anchieta foi professor de latim, a partir de 1554. Para o trabalho de catequese, logo aprendeu o tupi e pôde se comunicar com os índios. Assim, em 1555, escreveu a primeira gramática de tupi, que seria publicada quatro décadas depois.

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Durante a revolta indígena conhecida como Confederação dos Tamoios, apoiada pelos franceses, o padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) e José de Anchieta foram para Iperoig, com a missão de conseguir a paz entre índios e portugueses. Para evitar o ataque dos portugueses, Anchieta ficou como refém dos índios durante sete meses.

Os defensores de Anchieta afirmam que ele defendia os índios da crueldade dos colonizadores portugueses. No entanto, de acordo com Antônio Torres, em seu livro Meu querido canibal, Anchieta, quando “se descobria impotente na sua missão evangelizadora, proclamava aos ouvidos de seus superiores civis, militares e eclesiásticos que a melhor catequese eram a espada e a vara de ferro”.

Ainda segundo Torres, quem “convenceu Mem de Sá a liquidar os tamoios de uma vez por todas foi o jesuíta José de Anchieta, o que tinha por missão a evangelização e pacificação dos índios”. Na hora “do acerto de contas, largou o rosário e o missal para assumir um lugar de soldado atrás das barricadas”.

De qualquer forma, em 1565, durante a guerra entre portugueses e franceses, na Baía de Guanabara, Anchieta trabalhou como enfermeiro e assumiu a missão de cuidar dos portugueses feridos em combate. Nesse mesmo ano, ele foi para a Bahia, onde estudou teologia e, em 1566, foi ordenado padre.

De volta à Baía de Guanabara, em 1567, assistiu à derrota dos franceses e, nos anos seguintes, permaneceu na capitania de São Vicente. Até que, em 1577, tornou-se provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que realizou durante os próximos dez anos.

Depois se mudou para o estado do Espírito Santo e, no final da vida, em 1596, foi morar em Reritiba, onde morreu em 9 de junho de 1597, com 63 anos. Séculos depois, no dia 22 de junho de 1980, foi beatificado pelo papa João Paulo II (1920-2005). Em 3 de abril de 2014, foi canonizado pelo papa Francisco e se tornou santo da Igreja Católica.

Leia também: Gregório de Matos – autor do barroco brasileiro

Características da obra de José de Anchieta

As obras de José de Anchieta fazem parte da literatura catequética do Quinhentismo e apresentam as seguintes características:

  • função utilitária;

  • teocentrismo;

  • lirismo;

  • caráter evangelizador;

  • dramaticidade;

  • desvalorização da cultura indígena.

Obras de José de Anchieta

  • Auto da festa do Natal (1561)

  • Dos grandes feitos de Mem de Sá (1563)

  • Poema da bem-aventurada Virgem Maria, mãe de Deus (1563)

  • Auto da festa de São Lourenço (1583)

  • Auto de São Sebastião (1584)

  • Na aldeia de Guaraparim (1585)

  • Auto de Santa Úrsula (1595)

  • Auto de São Maurício (1595)

  • Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil (1595)

Poemas de José de Anchieta

Santa Inês virgem e mártir, obra de Johann Schraudolph (1808-1879).
Santa Inês virgem e mártir, obra de Johann Schraudolph (1808-1879).

O poema A santa Inês é composto por redondilha menor (verso de cinco sílabas), muito comum na Idade Média, e fala em como a imagem da santa traz alegria ao povo. Ressalta que santa Inês teve a cabeça cortada, em função da sua fé, e que vem para ajudar as pessoas.

Ela é chamada, pela voz poética, de “padeirinha”, pois traz “trigo novo”, que pode ser entendido como o ensinamento cristão. Porém, o eu lírico se entristece ao constatar que o povo “Não anda faminto/ Deste trigo novo”:

Cordeirinha linda,
Como folga o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vinda
O Diabo espanta.

Por isso vos canta,
Com prazer, o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

[...]

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada,
Já ninguém pereça.

[...]

Vós sois, cordeirinha,
De Jesus formoso,
Mas o vosso esposo
já vos fez rainha.

Também padeirinha
Sois do vosso povo,
pois, com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.

Não é d’Alentejo
Este vosso trigo,
Mas Jesus amigo
É vosso desejo.

Morro, porque vejo
Que este nosso povo
Não anda faminto
Deste trigo novo.

[...]

Já seu longo poema Ao santíssimo sacramento é composto por redondilha maior (verso de sete sílabas), também característico da poesia medieval. Fala do momento em que os católicos recebem a hóstia, considerada, simbolicamente, como o corpo de Cristo:

Oh que pão, oh que comida,
Oh que divino manjar
Se nos dá no santo altar
Cada dia.

Filho da Virgem Maria
Que Deus Padre cá mandou
E por nós na cruz passou
Crua morte.

E para que nos conforte
Se deixou no Sacramento
Para dar-nos com aumento
Sua graça.

[...]

Quando na minha alma entrais
E dela fazeis sacrário,
De vós mesmo é relicário
Que vos guarda.

Enquanto a presença tarda
De vosso divino rosto,
O saboroso e doce gosto
Deste pão

Seja minha refeição
E todo o meu apetite,
Seja gracioso convite
De minha alma.

[...]

Pois não vivo sem comer,
Como a vós, em vós vivendo,
Vivo em vós, a vós comendo,
Doce amor.

[...]

Veja também: 5 melhores poemas de Fernando Pessoa

Homenagens a José de Anchieta

Palácio Anchieta.
Palácio Anchieta.
  • Rodovia Anchieta, que liga São Paulo a Santos.

  • Monumento ao padre José de Anchieta, em Tenerife, na Espanha.

  • Discursos pronunciados em sessão solene do Congresso Nacional, em 24 de junho de 1980.

  • 9 de junho — Dia de São José de Anchieta.

  • Palácio Anchieta, sede do governo do Espírito Santo.

  • Cidade de Anchieta, no estado do Espírito Santo.

  • Estátua de padre José de Anchieta, em São Vicente, no estado de São Paulo.

Resumo sobre José de Anchieta

  • Biografia de José de Anchieta:

- Data de nascimento: 19 de março de 1534.

- Local de nascimento: San Cristóbal de la Laguna, Espanha.

- Ingresso no Colégio das Artes, em Coimbra, no ano de 1548.

- Filiação à Companhia de Jesus, em 1551.

- Portador de tuberculose óssea.

- Chegada ao Brasil em 13 de julho de 1553.

- Missão: catequizar os índios brasileiros.

- Professor de latim no Colégio de Piratininga.

- Refém dos índios durante a Confederação dos Tamoios.

- Ordenado padre em 1566.

- Nomeado provincial da Companhia de Jesus no Brasil, em 1577.

- Data da morte: 9 de junho de 1597.

- Local de falecimento: Reritiba, no estado do Espírito Santo.

- Beatificação: 22 de junho de 1980.

- Canonização: 3 de abril de 2014.

  • Características da obra de José de Anchieta:

- função utilitária;

- teocentrismo;

- lirismo;

- caráter evangelizador;

- dramaticidade;

- desvalorização da cultura indígena.

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "José de Anchieta"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/jose-anchieta.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

De estudante para estudante


Lista de exercícios


Exercício 1

São características da poesia do Padre José de Anchieta:

 a) Tinha como principal objetivo orientar os jovens jesuítas que desembarcavam no Brasil com a missão de catequizar os índios.

b) No teatro de José de Anchieta estão presentes a paródia, cujo objetivo é fazer rir dos tipos sociais estereotipados, e a preocupação didático-religiosa, cuja intenção era transmitir a doutrina da Igreja Católica.

c) função pedagógica; temática religiosa; expressão em redondilhas, o que permitia que fossem cantadas ou recitadas facilmente.

d) Em sua obra não é possível notar a predominância de uma temática, porém, pode-se afirmar que essa não apresenta qualquer função pedagógica ou catequética.

e) Seu talento dramático para criar personagens e situações permitiu-lhe criar formas teatrais diversas através da observação da sociedade.

Exercício 2

(UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede:

Dos vícios já desligados

nos pajés não crendo mais,

nem suas danças rituais,

nem seus mágicos cuidados.

(ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala] Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110)

 Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, pronunciada pelos meninos índios em procissão:

a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do qual participaram com igual empenho a Coroa
Portuguesa e a Companhia de Jesus.

b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa.

c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés.

d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista.

e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja possível.

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