PUBLICIDADE
Literatura de informação é como classificamos os primeiros textos de caráter informativo produzidos sobre o Brasil, no século XVI. Esses relatos são caracterizados pelo eurocentrismo, teocentrismo e descritivismo. E a principal obra desse tipo de literatura é a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha.
Leia também: Quinhentismo — características desse período literário no Brasil e em Portugal
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre literatura de informação
- 2 - Qual o principal objetivo da literatura de informação?
- 3 - Características da literatura de informação
- 4 - Escritores da literatura de informação
- 5 - Principais obras da literatura de informação
- 6 - Qual o contexto histórico da literatura de informação?
- 7 - Carta de Pero Vaz de Caminha: primeira literatura de informação
Resumo sobre literatura de informação
-
A literatura de informação ou de viagens, no século XVI, tinha a função de informar sobre a nova terra descoberta, o Brasil.
-
Ela é caracterizada pela visão eurocêntrica e teocêntrica de seus autores ou cronistas.
-
A Carta de Pero Vaz de Caminha é a principal obra desse tipo de literatura.
-
Os textos informativos trazem relatos e descrições referentes ao Brasil no primeiro século da colonização portuguesa.
Qual o principal objetivo da literatura de informação?
Também chamada de literatura de viagens, é uma literatura informativa que tem apenas uma função utilitária: informar. Esses textos têm origem nos relatos de alguns viajantes que chegaram ao Brasil, no século XVI, e eram destinados aos europeus, com o intuito de mostrar as características da nova terra invadida pelos portugueses.
Características da literatura de informação
Os relatos feitos pelos viajantes têm algumas características marcantes. Eles apresentavam uma visão eurocêntrica e desvalorizam a cultura dos indígenas brasileiros. Há também neles um caráter teocêntrico, já que esses viajantes, ou cronistas, professavam a fé cristã e acreditavam que os indígenas deviam ser catequizados.
O valor desses textos é mais histórico do que estético, apesar de apresentarem elementos do gênero narrativo. Eles são bastante descritivos, já que pretendem retratar pessoas, animais, objetos e paisagens do Brasil. É também evidente a especulação dos cronistas acerca da existência de ouro em terras brasileiras.
O caráter exótico do país é explicitado por meio da descrição da fauna e da flora, vistas com admiração pelos autores dessas crônicas históricas, de forma a sugerir que o Brasil era uma espécie de paraíso.
Veja também: Iracema — um clássico do romantismo que representa o indígena na literatura brasileira
Escritores da literatura de informação
-
Américo Vespúcio (1454-1512)
-
Manuel da Nóbrega (1517-1570)
-
Jean de Léry (1536-1613)
-
Pero de Magalhães Gândavo (1540-1579)
-
Gabriel Soares de Sousa (1540-1591)
-
Fernão Cardim (1540-1625)
Principais obras da literatura de informação
-
Carta de Pero Vaz de Caminha (1500), de Pero Vaz de Caminha
-
Carta de Lisboa (1502), de Américo Vespúcio
-
Diálogo sobre a conversão dos gentios (1557), de Manuel da Nóbrega
-
Duas viagens ao Brasil (1557), de Hans Staden
-
Tratato da terra do Brasil (1570), de Pero de Magalhães Gândavo
-
História da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães Gândavo
-
Viagem à terra do Brasil (1578), de Jean de Léry
-
Narrativa epistolar (1583), de Fernão Cardim
-
Tratados da terra e da gente do Brasil (1583-1601), de Fernão Cardim
-
Tratado descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares de Sousa
Qual o contexto histórico da literatura de informação?
O 22 de abril de 1500 é conhecido como o dia da descoberta do Brasil. Nesse dia, a frota de Pedro Álvares Cabral (1467-1520) chegou à Bahia. Era o primeiro contato entre os portugueses e os indígenas brasileiros. Nas décadas que se seguiram, foi intensificada a exploração do território nacional.
No início, o pau-brasil era o principal produto explorado pelos colonizadores. No entanto, a exploração portuguesa não se deu pacificamente. Não estamos falando só da violência dos colonizadores portugueses em relação aos povos indígenas, mas também da tentativa de colonização francesa iniciada a partir de 1504.
Assim, em 1534, teve início o processo massivo de colonização portuguesa, com a criação das capitanias hereditárias. Já em 1549, a cidade de Salvador foi sede do primeiro Governo Geral. Era uma tentativa da Coroa portuguesa de combater os indígenas rebeldes e os piratas franceses. Nesse ano, chegaram também os jesuítas para a catequização dos indígenas.
Nesse contexto, foram feitos os primeiros relatos sobre as terras brasileiras, como a Carta de Pero Vaz de Caminha, que é considerada o primeiro texto da literatura de informação no Brasil.
Saiba mais: José de Anchieta — padre e autor de poesias que ajudavam na conversão dos indígenas
Carta de Pero Vaz de Caminha: primeira literatura de informação
Pero Vaz de Caminha estava na frota de Cabral e tinha a função de relatar detalhes da viagem para D. Manuel I, o rei de Portugal. Esse relato escrito em forma de carta, portanto, é o primeiro texto a falar sobre o Brasil, já sob o domínio português. Nessa longa carta, Caminha menciona o dia da partida, uma segunda-feira, 9 de março.
A frota passou pelas Ilhas Canárias, além de Cabo Verde. Na travessia, a nau de um tal Vasco de Ataíde se perdeu das demais embarcações e jamais foi encontrada. A chegada da frota cabralina ao Brasil se deu no dia 22 de abril de 1500, em uma quarta-feira. E os portugueses chamaram o novo país de Terra de Vera Cruz.
No dia seguinte, avistaram os primeiros habitantes indígenas, “uns sete ou oito”. Caminha descreve o que viu:
“Eram eles pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos e setas. Vinham todos rijamente sobre o batel. Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram”1.
Em 24 de abril, o número de indígenas na praia era bem maior, em torno de “sessenta ou setenta homens”:
“A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas, e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.”
Assim, começou o intercâmbio cultural que transformaria para sempre a vida dos povos indígenas do Brasil. Dessa forma, no domingo, em 26 de abril, “determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu”. Caminha encerra seu relato no dia 1º de maio, sexta-feira, quando o frei Henrique rezou outra missa.
Dessa vez, segundo o escrivão relata: “estiveram conosco cerca de cinquenta ou sessenta deles [os indígenas], que ficaram de joelhos, assim como nós”.
→ Literatura de informação e a catequização dos indígenas
Desde o início, o relato de Caminha mostra a intenção dos portugueses em catequizar os indígenas e explorar as riquezas da nova terra:
[...], não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém, a terra em si é de muitos bons ares, [...]. As águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-se aproveitá-la, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem.
Caminha faz a seguinte observação: “Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.” Observa-se, dessa forma, que quando afirma “salvar esta gente”, o escrivão está se referindo à catequização. Já a “semente” a que ele faz referência é a fé cristã.
→ Videoaula sobre a Carta de Pero Vaz de Caminha
Nota
1 TUFANO, Douglas. A carta de Pero Vaz de Caminha: comentada e ilustrada. São Paulo: Moderna, 1999.
Créditos da imagem
[1] Oscar Pereira da Silva / Acervo do Museu Paulista / Wikimedia Commons
Por Warley Souza
Professor de Literatura