Notificações
Você não tem notificações no momento.
Whatsapp icon Whatsapp
Copy icon

Alberto Caeiro

Alberto Caeiro é um dos principais heterônimos do autor português Fernando Pessoa. Adepto do paganismo e do sensacionismo, Caeiro tem uma poesia simples e bucólica.

Fernando Pessoa, em obra de João Luiz Roth.
Fernando Pessoa, em obra de João Luiz Roth.
Imprimir
Texto:
A+
A-
Ouça o texto abaixo!

PUBLICIDADE

Alberto Caeiro é um dos vários heterônimos do escritor português Fernando Pessoa. De acordo com Pessoa, ele nasceu em 1889, em Lisboa, e faleceu nessa mesma cidade em 1915. Caeiro viveu a maior parte da sua vida no campo. Assim, sua poesia possui um caráter bucólico, além de valorizar a simplicidade e as sensações (sensacionismo), sendo também marcada pelo paganismo.

Leia também: Mário de Sá-Carneiro — um dos expoentes do modernismo em Portugal

Tópicos deste artigo

Videoaula sobre Alberto Caieiro

Biografia de Alberto Caeiro

Alberto Caeiro da Silva nasceu em abril de 1889, na cidade de Lisboa, em Portugal. Porém, passou grande parte de sua vida no campo, onde escreveu a maioria de seus poemas. Ele é autor do livro O guardador de rebanhos e da obra incompleta O pastor amoroso. Recebeu pouca educação, apenas instrução primária, e não tinha profissão.

Ficou órfão bem cedo, então passou a viver, com alguns rendimentos, apenas em companhia de uma velha tia-avó. Segundo seu criador, o escritor português Fernando Pessoa (1888-1935), os seus “poemas são o que houve nele de vida”. No mais, “não houve incidentes, nem há história”.

Caeiro também era “ignorante da vida e quase ignorante das letras, sem convívio nem cultura”.|1| Fisicamente, era de estatura mediana. Cara rapada, louro, olhos azuis. Segundo Pessoa, ele “não parecia tão frágil como era”.|2| No entanto, morreu de tuberculose em 1915, em Lisboa.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Características da poesia de Alberto Caeiro

A poesia de Alberto Caeiro possui as seguintes características:

  • Bucolismo — idealização da vida campestre.

  • Sensacionismo — valorização das sensações.

  • Paganismo — caráter politeísta.

  • Versos livres — sem métrica e sem rima.

  • Linguagem simples — sem dificuldade de compreensão.

  • Locus amoenus — lugar ameno.

Saiba mais: Arcadismo — o movimento literário do século XVIII cujas obras apresentam caráter bucólico

Poemas de Alberto Caeiro

No poema a seguir de Alberto Caeiro, o eu lírico se diz um “guardador de rebanhos”. Então, percebemos que ele chama de “rebanho” os seus pensamentos. Em seguida, ele diz que seus pensamentos “são todos sensações” (sensacionismo). Assim, ele mostra a importância dos sentidos na compreensão da realidade. Para ele, ver e cheirar uma flor é pensar essa flor:

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.|3|

Já no próximo poema, o eu lírico novamente fala sobre a supremacia dos sentidos ou das sensações. Desse modo, ele diz que o que vemos e ouvimos é exatamente aquilo que vemos e ouvimos. Mas devemos “saber ver”, o que significa não pensar ou racionalizar o que se vê. Então, ele defende a simplicidade e a objetividade, de forma a contrariar os poetas, que não aceitam que as estrelas e flores são apenas estrelas e flores:

O que nós vemos das cousas são as cousas

O que nós vemos das cousas são as cousas.
Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.|3|

Heterônimos de Fernando Pessoa

  • Alberto Caeiro

  • Álvaro de Campos

  • António Mora

  • Alexander Search

  • António Seabra

  • Barão de Teiv

  • Bernardo Soares

  • Carlos Otto

  • Charles James Search

  • Charles Robert Anon

  • Coelho Pacheco

  • Faustino Antunes

  • Frederico Reis

  • Frederick Wyatt

  • Henry More

  • I. I. Crosse

  • Jean Seul

  • Joaquim Moura Costa

  • Maria José

  • Pantaleão

  • Pêro Botelho

  • Raphael Baldaya

  • Ricardo Reis

  • Thomas Crosse

  • Vicente Guedes

Notas

|1| PESSOA, Fernando. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Ática, 1996.

|2| PESSOA, Fernando. Escritos íntimos, cartas e páginas autobiográficas. Introdução, organização e notas de António Quadros. Lisboa: Publicações Europa-América, 1986.

|3| PESSOA, Fernando. Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946.

Crédito de imagem

[1] Wikimedia Commons (reprodução)

 

Por Warley Souza
Professor de Literatura 

Escritor do artigo
Escrito por: Warley Souza Professor de Português e Literatura, com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Alberto Caeiro"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/alberto-caeiro.htm. Acesso em 27 de abril de 2024.

De estudante para estudante