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Vladimir Lenin

Vladimir Lenin foi um dos grandes nomes do socialismo russo. Um dos líderes da Revolução de Outubro, passou a governar a Rússia a partir de 1917.

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Vladimir Lenin foi um revolucionário russo que, influenciado pela teoria marxista, tornou-se um dos grandes nomes por trás da Revolução de Outubro, o evento que levou os bolcheviques ao poder na Rússia de 1917. Sua adesão à teoria marxista aconteceu pela influência da morte de seu irmão e pelos contatos que teve com esses ideais no seu período de universidade.

Enquanto governante da Rússia após a vitória da revolução bolchevique, Lenin promoveu medidas que centralizavam o poder em sua figura e procurou neutralizar o poder dos sovietes e dos trabalhadores. Procurou também combater as desigualdades na Rússia e perseguiu seus opositores ferrenhamente. Faleceu em 1924, vítima de sequelas causadas por um derrame cerebral.

Acesse também: Stalinismo – a forma de governo tirânica que sucedeu o governo de Lenin

Tópicos deste artigo

Juventude

Vladimir Ilyich Ulyanov nasceu no dia 22 de abril de 1870, na cidade de Simbirsk, que fica às margens do Rio Volga, no sul da Rússia. A cidade em que ele nasceu atualmente se chama Ulyanovsk, como uma homenagem ao próprio Lenin, depois que ele faleceu em 1924. Lenin nasceu em uma família de classe média alta e que desfrutava alguns benefícios da nobreza no período czarista (período monárquico na Rússia).

Vladimir nasceu em uma família abastada e foi um dos líderes da Revolução Russa de 1917.[1]
Vladimir nasceu em uma família abastada e foi um dos líderes da Revolução Russa de 1917.[1]

O pai de Lenin chamava-se Ilya Nikolayevich Ulyanov e era descendente de uma família de servos. Ele prosperou ao longo de sua vida e tornou-se inspetor de escolas públicas. Posteriormente, obteve o status de nobre, um privilégio que somente cerca de 1,1% da Rússia possuía.

Sua mãe chamava-se Maria Alexandrovna Blank e era professora infantil. Maria pertencia a uma família germano-sueca luterana que tinha descendência judia. Lenin foi o terceiro de oito filhos que o casal teve (dois desses faleceram na infância).

A condição financeira de sua família permitiu que Lenin tivesse uma boa educação. Durante sua infância, destacou-se como um excelente aluno e obteve resultados excelentes. Seus pais tinham visões políticas baseadas no liberalismo conservador e ambos apoiavam a monarquia czarista, afinal, a família gozava do status de nobreza e tinha boa vida. A condição de vida da família mudou drasticamente com duas tragédias.

Em 12 de janeiro de 1886, o pai de Lenin faleceu, vítima de hemorragia cerebral, aos 54 anos de idade. No ano seguinte, mais precisamente no dia 4 de maio de 1887, o seu irmão mais velho, Aleksandr Ulyanov, envolveu-se em uma tentativa de assassinato contra o czar Alexandre III. O irmão de Lenin estudava na Universidade de São Petersburgo, quando passou a frequentar grupos de socialistas chamados Norodnaya Volya (traduzido do russo como “Vontade do Povo”).

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O plano não deu certo, e Aleksandr e outros quatro comparsas foram presos e condenados à morte por planejar o assassinato do czar. O resultado disso foi que Aleksandr Ulyanov foi executado na forca no dia 8 de maio de 1887. A execução de Alexander colocou o nome da família Ulyanov em desgraça, fazendo deles indesejáveis na elite russa.

Lenin adere ao socialismo

Até então, Lenin não defendia os ideais do socialismo e era um jovem religioso, mas depois da morte de seu pai e da execução de seu irmão, ele aderiu aos ideais socialistas e passou a rejeitar a religião. Lenin começou a ler teóricos socialistas e ingressou a Universidade de Kazan em meados de 1887.

Lenin foi expulso de Kazan por se envolver em um protesto, e a “mancha” causada pelo envolvimento do seu irmão com o radicalismo prejudicou-lhe ao ponto de ele ser expulso da universidade. Depois disso, conseguir formar-se em Direito pela Universidade de São Petersburgo por meio da influência de sua mãe. Ele nunca pisou nessa universidade, mas realizou um teste e passou nele.

No período de 1887 a 1890, Lenin aprofundou seu conhecimento em teóricos que advogavam o socialismo e o marxismo. Depois começou a trabalhar como advogado e instalou-se em São Petersburgo a partir de 1893. A atuação de Lenin se deu junto a grupos revolucionários que se chamavam de social-democratas.

Nesse momento, Lenin já era um socialista convicto e leitor voraz de autores de orientação marxista. Seu aprofundamento na teoria marxista e seu engajamento político nessa célula revolucionária fizeram com que ele escrevesse, em 1894, um tratado político – o primeiro escrito por ele: Quem são os ‘Amigos do Povo’ e como lutam contra os social-democratas.

A partir de então, o envolvimento de Lenin com a luta revolucionária só cresceu. Ele ficou reconhecido pela sua capacidade retórica e passou a defender que a luta marxista seria a responsável por mobilizar o proletário contra o czarismo. A chave para que isso acontecesse seria o momento em que o proletariado manifestasse a sua consciência de classe.

Em 1897, Lenin foi preso pelo seu envolvimento com movimentos revolucionários e recebeu como punição três anos de exílio na Sibéria. Por ser considerado um preso de baixa periculosidade, Lenin teve grande liberdade no exílio, recebendo visitas de amigos e até enviando cartas livremente. No exílio, casou-se com Nadezhda Krupskaya, que também era engajada com a luta revolucionária. Os dois mantiveram-se juntos até a morte de Lenin e nunca tiveram filhos.

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Exílio

Em 1898, os marxistas russos fundaram o Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Lenin logo aderiu ao partido e passou a atuar na organização do jornal revolucionário dele, o Iskra (significa “faísca”). Como a repressão do governo czarista era intensa, Lenin optou por fugir da Rússia e preferiu organizar o jornal fora do país a partir de 1900.

Nesse período, o movimento dos marxistas na Rússia havia crescido consideravelmente e resultou em agitações de trabalhadores em locais significativos do país, como Moscou e São Petersburgo. Foi desse crescimento dos movimentos de trabalhadores e da circulação de ideais socialistas que nasceu o POSDR, por exemplo.

Por causa do exílio, visando ao lançamento do jornal, Lenin estabeleceu-se em Munique, na Alemanha. De Munique, o jornal revolucionário Iskra era contrabandeado até a Rússia e tornou-se uma publicação extremamente popular. O historiador Victor Sebestyen fala que Lenin acreditava que apenas 10% da tiragem do jornal chegava às mãos corretas: as dos trabalhadores|1|. Sebestyen ainda afirma que foi durante o seu trabalho no jornal que Lenin demonstrou posturas cada vez mais autoritárias.

Nesse período em que trabalhava no Iskra, Lenin adotou seu pseudônimo pela primeira vez. Isso aconteceu em 1901 e acredita-se que ele adotou “Lenin” em referência a um rio chamado Lena. Publicou um artigo no Iskra que, depois, tornou-se um livro chamado Que fazer?, no qual ele tecia sua ideia de que a revolução deveria ser levada ao proletariado por meio de um partido orientado pelos ideais do marxismo.

A ideia de Lenin é criticada por muitos marxistas, uma vez que, para Karl Marx, a revolução deve ser realizada pelo próprio proletário, a partir do momento em que esse tomar consciência de sua classe e das contradições do capitalismo. Lenin, por sua vez, burocratizou esse processo, propondo que essa possibilidade somente seria possível se os trabalhadores fossem organizados por um partido.

Em 1902, Lenin mudou-se para Londres para fugir da repressão da polícia bávara. Na capital inglesa, continuou a trabalhar na publicação do Iskra e foi um dos protagonistas do racha no POSDR. Isso aconteceu durante o II Congresso do POSDR, em agosto de 1903.

Houve nesse evento um desentendimento entre Lenin e Julius Martov. Havia uma rixa pessoal entre os dois pela liderança do partido, mas, além disso, houve um desentendimento que envolvia os rumos do partido. Lenin propôs o engajamento pessoal de todos aqueles que se filiaram e a centralização do poder. Martov desejava um partido menos centralizador e com mais liberdade aos filiados.

A partir disso, o POSDR dividiu-se e dois grupos surgiram: os bolcheviques, alinhados ao que Lenin pensava e defensores de medidas mais radicas para a Rússia e com postura mais centralizadora, e os mencheviques, menos centralizadores e defensores de reformas menos amplas para o país. A rixa entre bolcheviques e mencheviques permaneceu e Lenin foi diversas vezes criticado pelos mencheviques por ter uma atitude “despótica”.

Revolução de 1905

O historiador Eric Hobsbawm fala que a possibilidade de revolução contra o czarismo na Rússia era algo concreto desde, ao menos, a década de 1870|2|. Os acontecimentos do começo do século XX contribuíram para que a mobilização dos trabalhadores e dos grupos socialistas permanecesse forte na Rússia.

Entre 1904 e 1905, a Rússia travou a Guerra Russo-Japonesa, conflito contra o Japão pelo domínio de regiões do território chinês. Esse conflito ficou marcado como uma vexatória derrota para a Rússia, que precisou abrir mãos de seus interesses nas terras disputadas, como contribuiu para aumentar a situação de pobreza de grande parte da população russa.

A crise econômica no país era gigantesca e isso motivou uma classe de trabalhadores pobres a se mobilizar contra essa opressão. Trabalhadores em greve na capital, São Petersburgo, resolveram fazer uma marcha pacífica na direção do Palácio de Inverno, a casa do czar Nicolau II. A marcha, no entanto, tinha mais ares de procissão religiosa do que necessariamente de uma marcha sindicalista.

Quando os trabalhadores chegaram às portas do Palácio de Inverno, os soldados que faziam a segurança do local abriram fogo contra a população, criando um cenário de pânico. Não se sabe ao certo se esse massacre foi premeditado pelo czar ou se uma ação espontânea dos próprios soldados. O resultado é que cerca de 200 pessoas foram mortas e centenas se feriram gravemente.

Esse evento ficou conhecido como Domingo Sangrento e foi a fagulha que espalhou o ímpeto revolucionário pelo restante da Rússia. Lenin denominou os acontecimentos de 1905 como Ensaio Geral, uma vez que os protestos e manifestações daquele ano “fracassaram” do ponto de vista revolucionário, isto é, do ponto de vista que visava à derrubada do czarismo.

Victor Sebestyen sugere que Lenin, apesar de ter retornado brevemente à Rússia durante o Ensaio Geral, não tomou nenhuma ação efetiva no desenvolvimento e na coordenação das atividades revolucionárias|1|. Mesmo não participando diretamente, ele incentivava que os trabalhadores se armassem e se rebelassem. Essa postura fez com que bolcheviques, alinhados a Lenin, e mencheviques rompessem definitivamente, em 1906.

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Revolução Russa

Logo depois do Ensaio Geral, Lenin voltou para o exílio, passando por diversos locais da Europa, como Paris, continuando seus estudos e escrevendo novos tratados teóricos. Em 1914, estourou a Primeira Guerra Mundial, e Lenin criticava esse conflito como uma “guerra imperialista” e incentivava os trabalhadores a travarem outra guerra: contra a burguesia.

As condições na Rússia durante os anos da guerra agravaram-se, e Victor Sebestyen relata que a disparidade das condições de vida entre os ricos e pobres era tão grande que espantava até estrangeiros de países nos quais os pobres viviam em duras condições, como a Grã-Bretanha|1|. A derrota da Rússia na guerra e o agravamento da condição de vida da população levou aquele país ao caminho da revolução.

A agitação dos trabalhadores fez de 1917 um ano de revoluções na Rússia. Os bolcheviques tomaram o poder em outubro.
A agitação dos trabalhadores fez de 1917 um ano de revoluções na Rússia. Os bolcheviques tomaram o poder em outubro.

O moral na Rússia estava baixo e o preço dos alimentos estava cada dia mais caro. Em 1916, o governo russo já tinha conhecimento de que revoltas poderiam acontecer a qualquer momento. No dia 23 de fevereiro (8 de março no calendário usado pelos russos na época), milhares de pessoas resolveram protestar nas ruas de Petrogrado (antiga São Petersburgo). Iniciou-se nesse momento a derrubada do czarismo.

  • Revolução de Fevereiro

A Revolução de Fevereiro resultou na derrubada do czarismo na Rússia. O czar Nicolau II abdicou do trono.
A Revolução de Fevereiro resultou na derrubada do czarismo na Rússia. O czar Nicolau II abdicou do trono.

Esses protestos logo ganharam força e os manifestantes começaram a invadir os locais mais importantes da cidade, como arsenais. O czar Nicolau II abdicou e os membros da Duma, o Parlamento russo, formaram um Governo Provisório com políticos conservadores, liberais e alguns socialistas. Essa foi a Revolução de Fevereiro. O novo governo tentou reestruturar o país, enquanto seguia com o esforço de guerra. Lenin, percebendo que o cenário tornava-se favorável para si, retornou à Rússia.

Junto ao retorno de Lenin, outra medida importante para o futuro da Rússia aconteceu. Um grupo de soldados, trabalhadores e intelectuais reuniu-se e formou o Soviete de Petrogrado, um comitê que passou a observar e analisar as medidas tomadas pelo Governo Provisório. Eles não partiram para a ação de imediato porque acreditavam que, naquele momento, a burguesia estava mais apta a governar o país|3|.

O retorno de Lenin à Rússia em 1917 e o contexto revolucionário do país levaram autores como Noam Chomsky a considerar que a obra de Lenin sofreu uma mudança de característica, tornando-se mais libertária|4|. Chomsky considera que, nessas obras, Lenin tratou diretamente a respeito da importância dos sovietes como forma de organização autônoma dos trabalhadores. Isso representou uma mudança de posição, uma vez que, historicamente, Lenin considerava que o partido deveria ser o canalizador da mobilização dos trabalhadores.

A posição de Lenin tornou-se mais radical, pois ele passou a incentivar as classes de trabalhadores a se rebelar contra o Governo Provisório, criticando os que defendiam a união entre bolcheviques e mencheviques. Além disso, Lenin defendeu o fim da guerra com a Alemanha, a expropriação de terras e a nacionalização das indústrias instaladas no país.

Lenin também defendeu que um governo revolucionário fosse instalado e, em seus escritos realizados nesse período, defendia a ideia de “paz, pão e terra” e que o poder deveria ser exercido pelos próprios trabalhadores a partir da expressão “todo poder aos sovietes”. Sebestyen fala que Lenin “oferecia soluções simples para problemas complexos”|1|, já Chomsky fala que sua ação ao longo de 1917 foi oportunista|4|.

Entretanto, outros autores entendem que a dinâmica revolucionária na Rússia levou os bolcheviques quase que espontaneamente ao poder, uma vez que eles eram os mais preparados naquele contexto a fazê-lo. Alguns entendem os escritos e a ação revolucionária de Lenin como um exemplo da ação democrática do marxismo.

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  • Revolução de Outubro

Nesse contexto revolucionário marcado pela mobilização dos trabalhadores, Lenin soube fazer o que os mencheviques no poder não conseguiram e obteve o apoio das massas. Tanto os trabalhadores operários quanto os trabalhadores rurais aderiram em peso aos ideais revolucionários bolcheviques, como sugere Daniel Orlovsky|5|.

A situação na União Soviética seguiu caótica e o esforço de guerra sufocava o país. O Governo Provisório seguiu impopular e uma série de manifestações e protestos de bolcheviques aconteceu em julho (no calendário juliano). O envolvimento dos bolcheviques nesses protestos levou o Governo Provisório a acusar Lenin de traição.

A autoridade de Kerensky, o líder do Governo Provisório, começou a declinar no final de 1917 perante um quadro de crise profunda. As greves e mobilizações dos trabalhadores estavam maiores que nunca e Lenin incentivava que o poder na Rússia fosse tomado pelos bolcheviques em nome dos trabalhadores.

Os bolcheviques debatiam internamente a questão da tomada de poder na Rússia, até que, no dia 24 de outubro (7 de novembro no calendário gregoriano), grupos armados de bolcheviques começaram a tomar locais estratégicos na cidade de Petrogrado. Nos dias seguintes, novos locais foram conquistados pelos bolcheviques e um Conselho do Comissariado do Povo ou Governo dos Operários e Camponeses foi formado com caráter temporário. Os bolcheviques tinham tomado o poder.

Os historiadores debatem essa questão até hoje. Alguns autores, como Victor Sebastyen e Noam Chomsky, definem a Revolução de Outubro, como ficou conhecida a tomada do poder pelos bolcheviques, como golpe. Outros historiadores, como Eric Hobsbawm, consideram irrelevante se debruçar sobre essa questão|6|. De toda forma, esse acontecimento ficou conhecido na história como “Revolução de Outubro”.

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Lenin no poder

Com a ascensão dos bolcheviques ao poder, Lenin tornou-se governante da Rússia e deu início ao processo de reestruturação de todo o Estado russo. Entre as mudanças feitas, em um primeiro momento, houve a nacionalização das terras na posse da aristocracia e da Igreja Ortodoxa, a concessão do poder aos camponeses para que os governos locais realizassem a reforma agrária, a ordem de que os povos não russos deveriam sujeitar-se à autoridade dos russos, etc.

Uma vez estabelecido no poder, Lenin negou-se a aceitar a ideia proposta de haver uma coligação de governo que englobasse outros socialistas. Ele também manteve parte da estrutura burocrática do período czarista – apenas lhes deu o nome de comissariados –, permitindo que antigos burocratas do período czarista pudessem participar da construção da nova Rússia.

No poder, Lenin procurou centralizar o poder e silenciar seus opositores.
No poder, Lenin procurou centralizar o poder e silenciar seus opositores.

Estabeleceu-se com poder centralizador e agiu para garantir o crescimento do partido comunista. Outra ação importante feita por ele foi estabelecer medidas para enfraquecer e desarticular os sovietes e comitês de trabalhadores. Chomsky enxerga essa medida de Lenin de enfraquecer os comitês de trabalhadores como um “desvio do socialismo”|4|. Com o poder dos grupos revolucionários destruído, Lenin voltou-se para silenciar a oposição por meio de uma polícia secreta, a Cheka.

A respeito da Cheka, Daniel Orlovsky fala que essa polícia secreta transformou-se em um “Estado dentro do Estado, ministrando arbitrariamente a justiça revolucionária e o terror”|7|. Outra demonstração de despotismo se deu quando, em janeiro de 1918, Lenin decretou também o fechamento da Assembleia Constituinte quando os socialistas-revolucionários obtiveram mais votos que os bolcheviques.

A partir de então, as medidas tomadas por Lenin reforçavam sua intenção de construir um modelo de governo no qual as massas de trabalhadores se sujeitassem ao poder de um único líder. Nesse período – 1918 – Lenin sobreviveu a duas tentativas de assassinato.

Entretanto, Lenin também tomou medidas que procuraram combater desigualdades históricas da sociedade russa. A citada medida para realização de reforma agrária foi uma delas. Outras medidas foram tomadas no sentido de combater o analfabetismo no país, por meio de um decreto que determinava que a educação deveria ser direito de todos.

Últimos anos

Enquanto esteve no poder soviético, Lenin teve de lidar com a insurgência contrarrevolucionária que se formou a partir de 1918. A escritora Lesley Chamberlain entende que a Guerra Civil Russa foi resultado dos combates entre os bolcheviques e a intelligentsia russa (a elite intelectual do país). A partir do momento em que essa intelligentsia foi derrotada, os bolcheviques se consolidaram no poder|8|.

Nesse contexto de crescimento das oposições contra o bolchevismo, Lenin e o governo bolchevique negociaram a saída da Rússia da guerra por meio do Tratado de Brest-Litovsk, um acordo oneroso ao país. O responsável pelas negociações foi Leon Trotsky – o mesmo que liderou o Exército Vermelho e defendeu a Rússia na Guerra Civil. Lenin orientou os bolcheviques a aceitar “a paz mundial para salvar a revolução mundial”|9|.

Durante os anos da Guerra Civil Russa, o governo de Lenin implantou medidas que permitiram o confisco de grãos dos camponeses, além de camponeses e burgueses que se manifestavam contrários ao governo serem perseguidos. A Cheka teve um papel muito importante nessa perseguição, e os historiadores sugerem que milhares possam ter sido mortos. Chomsky considera que os aparatos de repressão impostos durante o governo leninista foi um dos precursores de formas de totalitarismo que se desenvolveram na década de 1920 e 1930|4|.

Depois da guerra, a União Soviética foi criada por Lenin e o poder dos bolcheviques consolidou-se Lenin procurou reconstruir a economia do país, destruída após anos de guerra e revolução, e reimplantou uma economia de mercado, portanto aos moldes capitalistas, por meio da Nova Política Econômica, conhecida por sua sigla em russo NEP. Esse plano econômico foi implantado em 1921

A partir de 1922, o poder de Lenin sobre a União Soviética deteriorou-se por seus problemas de saúde. Lenin sofreu derrames cerebrais, em maio e dezembro de 1922 e março de 1923. Sua saúde ficou muito fragilizada, o que criou uma disputa nos quadros do governo soviético sobre quem sucederia o poder do país.

Sabemos que o sucessor de Lenin foi Josef Stalin, mas nos seus últimos meses de vida, Lenin demonstrou não concordar com a possibilidade de que ele o sucedesse no poder soviético. O historiador William B. Husband afirma que Lenin considerava Stalin “muito rude” e não sabia se ele poderia exercer o poder do país com cautela. Ele ainda orientou que Stalin fosse removido de suas posições de poder|10|.

As sequelas dos três derrames sofridos por Lenin foram tão graves que o governante soviético não conseguiu se recuperar. No dia 21 de janeiro de 1924, Lenin faleceu, e o anúncio de sua morte foi realizado no dia seguinte. Como homenagem, a cidade de Petrogrado (antiga São Petersburgo) foi renomeada como Leningrado. Lenin tornou-se um grande símbolo do socialismo na União Soviética e em todos os países socialistas que surgiram ao longo do século XX.

Notas

|1| SEBESTYEN, Victor. Lênin: um retrato íntimo. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2018.

|2| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 63.

|3| ORLOVSKY, Daniel T. A Rússia na guerra e na revolução. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 299.

|4| Chomsky sobre Lenin, Trotsky, Socialismo e União Soviética. Para acessar, clique aqui.

|5| ORLOVSKY, Daniel T. A Rússia na guerra e na revolução. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 308.

|6| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 69.

|7| ORLOVSKY, Daniel T. A Rússia na guerra e na revolução. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 319.

|8| CHAMBERLAIN, Lesley. A Guerra Particular de Lenin: a deportação da intelectualidade russa pelo governo bolchevique. Rio de Janeiro: Record: 2008, p. 43.

|9| Hoje na História: 1917 – Rússia firma Tratado de Brest-Litovski com as Potências Centrais. Para acessar, clique aqui.

|10| HUSBAND, William B. A Nova Política Econômica (NPE) e a experiência revolucionária. In.: FREEZE, Gregory L. (org.). História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 335.

Créditos da imagem:

[1] Everett Historical e Shutterstock

 

Por Daniel Neves Silva
Professora de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Vladimir Lenin"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/vladimir-lenin.htm. Acesso em 21 de novembro de 2024.

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