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A cidade de Moscou é a capital da Rússia e o coração político e econômico do país. Habitada por mais de 12 milhões de pessoas, a capital russa tem como data de fundação o ano de 1147, segundo os historiadores. Por ser uma cidade com mais de 800 anos de história, é natural que exista em Moscou uma série de construções que atraiam anualmente milhões de turistas.
Uma parte importante da história e da vida cultural de Moscou concentra-se no complexo de prédios do Kremlin, podendo ser citados museus, igrejas e prédios governamentais que foram sendo construídos dentro da fortaleza moscovita. Claro que não há construções históricas somente dentro do Kremlin, mas também fora dele.
De qualquer forma, uma parte importante do legado histórico da cultura russa são as igrejas ortodoxas. Historicamente, a Rússia consolidou-se enquanto nação sobre forte influência da Igreja Ortodoxa e, apesar das tentativas do regime soviético de erradicar com a religião no país, ela sobreviveu, e parte do seu legado é percebida na série de igrejas históricas construídas em Moscou. Este texto tem como objetivo falar um pouco sobre uma dessas construções.
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Catedral de São Basílio
Provavelmente, a construção religiosa mais conhecida de Moscou e talvez de toda a Rússia seja a Catedral de São Basílio, sobretudo por causa de suas torres com domos coloridos. Essa igreja é oficialmente conhecida como Catedral da Intercessão da Santíssima Theotokos e foi construída por ordem do czar Ivan, o Terrível (também chamado de Ivan IV), no período entre 1555 e 1561. Localiza-se na Praça Vermelha, nas proximidades de um dos muros do Kremlin.
Os historiadores afirmam que a construção foi responsabilidade dos arquitetos Barma e Postnik. Existe uma lenda muito conhecida a respeito dos arquitetos que fala que Ivan, o Terrível, ordenou que eles fossem cegados para que não construíssem outro prédio tão bonito quanto a Catedral de São Basílio. Os historiadores alegam, no entanto, que isso provavelmente se trata apenas de uma lenda, pois um dos arquitetos citados esteve envolvido com outras construções posteriormente.
Detalhes do interior da Catedral de São Basílio*
A construção da catedral aconteceu em comemoração a uma campanha militar vitoriosa que havia sido realizada por Ivan, o Terrível. Essa campanha militar fazia parte da guerra travada entre a Rússia moscovita e os tártaros do Canato de Kazan. Essa guerra contra os tártaros era travada desde o século XV e resultou na conquista de Kazan pelos exércitos moscovitas de Ivan IV.
Além disso, a construção de grandes prédios (como a Catedral de São Basílio) fazia parte de uma estratégia dos governantes russos da época para afirmar o seu poder e não se resumiu somente a Ivan IV. A respeito disso, a historiadora Nancy Shields Kollmann afirma:
Os governantes também usavam a arquitetura enquanto afirmação simbólica. Ivan III reconstruiu as igrejas do Kremlin num conjunto magnificente (incluindo uma catedral da Sagrada Família, a sé metropolitana e uma catedral mortuária) que demonstrava não só poder e força, mas também […], a amplitude de suas conquistas. Os grão-príncipes também deixavam símbolos da sua autoridade em novas igrejas e mosteiros construídos para comemorar vitórias militares […] ou para difundir seu patrocínio|1|.
A construção da catedral foi finalizada, conforme mencionado, em 1561, no entanto, a estrutura dessa catedral sofreu uma série de alterações com o tempo e somente ganhou sua forma atual em meados do século XIX. O nome pelo qual a catedral é comumente conhecida – São Basílio – é em referência a um eremita russo que viveu em Moscou nos tempos de Ivan IV.
Basílio nasceu em Moscou, em 1469, e durante sua juventude tornou-se uma espécie de eremita (era chamado na época de “louco por Cristo”). Os relatos falam que Basílio caminhava seminu pelas ruas de Moscou e era conhecido por ter poderes de clarividência (previsão do futuro). As suas previsões, afirmam, fizeram com que ele ganhasse o respeito do czar russo Ivan, o Terrível. Morreu em 1557 (algumas fontes falam 1552) e foi canonizado em 1588, tornando-se um santo para a Igreja Ortodoxa.
A Catedral de São Basílio teve sua estrutura ameaçada duas vezes ao longo da história. Primeiramente, os franceses cogitaram demoli-la quando invadiram Moscou em 1812 como desdobramento da Campanha da França, organizada por Napoleão Bonaparte. No século seguinte, foi a vez do governo soviético cogitar a demolição da catedral.
A partir de 1917, o governo soviético iniciou uma campanha contra a religião, sobretudo contra a Igreja Ortodoxa, a maior da União Soviética. Essa campanha fez com que diversas igrejas passassem a ser utilizadas para outras finalidades. Como consequência dessa campanha, cogitou-se a demolição da catedral, o que acabou não acontecendo.
Afirma-se que a preservação da Catedral de São Basílio aconteceu por causa da atuação de Piotr Baranovski, um arquiteto da época. Baranovski atuou ativamente na preservação de diversas construções russas. Uma história em particular afirma que Baranovski chegou a enviar um telegrama diretamente para Stalin recomendando-o a preservar o prédio. Os historiadores, no entanto, nunca encontraram provas que esse telegrama foi enviado de fato.
Atualmente, a Catedral de São Basílio é um dos locais mais visitados, além de ser um cartão-postal de Moscou. Utilizada como museu pelo Estado soviético, passou a ser utilizada novamente para finalidades religiosas após a desintegração da União Soviética. Atualmente, é Patrimônio Mundial da Unesco.
|1| KOLLMANN, Nancy Shields. A Rússia Moscovita. In.: FREEZE, Gregory L. História da Rússia. Lisboa: Edições 70, 2017, p. 87-88.
*Créditos da imagem: Naeblys e Shutterstock
Por Daniel Neves
Graduado em História