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Totalitarismo

O totalitarismo foi um regime político baseado no controle total da vida, no nacionalismo e no forte militarismo, tendo ocorrido em alguns países da Europa, no século XX.

Pessoas saudando Hitler durante reunião nazista. [1]
Pessoas saudando Hitler durante reunião nazista. [1]
Crédito da Imagem: shutterstock
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O totalitarismo foi um regime político que surgiu e desapareceu em países europeus no século XX. Os regimes totalitários têm em comum o controle total da vida pública e da vida privada. Para se manterem, os países que adotaram o totalitarismo elegeram líderes totalitários, que centralizaram as diversas figuras do poder e a atuação do Estado em si mesmos, além de investirem fortemente em propaganda e elegerem inimigos em potencial, que se tornaram a maior justificativa interna para que o totalitarismo funcionasse.

Podemos observar três exemplos maiores e principais de totalitarismo na Europa do século XX: o nazismo, de Hitler, o fascismo, de Mussolini, e o stalinismo, na União Soviética. Porém, as ditaduras autoritárias de Franco (Espanha) e Salazar (Portugal) podem ser consideradas totalitárias, além de terem inspirações no fascismo italiano de Benito Mussolini.

Leia também: O que é ditadura militar?

Tópicos deste artigo

Origem do totalitarismo

Apesar de alguns teóricos tentarem imputar a origem do totalitarismo ao comunismo, seja pela dissidência, seja pela reação, não é possível, a partir de uma análise isenta de visões ideológicas, apresentar um motivo preciso que tenha dado origem a todos os regimes totalitários. É notório, porém, que há um elemento em comum entre eles: a crise.

Todos os regimes totalitários surgiram em uma época de crise europeia, deixada principalmente pela Primeira Guerra Mundial e por políticas econômicas ineficazes. A crise levou a uma caótica situação de alta inflação, miséria, fome, desemprego e falta de assistência básica à população.

Os regimes políticos totalitários apareceram naquele cenário caótico como possíveis soluções para os problemas da população e, por isso, ganharam apoio popular. Podemos associar, então, a origem do totalitarismo ao ódio a alguma categoria social, justificada pelo medo e pelo terror imputados na população.

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Exemplos de totalitarismo

  • Nazismo: liderado por Adolf Hitler, ocorreu na Alemanha entre 1933 e 1945.

  • Fascismo: liderado por Benito Mussolini, vigorou na Itália entre 1922 e 1943.

  • Stalinismo: o comunismo soviético iniciou-se em 1917, a partir da Revolução Russa, mas o stalinismo, surgido de uma interpretação particular e heterodoxa de Josef Stalin do marxismo, somente entrou em cena em 1924, perdurando até 1953.

  • Franquismo e Salazarismo: Francisco Franco foi um general que dominou a Espanha entre 1939 e 1975; Antônio de Oliveira Salazar dominou Portugal entre 1926 e 1970, acabando com o liberalismo econômico e implantando o Estado Novo português. Ambos os líderes são considerados totalitários, anticomunistas, nacionalistas e tiveram inspiração no fascismo de Mussolini.

Leia também: O nazismo era de esquerda ou de direita?

Características do totalitarismo

Podemos elencar alguns elementos em comum que delineiam o conceito de totalitarismo, tanto no exemplo de regime totalitário de extrema-esquerda (União Soviética) quanto nos regimes totalitários de extrema-direita (Alemanha e Itália). Esses elementos são:

  • Cenário caótico da crise: A Alemanha, no momento de ascensão do partido nazista, passava por crise financeira e institucional deixada pela Primeira Guerra Mundial, o que resultou na fome e no desemprego. Hitler e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães surgiram como uma esperança de recuperação. No início, Hitler recebeu forte apoio popular. Não foi diferente na Rússia, que também foi devastada pela Primeira Guerra e por anos de monarquia czarista. Em 1917, quando estourou a Revolução Russa, os líderes do movimento (Lenin tornou-se o mais importante líder do processo revolucionário) prometeram eliminar as mazelas enfrentadas pelo país. Com a saída de Lenin do poder, Stalin, o sucessor, impôs um regime totalitário de esquerda, que tinha como principal inimigo os anticomunistas.

  • Identificação de um inimigo em comum: em todos os regimes totalitários, podemos encontrar a identificação de inimigos potenciais em comum, que, em geral, são grupos que não partilham do interesse do regime ou que são escolhidos para servirem de alvo da indignação popular. Tendo um alvo em comum, é mais fácil manter o povo unido em prol de um objetivo final. No caso do stalinismo, o inimigo era o burguês; para os nazistas, o inimigo central era o povo judeu, além de ciganos, comunistas e homossexuais; para os fascistas, os inimigos eram os estrangeiros, os antinacionalistas e os críticos do Estado forte, como os anarquistas.

  • Controle total da vida da população: é característica comum dos regimes totalitários o controle da vida da população, tanto no âmbito público quanto no âmbito privado. Essa característica difere o totalitarismo das ditaduras, pois ela confere ao Estado plenos poderes de decidir arbitrariamente sobre tudo aquilo que a população pode ou não acessar, em todos os aspectos de sua vida. Isso faz com que o Estado seja excessivamente inflado, estabelecendo um elo entre totalitarismo e autoritarismo, o que pode causar confusão entre o totalitarismo e o comunismo. Apesar de haver o registro de um regime totalitário de esquerda (o stalinismo), não se pode dizer que os regimes totalitários sejam, essencialmente, de esquerda ou que o comunismo seja uma proposta totalitária.

  • Centralização do poder: para se sustentarem, os regimes totalitários centralizaram o poder nas mãos de um líder ou de um grupo político, o que levou ao culto à personalidade e, como estratégia, os grupos ou líderes propagaram o nacionalismo e o patriotismo como elementos essenciais para o crescimento da nação. Há também o unipartidarismo.

  • Propaganda: todos os regimes totalitários investiram fortemente em publicidade para propagarem os ideais totalitários e manterem o domínio ideológico sobre o povo. A ideia era manter o apoio popular, mesmo em momentos de crise. A propaganda nazista, stalinista e fascista foram extremamente fortes, sempre apresentando o líder e o Estado como os salvadores da pátria contra os inimigos. Qualquer indício de pensamento liberal ou antinacionalista (como a defesa da cultura e da economia globalista) era combatido com a incisiva propaganda, que dominava todos os meios de comunicação, afinal, todos os meios de comunicação foram estatizados. As rádios, o cinema, os jornais, tudo que fosse meio de disseminação cultural deveria passar pelo crivo do Estado. Para controle efetivo dos meios de comunicação e garantia da propaganda, os líderes totalitários criaram ministérios e secretarias para regulamentação midiática.

  • Medo, terror e policiamento: há um constante policiamento da população, justificado pelo medo do governante de seus governados e vice-versa. O terror é espalhado como sendo um elemento real, o que causa medo nas pessoas, que se permitem serem governadas totalitariamente.

  • Eliminação das singularidades: o Estado totalitário elimina as diferenças existentes entre as pessoas, criando um corpo total igual, ao implantar as mesmas ideias nas pessoas por meio da propaganda, impor os mesmos produtos para o consumo e controlar as suas vidas privadas.

Totalitarismo e filosofia

Como a filosofia dedica-se, entre outras coisas, à problematização do meio e das práticas políticas, podemos identificar pensamentos filosóficos que, de algum modo, criticaram ou apoiaram o totalitarismo. Há, por exemplo, o filósofo alemão Martin Heidegger, que durante muito tempo foi apoiador do nazismo alemão.

Já os frankfurtianos Adorno, Horkheimer e Marcuse, além de Walter Benjamin, criticaram o nazismo, até porque eram judeus alemães perseguidos pelo regime de Hitler. Anarquistas e comunistas, como Gramsci, criticaram o fascismo italiano. Muitos artistas e intelectuais apoiaram o stalinismo, como o poeta alemão Bertold Brecht.

Porém, o maior e mais fundamentado estudo sobre os regimes totalitários que analisa de maneira imparcial todos os casos de totalitarismo do século XX parte da filósofa judia alemã Hannah Arendt.

→ Totalitarismo e Hannah Arendt

A filósofa judia alemã Hannah Arendt escreveu um livro chamado Origens do Totalitarismo, além de outros textos em que se dedica a analisar o fenômeno totalitário e o antissemitismo por meio da Filosofia política.

Em Origens do Totalitarismo, a pensadora dedica-se a identificar as origens desse fenômeno contemporâneo a ela (ela sofreu perseguição nazista por ser judia, sendo presa em campo nazista no território francês até que pudesse fugir para os Estados Unidos), além de estudar minuciosamente as causas políticas que levam ao totalitarismo. Arendt identifica a existência dos elementos comuns entre os regimes totalitários que foram descritos anteriormente.

Selo impresso na Alemanha estampa o rosto de Hannah Arendt, que escreveu o livro Origens do Totalitarismo. [2]
Selo impresso na Alemanha estampa o rosto de Hannah Arendt, que escreveu o livro Origens do Totalitarismo. [2]

Segundo Arendt, o totalitarismo é a elevação de dois fenômenos: o medo e o terror. A fusão desses dois elementos em sua potencialidade leva a um sistema extremamente burocrático em que o Estado total transforma a coletividade em um único corpo. Uma das marcas do totalitarismo é a anulação da individualidade para a promoção de uma sociedade que pensa da mesma maneira e quer as mesmas coisas, apoiando, assim, em uníssono, a atuação do líder totalitário. Em Origens do totalitarismo, Arendt diz:

Em lugar das fronteiras e dos canais de comunicação entre os homens individuais, constrói um cinturão de ferro que os cinge de tal forma que é como se a sua pluralidade se dissolvesse em Um-Só-Homem de dimensões gigantesca... Pressionando os homens, uns contra os outros, o terror total destrói o espaço entre eles.i

Para efetivar o que se objetivava com o totalitarismo, não bastava atuar com a propaganda alienante e com a força ideológica do líder, mas era necessário também eliminar todo aquele que se colocasse contra o regime, além de perseguir uma determinada categoria de pessoas como sendo inimigos em comum da nação.

Hannah Arendt também classifica, em obras posteriores, como Eichmann em Jerusalém, a existência de tipos diferentes de pessoas que estavam por trás do nazismo. Segundo a filósofa, existiam os nazistas convictos, tomados por um mal radical (que no vocabulário kantiano designa pessoas tomadas por um mal enraizado em si), ou seja, aqueles que realmente acreditavam no antissemitismo como salvação da pátria.

Existiam também as pessoas como Adolf Eichmann, um oficial de baixa patente da SS responsável pelo transporte dos judeus presos até os campos de concentração. Em seu julgamento tardio (Eichmann conseguiu fugir e foi capturado na Argentina somente em 1962, sendo julgado em um tribunal internacional de exceção), Eichmann afirmou em sua defesa que não era um antissemita.

Realmente, os fatos apontavam para uma personalidade pacífica do réu, que, como disse em sua defesa, apenas trabalhava para o exército durante aquele regime, em busca de uma carreira e uma colocação profissional. O julgamento de Eichmann levou Arendt a encontrar uma nova modalidade de totalitaristas, em especial os nazistas: aqueles que não acreditavam no que estavam fazendo (que levava diretamente ao mal), mas que simplesmente faziam para obter alguma vantagem pessoal.

Créditos da imagem:

[1] Everett Historical / Shutterstock

[2] Mitrofanov Alexander / Shutterstock
 

i ARENDT, HANNAH. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 518.


Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Escritor do artigo
Escrito por: Francisco Porfírio Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

PORFíRIO, Francisco. "Totalitarismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/totalitarismo.htm. Acesso em 22 de dezembro de 2024.

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