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A Revolução de fevereiro de 1917 pode ser considerada uma primeira etapa que envolvia o contexto específico da Rússia e da economia mundial da época. A deposição do poder monárquico russo foi uma demonstração de poder capaz de assinalar a fragilidade do sistema capitalista, principalmente no que tange às conseqüências trazidas por uma guerra mundial feita para se definir de forma brutal o papel econômico das principais potências.
A Rússia, que participou dos conflitos da Primeira Guerra Mundial (1918 – 1918), possuía uma extensa população cingida por enorme fosso social. De um lado, havia massa de camponeses sem condições de sobreviver fora da dominação opressora dos grandes proprietários. Do outro, a formação de uma extensa classe de operários explorados por um parque industrial fomentado pela ação de grupos econômicos estrangeiros.
Foi nesse quadro específico que Leon Trotsky conseguiu arregimentar grande parte da população russa em torno de um projeto político revolucionário. Dessa forma, o partido bolchevique se formou com a promessa de uma transformação imediata que atenderia a demanda das classes trabalhadoras da nação continental. No âmbito externo, as baixas na Primeira Guerra somente vieram a fortificar o potencial revolucionário ao piorar as condições de uma economia que mal sustentava sua população civil.
Nos primeiros meses de 1917 a situação chegara a um ponto completamente insustentável. Diversas lojas de mantimentos começaram a ser saqueadas pela população, os movimentos grevistas foram articulados e uma onda de protestos contra o governo czarista tomava as ruas da capital Petrogrado. As forças repressoras, que já também não reconheciam o poder estabelecido, tomaram parte da derrubada do governo ocorrida em 26 de fevereiro daquele mesmo ano.
Pressionado pelo levante popular, o czar Nicolau II abdicou do poder monárquico instaurando uma situação política dúbia no país. Ao mesmo tempo em que o parlamento de maioria burguesa assumiu o novo governo, os sovietes russos começaram a se concentrar na capital na esperança de ter suas reivindicações atendidas. Na época, as organizações trabalhadoras (sovietes) eram ainda dominadas por uma corrente de pensamento reformista favorável a uma transformação gradual.
O projeto de ruptura proposto pelos partidários bolcheviques só tomou força no momento em que Lênin retornou de seu exílio e publicou as “Teses de Abril”. A sua obra pregava uma reformulação do cenário político ao se opor a uma ordem onde o parlamento seria o instrumento de ação política direta. Em seu discurso, Lênin realizou um quadro ainda mais urgente onde as classes trabalhadoras deveriam ter poder decisório imediato.
Ao contrário do que parecia, Lênin não defendia a imposição imediata de um regime de ordem socialista. Em sua perspectiva, a revolução deveria alcançar uma segunda etapa onde os trabalhadores iriam decidir como a recuperação da Rússia iria se elaborar. Os opositores de Lênin diziam que ele forçava uma outra revolução com pretensões de desestabilizar o “novo” governo em ação. No fim das contas, a proposta de Lênin ganhou força frente às medidas do governo da burguesia parlamentar.
Em abril de 1917, o governo burguês deu um verdadeiro “tiro no pé” ao manter a Rússia nos conflitos da Primeira Guerra. Miliukov, chefe do governo provisório, renunciou ao cargo dando margem para a configuração de um comando partilhado entre burgueses e trabalhadores. O novo governo conseguiu conter os levantes populares e reorganizar os exércitos russos. No entanto, a partir de junho, novas derrotas militares somente mostraram a inviabilidade do governo composto por trabalhadores e burgueses.
Os protestos se potencializaram com força maior, no entanto, os levantes concentrados na capital não eram suficientes para trazer um novo governo. Os conservadores aproveitaram da situação para tentar excluir os populares do cenário político. Muitos deles passaram a acusar os bolcheviques de serem comprometidos com os interesses dos inimigos de guerra ao propor uma rendição pacífica das tropas russas. Além disso, os conservadores tentaram apoiar um fracassado golpe militar conduzido pelo general Kornilov.
A tentativa de golpe de Estado foi o incidente final e necessário para que a perspectiva política de Lênin tivesse força. Os operários e soldados russos fizeram oposição massiva contra uma nova ordem de governo ditatorial. Os militares começaram a abandonar os campos de batalha da Primeira Guerra, os camponeses intensificaram seus protestos e as idéias de Lênin ganharam maioria dentro dos sovietes. Uma nova revolução se preparava.
Por Rainer Sousa
Graduado em História