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A descolonização da África é o nome que se dá ao processo de independência dos países africanos em relação aos colonizadores europeus. Até a segunda metade do século XX, países africanos viviam sob a hegemonia de países da Europa.
Essa descolonização ocorreu na África, e também na Ásia, após a Segunda Guerra Mundial, quando as potências europeias anteriores perderam força e entrou em vigor uma nova ordem mundial, com a disputa agora centrada em URSS e EUA. Estes então disputavam hegemonia política, econômica e ideológica do planeta, bem como territórios, e começaram a interferir na política interna dos países novos africanos.
Dessa forma, cunhou-se termos como o pan-africanismo; congressos e conferências foram realizados; e movimentos sugiram, sobretudo até a década de 1960, quando a maioria das ex-colônias havia conseguido sua independência. Entretanto, por conta, principalmente, da interferência dos EUA e da URSS, os conflitos internos permaneceram, gerando fome, miséria, governos autoritários e corruptos.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre a descolonização da África
- 2 - Contexto histórico da descolonização da África
- 3 - Causas da descolonização da África
- 4 - O processo de descolonização da África
- 5 - O pan-africanismo e a descolonização da África
- 6 - Quais as consequências da descolonização da África?
- 7 - Exercícios resolvidos sobre a descolonização da África
Resumo sobre a descolonização da África
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Deu-se em um contexto de fim da Segunda Guerra Mundial e de enfraquecimento dos colonizadores europeus.
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Suas causas foram a grande baixa populacional e do poderio europeu, dando margem a lutas por autonomia nas colônias e ao advento de novas potências mundiais fora da Europa: a saber, EUA e URSS.
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Seu processo se deu por meio de lutas, elaborações de conceitos, congressos e conferências que buscaram resgatar uma unidade e identidade dos povos africanos. A Conferência de Bandung, em 1955, foi determinante nesse sentido.
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O pan-africanismo foi uma ideologia que pregou a unificação em massa das identidades nacionais dos novos países ex-colonizados da África.
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Suas consequências foram as independências de vários países da África, com a criação de mais de 40 novos, mas também os muitos conflitos internos e as desigualdades sociais, devido, principalmente, à interferência norte-americana e soviética.
Contexto histórico da descolonização da África
Durante o século XX, vários países africanos passaram pelos seus processos de independência e descolonização, livrando-se da dominação, principalmente a de europeus. O primeiro deles foi a Libéria.
Países africanos e asiáticos viveram sob julgo das grandes potências imperialistas ao longo do tempo, especialmente nos séculos XIX e XX, até a década de 1950. Esse domínio foi, inclusive, motivo de conflitos entre tais potências, sendo um deles a Segunda Guerra Mundial. Após essa guerra, iniciou-se o fim da exploração predatória colonial na África, já que um bom número das potências envolvidas saiu das batalhas com baixas populacionais e econômicas.
Causas da descolonização da África
Uma das principais causas da descolonização da África foi a Segunda Guerra Mundial, pois, em consequência dela, iniciou-se o período da Guerra Fria, que teve URSS e EUA como protagonistas na disputa política, econômica e ideológica dos países do mundo.
Contudo, a Guerra Fria não teve combates diretos, muito devido aos traumas deixados por tantas mortes nos conflitos anteriores. Assim, EUA e URSS buscaram alianças com países antes colonizados e que sofreram com a antiga política imperialista europeia, agora arrasada pela recente guerra.
Com isso, cerca de 40 de países novos surgiram nos anos 1950 e 1960 do século XX, todos nos continentes asiático e africano. No entanto, essas alianças custaram-lhes também intervenções dessas duas novas potências em suas políticas internas.
Veja também: Como ficou o mundo após a Segunda Guerra Mundial
O processo de descolonização da África
Um marco de tal quadro global foi a Conferência de Bandung, realizada em 1955 e que debateu ações que pudessem garantir um mínimo de autonomia aos novos países, criando medidas de cooperação mútua. Debateu-se muito também sobre racismo e lutas anticoloniais. Nessa conferência, a ONU determinou que a Europa admitisse a soberania dos países novos.
O pan-africanismo e a descolonização da África
Pan-africanismo é um conceito, dito pela primeira vez pelo advogado Sylvester Willians, de Trinidad, em 1900, durante uma conferência de intelectuais negros em Londres. O termo tem relação direta com as lutas dos povos africanos contra a soberania europeia em seus territórios, já que Willians proferia, justamente, protestos pelos direitos da população negra, esmagadora maioria no continente.
A partir de então, Willians e demais intelectuais negros, nessa e em outras conferências e reuniões mundo afora, iniciaram um movimento que culminaria no I Congresso Pan-Africano, em 1919, em Paris. Outro intelectual que ajudou a propagar o pan-africanismo foi Du Bois, historiador, sociólogo, autor e editor dos EUA. Foi afirmado por ele, na referida conferência e em sua produção bibliográfica em geral, que o racismo seria um problema central no século XX, o que, como se sabe, provou-se verdade.
Diante disso, Du Bois e demais pan-africanistas exigiram um Código Internacional que assegurasse a total emancipação e autonomia dos países colonizados, bem como direitos às suas populações. Ao todo aconteceram cinco edições do Congresso Pan-Africano, que se embrenhou em movimentos nacionalistas de massas, saída encontrada para que sua principal demanda fosse atendida: a independência da África.
Tais congressos e conferências tiveram repercussão no mundo todo, inclusive no Brasil, onde ocorreu, em 1970, o Congresso de Cultura Negra e de onde surgiu e ganhou notoriedade um grande expoente do pan-africanismo: o ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras Abdias do Nascimento. Para saber mais sobre esse movimento, clique aqui.
Saiba mais: Resistência de Madagascar ao neocolonialismo — uma luta por soberania
Quais as consequências da descolonização da África?
Como consequência da descolonização da África, podemos destacar o surgimento do termo “terceiro mundo” para os novos países africanos que apresentavam fragilidade e instabilidade política, econômica e social. Incluíram-se também nesse rol, por suas características semelhantes, os países que compõem a porção latina nas Américas, também chamados de países não alinhados.
De tal modo, o processo de descolonização africana e asiática representou um avanço, todavia, não foi capaz de sanar conflitos internos nesses novos Estados. Muitos desses conflitos foram causados pela interferência externa de EUA e URSS, que gerou desequilíbrio na auto-organização dos povos, causando muita corrupção, desigualdade social, conflitos constantes e autoritarismo.
Exercícios resolvidos sobre a descolonização da África
Questão 01 (FGV-RJ)
Leia o trecho da canção abaixo para responder à questão:
Até que a filosofia que sustenta uma raça
Superior e outra inferior
Seja finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada,
Haverá guerra, eu digo, guerra.
(...)
Até que os regimes ignóbeis e infelizes,
Que aprisionam nossos irmãos em Angola, em Moçambique,
África do Sul, em condições subumanas,
Sejam derrubados e inteiramente destruídos, haverá
Guerra, eu disse, guerra.
(...)
Até esse dia, o continente africano
Não conhecerá a paz, nós, africanos, lutaremos,
Se necessário, e sabemos que vamos vencer,
Porque estamos confiantes na vitória
Do bem sobre o mal,
Do bem sobre o mal...
“War”. Bob Marley, 1976.
A canção “War” foi composta por Bob Marley a partir do discurso pronunciado pelo imperador da Etiópia, Hailé Selassié (1892-1975), em 1936, na Liga das Nações. As ideias do discurso, presentes na letra da canção acima, estão associadas:
a) Ao darwinismo social, que propunha a superioridade africana sobre as demais raças humanas.
b) Ao futurismo, que consagrava a ideia da guerra como a higiene e renovação do mundo.
c) Ao pan-africanismo, que defendia a existência de uma identidade comum aos negros africanos e a seus descendentes.
d) Ao sionismo, que defendia que o imperador Selassié era descendente do rei Salomão e da rainha de Sabá e deveria assumir o governo de Israel.
e) Ao apartheid, que defendia a superioridade branca e a política de segregação racial na África do Sul.
Resposta: letra C
Como vimos, o pan-africanismo defendia a existência de uma identidade comum aos negros africanos e seus descendentes, na tentativa de unificação para libertação dos países antes colonizados.
Questão 02 (UFSM-RS)
“A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: Não aceitarei mais o papel de escravo. Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com a minha consciência. O assim chamado patrão poderá sussurrar-vos e tentar forçar-vos a servi-lo. Direis: Não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá implicar sofrimentos. Vossa prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada.” (Mahatma Gandhi)
In: MOTA, Myriam; BRAICK, Patrícia. História das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 2005. p. 615.
“Acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada” são palavras de Mahatma Gandhi (1869-1948) que, no contexto da Guerra Fria, inspiraram movimentos como
a) o acirramento da disputa por armamentos nucleares entre os EUA e a URSS, objetivando a utilização do arsenal nuclear como instrumento de dissuasão e amenização das disputas.
b) a reação dos países colonialistas europeus visando a diminuir o poder da Assembleia Geral da ONU e reforçar o poder do Secretário-Geral e do Conselho de Segurança.
c) as concessões unilaterais de independência às colônias que concordassem em formar alianças econômicas, políticas e estratégicas com suas antigas metrópoles, como a Comunidade Britânica de Nações e a União Francófona.
d) o reforço do regime de “apartheid” na África do Sul que, após prender o líder Nelson Mandela e condená-lo à prisão perpétua, procurou expandir a segregação racial para os países vizinhos, como a Rodésia e a Namíbia.
e) o não alinhamento político, econômico e militar aos EUA ou à URSS, decisão tomada pelos países do Terceiro Mundo reunidos na Conferência de Bandung, na Indonésia.
Resposta: letra E
Como vimos, as reivindicações por autonomia na Ásia e na África acarretaram, ainda, os já iminentes conflitos existentes durante a Guerra Fria entre URSS e EUA. Com isso, deu-se origem aos países não alinhados, ou seja, os do terceiro mundo.
Crédito da imagem
Fontes
CANÊDO, Letícia Bicalho. A Descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Editora Atual, 1990.
PORTAL Geledes. Pan-africanismo: o conceito que mudou a história do negro no mundo contemporâneo. Disponível em: https://www.geledes.org.br/pan-africanismo-o-conceito-que-mudou-historia-do-negro-no-mundo-contemporaneo/?gclid=CjwKCAjw0ZiiBhBKEiwA4PT9z3BdjIIHArYRP-dZo7wssVavINLEyyo8Bj7OVo_Xi-1PfdI5Yjfw5BoCgvIQAvD_BwE
Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa
Professora de História