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Marcha da Família com Deus pela Liberdade

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento político-religioso que ocorreu no Brasil em 1964, organizado por setores conservadores da sociedade civil.

Cartaz “Queremos governo cristão” na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. (Créditos: FGV CPDOC)[1]
Cartaz “Queremos governo cristão” na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. (Créditos: FGV CPDOC)[1]
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A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento político-religioso que ocorreu no Brasil em 1964. Foi organizada por setores conservadores da sociedade civil em resposta ao que percebiam como uma ameaça comunista ao país. O movimento tinha como objetivo barrar o avanço comunista, preservando a democracia e os valores cristãos, enquanto defendia a intervenção militar para impedir as mudanças sociais.

As causas defendidas incluíam a luta contra o comunismo, a proteção da propriedade privada e a defesa da moralidade cristã. Em São Paulo, a marcha reuniu cerca de 500 mil pessoas, simbolizando o apoio à intervenção militar, e, no Rio de Janeiro, uma grande manifestação ocorreu logo após o golpe, reforçando o apoio ao novo regime.

Leia também: Como começou a ditadura no Brasil?

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a Marcha da Família com Deus pela Liberdade

  • A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento político-religioso que ocorreu no Brasil em 1964, organizado por setores conservadores da sociedade.
  • O objetivo principal da Marcha da Família com Deus pela Liberdade era barrar o avanço do comunismo no Brasil e impedir as reformas progressistas de João Goulart, defendendo a intervenção militar como uma forma de preservar a democracia e os valores cristãos.
  • A marcha de São Paulo, em março de 1964, reuniu cerca de 500 mil pessoas e foi um marco de oposição ao governo de João Goulart.
  • A marcha no Rio de Janeiro, em abril de 1964, ocorreu logo após o golpe militar, demonstrando o apoio ao novo regime.
  • A Igreja Católica teve papel central na mobilização da marcha, promovendo uma campanha anticomunista que incentivou a participação de fiéis e justificou a intervenção militar como defesa da moral cristã e da sociedade brasileira.
  • A marcha legitimou o Golpe Militar de 1964, e contribuiu para o estabelecimento de uma ditadura de 21 anos.

O que foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade?

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi um movimento político-religioso que ocorreu no Brasil em 1964. Foi organizada por setores conservadores da sociedade civil em resposta ao que percebiam como uma ameaça comunista ao país.

A marcha reuniu diversos grupos, incluindo membros da elite econômica, setores religiosos e militares, e foi caracterizada como uma grande manifestação pública que expressava oposição ao governo do então presidente João Goulart, que vinha implementando reformas sociais e políticas que desagradavam aos setores mais conservadores.

A marcha teve como ponto alto um ato público de grande impacto em São Paulo que contou com a participação de centenas de milhares de pessoas. Além disso, ela é considerada um dos eventos que precipitaram o Golpe Militar de 1964, que depôs o presidente Goulart e deu início a uma ditadura militar que duraria até 1985.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi promovida como um movimento em defesa da democracia e dos valores cristãos, mas, na prática, apoiava a intervenção militar como forma de barrar o avanço das reformas progressistas propostas pelo governo.

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Contexto histórico da Marcha da Família com Deus pela Liberdade

O contexto histórico da Marcha da Família com Deus pela Liberdade remonta aos anos que precederam o Golpe Militar de 1964. O Brasil vivia um período de instabilidade política e econômica, marcado por pressões sociais e pela polarização ideológica.

Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, João Goulart assumiu a presidência em meio à forte resistência de setores conservadores, que temiam sua ligação com movimentos de esquerda. Goulart tentou implementar uma série de reformas, como a reforma agrária e a reforma trabalhista, que geraram reações contrárias de setores conservadores, incluindo latifundiários, empresários, a classe média e a Igreja Católica.

A Guerra Fria também desempenhou um papel crucial nesse contexto, com o medo do comunismo sendo alimentado pela retórica anticomunista, que dominava a política global. A Revolução Cubana, em 1959, e a crescente influência socialista na América Latina intensificaram esse temor.

No Brasil, a esquerda buscava ampliar seus espaços políticos, o que levou a uma reação conservadora. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade surgiu como uma resposta direta a essa ascensão das forças progressistas, simbolizando o medo de uma “cubanização” do Brasil.

Foto em preto e branco de pessoas andando na ruaDescrição gerada automaticamente
Mulheres seguram cartaz “O Brasil não será uma nova Cuba” no contexto da Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Objetivos da Marcha da Família com Deus pela Liberdade

O principal objetivo da Marcha da Família com Deus pela Liberdade era barrar o avanço das reformas propostas pelo governo de João Goulart, que os organizadores do movimento associavam ao comunismo.

A marcha tinha um caráter explicitamente anticomunista, e seus líderes se apresentavam como defensores da democracia, da família e dos valores cristãos. Para eles, as reformas estruturais que Goulart pretendia implementar, como a reforma agrária e a reforma urbana, ameaçavam a propriedade privada e a ordem social.

Além disso, o movimento tinha como objetivo explícito mobilizar a sociedade civil para apoiar uma intervenção militar que restaurasse a ordem e impedisse o que consideravam ser um iminente golpe comunista. A marcha também buscou demonstrar a força e coesão dos setores conservadores, reafirmando os valores tradicionais da família, da pátria e da religião como pilares fundamentais da sociedade brasileira.

Assim, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi não apenas uma manifestação popular mas também uma tentativa de legitimar a intervenção militar e de evitar mudanças estruturais na sociedade brasileira.

Causas defendidas pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade

Entre as principais causas defendidas pela Marcha da Família com Deus pela Liberdade estavam o anticomunismo, a preservação da propriedade privada e a defesa dos valores cristãos tradicionais, como a família e a moralidade religiosa.

O movimento se posicionava contra qualquer forma de socialismo ou comunismo, vistos como ameaças à ordem capitalista e à estabilidade social do país. A ideologia da marcha se baseava no medo de que as reformas propostas por João Goulart pudessem abrir caminho para um regime socialista semelhante ao de Cuba.

A defesa da moralidade cristã e da família nuclear também era uma bandeira central da marcha, refletindo o papel importante da Igreja Católica na mobilização do evento.

Os organizadores argumentavam que o governo de Goulart estava promovendo a desordem social e moral, colocando em risco os valores fundamentais da sociedade brasileira. Assim, a marcha se colocou como um movimento de preservação das tradições e da identidade nacional, em oposição às mudanças propostas pela esquerda.

Leia também: Governo Castello Branco — o primeiro governo após o início da ditadura

As Marchas da Família com Deus pela Liberdade

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade não foi um evento isolado. Além da grande marcha realizada em São Paulo, ocorreram outras marchas em diversas cidades do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, mobilizando setores conservadores da sociedade em apoio à intervenção militar.

Esses eventos contaram com a participação de diversos grupos religiosos, empresariais, políticos e militares, que viam nas marchas uma forma de pressionar o governo e de mostrar apoio às Forças Armadas.

  • São Paulo: realizado em 19 de março de 1964, foi o evento mais emblemático do movimento. Estima-se que 500 mil pessoas tenham participado da manifestação, que começou na Praça da Sé e percorreu as ruas do centro da cidade. Entre os participantes estavam figuras de destaque da elite paulista, líderes religiosos, políticos conservadores e membros das Forças Armadas. A marcha foi acompanhada por discursos inflamados contra o comunismo e em defesa da liberdade e da família. Esse evento foi um dos principais marcos que precipitaram o golpe militar que deporia João Goulart poucos dias depois.
  • Rio de Janeiro: realizada em 2 de abril de 1964, logo após o golpe militar, a marcha serviu como uma demonstração de apoio ao novo regime militar e à deposição de Goulart. No Rio, assim como em São Paulo, o evento contou com a participação de membros da classe média, religiosos e militares, que celebravam a “restauração da ordem” no país. A manifestação no Rio de Janeiro reforçou o caráter nacional do movimento e consolidou o apoio da sociedade civil ao regime militar recém-instalado. Também mobilizou milhares de pessoas.

A Igreja e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade

A Igreja Católica desempenhou um papel fundamental na organização e mobilização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Setores conservadores da Igreja se uniram ao movimento em uma cruzada contra o comunismo, que consideravam uma ameaça aos valores cristãos e à moralidade da sociedade brasileira. A hierarquia católica brasileira, especialmente a partir do final da década de 1950, estava fortemente engajada na luta anticomunista, e o apoio às marchas foi uma extensão dessa postura.

Bispos, padres e freiras participaram ativamente das marchas, incentivando a adesão de seus fiéis e justificando a necessidade de uma intervenção militar para “salvar” o Brasil de uma suposta revolução comunista. Além disso, a Igreja Católica organizou orações e missas em prol do movimento, reforçando a ideia de que a marcha era não apenas uma manifestação política como também era uma defesa espiritual da nação. Para saber mais sobre, leia: A relação entre a Igreja Católica e a ditadura no Brasil.

Consequências da Marcha da Família com Deus pela Liberdade

As consequências da Marcha da Família com Deus pela Liberdade foram profundas para a história política do Brasil. A marcha ajudou a legitimar o Golpe Militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura que duraria 21 anos. O movimento também contribuiu para fortalecer a aliança entre setores conservadores da sociedade civil e as Forças Armadas, criando uma base de apoio popular para o novo regime militar.

No entanto, as consequências mais duradouras da marcha foram a repressão política e a supressão das liberdades democráticas no Brasil. Sob o regime militar, houve censura à imprensa, perseguição a opositores políticos, tortura e prisões arbitrárias.

A marcha, promovida como uma defesa da liberdade, acabou se tornando um símbolo de apoio a um regime que violou sistematicamente os Direitos Humanos e restringiu a participação política. Embora o movimento tenha se dissipado após a consolidação do regime militar, seu legado é frequentemente revisitado nos debates sobre o papel das elites conservadoras, da Igreja Católica e das Forças Armadas na política brasileira.

Créditos da imagem

[1] FGV CPDOC (reprodução)

Fontes

CAMPOS, Tiago. Compêndio de História do Brasil – Volume III: República. São Paulo, Cosenza, 2024

FAUSTO, Bóris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2012

Escritor do artigo
Escrito por: Tiago Soares Campos Bacharel, licenciado e doutorando em História pela USP. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito pela PUC. É professor de História e autor de materiais didáticos há mais de 15 anos.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

CAMPOS, Tiago Soares. "Marcha da Família com Deus pela Liberdade"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/marcha-da-familia-com-deus-pela-liberdade.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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