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A Guerra dos Emboabas, que aconteceu entre os anos de 1708 e 1709, envolveu paulistas e estrangeiros pelo domínio da exploração da região das minas. Os bandeirantes paulistas foram os primeiros a descobrir ouro na região e queriam ser os únicos a explorar a riqueza. Porém, com a chegada constante de pessoas vindas de outras regiões brasileiras e também de Portugal, a exclusividade bandeirante não se realizou. Não importava mais quem era o primeiro a chegar, mas sim extrair o maior número possível de ouro e outros metais preciosos que fossem encontrados.
O conflito no início do século XVIII trouxe mudanças para o Brasil Colônia. O sertão brasileiro começou a ser povoado, pois o litoral não trazia mais lucro com o açúcar. A coroa portuguesa fez-se presente, dividiu as capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro e criou a Capitania das Minas de Ouro. Além disso, a cobrança de impostos passou a ser uma rotina para os exploradores da região. Era possível explorar os metais preciosos desde que se pagassem os impostos à coroa.
Após a derrota dos emboabas, os paulistas foram para a região onde hoje é Goiás e Mato Grosso, descobrindo novas minas de metais preciosos e expandindo o ciclo do ouro para o oeste brasileiro.
Leia também: Capitanias hereditárias – forma de administração e colonização da América Portuguesa
Tópicos deste artigo
- 1 - Antecedentes históricos da Guerra dos Emboabas
- 2 - Contexto histórico da Guerra dos Emboabas
- 3 - Emboabas
- 4 - Causas da Guerra dos Emboabas
- 5 - Conflito
- 6 - Fim da Guerra dos Emboabas
- 7 - Consequências da Guerra dos Emboabas
- 8 - Exercícios resolvidos
Antecedentes históricos da Guerra dos Emboabas
Desde a chegada ao Brasil, em 1500, que os portugueses buscavam metais preciosos na América. Os espanhóis já estavam lucrando com os metais encontrados em seus domínios no continente, e os portugueses acreditavam que aquelas novas terras também poderiam gerar riqueza para o rei. Porém, assim que desembarcaram, não acharam nenhuma pedra preciosa. Como não queriam perder as terras conquistadas do outro lado do Atlântico, os portugueses extraíram pau-brasil, árvore que se encontrava abundantemente no litoral brasileiro. Mas foi na cana-de-açúcar que Portugal iniciou de fato a exploração da sua nova colônia. Se não foi possível fazer riqueza com metais preciosos, o jeito foi lucrar com o comércio açucareiro.
Entre os séculos XVI e XVII, o Brasil tornou-se grande produtor de açúcar. O êxito da colônia portuguesa despertou a cobiça de várias nações europeias, como a Holanda. Os holandeses tinham o domínio do refino e do comércio açucareiro na Europa, mas queriam também dominar o plantio da cana.
Dessa forma, entre os anos de 1630 a 1654, os holandeses invadiram o Nordeste brasileiro e apossaram-se dos engenhos de açúcar. Os portugueses conseguiram expulsar os invasores de sua colônia após uma intensa batalha, o que provocou sérios prejuízos para a economia açucareira.
Expulsos do Brasil, os holandeses partiram para as Antilhas e lá aplicaram todo o conhecimento adquirido enquanto dominaram o Nordeste brasileiro. Assim, a Holanda tornou-se o principal comerciante de açúcar e desbancou Portugal. Sem poder reagir à concorrência, a coroa portuguesa teve que se reajustar para descobrir novas formas de continuar obtendo grande lucro no Brasil.
Contexto histórico da Guerra dos Emboabas
A crise do açúcar reacendeu a busca pelo ouro. Se o litoral atravessava uma grande crise econômica por conta da desvalorização do açúcar no mercado europeu, a solução foi migrar para o interior da colônia e explorar suas potencialidades. A coroa portuguesa organizou expedições que saíram do litoral em direção ao sertão brasileiro em busca de metais preciosos. Essas expedições foram chamadas de Entradas.
Mais ao sul estava a Capitania de São Vicente. Acima da Serra do Mar, estava um vilarejo fundado pelos padres jesuítas que se chamava São Paulo de Piratininga. Ao contrário do Nordeste, a produção de açúcar não foi marcante na região. Os paulistas viviam uma vida totalmente diferente. A economia era de subsistência, ou seja, para produção interna, e não para abastecer o mercado europeu. Por isso, a produção não era tão intensa como no Nordeste.
Os paulistas precisavam de mão de obra e não tinham acesso livre ao trabalho escravo oriundo da África. Era preciso avançar para o interior em busca dos indígenas, que fugiram do litoral após a chegada dos portugueses. As Bandeiras, diferentemente das Entradas, eram expedições que saíam de São Paulo em direção ao sertão brasileiro em busca de índios. A organização e o financiamento dessas expedições ficavam a cargo dos próprios paulistas, que, a partir de então, ficaram conhecidos como bandeirantes. Além disso, os paulistas também estavam em busca de metais preciosos. Circulavam no Brasil Colônia inúmeras lendas a respeito, o que despertava o espírito aventureiro dos colonos. Lucas Figueiredo aborda esse assunto no livro “Boaventura – A corrida do ouro no Brasil”.
Em meados do século XVII, as expedições bandeirantes começaram a ocupar o sertão. Alguns índios colaboraram durante a viagem, seja como guias ao abrir caminho, seja orientando a melhor forma de resistir por tanto tempo em uma região desconhecida. Inúmeras rodovias que atualmente saem da capital paulista foram abertas nesse período, e nomes dos bandeirantes batizam muitas delas, como Via Anhanguera, Rodovia Raposo Tavares, Rodovia dos Bandeirantes e Rodovia Fernão Dias.
No final do século XVII, os bandeirantes descobriram as primeiras minas de ouro na região de Sabará (atualmente a cidade se localiza na região metropolitana de Belo Horizonte). Os primeiros indícios de ouro foram encontrados nos vales dos rios e chamados de “ouro de aluvião”. A notícia da descoberta de metais preciosos no interior do Brasil provocou uma corrida de gente desejosa em se enriquecer. Assim, começaram a se formar as primeiras cidades, como Vila Rica, São João Del Rei, Mariana.
A região das minas estava repleta de aventureiros que largaram tudo para mudar de vida com o ouro extraído. Como os metais preciosos foram descobertos por expedições particulares, a Coroa Portuguesa não tinha encontrado uma forma de se apossar da região e começar a usufruir dos lucros oriundos da extração da riqueza tão desejada.
O aglomerado de pessoas disputando palmo a palmo os metais preciosos gerou conflitos. Não importava se foram os bandeirantes os primeiros a chegar à região e descobrir o ouro, a mina pertencia a quem a encontrasse primeiro. Quem achasse pepitas de ouro ao longo dos rios poderia ficar com elas. Não havia regras para organizar o espaço. Uma hora ou outra, a região seria palco de conflitos armados, como de fato foi entre 1708 e 1709, quando estourou a Guerra dos Emboabas.
Emboabas
A palavra “emboaba” tem origem indígena, da língua tupi. Os índios costumavam utilizar esse termo para denominar as aves que tinham penas por todo o seu corpo. Os bandeirantes foram os primeiros a chegar à região das minas, mas a notícia da descoberta do ouro provocou a vinda de milhares de pessoas que também queriam usufruir daquela riqueza. A palavra “emboaba” foi utilizada pelos bandeirantes para chamar os forasteiros que chegaram depois na região.
Veja também: Língua-geral – língua utilizada no interior da colônia para estabelecer comunicação com os indígenas
Causas da Guerra dos Emboabas
A Guerra dos Emboabas foi motivada pela disputa em torno das minas de ouro. Os bandeirantes queriam obter da coroa portuguesa o direito de explorar exclusivamente os metais preciosos encontrados. Porém, a grande quantidade de brasileiros e portugueses que se dirigiam para o local tornou inviável tal pedido. A Guerra dos Emboabas foi travada entre bandeirantes paulistas e os outros aventureiros que chegaram ao local depois.
Antes de a guerra começar de fato, paulistas e emboabas já tinham passado por alguns desentendimentos. Os forasteiros mataram dois chefes paulistas que tentaram impor o domínio bandeirante na região. Contrariando as ordens da coroa portuguesa, os emboabas declararam Manuel Nunes Viana como governador da região das minas e decidiram expulsar os paulistas.
Conflito
O principal objetivo dos emboabas era enfraquecer o domínio paulista. Para isso, Manuel Nunes Viana liderou expedições para o combate. Os paulistas eram liderados pelo bandeirante Borba Gato. Foi numa região chamada Capão da Traição, em lugar próximo da atual cidade mineira de Tiradentes, que paulistas e emboabas travaram a batalha mais trágica e determinante para o destino da guerra. Os emboabas derrotaram os paulistas e conseguiram exercer o seu domínio.
Fim da Guerra dos Emboabas
A Guerra dos Emboabas terminou com a vitória dos estrangeiros. Mesmos derrotados, os paulistas não desistiram de explorar metais preciosos. Eles organizaram expedições em direção a Mato Grosso e Goiás.
Consequências da Guerra dos Emboabas
Após o fim da guerra, a coroa portuguesa tomou a iniciativa de intervir diretamente na região das minas, evitando que se transformasse em um território livre. Ocorreu a separação das capitanias de São Paulo e Rio de Janeiro e também a criação da Capitania das Minas de Ouro. Outra medida tomada pela coroa foi a cobrança de impostos sobre o ouro extraído. Começava a ser cobrado o quinto, ou seja, um quinto do ouro extraído ficava com o rei de Portugal.
A derrota dos paulistas não abalou os ânimos dos bandeirantes, que se dirigiram para Goiás e Mato Grosso, mostrando que a região mineradora não se concentrava apenas em um lugar. A exploração do ouro promoveu a interiorização do Brasil, e foram fundadas várias vilas para acomodar os aventureiros que desejavam se enriquecer nas minas. A economia também se diversificou, pois não era dependente apenas da exportação dos metais preciosos para a metrópole. O comércio dentro das vilas tornou-se lucrativo.
A coroa portuguesa intensificou a fiscalização sobre a exploração do ouro por meio da cobrança de impostos, o que gerou descontentamento entre os mineradores. Portugal começou a se tornar um peso para o Brasil, e as medidas absolutistas do rei português foram um dos motivos que desencadearam uma série de revoltas na região das minas e também a possibilidade de o Brasil tornar-se independente.
Acesse também: Inconfidência Mineira – revolta de caráter separatista organizada pela elite mineira
Exercícios resolvidos
Questão 1 - Assinale a alternativa que corretamente aponta o motivo que desencadeou a Guerra dos Emboabas.
A) Disputa pelo domínio da região das minas entre paulistas e estrangeiros.
B) Os emboabas queriam vingar a invasão holandesa em 1640.
C) Tentativa de proclamar a independência do Brasil.
D) Invasão dos espanhóis na região das minas
Resolução
Alternativa A. Os paulistas foram os primeiros a descobrir minas de ouro no interior do Brasil. Por conta disso, eles esperavam obter a exclusividade na exploração dos metais preciosos. A chegada de pessoas vindas de outras regiões brasileiras e também de Portugal fez com que a região se tornasse muito disputada, o que motivou a guerra.
Questão 2 - Qual foi o desfecho da Guerra dos Emboabas?
A) Os paulistas derrotaram os emboabas e tornaram-se os únicos a explorar a região das minas.
B) A coroa portuguesa dividiu as minas de forma igual entre paulistas e estrangeiros.
C) Os emboabas venceram, e foi criada a Capitania das Minas de Ouro.
D) Os paulistas foram derrotados e desistiram da exploração do ouro.
Resolução
Alternativa C. Os emboabas derrotaram os paulistas na batalha ocorrida no Campo da Traição. A coroa portuguesa atuou de forma efetiva na região das minas e criou a Capitania das Minas de Ouro.
Crédito da imagem
Por Carlos César Higa
Professor de História