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Língua-geral no contexto do Brasil Colonial

A língua-geral, no contexto do Brasil Colônia, teve um peso enorme, pois foi a partir dela que jesuítas e bandeirantes conseguiram comunicar-se com os índios do interior da colônia.

O Marquês de Pombal foi um dos responsáveis pelo progressivo desuso da língua-geral no Brasil Colonial.
O Marquês de Pombal foi um dos responsáveis pelo progressivo desuso da língua-geral no Brasil Colonial.
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Sabemos que, após a descoberta do Brasil em 1500, a coroa portuguesa não teve interesse imediato em colonizar as novas terras, limitando-se, portanto, a conceder os trechos dos terrenos recém-descobertos a aventureiros e exploradores particulares. Mais tarde, na década de 1530, começou, de fato, o empreendimento colonizador com a criação do primeiro Governo-Geral da colônia. A partir daí, o Brasil passou a receber colonos lusitanos e a ter os primeiros vilarejos construídos. Foi também a partir desse período que começaram a vir para cá as expedições de padres jesuítas com o objetivo de expandir o cristianismo para o “Novo Mundo” e converter os nativos indígenas.

Como notórios intelectuais que eram, os jesuítas logo conseguiram assimilar e compreender as línguas nativas faladas pelos índios. Com o tempo, o conhecimento dessas línguas, associado à estrutura da língua portuguesa, possibilitou aos jesuítas a criação de um novo idioma, que passou a ser largamente usado em quase todo o território colonial brasileiro. Esse idioma ficou conhecido como “língua-geral” ou “língua brasílica”. O ponto de partida da língua-geral foi o tupi, língua falada pelos tupinambás, povos indígenas que habitavam o litoral do Brasil. O desenvolvimento dessa língua possibilitou um maior entendimento da organização social dos índios e, por conseguinte, facilitou a ação de conversão operada pelos jesuítas.

Um dos primeiros tratados sistemáticos sobre a língua-geral foi escrito pelo padre português Luís Figueira e publicado em 1621, em Lisboa. Seu título era: Arte da Língua Brasílica. Muitos tratados como esse foram escritos com o objetivo de auxiliar os novos missionários que seguiriam para a Colônia para adentrar os sertões e converter os povos indígenas. Outro exemplo, já do fim do século XVIII, é o Diccionario Anonymo da Lingua Geral do Brasil, também publicado em Lisboa, em 1795. O subtítulo desse dicionário dá ao leitor a dimensão de sua principal utilidade: “Obra necessária aos ministros do altar que empreenderem a conversão de tantos milhares de almas que ainda se acham dispersas pelos vastos sertões do Brasil, sem o lume da Fé e Batismo.”

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Para além do uso apenas por parte dos missionários jesuítas, a língua-geral tornou-se, nos séculos XVII e XVIII, o principal idioma falado no contexto do Brasil Colônia, superando o português. Os bandeirantes paulistas, por exemplo, valiam-se da língua-geral e também a empregavam em suas expedições pelo sertão adentro. Muitos nomes de rios, vilas e cidades do interior de São Paulo, Goiás, Maranhão, Ceará e Amazonas resultaram do uso da língua-gerall.

Na região Norte e Nordeste da colônia, inclusive, a língua-geral recebeu uma configuração diversa daquela usada pelos sertanistas paulistas. Até os dias de hoje ainda se fala entre os caboclos e índios do estado do Amazonas a variação nheengatu da língua-geral. Um dos grandes estudiosos dessa variação foi Pedro Luiz Sympson, militar e político amazonense que publicou a obra Gramática da língua brasileira, brasílica, tupi ou nheengatu, em 1876.

A língua-geral, apesar de ainda ser falada em pequenos nichos populacionais no interior do Brasil, é considerada extinta desde o início do século XX. O processo de extinção dessa língua ocorreu com as reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal, ministro da coroa portuguesa, no século XVIII. Um dos pontos das reformas de Pombal era a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas a fim de ter maior controle institucional, já que os jesuítas tinham um grande peso na organização social do Brasil Colônia. Com a perseguição e expulsão dos jesuítas, o uso da língua-geral ficou comprometido e sua extinção foi inevitável.


Por Me. Cláudio Fernandes

Escritor do artigo
Escrito por: Cláudio Fernandes Escritor oficial Brasil Escola

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

FERNANDES, Cláudio. "Língua-geral no contexto do Brasil Colonial"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/lingua-geral-no-contexto-brasil-colonial.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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