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As expedições denominadas entradas e bandeiras tiveram como objetivo a captura de índios para o trabalho escravo e a procura por metais preciosos, como ouro, prata e diamante. Logo após a crise do açúcar, iniciada em meados do século XVI, tanto a Coroa portuguesa como particulares organizaram expedições para explorar outros tipos de riqueza no interior da colônia.
A descoberta de metais preciosos nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso iniciou o povoamento delas e as disputas pelas minas, provocando conflitos armados e a imediata intervenção portuguesa para organizar o fluxo de pessoas no local, mas também obter lucros com a mineração.
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Tópicos deste artigo
- 1 - O que foram as entradas e bandeiras?
- 2 - A importância das entradas e bandeiras para o Brasil
- 3 - Contexto histórico das entradas e bandeiras
- 4 - Entradas
- 5 - Bandeiras
- 6 - Resumo sobre entradas e bandeiras
- 7 - Exercícios resolvidos
O que foram as entradas e bandeiras?
Entradas e bandeiras foram expedições realizadas no século XVIII, em direção ao interior do Brasil, com o objetivo de encontrar metais preciosos e aprisionar índios para serem mão de obra escrava. As diferenças entre as duas expedições são:
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as entradas foram financiadas pela Coroa portuguesa e tiveram como ponto de partida o litoral;
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as bandeiras foram expedições particulares saídas de São Paulo.
A importância das entradas e bandeiras para o Brasil
Até o século XVII, a maioria dos colonos que moravam no Brasil esteve concentrada no litoral por causa do comércio açucareiro. Com a crise dessa atividade comercial, foi preciso encontrar outras fontes de riqueza. As entradas e bandeiras foram expedições que iniciaram a ocupação do interior do Brasil. Quando as primeiras minas de ouro foram descobertas, a notícia espalhou-se rapidamente. Milhares de forasteiros vindos de outras regiões do Brasil e de Portugal chegaram a Minas Gerais para enriquecerem-se rapidamente com os metais preciosos.
O êxito na mineração provocou mudanças na administração da colônia. A capital foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, que estava próximo da região de Minas, o que facilitava a fiscalização por parte da Coroa bem como o escoamento da produção aurífera para o porto da nova capital em direção a Portugal. O sertão brasileiro começou a ser povoado e, próximo das minas, surgiram as primeiras cidades, como Mariana, Ouro Preto, Pirenópolis, Cidade de Goiás.
O somatório entre o grande número de pessoas explorando os metais preciosos e a forte fiscalização do rei para que o imposto fosse pago em dia despertaram os primeiros movimentos contra a presença portuguesa no Brasil.
As notícias vindas da Europa a respeito do movimento iluminista, que pregou o liberalismo político e econômico, a independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, foram motivos de discussões sobre a urgência em romper-se os laços com Portugal e os próprios brasileiros explorarem o seu território. O deslocamento do eixo econômico do Nordeste para a região Centro–Sul do Brasil trouxe mudanças que refletiriam na independência, em 1822.
Contexto histórico das entradas e bandeiras
A União Ibérica, junção das coroas portuguesa e espanhola, no século XVII, trouxe mudanças para o Brasil. A anulação do Tratado de Tordesilhas, linha imaginária que dividia o continente americano entre as coroas ibéricas, motivou as primeiras inserções no sertão brasileiro. Se o tratado era visto como uma proibição, a sua anulação significou uma possibilidade de conhecer e explorar o interior da colônia.
A invasão holandesa no Nordeste brasileiro, entre 1630 e 1650, modificou a produção açucareira no Brasil. A expulsão dos invasores levou à crise do açúcar. Os holandeses expulsos foram para as Antilhas e iniciaram a plantação da cana-de-açúcar, tornando-se fortes concorrentes de Portugal. Como não tinha meios para responder à ação holandesa no comércio europeu, o açúcar brasileiro desvalorizou-se consideravelmente, desencadeando uma crise socioeconômica no Nordeste.
O litoral brasileiro, que havia sido a principal fonte de riqueza para Portugal por dois séculos, agora era apenas prejuízos. A Coroa portuguesa precisou agir rápido para reverter a situação e manter a exploração de sua colônia. Desde a sua chegada, em 1500, que os portugueses esperavam encontrar metais preciosos no Brasil. Como a Espanha encontrou várias minas de ouro na região de Potosi e lucrou com a mineração, Portugal esperava o mesmo destino quando Pedro Álvares Cabral aqui desembarcou, em 22 de abril de 1500.
No entanto, as minas não estavam no litoral, mas sim no interior. Enquanto elas não foram descobertas, os portugueses perceberam que o litoral nordestino era a região ideal para a plantação de cana-de-açúcar. O comércio açucareiro estava em ascensão no comércio europeu, e o litoral brasileiro foi, então, reservado para a plantação da cana.
A economia colonial brasileira não foi baseada apenas no açúcar. Não havia uma homogeneidade entre as capitanias. São Paulo seguia o sentido oposto do Nordeste. A produção paulista era de subsistência, ou seja, restrita à região e consumida pelos próprios paulistas. Não havia necessidade de fornecer matéria-prima para a Europa. Por isso, a mão de obra indígena era tão cara aos paulistas.
Enquanto o Nordeste assistia à chegada dos primeiros escravos negros para trabalharem na plantação de cana-de-açúcar, para os paulistas, a mão de obra mais viável era a do índio. Por isso, os bandeirantes, quando iniciaram suas expedições para o sertão, interessaram-se pela captura desses últimos. Foi por essa razão que as bandeiras saíram de São Paulo e foram financiadas por particulares. O interesse paulista diferenciava-se do interesse da Coroa.
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Entradas
→ Principais características
Desde o desembarque português no Brasil, em 1500, que a Coroa organizou entradas para explorar o sertão brasileiro. No entanto, as expedições não iam tão longe do litoral por causa do desconhecimento da região e do temor de ataques de tribos indígenas. No século XVII, as entradas entraram em declínio e as bandeiras que saíam de São Paulo ganharam força.
→ Participantes das entradas
Américo Vespúcio, em 1504, foi o primeiro a organizar a entrada em direção ao sertão brasileiro saindo de Cabo Frio. Martim Afonso de Sousa organizou duas entradas, uma saindo da Guanabara, e outra, de São Vicente. A instalação do Governo Geral no Brasil aumentou o número de expedições que saíram do litoral em direção ao interior, alcançando o interior da Bahia e de Minas Gerais.
→ Exemplos de entradas
Os exemplos de entradas são:
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Em 1554, portugueses, índios aliados e padres jesuítas organizaram uma expedição que resultou na formação da vila São Paulo de Piratininga.
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Em 1518, o capitão Belchior Dias Moreira chefiou a entrada que seguiu para o Sergipe em busca de metais preciosos, porém sem sucesso.
Bandeiras
→ Principais características das bandeiras
As bandeiras foram expedições que saíram da capitania de São Paulo em direção ao sertão brasileiro. Foram os bandeirantes os primeiros a encontrarem ouro às margens dos rios em Minas Gerais. Essas expedições tiveram como objetivo, além da procura pelo ouro, a captura de índios para trabalharem nas lavouras paulistas.
→ Participantes das bandeiras
Ao contrário das entradas, que foram organizadas e financiadas pela Coroa portuguesa, as bandeiras foram expedições particulares. Alguns participantes destacaram-se nessas expedições:
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Bartolomeu Bueno da Silva: conhecido como Anhanguera (em tupi-guarani significa Diabo Velho) foi o bandeirante que liderou a expedição em direção à região de Goiás. Com a descoberta do ouro, Bartolomeu fundou a Vila Boa de Goiás. É famosa a história do seu encontro com os índios que habitavam a região. Pegando uma bacia e enchendo-a de cachaça, Bartolomeu ateou fogo nela, ameaçando os índios de que, se não mostrassem onde estava o ouro, ele colocaria fogo nas águas dos rios da região.
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Borba Gato: participou das expedições em direção à região das minas. Ele participou da Guerra dos Emboabas, conflito armado envolvendo bandeirantes e forasteiros pelo domínio das minas.
→ Tipos de bandeiras
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Bandeiras de apresamento: adentraram no sertão para aprisionarem índios e levarem-nos para São Paulo para trabalharem como escravos.
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Bandeiras de prospecção: buscaram encontrar e explorar metais preciosos.
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Bandeiras de contrato: perseguiram aos escravos fugidos e destruíram seus quilombos.
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→ Exemplos de bandeiras
As bandeiras organizadas por Bartolomeu Bueno da Silva tornaram-se famosas porque descobriam ouro em regiões mais distantes das de Minas, em Goiás e Mato Grosso. Essas expedições foram responsáveis também pela descoberta de rios até então desconhecidos pelos colonos, como o rio Araguaia, que, tempos depois, destacou-se pelo transporte de mercadorias e de pessoas.
Resumo sobre entradas e bandeiras
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As entradas e bandeiras foram expedições que colaboraram na ocupação e exploração do interior do Brasil.
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As expedições bandeirantes foram responsáveis pela descoberta de metais preciosos na região de Minas.
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Três tipos de bandeiras: de prospecção, de aprisionamento e de contrato.
Exercícios resolvidos
Questão 1 – As entradas e bandeiras foram expedições que adentraram no sertão brasileiro em busca de:
A) metais preciosos e índios para mão de obra escrava.
B) vingança contra a invasão holandesa.
C) fundar cidades no interior do Brasil, atraindo pessoas para essas regiões.
D) catequizar os índios após a expulsão dos jesuítas.
Resolução
Alternativa A. As expedições conhecidas como entradas e bandeiras adentraram no interior em busca de metais preciosos e de índios para trabalharem como escravos. Essas expedições colaboraram na ocupação do interior do Brasil.
Questão 2 – Sobre as bandeiras de contrato, pode-se afirmar que:
A) eram expedições em direção ao Norte do Brasil, para explorar as drogas do sertão.
B) perseguiram os escravos que fugiram das fazendas e destruíram os quilombos.
C) reforçaram, no litoral brasileiro, a segurança contra as invasões estrangeiras.
D) aumentaram o contingente do Exército na luta contra o Paraguai.
Resolução
Alternativa B. As bandeiras de contrato foram expedições que perseguiram os escravos fugitivos. Além disso, foram responsáveis pela destruição dos quilombos, locais onde os escravos fugitivos reuniam-se para proteger-se e sobreviver após a fuga.
Créditos das imagens
[1] Eugenio Hansen, OFS / Commons
Por Carlos César Higa
Professor de História