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Anísio Teixeira foi um importante educador brasileiro do século XX que defendia uma educação pública, gratuita e laica. Ele acreditava que a educação deveria ser um direito de todos e atuou, durante grande parte de sua vida, desenvolvendo projetos na gestão pública da educação. Teve uma morte misteriosa, em março de 1971.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Anísio Teixeira
- 2 - Juventude de Anísio Teixeira
- 3 - Vida profissional de Anísio Teixeira
- 4 - Últimos anos de Anísio Teixeira
Resumo sobre Anísio Teixeira
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Anísio Teixeira nasceu em Caitité, na Bahia, em 1900.
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Começou a trabalhar com a educação na década de 1920 ao ser convidado para um cargo público no governo da Bahia.
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Foi um dos assinantes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
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Era defensor de uma escola pública, gratuita e laica que pudesse oferecer oportunidades a todos.
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Morreu, em condições misteriosas, em março de 1971.
Juventude de Anísio Teixeira
Anísio Spínola Teixeira nasceu na cidade de Caetité, no estado da Bahia, em 12 de julho de 1900. Ele era oriundo de uma família influente na política local de Caetité, uma vez que seu pai, além de médico, era um chefe político. Assim, pertencia a uma família que gozava de uma boa condição financeira.
Seu pai se chamava Deocleciano Pires Teixeira e sua mãe, Anna Spínola Teixeira. Sua formação escolar foi de boa qualidade, e ele estudou em dois colégios jesuítas. O primeiro deles foi o Instituto São Luiz Gonzaga, em Caetité, e o segundo foi o Colégio Antônio Vieira, em Salvador.
Na sua juventude, Anísio Teixeira cogitou seguir a vida eclesiástica devido à influência dos jesuítas, mas seu pai não permitiu isso porque queria que o filho seguisse na política. Assim Anísio Teixeira seguiu sua formação escolar, matriculando-se na Faculdade de Direito no Rio de Janeiro. Formou-se em 1922.
Vida profissional de Anísio Teixeira
Em 1924, Anísio Teixeira deu início a sua carreira profissional e ingressou no serviço público ao ser convidado pelo governador da Bahia, Francisco Marques de Góes Calmon, para o cargo de inspetor-geral de ensino. Anísio Teixeira esteve à frente dessa função de 1924 a 1928 e pôde realizar algumas reformas no sistema escolar da Bahia.
Como parte de seu trabalho, Anísio Teixeira realizou uma série de viagens para os Estados Unidos e a Europa, e nessas viagens estudou, via observação, os modelos educacionais existentes nos dois locais. As viagens, portanto, serviram como base para que ele pudesse exercer suas funções na Bahia.
Entretanto, ele não seguiu por muito mais tempo nessa função, pois, em 1928, demitiu-se por não concordar com as propostas para a educação de Vital Henrique Batista Soares, o novo governador da Bahia. Depois disso, Anísio Teixeira foi aos Estados Unidos para dar início aos seus estudos de pós-graduação.
Nos Estados Unidos ele estudou no Teachers College, parte da Columbia University, obtendo o título de Master of Arts, que corresponde a um mestrado em humanidades. Durante esse período, ele conheceu John Dewey, educador que lhe foi grande influência.
Depois que saiu do cargo público na Bahia, assumiu posição como professor na Escola Normal de Salvador e tentou eleger-se deputado federal, mas fracassou. A partir de 1931, mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá assumiu a diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal. Seu trabalho no Rio de Janeiro repercutiu nacionalmente.
Segundo a pesquisadora Clarice Nunes|1|, Anísio Teixeira realizou uma reforma no ensino primário, secundário e de adultos, além de ter criado uma universidade municipal chamada Universidade do Distrito Federal, em 1935. Anísio Teixeira é considerado o idealizador dessa nova universidade, que acabou sendo extinta alguns anos depois, em 1939.
Na década de 1930, Anísio projetou-se como um dos maiores educadores do Brasil e fez parte do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Esse documento, formulado em 1932, propunha uma reformulação da educação no Brasil e estipulava a construção de uma escola pública e laica que não permitisse que o acesso à educação fosse visto como um privilégio, mas sim como um direito de todo cidadão brasileiro.
A proposta do manifesto, e na qual Anísio acreditava, defendia uma escola que superasse o ensino tradicional e que fosse responsável por educar e formar homens livres, que participariam do processo de construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Anísio Teixeira acreditava que essa escola pública com ensino crítico e reflexivo era crucial para a consolidação da democracia no Brasil.
O ambiente político turbulento que o país começou a viver a partir da segunda metade da década de 1930 afetou a vida de Anísio Teixeira. Sua proximidade e colaboração com a Aliança Nacional Libertadora, a ANL, fez com que ele fosse perseguido pelo autoritarismo do governo de Vargas. Ele foi acusado de envolver-se com a Intentona Comunista de 1935 e, por isso, foi desligado de seu cargo público.
O ambiente autoritário da política brasileira fez com que Anísio Teixeira se afastasse da educação e da vida pública. Durante todo o período do Estado Novo, ele se dedicou a trabalhos privados, mexendo com exploração de minérios, venda de carros e tradução de livros.
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Atuação no período democrático
A deposição de Vargas, em 1945, representou a construção da primeira experiência democrática do Brasil. A partir desse período (conhecido Quarta República, Terceira República ou República de 1946), Anísio Teixeira retomou seus trabalhos no campo educacional. Sua influência nessa área fez com que ele se transformasse em conselheiro da Unesco (órgão da ONU dedicado à educação), em 1946.
Em 1947, Anísio Teixeira foi convidado pelo então governador da Bahia, Otávio Mangabeira, para trabalhar na chefia da Secretária de Educação do estado. Nesse cargo público, ele foi responsável por projetos educacionais importantes, como a Escola-Parque, onde era fornecido ao aluno alimentação, higiene, além de estudos para formá-lo como cidadão e para prepará-lo ao mercado de trabalho|1|. Esse projeto desenvolvido por Anísio Teixeira corresponde ao que conhecemos atualmente como ensino integral.
Anísio Teixeira tornou-se, na década de 1950, um dos maiores educadores do Brasil e atuou na chefia de dois importantes órgãos da educação no país: a Capes, Campanha de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior, e o Inep, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Nesse período, ele teve atuação crucial na formulação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, um dos documentos mais importantes que regem a educação brasileira.
Em 1961, ele foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília, a UnB, sendo reitor dessa instituição de junho de 1963 a abril de 1964. Ele foi afastado da reitoria logo no início da Ditadura Militar. No período autoritário, ele ainda foi aposentado compulsoriamente do serviço público.
Últimos anos de Anísio Teixeira
Com o início da Ditadura Militar, Anísio Teixeira exilou-se do país, indo morar nos Estados Unidos, onde lecionou em diversas universidades norte-americanas. Ele retornou ao Brasil em 1966, trabalhando na Fundação Getúlio Vargas (FGV), e candidatou-se à Academia Brasileira de Letras no começo da década de 1970.
Em 11 de março de 1971, Anísio Teixeira morreu, e sua morte até hoje é considerada misteriosa. Nesse dia ele fez uma palestra na FGV, e então foi na direção da casa de Aurélio Buarque de Holanda a fim de pedir seu voto para que fosse aceito na Academia Brasileira de Letras.
Entretanto, Anísio Teixeira nunca apareceu na casa do lexicógrafo, e foi encontrado, dois dias depois, morto. A versão oficial narra que ele sofreu um acidente de elevador, sendo esse o motivo de seu falecimento. Entretanto, investigações posteriores, conduzidas pela Comissão Nacional da Verdade, identificaram que Anísio Teixeira teria sido vítima da Ditadura Militar.
Testemunhas afirmaram que ele teria sido preso e levado até a Aeronáutica, onde foi interrogado. As investigações realizadas pela Comissão da Verdade nunca chegaram a respostas conclusivas, mas é provável que Anísio Texeira tenha sido morto pela ditadura em uma sessão de tortura e que seu corpo tenha sido depositado no fosso de um elevador.
Notas
|1| NUNES, Clarice. Anísio Teixeira entre nós: a defesa da educação como direito de todos. Para acessar, clique aqui.
Crédito das imagens
[1] FGV/CPDOC
Por Daniel Neves
Professor de História