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A Intentona Comunista foi uma tentativa de golpe de Estado durante o governo constitucional da Era Vargas. Ocorreu em novembro de 1935. Os militares e civis que participaram eram membros da Aliança Nacional Libertadora, esta tinha ideologia de esquerda e era liderada por Luís Carlos Prestes, que também era o presidente do PCB.
O levante foi mal organizado e eclodiu primeiro em Natal, onde os revoltosos chegaram a controlar a capital por quase quatro dias. Também ocorreram batalhas em Pernambuco e na capital do país, o Rio de Janeiro.
A Intentona Comunista foi derrotada pelas tropas legalistas, e, como consequência, houve o acirramento da perseguição a diversos membros de esquerda, muitos deles não haviam participado da intentona, e a centralização do poder nas mãos de Getúlio Vargas, que iniciou uma ditadura em 1937.
Leia também: O que foi a Coluna Prestes?
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Intentona Comunista
- 2 - Videoaula sobre Intentona Comunista
- 3 - O que foi a Intentona Comunista?
- 4 - Onde aconteceu a Intentona Comunista?
- 5 - Contexto histórico da Intentona Comunista
- 6 - Qual era o objetivo da Intentona Comunista?
- 7 - Quem foi o líder da Intentona Comunista?
- 8 - Por que a Intentona Comunista fracassou?
- 9 - Quais foram as consequências da Intentona Comunista?
- 10 - Exercícios resolvidos sobre Intentona Comunista
Resumo sobre Intentona Comunista
- A Intentona Comunista foi uma tentativa de golpe de Estado comandada pela ANL e que ocorreu em 1935.
- A ação ocorreu após Getúlio Vargas tornar a Aliança Nacional Libertadora ilegal.
- Na década de 1930, o Brasil tinha dois grupos radicais, a ANL, de ideologia comunista, e a AIB, de ideologia fascista.
- Luís Carlos Prestes morou entre 1931 e 1934 na União Soviética, onde recebeu treinamento militar, formação ideológica e política.
- As principais batalhas ocorreram em Natal, Recife e Rio de Janeiro.
- Aproximadamente 120 pessoas perderam a vida, cerca de 300 ficaram feridas.
- No Rio de Janeiro, as tropas legalistas foram lideradas pelo general Eurico Gaspar Dutra.
Videoaula sobre Intentona Comunista
O que foi a Intentona Comunista?
A Intentona Comunista foi uma tentativa feita por membros do Exército Brasileiro, a maior parte deles ligada à Aliança Nacional Libertadora, de tomar o poder por meio de um golpe de Estado.
A palavra intentona significa algo como um ataque impensado, um intento louco, ou algo próximo disso. Quem deu o nome intentona foram as autoridades militares que combateram os revoltosos, o governo Vargas e a mídia do período.
Onde aconteceu a Intentona Comunista?
A Aliança Nacional Libertadora planejava a intentona há tempos. Em julho de 1935, a ANL foi considerada uma organização ilegal por Vargas, o que acirrou os ânimos entre seus membros. Em diversos quartéis do Brasil, soldados estavam prontos para o levante, assim como membros de diversos sindicatos e outros membros da sociedade civil. Esses esperavam ordens da direção da ANL, comandada pelo Partido Comunista do Brasil e por Luís Carlos Prestes.
→ Intentona Comunista no Rio Grande do Norte
O movimento se iniciou em 23 de novembro de 1935, em Natal, de forma desorganizada. A revolta não era prevista para se iniciar nesse dia, mas a chegada de um comunicado do comandante do Exército de Natal, expulsando um grupo de soldados, fez com que os membros do 21º Batalhão de Caçadores iniciassem o movimento, sem nem mesmo avisar a direção nacional do PCB ou da ANL.
Os militares do 21º Batalhão de Caçadores da capital potiguar, com apoio de grupos civis, atacaram o prédio onde o governador Rafael Fernandes Gurjão estava e o conquistaram. Também conquistaram os demais quartéis da cidade, o batalhão de polícia, a estação ferroviária, a estação elétrica, a central telefônica e a telegráfica. O governador deixou o estado e os revoltosos assumiram o poder.
Os rebeldes fizeram da residência do governador a sede do governo e elegeram um Comitê Popular Revolucionário para governar Natal. Ao receber a notícia da eclosão da revolta em Natal, a direção da ANL ordenou que todos os grupos aderissem à revolta imediatamente.
O governo rebelde cassou o governador e o mandato dos membros do Legislativo estadual, também tornou gratuitas as passagens de bonde e distribuiu parte do dinheiro confiscado do Banco do Brasil para a população, medidas que buscavam ganhar o apoio dela. Algumas cidades do interior do Rio Grande do Norte também foram tomadas por membros da ANL.
→ Intentona Comunista em Pernambuco
Os revoltosos do Rio Grande do Norte esperavam que outros quartéis do Nordeste também aderissem à revolta, o que não aconteceu. Pelo contrário, tropas legalistas de Pernambuco, que contiveram rapidamente a revolta no seu estado, e da Paraíba se organizaram rapidamente para combater os revoltosos potiguaras.
A notícia da chegada de tropas de Vargas e a falta de apoio fizeram com que os revoltosos deixassem Natal, sendo perseguidos e presos por tropas varguistas. A notícia da eclosão do levante em Natal chegou a Pernambuco, e tropas do 29º Batalhão de Caçadores aderiram ao movimento, marchando para o centro de Recife e recebendo apoio de civis ligados à ANL.
As tropas foram contidas no Largo da Paz por soldados legalistas do Exército e da polícia. A batalha durou cerca de um dia e terminou quando tropas legalistas de Alagoas e da Paraíba chegaram ao campo de batalha e os revoltosos se renderam. Aproximadamente 100 combatentes morreram na batalha e houve grande repressão após o levante contra membros da ANL em Pernambuco.
→ Intentona Comunista no Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a Intentona Comunista foi deflagrada, no dia 27 de novembro, por tropas dos militares do 3º Regimento da Praia Vermelha e da Escola de Aviação Militar do Campo dos Afonsos. As tropas revoltosas enfrentaram as tropas legalistas, comandadas pelo general Eurico Gaspar Dutra. Dez anos depois, ele foi eleito presidente do Brasil, sucedendo a Vargas.
Dutra sabia dos planos dos militares revoltosos, inclusive a hora do início do movimento. Assim, ele cercou o 3º Regimento da Praia Vermelha e a Escola de Aviação antes de os revoltosos iniciarem a ação. Em poucas horas, os revoltosos se renderam nos dois locais.
Veja também: Revolta Paulista de 1924 — outro levante militar que pretendia derrubar o governo federal
Contexto histórico da Intentona Comunista
Na Primeira República, os grandes latifundiários, conhecidos como coronéis, tinham grande poder político e econômico. Além disso, existiam diversos mecanismos que perpetuavam os mesmos grupos nos governos federal e estaduais, além de inúmeras denúncias de corrupção no processo eleitoral.
Nesse contexto, surgiu um movimento de militares de baixa patente, movimento que passou a ser conhecido como tenentismo, que se opôs às velhas oligarquias, ao sistema eleitoral vigente, à miséria na qual boa parte da população vivia e ao atraso brasileiro.
Após diversas revoltas tenentistas, como as do Forte de Copacabana, a Revolução de 1924 em São Paulo e a Coluna Prestes, esse grupo chegou ao poder, em 1930, ao apoiar o golpe de Estado que levou Getúlio Vargas ao cargo de presidente. Vargas assumiu o poder provisoriamente, com a promessa de realizar eleições em breve.
Dois anos depois, ocorreu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, que teve grande apoio dos militares paulistas. A revolta acabou com a derrota paulista no campo de batalha, mas com a vitória política dos militares, uma vez que o governo Vargas se comprometeu a realizar eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte, o que de fato aconteceu. A Constituição de 1934 foi aprovada em 16 de julho.
Nesse momento, o Brasil estava dividido em dois grupos políticos. De um lado, a Aliança Nacional Libertadora, que aglutinava partidos de esquerda, sindicatos, intelectuais, profissionais liberais, operários e estudantes. O líder dessa aliança era Luís Carlos Prestes e este era apoiado pela Internacional Comunista. De outro lado, existia a Ação Integralista Brasileira, de ideologia fascista e liderada por Plínio Salgado, jornalista e historiador paulista.
Três anos depois da intentona, os integralistas também tentaram seu golpe de Estado. Este ficou conhecido como Levante Integralista ou, ainda, como Intentona Integralista. Esse movimento também foi derrotado por tropas legalistas. As ideologias de esquerda e direita também estavam presentes nos quartéis. Foi nesse contexto de radicalismo político que ocorreu a Intentona Comunista.
Qual era o objetivo da Intentona Comunista?
Eram dois os principais objetivos da Intentona Comunista, o primeiro deles era o de derrubar o governo Vargas, e o segundo, o de implementar o comunismo no Brasil. Caso o movimento fosse vitorioso, Luís Carlos Prestes seria o governante do Brasil.
Os revoltosos esperavam que, com a eclosão do movimento nos quartéis das principais cidades do Brasil, a população aderisse ao movimento, gerando uma revolução popular, o que acabou não acontecendo.
Quem foi o líder da Intentona Comunista?
O líder da Intentona foi Luís Carlos Prestes, líder do Partido Comunista do Brasil e da Aliança Nacional Libertadora. Prestes nasceu em Porto Alegre, em 1898, e na juventude entrou para o Exército, teve bom desempenho e, em poucos anos, se tornou capitão. Em 1922, Prestes aderiu ao tenentismo. Ele chegou a participar do planejamento da Revolta do Forte de Copacabana, mas não estava no Rio de Janeiro quando a revolta de fato aconteceu.
Em 1924, liderou um movimento revoltoso dos tenentes no Rio Grande do Sul, deixando o estado em marcha com cerca de mil militares, que se uniram com as tropas dos tenentes paulistas, comandadas pelo general Miguel Costa. Essas tropas iniciaram uma marcha pelo interior do Brasil que ficou conhecida como Coluna Prestes, as vezes chamada também de Coluna Miguel Costa-Prestes.
Entre 1925 e 1927, a coluna marchou por mais de 25 mil quilômetros do território brasileiro, combatendo tropas do governo. Em 1927, a coluna terminou e os seus membros, entre eles Prestes, se refugiaram em países fronteiriços do Brasil. Para muitos historiadores, foi durante os anos de coluna que Prestes se tornou comunista, para outros, foi durante o exílio, graças à intervenção de Astrojildo Pereira.
→ Prestes, Olga e outros participantes
Em 1931, Prestes partiu para a União Soviética, onde recebeu treinamento político, militar e ideológico. Lá ele conheceu Olga Benário, e os dois iniciaram namoro. No final de 1934, os dois foram enviados ao Brasil com o objetivo de organizarem a intentona. Após a derrota no levante, os dois passaram a ser perseguidos pelo governo.
A repressão varguista após a Intentona Comunista foi grande. Um dos presos em decorrência da tentativa de golpe foi o escritor Graciliano Ramos, que passou quase um ano na prisão, boa parte do tempo no navio-prisão de Vargas, o navio Manaus.
Graciliano escreveu Memórias do cárcere, um dos clássicos da literatura brasileira, contando sua experiência. Na obra ele descreve os horrores que sofreu e observou no período da prisão.
Olga Benário e Luís Carlos Prestes foram presos em março de 1936, no Rio de Janeiro. Olga estava grávida e foi enviada por Vargas, com autorização dos ministros do STF, para a Alemanha Nazista. Olga era alemã, comunista e judia e foi enviada pelos nazistas para um campo de concentração. Lá, ela teve sua filha, Anita, que foi enviada ao Brasil para ficar sob os cuidados da mãe de Prestes, dona Leocádia.
Olga morreu em 1942, em um campo de extermínio nazista. Luís Carlos Prestes ficou preso por uma década, deixando a prisão no fim do Estado Novo. Em 1942, Jorge Amado lançou sua obra O cavaleiro da esperança, na qual contava a vida de Prestes, sobretudo os anos de Coluna Prestes. Por esse motivo, ele ganhou a alcunha de Cavaleiro da Esperança.
Por que a Intentona Comunista fracassou?
A Intentona Comunista pretendia que a maior parte das forças militares das capitais do Brasil aderisse ao intento, mas o movimento só ocorreu em três capitais. Ela também esperava amplo apoio popular, uma vez que boa parte da população estava descontente com o governo Vargas; mas também não teve o apoio esperado.
A revolta durou de 23 a 27 de novembro e foi combatida de forma relativamente fácil pelas tropas legalistas. As tropas alinhadas à ANL debandaram de Natal, sem ao menos se renderem formalmente, e se renderam em Recife e no Rio de Janeiro.
Saiba mais: Quantos golpes de Estado já ocorreram no Brasil?
Quais foram as consequências da Intentona Comunista?
A primeira consequência foi o fortalecimento da repressão contra as pessoas que eram consideradas de esquerda, com prisões arbitrárias, espancamentos e até mesmo assassinatos.
Outra consequência foi o fortalecimento de Getúlio Vargas, que declarou estado de sítio e, em 1936, teve todas as suas propostas que previam a perda de direitos individuais aprovadas pelo Congresso.
O autoritarismo de Vargas cresceu até um ponto de ruptura, 1937, quando ele decretou o Estado Novo. O Congresso foi fechado, o STF também, a Constituição de 1934 foi anulada, e se iniciou a um período de violência política, censura e autoritarismo que só se encerrou em 1945.
O estopim do autogolpe que levou ao Estado Novo foi um suposto plano comunista, chamado plano Cohen, no qual, supostamente, se pretendia uma nova Intentona Comunista. Anos depois, foi provado que o plano havia sido escrito pelo militar integralista Olímpio Mourão Filho. Mourão Filho também participou ativamente do golpe de 1964, que marcou o início da Ditadura Civil-Militar.
Exercícios resolvidos sobre Intentona Comunista
1. (Enem) O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político.
CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940 (adaptado).
Segundo as ideias de Francisco Campos:
a) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados.
b) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório.
c) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos.
d) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal.
e) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto.
Gabarito
Alternativa correta: E.
O autor expressa a visão de boa parte da população mundial após a Primeira Guerra Mundial, a descrença na democracia liberal. Para ele, somente Vargas seria capaz de exercer um governo eficiente, de modo inteligente e correto. Para o autor, o pluripartidarismo levava à desordem, a independência do judiciário levava à injustiça, e o voto levava os maus ao poder.
2. (UFSCar) Os anos trinta do século XX foram marcados por disputas ideológicas, por propostas revolucionárias e pela emergência de regimes centralizadores e autoritários. No Brasil, a polarização ideológica intensificou-se em 1935, opondo:
a) a Ação Integralista Brasileira, partido político simpatizante do fascismo, à Ação Nacional Libertadora, que lutava pela instalação de um governo popular revolucionário.
b) os anarco-sindicalistas, líderes do movimento operário em toda a Primeira República, ao Partido Comunista do Brasil, de tendência revolucionária bolchevista.
c) os católicos ultramontanos do Centro Dom Vital, situado no Rio de Janeiro, aos partidários do fascismo italiano e, sobretudo, do nazismo hitlerista.
d) a social-democracia, representada pelo Partido Democrático de São Paulo, às tendências políticas autoritárias do movimento tenentista.
e) os constitucionalistas paulistas, que haviam combatido na Revolução de 1932, ao Estado Novo, dominado pelo presidente Getúlio Vargas.
Gabarito
Alternativa correta: A.
Na década de 1930, período no qual ocorreu a Intentona Comunista, o Brasil estava dividido entre parte da população que apoiava a ANL e outra, que apoiava a AIB. A primeira era de ideologia de esquerda e a segunda, de direita.
Créditos das imagens
[1] Acervo Nacional/ Wikimedia Commons
[2] Acervo Nacional/ Wikimedia Commons
Fontes
ARAÚJO, Maria Celina Soares. Estado Novo. Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2000.
REIS, Daniel Aarão. Luís Carlos Prestes. Companhia das Letras, São Paulo, 2014.
VANNUCCHI, Marco Aurélio. Era Vargas. PUC-RS, Porto Alegre, 2021.