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Marechal Rondon

Marechal Rondon foi um militar que realizou trabalho de instalação de rede de telégrafos em regiões interioranas do Brasil e ficou conhecido como um grande defensor dos indígenas.

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Marechal Rondon foi um militar brasileiro que realizou, durante toda a sua vida, o trabalho de sertanista. O marechal realizou a exploração científica de regiões do Mato Grosso e da Amazônia, além de ter trabalhado na construção de telégrafos e realizado importantes ações no mapeamento dessas regiões, consideradas na época bastante inóspitas.

O marechal também ficou marcado por atuar fortemente na defesa dos direitos indígenas, e esteve à frente de importantes instituições criadas para essa finalidade: o Serviço de Proteção ao Índio e o Conselho Nacional de Proteção ao Índio. Rondon também foi um dos grandes defensores da demarcação de uma terra indígena no Parque Nacional do Xingu.

Tópicos deste artigo

Nascimento e formação

Marechal Rondon (sentando no meio dos dois homens em pé) durante sessão do Conselho Nacional de Proteção ao Índio.[1]
Marechal Rondon (sentando no meio dos dois homens em pé) durante sessão do Conselho Nacional de Proteção ao Índio.[1]

Cândido Mariano da Silva Rondon nasceu no dia 5 de maio de 1865, no distrito de Mimoso, que faz parte da cidade de Santo Antônio de Leverger, no atual estado do Mato Grosso. Ele era filho de um vaqueiro pantaneiro, chamado Cândido Mariano da Silva, e de Claudina Lucas Evangelista, uma mulher descendente de indígenas bororo e terena.

Rondon, no entanto, cresceu órfão, pois seu pai faleceu antes mesmo que ele nascesse e sua mãe faleceu quando ele tinha dois anos de idade. Sua criação foi dada pelo seu tio Manuel Rodrigues da Silva Rondon. Por isso, ainda na infância, ele se mudou para Cuiabá e lá fez toda a sua formação básica. O sobrenome Rondon foi uma homenagem de Cândido a seu tio, adotando-o a partir de 1890.

Antes de concluir seus estudos, Rondon se alistou no Exército em Cuiabá, e depois que os concluiu, ele partiu para o Rio de Janeiro para ingressar na Escola Militar do Rio de Janeiro. Na capital brasileira, deu continuidade a sua carreira como militar e formou-se nos cursos de Estado-Maior, Engenharia, Matemática e Ciências Físicas e Naturais.

No Exército, Rondon apoiou a Proclamação da República, realizada em 15 de novembro de 1889, e sua participação rendeu-lhe uma boa promoção na hierarquia militar, fazendo com que ele se tornasse primeiro-tenente. No ano seguinte, Rondon foi designado para a sua primeira grande missão.

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Leia mais: A navegação dos rios que levavam a Cuiabá foi um foco de tensão na Guerra do Paraguai

Rondon como explorador

Em março de 1890, Rondon partiu para a sua primeira grande missão no Exército. Ele faria parte de uma comissão de engenharia criada com o intuito de construir uma rede telegráfica que conectasse Mato Grosso com o oeste de Goiás. Essa obra era parte de um esforço dos militares para integrar-se o Mato Grosso com a capital (Rio de Janeiro), a fim de facilitar-se a comunicação entre as duas cidades.

Tratava-se de colocar fim no isolamento do Mato Grosso, pois esse estado não possuía estradas que o conectassem com a capital, sendo necessário fazer navegação fluvial pela bacia do Prata para que as notícias enviadas do Rio de Janeiro chegassem até lá. Assim, a comunicação com Cuiabá era muito demorada.

A Comissão Construtora da Linha Telegráfica de Mato Grosso a Goiás e a expedição ao Mato Grosso eram lideradas pelo major Gomes Carneiro. Rondon trabalhava como ajudante do major, e o contato com Gomes Carneiro foi importante na sua formação como sertanista, pois as habilidades necessárias de localização da mata e de construção de redes telegráficas, Rondon aprendeu com ele.

Além disso, com o major Carneiro Gomes, Rondon aprendeu uma lição levada por toda a sua vida: manter contato pacífico com os índios. Ao longo dos trabalhos da comissão, Carneiro Gomes lidou com situações que obrigaram todos os membros a fugirem de um local no meio da mata durante a noite por conta de evidências de que seriam atacados por indígenas. Rondon aprendeu então que o contato pacífico com esses povos era a melhor forma de garantir o sucesso da missão.

Em 1900, Rondon foi nomeado para liderar uma comissão que faria uma extensão da rede telegráfica do Mato Grosso até a fronteira do Brasil com o Paraguai e a Bolívia. Seu trabalho nessas comissões foi importante no sentido de que promoveu a integração do país, mas essa integração também ficou marcada por abusos contra os trabalhadores que atuaram nela.

Ao final dessas comissões, nas quais ele atuou até 1906, tinham sido construídos mais de 1700 km de linhas telegráficas, além de que itens importantes para realização de estudos científicos foram recolhidos da natureza. A partir de 1907, Rondon integrou uma nova comissão: a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas.

Ela foi criada com o objetivo de estender a rede telegráfica do Mato Grosso ao Vale Amazônico. O foco era o mesmo: ampliar a integração de um vasto território entendido como pouco conhecido pelo governo brasileiro e no qual a comunicação era complicada. O primeiro passo para isso era explorar a região para que então pudesse ser realizada a construção.

A expedição organizada por Rondon na realização dessa missão ficou conhecida como Comissão Rondon e atuou de 1907 a 1910, fazendo importantes reconhecimentos na região amazônica, demarcando territórios no Mato Grosso e atravessando a floresta até Manaus. Ao longo dessa viagem, além do trabalho de mapeamento, Rondon realizou um trabalho etnográfico, com diferentes aldeias indígenas, que ficou conhecido no mundo todo.

A partir de 1910, foi criada uma instituição da qual Rondon foi um dos grandes defensores, o Serviço de Proteção ao Índio. Ele assumiu a chefia do SPI assim que ele foi criado, em 1910, e atuou na defesa dos indígenas contra a violência de fazendeiros, garimpeiros e seringueiros que desejavam invadir suas terras.

Em 1913, Rondon fez parte de outra expedição muito famosa — a Expedição Rondon-Roosevelt. O ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt tinha gosto por expedições, decidindo realizar uma delas pela região amazônica. Essa viagem aconteceu na virada de 1913 para 1914, ganhou fama internacional e foi responsável pelo mapeamento do Rio da Dúvida. Durante o trajeto, Roosevelt contraiu malária e quase faleceu, terminando-o em péssimo estado de saúde.

Na década de 1920, Rondon aderiu ao movimento tenentista e passou a manifestar-se contra o governo de Arthur Bernardes. Ele chegou a participar da Revolução Paulista de 1924, quando foi nomeado general. No governo de Washington Luís, ele assumiu a função de supervisor das fronteiras do Brasil.

Seguiu nessa função até meados da década de 1930, quando então abandonou a carreira de explorador. Entre 1934 e 1938, ele foi o chefe de uma missão diplomática do Brasil enviada para resolver um problema entre Peru e Colômbia, por conta da posse de uma cidade de fronteira entre esses dois países chamada Leticia.

Em 1939, ele assumiu a chefia do Conselho Nacional de Proteção ao Índio, instituição que substituiu o antigo SPI. Na década de 1940, foi um dos grandes críticos do fascismo no Brasil, posicionando-se para que o país se juntasse aos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Passou os últimos anos de sua vida na luta pelos direitos dos indígenas.

Acesse também: Cultura indígena – características, costumes, danças e influências no Brasil

Defesa dos indígenas

O marechal Rondon foi um dos grandes defensores da criação do Parque Nacional do Xingu. Ele, no entanto, não viveu para ver a criação do parque.
O marechal Rondon foi um dos grandes defensores da criação do Parque Nacional do Xingu. Ele, no entanto, não viveu para ver a criação do parque.

Ao longo de sua carreira de explorador do interior do Brasil, Rondon esteve nas regiões mais isoladas do país e teve contato com diferentes povos indígenas. O trabalho dele na catalogação de povos e seus costumes foi extremamente importante. Além disso, ficou conhecido por atuar durante toda a sua vida na defesa deles.

A opinião de Rondon acerca dos indígenas mudou ao longo de sua vida. No começo de sua carreira, ele defendia a ideia de integração desses povos à cultura ocidental, mas, segundo o jornalista Larry Rohter, passou a defender o direito dos indígenas de manterem-se isolados|1|. Por isso ele foi um dos grandes defensores da demarcação de terras indígenas.

Rondon começou a defender o direito de isolamento dos índios ao perceber a crueldade com que eles eram tratados pelo homem branco, sobretudo pelos que os atacavam para tomar suas terras, como os fazendeiros. Ele teve contato com inúmeros desses povos e procurou sempre manter a amizade com todos eles. O lema dele nas relações com os indígenas era “morrer se preciso for, matar nunca”.

Ele se aproximou de povos como os bororos e os paresí, e conseguiu manter contato pacífico com povos bastantes hostis, como os nhambiquaras, conhecidos por recusarem-se a manter qualquer tipo de contato com povos não indígenas. A defesa desses e de outros povos realizada por Rondon aconteceu junto a diferentes governos brasileiros ao longo do século XX.

Como mencionado, ele atuou em duas instituições importantes na defesa dos indígenas aqui no Brasil, o SPI e o Conselho Nacional de Proteção ao Índio. Na década de 1950, ele foi um dos defensores da demarcação do Parque Nacional do Xingu, a maior área indígena do Brasil. Essa área foi criada em 1961, durante o governo de Jânio Quadros. Infelizmente, Rondon não viveu para ver esse feito, pois faleceu em 19 de fevereiro de 1958, no Rio de Janeiro.

Acesse também: Demarcação de terras indígenas no Brasil

Homenagens

O trabalho do marechal Rondon ainda pouco alcançou as regiões mais populosas do Brasil, mas, em outros locais que fazem parte das regiões Norte e Centro-Oeste, ele é consideravelmente reconhecido. Rondon recebeu inúmeras homenagens em vida, mas também foi homenageado após sua morte.

Em nosso país, existem quatro cidades que levam em seus nomes uma homenagem ao marechal. São elas:

  • Marechal Cândido Rondon (PR)

  • Rondon (PR)

  • Rondonópolis (MT)

  • Rondon do Pará (PA)

Além disso, um estado brasileiro foi nomeado em homenagem ao explorador e sertanista. O território do Guaporé foi renomeado como Rondônia, em 1956, sendo transformado efetivamente em estado em 1981. Aqui no Brasil, ele foi elevado ao posto de marechal no Exército quando tinha 90 anos de idade.

Além disso, o trabalho de Rondon foi reconhecido por nomes marcantes, como Albert Einstein e Claude Lévi-Strauss. Rondon foi indicado por muitos como merecedor de um Nobel da Paz (não foi vencedor desse prêmio) e ganhou, em 1918, a Medalha Centenário de David Livingstone, uma premiação dada pela Sociedade Geográfica Americana para personalidades que realizam trabalhos notáveis para o desenvolvimento da geografia no Hemisfério Sul.

Nota

|1| A saga de marechal Rondon, segundo este biógrafo. Para acessa, clique aqui.

Crédito da imagem

[1] FGV/CPDOC

 

Por Daniel Neves
Professor de História

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Marechal Rondon"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/marechal-rondon.htm. Acesso em 28 de abril de 2024.

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