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Regência, tanto a regência verbal como a regência nominal, é o processo em que um termo determinante rege outro determinado a ele, estabelecendo relação de subordinação entre os dois. A marca de subordinação costuma dar-se pela preposição que liga um termo ao outro ou pela ausência dela.
Veja também: A ou há?
Tópicos deste artigo
- 1 - Como ocorre a regência verbal?
- 2 - Verbos com mais de uma regência
- 3 - Diferença entre regência verbal e nominal
- 4 - Exercício resolvido sobre regência verbal
Como ocorre a regência verbal?
Conforme o próprio nome já indica, a regência verbal trata da relação de subordinação entre um verbo e outro termo, sendo este o complemento e/ou a preposição.
Assim, quando um verbo é intransitivo (não precisa de complemento) ou transitivo direto (precisa de complemento, mas sem preposição), diz-se que ele não é regido por preposição. Veja nos enunciados a seguir:
→ verbo + complemento
-
Os alunos tinham boas notas.
-
Ele adorava dirigir o próprio carro.
-
Você terminou o projeto?
Nos três exemplos, o verbo não precisou ser regido por nenhuma preposição para dar sentido ao enunciado.
Quando o verbo é transitivo indireto, diz-se que uma preposição “rege” esse verbo, ou seja, que a preposição é necessária para ligá-lo ao seu complemento e dar o significado adequado ao enunciado. Veja as frases:
→ verbo + preposição + complemento
-
Ela opinou sobre o caso.
-
É verdade que você se divorciou do João?
-
Eu me esforcei para conseguir o emprego.
Nos três exemplos, o verbo é regido por uma preposição que o liga ao complemento para dar sentido ao enunciado: opinar sobre, divorciar-se de, esforçar-se para. O verbo depende da preposição, ou seja, está subordinado a ela.
Veja também: Vozes verbais – voz ativa, voz passiva e voz reflexiva
Verbos com mais de uma regência
A preposição é tão importante que, muitas vezes, o mesmo verbo pode ser regido por preposições diferentes para indicar significados diferentes. Vamos analisar alguns casos muito frequentes:
→ Aspirar/aspirar a
-
Sem preposição (transitivo direto) = “cheirar”:
Aspiraram as fragrâncias e decidiram o melhor perfume. -
Com preposição (transitivo indireto) = “ter por objetivo”, “pretender”:
Aspiravam a cargos melhores na empresa.
→ Assistir/assistir a
-
Sem preposição (transitivo direto) = “ajudar”, “auxiliar”:
O enfermeiro assistiu o médico durante a cirurgia. -
Com preposição (transitivo indireto) = “ver”, “presenciar”, “acompanhar”:
Nós já assistimos a esse filme várias vezes, gostamos muito.
→ Custar/custar a
-
Sem preposição (transitivo direto) = “ter valor”:
Aquela roupa custou muito caro. -
Com preposição (transitivo indireto) = “ser custoso a alguém”:
Custou ao jovem abrir mão do seu desejo.
→ Implicar/implicar com
Sem preposição (transitivo direto) = “ter consequências”:
-
O cancelamento do cartão implicará uma multa.
-
Com preposição (transitivo indireto) = “irritar”, “provocar”, “antipatizar”:
-
As crianças viviam implicando com o mais novo.
→ Informar/informar a
-
Informa-se algo a alguém, portanto, é transitivo direto e indireto, tendo os dois complementos:
Informei o episódio à gerente e ao supervisor.
→ Visar
Sem preposição (transitivo direto) = “olhar”, “avistar”, “assinar”:
-
O caçador visou o alvo. / O cliente visou o cheque.
-
Com preposição (transitivo indireto) = “ter por objetivo”, “pretender”:
-
Elas visavam ao cargo mais alto da empresa.
ATENÇÃO:
Se há dois verbos com regência diferente, o ideal é construir a sentença de modo que se utilize a regência adequada para cada um deles. Observe:
Fui e voltei do serviço.
A construção anterior não segue a norma padrão, pois “fui”, nesse contexto, exige a preposição “a” ou “para”, enquanto “voltei” exige a preposição “de”. Para tornar o enunciado adequado, seria necessário reconstruí-lo:
Fui ao serviço e voltei dele.
Curiosamente, na linguagem coloquial, alguns verbos são frequentemente utilizados com a preposição inadequada do ponto de vista da norma padrão. É o caso dos verbos “chegar” e “ir”, que devem ser regidos pela preposição “a” (que indica movimento), e não pela preposição “em”. Observe:
-
Cheguei em minha casa. — Inadequado
-
Cheguei à minha casa. — Adequado
-
Fomos no shopping. — Inadequado
-
Fomos ao shopping. — Adequado
Diferença entre regência verbal e nominal
A regência nominal também se refere à relação de subordinação entre dois termos. No entanto, enquanto a regência verbal trata da relação entre um verbo e seu complemento, a regência nominal trata da relação entre nomes (substantivos, adjetivos ou advérbios) e seus complementos.
Um nome possui a mesma regência do verbo do qual deriva. Assim, retomando os exemplos que já vimos neste texto, temos:
-
Ela opinou sobre o caso.
-
Ela tinha uma opinião sobre o caso.
-
Eu me esforcei para conseguir o emprego.
-
Eu fiz esforço para conseguir o emprego.
-
As crianças viviam implicando com o mais novo.
-
As crianças tinham implicância com o mais novo.
Para saber mais sobre o caso de regência que ocorre unicamente com nomes, acesse o nosso texto: Regência nominal.
Exercício resolvido sobre regência verbal
Questão 1 (ESPM-2006) Embora de ocorrência frequente no cotidiano, a gramática normativa não aceita o uso do mesmo complemento para verbos com regências diferentes. Esse tipo de transgressão só não ocorre na frase:
a) Pode-se concordar ou discordar, até radicalmente, de toda a política externa brasileira. (Clóvis Rossi)
b) Educador é todo aquele que confere e convive com esses conhecimentos. (J. Carlos de Sousa)
c) Vi e gostei muito do filme “O jardineiro fiel”, cujo diretor é um brasileiro.
d) A sociedade brasileira quer a paz, anseia por ela e a ela aspira.
e) Interessei-me e desinteressei-me pelo assunto quase que simultaneamente.
Resolução
Alternativa “d”, pois respeita-se a regência dos verbos “quer” (sem preposição), “ansiar” (preposição “por”) e “aspirar” (no contexto, preposição “a”). Nas outras alternativas, foram empregados verbos com regências distintas (“concordar com” e “discordar de”; “conferir” e “conviver com”; “ver” e “gostar de”; “interessar-se por” e “desinteressar-se de”).
Por Guilherme Viana
Professor de Gramática