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Pan-africanismo

O pan-africanismo foi uma ideologia que se desenvolveu no final do século XIX e defendia a união dos povos de origem africana para lutar contra o racismo.

Mão empunhada em meio às cores que remetem ao pan-africanismo.
O pan-africanismo foi uma ideologia que defendia a união dos povos de origem africana na luta contra o racismo e a segregação.
Crédito da Imagem: shutterstock
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O pan-africanismo é uma ideologia que surgiu no final do século XIX, na Diáspora africana (sobretudo no Caribe e Estados Unidos), defendendo a união dos povos de origem africana, sejam eles nascidos no continente africano, sejam seus descendentes nascidos em outros continentes, para lutar contra o racismo e a segregação racial.

No contexto de seu surgimento, o pan-africanismo defendia também o combate ao colonialismo e à escravização dos africanos, além de lutar pelo desenvolvimento do continente africano de maneira a permitir o seu enriquecimento. Entre os nomes de destaque dessa ideologia estão Marcus Garvey, Du Bois, Malcolm X, entre outros.

Leia também: Os Panteras Negras e a luta racial nos EUA

Tópicos deste artigo

Resumo sobre o pan-africanismo

  • O pan-africanismo é uma ideologia que defende a união dos povos de origem africana no combate ao racismo.

  • Essa ideologia surgiu entre os negros da Diáspora nos Estados Unidos e Caribe, no final do século XIX.

  • Além da luta contra o racismo, o pan-africanismo se posicionava contra o colonialismo e a escravidão.

  • Defendia também a união dos povos de origem africana para garantir o desenvolvimento econômico e o progresso da África.

  • Ao todo, o pan-africanismo realizou sete congressos em diferentes partes do planeta.

O que é o pan-africanismo?

O pan-africanismo foi um movimento político, cultural e intelectual que surgiu no século XIX e que defendia a unificação e a solidariedade entre todos os povos de origem africana no planeta. Esse movimento defendia que essa unificação e solidariedade deveriam existir entre os povos do continente africano, mas também entre os povos da Diáspora, isto é, os descendentes de africanos que nasceram na Europa e Américas por conta da colonização e escravização.

Essa união entre os povos de origem africana no planeta era entendida como parte de uma luta necessária contra o racismo e contra a segregação racial que os descendentes de africanos sofriam em todo o planeta. Além disso, acreditava-se que essa aliança permitiria que o continente africano alcançasse um elevado grau de desenvolvimento.

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Quais os objetivos do pan-africanismo?

O pan-africanismo tinha como principais objetivos a união dos povos africanos de todo o planeta, nascidos na África ou fora dela, para lutar contra o racismo que assolava os africanos e seus descendentes, além de defender o emponderamento do continente africano para que ele pudesse alcançar o seu potencial de desenvolvimento.

Esse fortalecimento do povo e do continente africano procurava, no longo prazo, reestruturar a balança de forças do planeta, garantindo que o continente africano tivesse poder e recursos suficientes para defender os seus próprios interesses e o seu próprio povo. Por fim, além de uma luta contra o racismo, o pan-africanismo se posicionou como uma ideologia contra a escravidão e o colonialismo.

Leia também: Segregação racial — a exclusão política, social, econômica e geográfica baseada na etnia

Idealizadores do pan-africanismo

O pan-africanismo surgiu na segunda metade do século XIX, mas passou por inúmeras transformações ao longo do século XX. Alguns dos primeiros a propor essa ideologia foram:

  • Joseph Robert Love;

  • Marcus Garvey;

  • Du Bois;

  • Anténor Firmin;

Outros importantes nomes que são entendidos como representantes de uma primeira geração de pan-africanistas foram Paul Cuffee, Alexander Crummel, Silvester William, Edward Blyden, entre outros. No contexto de surgimento do pan-africanismo, os debates giravam muito em torno da segregação racial que os negros sofriam nos Estados Unidos e a situação que a África enfrentava com o neocolonialismo.

Origem e história do pan-africanismo

O pan-africanismo se estabeleceu como uma reação filosófica e intelectual dos negros contra o racismo presente em sua sociedade durante o século XIX. Esse período era marcado pela colonização de diversos locais na América, mas também em outros continentes, como a África. Além disso, a escravidão de negros ainda era uma realidade em muitos locais, como o Brasil.

As revoltas de escravos eram uma reação contra esse processo, no entanto, no longo prazo, uma reação intelectualizada e de caráter político se estabeleceu contra a opressão do povo negro. Além disso, países como os Estados Unidos possuíam uma forte segregação racial contra a população de origem negra.

Nesse contexto, consolidaram-se os movimentos que procuravam unir os negros no combate à escravidão, colonialismo e racismo. O resgate da ancestralidade africana foi o caminho encontrado pelos pan-africanistas para combater esses três males. A ideia não era apenas estabelecer mudanças regionais, mas, sim, mudanças a nível internacional.

O pan-africanismo se estabeleceu, a princípio, na Diáspora, entre os descendentes de africanos que haviam nascido em outros continentes, sobretudo nos Estados Unidos e no Caribe. O fim da escravidão e o combate ao racismo eram os motes, mas logo essa ideologia foi transportada para o continente africano.

O desenvolvimento dos debates pan-africanistas levou à fundação da Associação Africana, em Londres, no ano de 1897. Tinha como propósito unir os povos africanos na África e na Diáspora. No ano seguinte, seu nome foi alterado para Associação Pan-Africana, buscando realizar eventos internacionais e promover debates e ações para o debate contra o racismo.

Em 1900, o primeiro evento pan-africano foi realizado em Londres e nele foi defendida uma reforma no sistema colonial, além de haver garantias do governo britânico de lutar contra o racismo. Nesse momento, no entanto, é importante falar que as propostas defendidas pelos pan-africanistas não eram homogêneas, pois havia uma série de propostas de diferentes intelectuais.

Nos Estados Unidos, a associação responsável pelos ideais pan-africanistas foi a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP) — que pode ser traduzida como Associação para o Melhoramento do Negro. Já na Jamaica, a associação responsável pela defesa dos ideais pan-africanistas foi a Associação Universal para o Melhoramento do Negro (Unia). Essa associação foi fundamental para expandir os ideais pan-africanistas para o mundo.

Em 1919, foi organizado um congresso pan-africanista em Paris e novos congressos foram realizados no ano de 1921 e 1924. O intuito era promover o combate contra o racismo e contra o colonialismo. O quinto congresso só foi realizado em Manchester, em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, e o grande objetivo era combater o colonialismo. Outro destaque foi o avanço nas pautas pan-africanistas em relação às mulheres.

Muitos entendem que o pan-africanismo entrou em uma nova fase a partir de 1945 e, da década de 1950 em diante, um dos grandes desafios do movimento era lutar contra o regime de segregação racial que existia na África do Sul: o Apartheid. Além disso, a descolonização da África e a luta dos movimentos de independência também foram acontecimentos marcantes para a ideologia pan-africanista.

Outros congressos pan-africanistas foram realizados ao longo da história: em 1974, em Dar es Salaam (Tanzânia); em 1994, em Kampala (Uganda); e em 2014, em Joanesburgo (África do Sul).

Importância do pan-africanismo

O pan-africanismo foi um movimento político de grande importância porque reforçou a luta antirracista na América e Europa na passagem dos séculos XIX para o XX. Em um momento onde o racismo e a segregação racial eram marcadamente presentes nas sociedades ocidentais, o pan-africanismo se estabeleceu como um movimento político que lutava contra isso, além de ter um papel fundamental na valorização da cultura e da ancestralidade africana em negros nascidos na Diáspora.

No século XX, o pan-africanismo incentivou movimentos que lutavam contra o colonialismo e pela independência dos países africanos, embora tenha fracassado no objetivo de formar uma grande nação africana que unisse todos os povos desse continente. Grandes nomes da história, como Malcolm X, foram inspirados pelos ideais pan-africanistas.

Fontes

BARBOSA, Muryatan Santana. Pan-africanismo: unidade e diversidade de um ideal na Présence Africaine (1956-63). Disponível em: http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1427824102_ARQUIVO_Pan-Africanismo-MSB.pdf

KATZ, Serge. Pan-africanismo e democracia ainda são possíveis em África? Disponível em: https://diplomatique.org.br/pan-africanismo-e-democracia-ainda-sao-possiveis-em-africa/

SANTOS, Blenda. Pan-africanismo em 125 anos: uma perspectiva de gênero. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/linha-do-tempo/2021/Pan-africanismo-em-125-anos-uma-perspectiva-de-g%C3%AAnero

SANTOS, Blenda. Quem são as mulheres pan-africanistas e como podem reescrever as relações internacionais? Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/ponto-de-vista/2021/Quem-s%C3%A3o-as-mulheres-pan-africanistas-e-como-podem-reescrever-as-rela%C3%A7%C3%B5es-internacionais#:~:text=O%20pan%2Dafricanismo%20%C3%A9%20um,autoafirma%C3%A7%C3%A3o%20em%20todo%20o%20mundo.

BARBOSA, Muryatan Santana. Pan-africanismo e teoria social: uma herança crítica. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/africa/article/view/115352

Escritor do artigo
Escrito por: Daniel Neves Silva Formado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e especialista em História e Narrativas Audiovisuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Atua como professor de História desde 2010.

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SILVA, Daniel Neves. "Pan-africanismo"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/panafricanismo.htm. Acesso em 21 de dezembro de 2024.

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