Placenta

A placenta é um órgão constituído por tecido materno e embrionário presente na maioria dos mamíferos. Ela atua como local de trocas fisiológicas entre a mãe e o feto.

Imprimir
A+
A-
Escutar texto
Compartilhar
Facebook
X
WhatsApp
Play
Ouça o texto abaixo!
1x

A placenta é um órgão temporário constituído por um componente materno (decídua basal) e um componente fetal (córion). Ela fornece um local para as trocas fisiológicas entre a mãe e o feto durante a gestação, apresentando funções respiratórias, endócrinas, imunológicas e nutritivas.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Alterações no local em que a placenta se desenvolve e no grau de fixação dela no útero podem trazer riscos à saúde da mãe e do feto. Entre as principais condições clínicas, podemos destacar a placenta prévia, o descolamento placentário e o acretismo placentário.

Leia também: Gravidez ectópica — quando o bebê se desenvolve fora do útero

Tópicos deste artigo

Resumo sobre a placenta

  • A placenta é um órgão transitório constituído por uma porção materna (decídua) e por uma porção fetal (córion).

  • Esse órgão atua como local para a troca de gases, a eliminação de resíduos metabólicos e a transferência de nutrientes e anticorpos.

  • A placenta também sintetiza e secreta hormônios importantes para a manutenção da gestação, como a gonadotrofina coriônica e a progesterona.

  • A placenta produz imunossupressores e imunomoduladores que impedem uma resposta imunológica materna ao feto, impedindo que este seja rejeitado como corpo estranho.

    Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
  • O córion é dividido em liso e viloso. As trocas entre as circulações do feto e da mãe ocorrem no espaço interviloso.

  • As condições clínicas mais comuns na placenta incluem descolamento placentário, acretismo placentário e placenta prévia. Os principais sinais são sangramento e dor abdominal.

  • Ao se deparar com uma alteração clínica na placenta, é importante que a mãe aumente a frequência das consultas pré-natais e permaneça em repouso.

O que é placenta?

A placenta é um órgão transitório que se forma nos mamíferos placentários durante a gestação a partir de uma porção materna (o endométrio uterino, que é modificado durante a gravidez e nomeado decídua) e uma porção fetal (o córion). Dessa forma, ela é constituída por células provenientes de dois organismos geneticamente diferentes. A placenta serve como interface entre as circulações fetal e materna, e apresenta funções respiratórias, endócrinas, imunológicas e nutritivas.

Quais são as funções da placenta?

A placenta apresenta as seguintes funções:

  • Secreção endócrina: a placenta produz e secreta hormônios que auxiliam na manutenção da gestação, no crescimento fetal e no parto, como a gonadotrofina coriônica e a progesterona. A placenta também secreta o hormônio somatomamotropina coriônica, que possui atividade lactogênica (desenvolvimento dos tecidos da glândula mamária) e atua no desenvolvimento fetal.

    Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
  • Transferência de substâncias: a placenta é responsável por intermediar as necessidades do feto em desenvolvimento. A troca de gases (oxigênio e gás carbônico), a eliminação de resíduos metabólicos e a transferência de nutrientes (glicose, aminoácidos, vitaminas, minerais) e anticorpos ocorrem através da placenta. Dessa forma, por exemplo, a mãe consegue fornecer oxigênio ao feto e este, por sua vez, eliminar o gás carbônico produzido. A transferência de anticorpos da mãe para o feto protege-o de infecções e outras doenças maternas, enquanto ajuda no desenvolvimento do sistema imune fetal. É importante destacar que drogas, gases tóxicos e alguns micro-organismos podem atravessar a placenta e prejudicar o desenvolvimento do feto.

  • Barreira placentária: a placenta também constitui uma barreira física seletivamente permeável que separa as circulações sanguíneas materna e fetal.

  • Proteção imunitária ao feto: o embrião é, para a mãe, um corpo que possui proteínas estranhas (produzidas a partir dos genes do pai) a seu sistema imunológico. A placenta produz imunossupressores e imunomoduladores que impedem uma resposta imunológica materna ao feto, impedindo que este seja rejeitado como corpo estranho.

Anatomia da placenta

 Ilustração mostra bebê dentro do útero ligado à placenta por meio do cordão umbilical.
A placenta fornece um local para as trocas fisiológicas entre a mãe o feto durante a gravidez.

A placenta é um órgão discoide, e sua espessura varia de acordo com a idade gestacional. Ao término da gestação, ela pode chegar a pesar 500 gramas e possuir 20 centímetros de espessura. Esse órgão geralmente está localizado nas paredes ventral ou dorsal do útero.

Estrutura da placenta

Esquema ilustrativo mostra a estrutura da placenta.
A placenta é constituída pelo córion e pela decídua. As trocas entre as circulações da mãe e do feto ocorrem no espaço interviloso.

A placenta é constituída por uma porção fetal e por uma porção materna. O componente fetal corresponde ao córion, e o componente materno corresponde à decídua basal.

  • Decídua: assim denominada porque será a camada do útero a ‘descamar’ durante o parto, é subdividida de acordo com a sua localização em: decídua basal (região entre o embrião e o miométrio que constitui parte da placenta), decídua capsular (região entre o embrião e a luz do útero, revestindo o embrião) e decídua parietal (restante da decídua). A decídua apresenta regiões com lobos (ou cotilédones) separados por sulcos. Cada lobo corresponde à posição das vilosidades que se originam do córion.

    Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
  • Córion: é uma membrana contínua ao revestimento da parede uterina. Durante os primeiros estágios de desenvolvimento, todo o córion é coberto por vilosidades coriônicas, estruturas que emergem a partir do córion. Com o decorrer do desenvolvimento, as vilosidades adjacentes à decídua capsular se degeneram e constituem o córion liso. As vilosidades adjacentes à decídua basal ramificam-se e constituem o córion viloso. Essas vilosidades apresentam uma rede de capilares fetais que otimizam a área de contato com o sangue materno (no caso, os vasos uterinos da mãe). As trocas entre as circulações do feto e da mãe ocorrem no espaço interviloso. É importante destacar que a circulação sanguínea da mãe e do feto não se misturam.

O cordão umbilical é uma conexão entre a placenta e o feto. Ele é constituído pela veia umbilical (transporta nutrientes e oxigênio da placenta até o feto) e duas artérias umbilicais (transportam os resíduos metabólicos do feto de volta para a placenta). Esses vasos são contínuos aos vasos coriônicos.

O córion é recoberto pela membrana amniótica. Essa estrutura secreta o líquido amniótico, que atua como uma proteção ao feto e facilita as trocas materno-fetais.

Leia também: O que é aborto e por que acontece?

Formação da placenta

O desenvolvimento da placenta inicia-se após o processo de implantação do embrião no útero. O embrião com 72h, ao atingir a cavidade uterina, é denominado blastocisto. Ele é composto por dois conjuntos de células: o embrioblasto e o tofoblasto. As células embrioblásticas são responsáveis pela formação do feto. Já as células trofoblásticas são responsáveis por formar o córion. Ao atingir o endométrio, as células trofoblásticas se diferenciam em citotrofobasto (camada interna) e sinciciotrofoblasto (camada externa).

As células do sinciciotrofoblasto, ao atingir o endométrio, secretam enzimas que digerem a parede do endométrio a fim de fixar e implantar o embrião em um processo denominado nidação. Nesse processo, são formadas lacunas. Essas lacunas são ocupadas pelas células do citotrofoblasto, as quais constituem as vilosidades coriônicas primárias.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

O desenvolvimento do mesoderma extraembrionário em direção às vilosidades primárias transforma-as em vilosidades secundárias. Estas, por sua vez, passam a ser chamadas de vilosidades terciárias a partir da formação dos vasos sanguíneos.

As vilosidades terciárias se conectam com os vasos do embrião, formando a circulação fetal. Os vasos fetais se desenvolvem em íntimo contato com os vasos maternos no espaço interviloso, permitindo as trocas materno-fetais e constituindo a placenta.

Tipos de placenta

Entre os mamíferos, as placentas podem ser tradicionalmente divididas em decídua e indecídua.

Nas placentas indecíduas, a mucosa uterina permanece “intacta” durante a gestação e o parto. É como se as vilosidades coriônicas e uterinas estivessem apenas encaixadas. Nesse caso, não há hemorragia durante o parto. As placentas indecíduas são divididas em difusas e cotiledonares.

  • Placenta indecídua difusa: as vilosidades são bem desenvolvidas e distribuem-se uniformemente por toda a superfície do córion. Não há modificações na mucosa uterina, e, devido a isso, os vasos sanguíneos fetais e maternos ficam distantes. Essa placenta ocorre em equinos (éguas), suínos (porcas), cetáceos, entre outros animais.

  • Placenta indecídua cotiledonar: as vilosidades são agrupadas em rosetas ou cotilédones. A mucosa uterina é destruída no nível das vilosidades coriônicas. Assim, há um contato maior entre o córion e o endométrio e, consequentemente, entre os vasos sanguíneos maternos e fetais. Essa placenta ocorre em ruminantes (vacas, ovelhas).

    Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Nas placentas decíduas, o embrião penetra no endométrio, e o desenvolvimento ocorre dentro da parede do útero, ocorrendo um entrosamento maior entre a parte materna e fetal. Nesse caso, há perda de sangue no parto, já que a mucosa uterina se rompe com a saída do feto e de suas membranas. A placenta decídua pode ser de dois tipos: zonária e discoide.

  • Placenta decídua zonária: as vilosidades ocorrem em uma faixa circunscrevendo o córion. O epitélio uterino e o tecido situado logo abaixo são destruídos pelo córion, mas os capilares sanguíneos maternos mantêm sua integridade. Isso faz com que os tecidos fetais e maternos fiquem intimamente ligados. Essa placenta ocorre em carnívoros (gatas, cadelas).

  • Placenta decídua discoide: as vilosidades se concentram em uma região em forma de disco. O córion penetra mais profundamente na parede uterina, destruindo o endotélio dos capilares maternos. Nesse caso, se formam lacunas de sangue, e o sangue materno extravasa para essas lacunas. Mesmo com a formação de lacunas de sangue, não ocorre a mistura de sangue fetal com materno. Essa placenta ocorre em primatas (humanas), roedores (ratas) e outros.

Importância da placenta

A placenta está entre os órgãos mais importantes do corpo humano, uma vez que o feto em desenvolvimento depende totalmente dela para sustentá-lo e protegê-lo. Durante esse período, a placenta executa funções essenciais que, mais tarde, serão assumidas por outros órgãos, como os pulmões, o fígado, o intestino, as glândulas endócrinas e os rins.

Curiosidade: devido à “dependência” entre o feto em desenvolvimento e a placenta, esse órgão é venerado como um objeto sagrado por diversas culturas.

Doenças da placenta

Alterações clínicas na placenta podem ter riscos tanto para a mãe quanto para o desenvolvimento do feto. Algumas condições associadas à placenta são:

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
  • Placenta prévia: a placenta cobre total ou parcialmente o colo do útero. Às vezes é chamada de placenta de implantação baixa. Pode levar a sangramentos durante a gravidez.

Esquema ilustrativo mostra posição normal da placenta e quando ocorre placenta prévia.
A placenta prévia é uma condição na qual esse órgão cobre total ou parcialmente o colo do útero.
  • Acretismo placentário: a placenta se desenvolve e se fixa profundamente na parede do útero. Nessa situação, parte da placenta pode permanecer conectada ao útero após o parto e ocasionar hemorragias graves.

Esquema ilustrativo mostra posição normal da placenta e quando ocorre acretismo placentário.
No acretismo placentário, a placenta se desenvolve profundamente no endométrio.
  • Descolamento placentário: a placenta se separa do útero precocemente durante a gravidez. Se não feito o devido repouso, pode levar à morte da mãe ou do feto. Durante o período em que a placenta se encontra descolada, o feto pode receber uma menor quantidade de nutrientes e oxigênio, afetando o seu desenvolvimento.

Esquema ilustrativo mostra posição normal da placenta e quando ocorre descolamento placentário.
No descolamento placentário, a placenta se separa da parede do útero precocemente durante a gestação, podendo ocasionar graves sangramentos.

Entre os principais sinais de que há algum transtorno na placenta encontram-se o sangramento vaginal, dores abdominais e contrações. É importante discutir os sintomas com o médico, uma vez que eles podem estar relacionados a outros fatores. O tratamento varia de acordo com a gravidade da condição e do estágio de gestação. Alguns cuidados a serem tomados são: aumento da frequência de ultrassons e consultas pré-natais, indução de trabalho de parto, repouso, necessidade de cesariana e privação de exercícios físicos.

Fontes

Burton, G.J., Fowden, A.L. The placenta: a multifaceted, transient organ. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2015. 370(1663): 20140066.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Gilbert, S.F., Barresi, M.J.F. Developmental Biology. 11 ed., Sinauer Associates, 2016.

Herrick, E.J., Bordoni, B. Embryology, Placenta. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK551634/.

Huppertz, B. The anatomy of the normal placenta. J Clin Pathol. 2008. 61(12): 1296-302.

Maltepe, E., Fisher, S.J. Placenta: the forgotten organ. Annu Rev Cell Dev Biol. 2015. 31: 523-52.

 

Por Heloísa Fernandes Flores
Professora de Biologia

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)
Placenta e parte do cordão umbilical.
A placenta, ao final da gestação, pode chegar a pesar 500 gramas. Na imagem, também é possível observar uma porção do cordão umbilical.
Escritor do artigo
Escrito por: Heloísa Fernandes Flores Bacharela, licenciada e mestre em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é doutoranda em Entomologia e cursa uma especialização em Gestão Escolar na mesma instituição. Desenvolve pesquisas com análise de conteúdo de livro didático e evolução de insetos.
Deseja fazer uma citação?
FLORES, Heloísa Fernandes. "Placenta"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/placenta.htm. Acesso em 26 de dezembro de 2025.
Copiar